Fanfic: Corações em dívida - adaptada - TERMINADA

A sua mãe dependia por completo dela. Desfeita pela traição daquele homem, sempre tinha sido uma mulher extremamente sensível e agarrava-se à sua filha como a uma tábua de salvação. E Dulce nunca a deixara.
Até que apareceu Pablo. Tinha saído com outros rapazes, mas nunca tinha sido nada sério. Pablo trabalhava numa concessionário de carros de luxo e era mais velho do que ela, mais sofisticado. E estava desejoso por levá-la para a cama.
Conseguiu-o quando Dulce fez vinte e um anos. Não achou piada descobrir que era virgem e, portanto, não tinha experiência, mas continuaram a sair juntos.
Então a sua mãe ficou doente e Dulce sentiu-se culpada porque, durante os últimos meses, não a tinha ajudado como devia. O diagnóstico era terrível: câncer numa fase muito avançada.
A sua mãe tinha quarenta e cinco anos. Quarenta e cinco anos. A quimioterapia destroçava-a e quando o médico lhe disse que só lhe restavam seis meses de vida, Dulce tomou uma decisão.
Deixou o seu trabalho como secretária, pediu um empréstimo e vendeu todos os móveis. Quanto à sua mãe, deram-lhe alta no hospital. Depois, apanharam as duas um avião com destino a Málaga, em primeira classe. E alojaram-se num luxuoso hotel de Marbella.
Dulce jurou a si mesma que faria a sua mãe feliz durante aqueles seis meses. Durante aqueles meses não pensaria no dinheiro, não pensaria em nada.
Quanto a Pablo, desapareceu da sua vida por completo quando soube que tinha problemas.
Dulced gastou todo o dinheiro que tinha... e o que não tinha. Os cartões de crédito excederam o limite, mas ela não queria saber. Só queria que a sua mãe fosse
feliz. Embora o cancer a fosse destruindo.
A Alhambra foi o último lugar que visitaram. Morreu nos seus braços naquela mesma noite.
Dulce olhou para a sua filha, tão pequenina...
Antes de nascer, já sabia que seria a sua razão para viver. A sua única pena era que a sua mãe não a tivesse conhecido.
- Como se chama? - perguntou Christopher

Blanca, como a minha mãe - respondeu Dulce, quando terminou o seu relato.
- Depois de comprovar o registro fui ao hospital de Granada para falar com os médicos - contou Christopher então. - E com as enfermeiras. Todas se lembravam de ti, da tua devoção para com a tua mãe. Encom... encomendei uma missa para ela. Pensei que era o que devia fazer.
Dulce sentiu um nó na garganta. E sentiu-o novamente quando viu como Christopher olhava para a menina.
- Posso tocar-lhe? -Sim.
"A minha filha", pensou ele, tocando na sua cabecinha. Tinha o coração apertado, tanto que não podia falar. A sua filha.
-Dulce...
Ela mordeu os lábios. Não queria chorar. Não queria recordar-se. Não queria nada dele...
Mas quando Christopher a abraçou, abraçando o bebe também, os seus olhos encheram-se de lágrimas.
- Não chore, por favor. Não chore. Não chore, querida.
Mas Dulce não podia parar. Uma corrente de lágrimas. As que não quis chorar durante a gravidez para que o bebe não reparasse, as que não quis chorar na solidão.
A pouco e pouco, foi-se acalmando. Não disseram nada, olhavam apenas um para o outro. E nos seus olhos estava tudo.
- Olá, pequenina - murmurou Christopher então, acariciando a carinha da sua filha.
Dulce olhou para ele. E ele olhou para ela também, perdido naqueles olhos com os quais sonhava há um ano.
Mas agora era real, já não era um sonho.
- Perdoe-me, Dulce? Comportei-me como um patife contigo, mas quando descobri que tinha uma dívida com Derrick...
- Não quero falar sobre isso -interrompeu-o ela. - Além disso, eu disse-te que não queria o teu dinheiro. Tentei dizer isso muitas vezes, mas não acreditava em mim:
- E foi embora - suspirou Christopher. - Pensei que voltaria, esperei... Não podia aceitar que te tinha expulsado do meu lado. Não deixava de pensar em ti. Saía com outras mulheres, mas... não era você. Ninguém se parecia contigo acrescentou então, acariciando o seu cabelo. Quando é que soube que estava grávida?

- Na noite em que fiquei doente. O médico suspeitou desde o começo e... Não sei, suponho que eu também. Por isso decidi ir embora. Não podia ficar naquela situação porque teria odiado. Terias pensado que queria o teu dinheiro...
- Meu Deus! Se não te tivesse encontrado, Dulce... teria te perdido para sempre. A ti e à minha filha.
- Não sabe como o lamento.
- Não, você não tem que se desculpar. A culpa é minha, todo este horror é por minha causa - suspirou ele, passando uma mão pelo cabelo. Como pude estragar tudo desta forma? Eu te amo, Dulce. Amo tanto.
- Eu não vou te pedir nada...
- Mas tens o direito de o fazer. Tudo o que tenho é teu. Tudo, o meu coração, a minha alma, a minha vida.
Então inclinou-se para procurar os seus lábios, com ternura.
- Sabe que estou em dívida com Bianca? perguntou Christopher. depois, quando Blanca adormeceu.
- com Bianca?
- Foi ela que me falou da tua mãe.
- Bianca?
- Sim, encontrei-a numa festa e... enfim, contou-me a história. Penso que até poderíamos convidá-la para o casamento.
- Que casamento?
- O nosso - sorriu Christopher, beijando a sua mão.
- Por favor, casa-se comigo, Dulce. Volte para Espanha comigo. Por favor, ama-me, Dulce Maria.
- Já te amo. Sempre te amei - murmurou ela.
- E sempre te amarei.
Christopher abraçou-a, apertando-a contra o seu coração, sem dizer nada porque não havia nada a dizer.
Os últimos raios de sol banhavam o palacete. Christopher. e Dulce estavam no pátio, a observar a procissão de carros e dizendo adeus com a mão.
- De certeza que quer passar a lua-de-mel em Granada?
- Sim. Quero levar Blanca ao lugar onde morreu a sua avó. Quero passear por Alhambra com a minha filha e com o meu marido - sorriu Dulce.
- Eu também, querida. :
- voce me procurou. O meu pai nunca foi procurar a minha mãe, mas você foi, E a minha filha terá a família que eu não tive.
Dulce pôs-se em ponta de pés para beijar o seu marido, sob os últimos raios do sol quente espanhol, com o coração cheio de amor.

- Diz-me uma coisa, adorada esposa - sorriu Christopher.. - Quando tens que dar de mamar a Blanca?
- Daqui a uma hora. Porquê?
- Ah, então vamos ver o que podemos fazer numa hora - murmurou ele, procurando os seus lábios novamente.
Dulce sorriu, emocionada e feliz. Tinha tudo: o seu marido, a sua filha, tudo o que poderia desejar.
- Vamos ver o que podemos fazer em toda uma vida - disse Christopher. em voz baixa.

Fim...