Fanfic: Just Good Friends | Tema: ayrton senna formula1 f1 esporte amizade

Nós éramos um trio perfeito, até nos tornamos imperfeitos pelas ironias do destino. Eu era o F no meio dos A, eles eram os homens que me protegiam. Não sei até que ponto toda a proteção, diversão e loucuras atrapalharam. Hoje somos apenas parte daquilo que um dia dissemos que iriamos ser. Imperfeitos ou diferentes, quem sabe mais velhos e menos maduros, quem sabe mais sábios ou mais inconsequentes. O fato é que apesar de tudo, ainda somos nós três, e eu espero que seja por muito tempo!

Mas antes de começar a embananar vocês com tanta informação besta, vamos ao que nos interessa. Se toda história precisa começar pelo começo, a nossa também tem um. Em uma segunda, terça, quarta – feira, não sei! Só sei que era uma tarde chuvosa de Abril...

Abril de 1977:

São Pedro realmente não estava feliz naquele dia. Afinal de contas, pra querer mandar tanta água cair do céu sob nossas cabeças, aposto que ele deveria estar furioso com alguém lá em cima.

Eu estava correndo pelas ruas movimentadas de São Paulo, em busca de algum lugar seco para esperar aquele temporal passar. Já que quem está na chuva é pra se molhar, eu queria era ficar bem longe dela. Avistei então, ao final da rua, uma oficina. Querendo ou não, era um lugar seco. Corri até lá. Estranhei aquele “salão enorme” estar vazio, mas ainda sim, continuava seco.  Posicionei-me o mais longe da chuva que pude e tentei recuperar o folego que gastei correndo quadras e quadras até encontrar aquele local abençoado onde as pragas de São Pedro não estavam aptas para atingir a nós, seres humanos, abaixo de um bom e confortável teto.

Apesar dos pesares, eu continuava encharcada, com o nariz escorrendo, o corpo frio e tremelico. São Pedro poderia ao menos oferecer um casaco quentinho á quem não tem culpa de nada do que acontece lá no céu e precisa ficar se molhando na chuva, mas ele certamente tinha outras ocupações. Restava-me era esperar a chuva passar, ali, sozinha, naquela oficina que apesar de segura, não possuía nem uma mísera lareira para esquentar as mãos. Que tipo de oficina não tem uma lareira afinal? Espera, você disse todas? Ah! Tudo bem, vamos esquecer essa parte da história.

Minutos e minutos se passaram e eu continuava ali, no cantinho que escolhi, com o corpo frio, molhado, e o nariz escorrendo. De repente eu comecei a ouvir alguns burburinhos, vindos não sei de onde. Mais um ou dois minutos devem ter se passado até eu ouvir uma voz masculina atrás de mim e pagar o maior mico gritando como uma menina indefesa.

— Tudo bem, calma! — Dizia aquele homem com sotaque castelhano.

— Você me assustou! — Respondi, com voz de quem tem o nariz entupido.

— Pelo jeito a chuva pegou você!

— Boa observação!

— Ei Tchê! — Outra voz masculina musicou em meus ouvidos, virei-me para o outro lado e vi dois garotos magricelos vindo em minha direção.

O garoto que havia se pronunciado se calou a me ver.

Olha, não é que eu quero que pensem que eu reparo muito nos homens, mas eu reparo! Aquele menino usava um moletom cinza e uma calça jeans surrada. Seus cabelos um pouco desajeitados, um rosto cheio de sardinhas e dois olhos castanhos deslumbrantes.  Cara de menino confuso, cara de quem nunca viu uma garota encharcada pela chuva antes. Já o garoto que o acompanhava estava com os cabelos mais bem arrumados, uma camiseta de manga longa com uma motocicleta desenhada. A calça jeans também surrada, e olhos castanhos também.

— Quem é? — Perguntou o segundo garoto, o de cabelo arrumadinho!

— Não sei quem é, mas pelo jeito está fugindo da chuva! — O homem com sotaque castelhano voltou a falar.  — Venha comigo garota! Deve haver algo aqui para você vestir! Essa chuva ainda vai longe e se continuar molhada desse jeito vai pegar uma gripe das brabas.  

Eu acompanhei o homem que falava esquisito até a parte de trás da oficina. Havia um armarinho com algumas peças de roupa. Ele retirou de lá um casaco super grosso, talvez feito para se usar no polo norte, eu sei lá!

— Infelizmente eu só tenho alguns macacões de mecânico aqui. Você se importa de usar um? — É claro que eu me importava, afinal eu não era um mecânico, mas ás vezes vale a pena um sacrifício ou outro para manter o seu corpo quentinho.

— Tudo bem, eu não me importo!

— Pode se vestir no banheiro, aqui ao lado.

— Obrigada! — Eu peguei as roupas da mão do homem e fui em direção ao banheiro, lugar um tanto quanto apertado para me trocar!

Quando saí de lá, com uma roupa esquisita, porém quentinha, o senhor que falava esquisito estava me esperando escorado á uma parede, com uma sacola de plástico para eu colocar minhas roupas molhadas.

— Obrigada! — Agradeci novamente

Então nós voltamos para o “grande salão” da oficina. E lá estavam os dois garotos, sentados, os dois com as mãos nos bolsos das calças, conversando sobre alguma coisa que parecia ser bem interessante.

— Bom, já que a chuva não quer dar trégua, porque não se junta a nós? — O homem novamente me dirigiu a palavra e colocou uma das mãos sob meu ombro.

— Ah... Ta, tudo bem!

— Pois bem senhorita, como se chama?

— O meu nome é Fernanda!

— Pois bem Fernanda, o meu nome é Lucio, mas todos por aqui me chamam de “Tchê”. Venha, eu vou lhe apresentar aos meninos.

— São seus filhos? — Tchê riu

— Não, não são meus filhos, mas são tão especiais quanto!

— Ah, entendi! — Eu não estava era entendendo nada, mas entrei na onda e acompanhei o tal de “Tchê” na direção dos dois garotos.

Quando chegamos perto, os dois se levantaram, pressentindo que haveria uma espécie de apresentação formal.

— Meninos, está é a Fernanda. E Fernanda, estes são Ayrton e Alfredo.

— Muito prazer — Estendi a mão para cumprimentá-los. O que se chamava Ayrton, o dos cabelos bagunçados, me cumprimentou primeiro, e Alfredo, o de cabelos bem arrumadinhos, por segundo.