Fanfic: Corações em dívida - adaptada - TERMINADA

A volta a Inglaterra de comboio foi interminável, mas Dulce não se mexeu do banco, como uma drogada.
E doente. As náuseas eram um problema sério, mas conseguiu aguentar. Tentou esvaziar a mente para não pensar em Cris.
Para não pensar que se ia embora de Espanha. Tinham passado três anos. Três anos desde que tinha saído de Inglaterra. Enquanto o comboio percorria o sul de França, começou a recordar como tinha saído de Inglaterra de avião, em primeira classe, sem problemas de dinheiro...
Era mais fácil recordar aqueles tempos do que pensar em Cris.
Mas não lamentava o que estava a fazer. Não podia ficar em Espanha, era impossível. Tinha tentado convencê-lo da sua inocência e ele não acreditara.
E agora seria impossível convencê-lo.
Sem se aperceber, Dulce pôs uma mão no abdômen e olhou pela janela.
Ao princípio, Christopher pensou que Dulce voltaria para o El Paraíso. Afinal de contas, tinha deixado ali a roupa. Não sabia onde podia ter ido, mas era-lhe indiferente.
Pensando nas amizades que tinha... de certeza que já tinha encontrado outro idiota como ele, que, como ele, teria caído na sua rede.
Ou, se calhar, tentava pô-lo ciumento, disse para si.
Mas não era assim. Não estava ciumento. Sentia falta dela, sim. Ao fim e ao cabo, tinham estado vários meses juntos.
Mas não sentia apenas saudades de a ter na cama...
Não queria pensar nisso, não queria pensar nela. A Dulce que ele tinha imaginado não era real. Dulce Maria, a autêntica Dulce não era a mulher de quem ele gostava, a mulher que ficaria com ele para sempre. Nada podia mudar o fato de
que lhe tinha mentido. E quando voltasse para o El Paraíso a veria com novos olhos. A veria como o que realmente era.
Mas Dulce não voltou para o El Paraíso.

Dulce tinha-se esquecido do frio que fazia em Inglaterra. O frio que parecia sair do pavimento.
Tinha-se esquecido do ruído de Londres, dos autocarros, da chuva, do trânsito.
Quando saiu da estação, tudo lhe pareceu cinzento, sem cor. Morto.
Ficou um momento no passeio, com a mala na mão, tremendo de frio. Então, fechou os olhos, tentando recordar o calor da costa del sol, a luz... mas o frio de Inglaterra era entristecedor.
Alguém chocou contra ela e Dulce murmurou uma desculpa em espanhol. O homem olhou para ela com cara estranha. Toda a gente parecia ter pressa. E tudo estava exatamente como o tinha deixado.
Tudo menos ela.
Suspirando, pegou na mala e começou a caminhar.
Jose não podia acreditar no que viam os seus olhos.
- Dulce!
- Posso entrar cinco minutos?
- Cinco minutos? Entra agora mesmo! Como está, querida?
Dulce engoliu em seco. -Bem.
- Estou a ver - murmurou a sua amiga. Quer um café?
- Agradeceria muito.
- Sente. Ah, cumprimenta Harry - sorriu
Josi, apontando para a criança que estava sentada na cadeirinha.
- Olá, Harry. Não nos conhecemos, mas a tua mamãe falou-me muito de você.
- Por carta.
- Por carta, sim. É que o telefone é muito caro.
- Como é que voltaste para Londres? Na tua última carta... que me enviaste há séculos, dizias que só poderias voltar para o próximo ano. Teve sorte? Conheceste o homem da tua vida?
Dulce apertou a xícara.
- Não. Foi exatamente o contrário.
Não queria chorar. Não queria chorar. Mas as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto...

Era o dia da inauguração do clube de golfe O`Hanran. Imensos jogadores internacionais famosos tinham sido convidados para a festa, o champanhe passava de mão em mão e um restaurante de cinco garfos tinha um serviço de catering delicioso.
Pat O`Hanran aproximou-se de Christopher para lhe dar uma palmadinha nas costas.
- Podes estar orgulhoso, amigo. Levantou num tempo recorde. Tu não é dos que dizem "fica para amanhã", pois não?
- Já sabes que não.
- Na verdade, Kathleen pediu-me para que te raptasse.. ,
- Outra vez?
- Outra vez - suspirou o seu amigo.
Christopher aceitou, com impaciência. Sabia o que queria a mulher de Pat: apresentar-lhe alguma mulher bonita. E sabia o que aconteceria depois. Não ligaria nenhuma mulher, e Kathleen começaria a perguntar-lhe o que se passava com ele, se tinha perdido interesse pelo sexo oposto, diria que trabalhava demais... enfim, o de sempre.
Por isso tinha aberto o clube de golfe, para estar ocupado. O clube era um dos projectos nos quais tinha mergulhado de cabeça durante os últimos meses. Os dois novos cassinos em Menorca e nas ilhas Canárias estavam em processo de construção e um terceiro, nas Caraíbas, começava a desenhar-se no escritório do seu arquiteto. Não queria parar. Além disso, assim teria que estar nas Caraíbas durante uma temporada.
Em qualquer lugar menos em Espanha. Em qualquer lugar onde não tivesse estado com Dulce
O fato de ela continuar a ter poder para influenciar o seu comportamento punha-o doente. Mas aquela mulher tinha sido uma maldição na sua vida.
Christopher tentou sair com outras mulheres quando finalmente entendeu que Dulce não pensava voltar, que se tinha ido embora da sua vida para sempre.
Tinha começado a sair novamente com Victoria, mas não conseguiu sequer tocar lhe.
O seu corpo era... diferente. Demais magra, os ossos demais visíveis, a textura da sua pele diferente, o cabelo demais fino, as unhas demais afiadas.
E também não gostava do seu rosto.

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bjix da Naty