Fanfic: Bodas de Fogo | Tema: Herroni
Maite não tinha muita certeza de quanto tempo permaneceu desperta, lutando contra a ansiedade e aguardando a chegada do marido, antes de adormecer. Embora se sentisse um pouco desorientada ao acordar, não demorou nada para se lembrar de que estava em Dunmurrow, o castelo medonho do Cavaleiro Vermelho. Imediatamente alerta, abriu os olhos, o coração batendo descompassado no peito.
Lutando contra o pânico crescente, olhou ao redor, temendo encontrar a figura sinistra do marido na cama, ao seu lado. Mas não; estava só. O quarto continuava o mesmo de horas atrás, à exceção das velas que haviam queimado até o fim e do fogo quase extinto da lareira. Será que Herrera viera vê-la como uma sombra negra e silenciosa? Inspirando fundo, ela percebeu que não fora uma visita inumana o que a acordara, e sim o amanhecer. As primeiras luzes da manhã procuravam se infiltrar através das pesadas cortinas de veludo.
Maite sentou-se, a surpresa inesperada deixando-a zonza. Herrera não viera ao seu quarto! O alívio que a conclusão lhe trouxe foi tão intenso que teve vontade de rir. Qual o significado daquela atitude?
Só havia uma única explicação possível: ele não a desejava.
Não tinha importância, pensou com uma pontada de orgulho feminino ferido. Tampouco o queria. E quem haveria de desejá-lo? Afinal o Cavaleiro Vermelho não passava de uma criatura sem rosto e sem forma que se escondia nas trevas e aterrorizava as pessoas com sua reputação terrível e temperamento explosivo.
Seria uma verdadeira bênção ficar livre das suas atenções e já que ele não quisera possuí-la na noite de núpcias, provavelmente não iria fazê-lo nunca. Mal conseguia acreditar na sua boa sorte. Não precisaria dormir com o Cavaleiro Vermelho, nem enfrentar suas paixões animais ou ser obrigada a suportar uma provação dolorosa, provavelmente humilhante ao extremo.
Aquela era a primeira coisa boa que lhe acontecera desde que pusera os pés em Dunmurrow. Se ao menos não fosse obrigada a permanecer ali. Parecia-lhe óbvio que Herrera não a desejava, portanto deveria haver uma maneira de convencê-lo a deixá-la ir para casa. Porém a lembrança da noite anterior, quando discutiram sobre o assunto, encheu-a de desânimo.
Para um homem que dissera desprezá-la, o Cavaleiro Vermelho era bastante possessivo. Homens! Todos gostavam de comandar e ditar regras, como se tivessem o direito divino para decidir o destino das pessoas. Talvez ele fizesse questão de mantê-la em Dunmurrow com o único objetivo de puni-la por tê-lo escolhido para marido. Não, não era possível que o lorde fosse assim tão mesquinho e cruel, apesar da reputação terrível.
Sentada na cama, ela puxou as pernas para junto do corpo e apoiou o queixo nos joelhos. Pena que ele não concordasse com a dissolução do casamento porque, infelizmente, não podia tomar nenhuma atitude a esse respeito sozinha. Também lhe ficara negada a chance de afirmar ter sido forçada a casar-se, mas... Maite quase levou um choque com a idéia que acabara de lhe ocorrer.
Havia uma maneira de anular a união dos dois sim. E uma maneira que não exigia o consentimento de Herrera. Relacionamentos em que os casais compartilham um parentesco de sangue de até quarto grau tornam-se inválidos perante a igreja. Verdade que não tinha qualquer parentesco com o barão. Precisava apenas dizer que sim...
Ela sorriu, as esperanças renovadas. Era de conhecimento geral que os homens às vezes fabricavam falsos ancestrais somente para se verem livres das esposas. Talvez o plano fosse improvável de dar certo, mas a existência de uma pequena chance valia o esforço. Maite pulou da cama, rindo feliz com a possibilidade de recuperar a liberdade. Seria um prazer derrotar o Cavaleiro Vermelho.
O som deve ter despertado Edith porque a serva perguntou se podia entrar.
- Venha - ela respondeu alegre, fingindo não perceber a expressão de espanto no rosto da velha criada.
- Bom dia, Edith. Agora que já terminamos de arrumar este quarto, talvez devêssemos começar a cuidar do resto do castelo. - Ainda era muito cedo para compartilhar suas esperanças. Melhor concentrar os pensamentos em seu novo, embora temporário, lar. Sem dúvida as tarefas físicas iriam ajudá-la a se manter ocupada até o momento de voltar para Belvry.
- O quê? - Edith continuava sem entender nada.
- Vou mandá-la até a aldeia para buscar algumas mulheres dispostas a nos ajudar no serviço doméstico. Creio que até o fim do dia teremos quem possa cozinhar e cuidar da limpeza de maneira adequada. Também precisaremos de homens para retocar a pintura das paredes e se encarregar de um ou outro conserto necessário. - Maite contava as tarefas a serem feitas nos dedos das mãos, parecendo bastante entusiasmada.
- Ah, não podemos nos esquecer de providenciar tapeçarias e um guarda-louça para o salão. Depois que eu der uma boa olhada no castelo todo, saberei do que mais iremos precisar.
- Ele vai deixá-la providenciar melhorias em Dunmurrow?
- Bem... - Maite hesitou, recusando-se a admitir que ainda não chegara a discutir o assunto com o marido.
- Tenho certeza que Herrera aprovará as mudanças. Claro que Dunmurrow não é tão bonito quanto Belvry, porém não se pode negar a beleza severa de suas linhas. Podemos tentar e ver o que conseguimos obter no final. Na minha opinião, devemos iniciar pela cozinha. Vou dar uma olhada nas despensas e porões, além de descobrir quem prepara aquela coisa horrorosa que Cecil nos serve.
Edith, que até o momento estivera sorrindo diante do entusiasmo da jovem, tampou a boca com a mão e gemeu alto.
- Minha lady, não! Você não pode ir aos porões!
- E por que não?
- Porque deve ser lá que ele pratica magia negra.
- Quem? Herrera?
- Sim - a criada respondeu muito séria. - Não tenho dúvidas de que aquele homem tem parte com o diabo e se esconde nos porões para invocar os espíritos malignos. O lugar deve ser tão quente e abafado quanto o inferno, cheio de fumaça escura, as mesas lotadas de frascos, vidros e tubos onde substâncias mortais são misturadas.
Maite riu alto, tentando imaginar o Cavaleiro Vermelho debruçado sobre uma mesa repleta de frascos, sua altura gigantesca dominando o ambiente inteiro.
- Oh, fique quieta, Edith. Quanta bobagem.
Depois da noite passada, Herrera lhe parecia muito menos ameaçador. Que ele resmungasse o quanto quisesse, pois no fim da história as coisas acabariam saindo à sua maneira.
- Minha lady se levantou cedo hoje- Cecil comentou enquanto ajudava o lorde a colocar a veste. - Ela parece estar de bom humor.
Herrera ficou em silêncio. Ninguém precisava saber que a felicidade de sua esposa devia-se ao fato de não ter havido noite de núpcias. Claro que Maite se deliciara quando não fora obrigada a cumprir os deveres matrimoniais. De fato não ficaria surpreso se ela tivesse aberto o melhor vinho da adega para celebrar.
- Ela pediu uma audiência com você - o servo concluiu.
- Em outras palavras, minha esposa exige me ver.
- Sim, meu lorde.
Herrera deu de ombros e acabou de se vestir.
- Diga a ela para se juntar a mim na hora do almoço.
Cecil pareceu hesitar.
- Você acha a idéia sensata, meu lorde?
Não, a idéia não era nem um pouco sensata, o Cavaleiro Vermelho decidiu. Mas hoje, pela primeira vez nos últimos meses, não acordava pensando naquilo que o consumia. Hoje, acordara pensando em cabelos castanhos, quase pretos, e olhos cinzentos... .
Ainda podia ouvir o tom ligeiramente rouco da voz feminina, sentir o perfume suave que emanava das formas delicadas e excitava os seus sentidos. Herrera sentiu uma pressão na região das virilhas ao se lembrar daqueles seios firmes pressionados de encontro ao seu peito quando a beijara na capela. Há muito tempo não desejara alguém com tanta intensidade.
- Quero comer na companhia de minha esposa. Alguma objeção? - ele indagou calmamente.
Alguns segundos se passaram antes que Ceci! se aventurasse a responder.
- Você confia nela?
- Não, não confio, porém a considero intrigante.
A resposta não era de todo verdadeira. Embora o plano de Maite para iludir Edward tivesse sido tolo e ingênuo, ele a admirava pela coragem de tentar escapar às regras impostas pelo destino. Também a admirava pela elegância e fibra demonstrada em face à derrota. Seria natural esperar que Maite procurasse fugir das conseqüências ao perceber que nada saíra como planejado. O fato dela ter permanecido firme, tanto complicava quanto trazia um novo significado à sua vida. Os sentimentos que aquela mulher despertava em seu coração eram tão contraditórios que não se atrevia a examiná-los.
- Pode ser perigoso, meu lorde - Cecil insistiu.
Pelos céus! Claro que era perigoso, Herrera praguejou em silêncio.
- Talvez fosse melhor se você pedisse a anulação deste casamento.
O Cavaleiro Vermelho virou-se na direção do servo, sem saber se queria ou não ouvir certos conselhos. Por outro lado, não podia correr riscos desnecessários. Devia considerar todas as opções em relação à sua nova esposa cuidadosamente antes de tomar qualquer decisão definitiva.
- E baseado em que eu pediria a anulação deste casamento? - ele indagou com aspereza.
- Talvez você ainda não tenha pensado no caso, meu lorde, mas existe uma proibição contra uniões consangüíneas. Até mesmo parentescos distantes podem ser invocados. Portanto não seria difícil arranjar testemunhas dispostas a jurar que você e lady Perroni são parentes.
- Verdade - Herrera murmurou, sentando-se na beirada da cama. - Por que não pensei nisso antes?
Quando na noite anterior Maite viera com aquela história ridícula de que ele fora obrigado a casar-se, por que não se lembrara da proibição sobre uniões em que houvessem laços de sangue?
Se fosse sincero consigo mesmo, admitiria que na presença da esposa acabara esquecendo-se de tudo o mais. Ficara fascinado pela voz envolvente, pelo perfume feminino e suave... e até pelos absurdos ditos com total convicção. Isadora parecia conseguir tirar qualquer homem do sério com um simples estalar de dedos.
Melhor livrar-se dela. Embora reconhecesse o fato, alguma coisa o impedia de tomar as providências necessárias. Talvez a lembrança da vida pulsando em seu quarto escuro sob a forma delicada de uma mulher. Era difícil abrir mão de um raio de luz.
- Edward não permitirá que uma jovem mantenha o poder sobre um feudo tão próspero quanto Belvry. Mesmo que a Igreja concorde em nos conceder a anulação do casamento, o rei simplesmente a forçará a escolher outro marido.
- Sim - Cecil concordou, continuando a arrumar o quarto. - Você deve estar certo, meu lorde. Contudo, casada com outro, lady Peerroni deixará de ser uma ameaça.
O barão resmungou qualquer coisa ininteligível. Ao imaginar Maite abandonando Dunmurrow, a sensação de perda era tão intensa quanto inesperada. A quem ela escolheria da segunda vez? As circunstâncias o tinham forçado a romper contato com quase todos os cavaleiros da corte, a maioria realmente desprezível. Aquela mulher suave, casada com outro homem, os cabelos castanhos espalhados sobre o travesseiro, as pernas abertas enquanto alguém a violentava... Era uma visão que não conseguia ignorar.
- Eu não quero que ela sofra nas mãos de qualquer um. - Na verdade não queria a esposa nas mãos de homem algum. E quem poderia condená-lo por isso? - Edward não iria ficar nada satisfeito com esse pequeno truque tampouco. Aliás, o rei acredita na importância do casamento como instituição séria. É melhor deixarmos as coisas como estão, pelo menos por agora.
- Você está certo como sempre, meu lorde. Mas será que ela deve ficar em Dunmurrow? Se lady Perroni é dona de um feudo tão próspero, não seria mais sensato mandá-la de volta para lá?
- Não! -Herrera surpreendeu-se com a própria reação, uma mistura de possessividade em relação à esposa e irritação pela interferência de Cecil. Embora soubesse muito bem que o servo falava com a voz da razão, mesmo assim preferia não lhe dar ouvidos. - Ela é minha. E como qualquer outra esposa, ficará ao lado do marido. Não ultrapasse os seus limites, meu amigo.
- Sim, meu lorde. - Cecil suspirou alto, deixando claro que não concordava com o Cavaleiro Vermelho, apesar das palavras ao contrário. - Quer dizer então que você vai contar tudo à lady Perroni?
- Não, não vou contar nada! E você também não dirá coisa alguma. Ficará de boca fechada, mesmo se ela tentar fazê-lo falar. Maite é inteligente, não costuma cometer erros, ainda que trace planos às vezes ridículos.
- Mas, meu lorde, como vamos conseguir contornar a situação? O que você pretende fazer?
Apesar da preocupação evidente do servo, Herrera não demonstrava qualquer sinal de afobação.
- Vamos continuar exatamente como estávamos antes de lady Perroni chegar. Agora pode ir, Cecil. Vou pensar nos seus conselhos, porém tomarei minhas próprias decisões no que diz respeito a essa esposa inesperada.
Tão logo se viu a sós, Herrera encostou um braço na parede e praguejou baixo para aliviar a tensão. Percebendo o humor do dono, os cães se aproximaram em busca de um pouco de atenção.
- Qual é a sua opinião, Castor? E a sua, Pollux? O que vocês acham da nova senhora do castelo? -Os animais balançaram os rabos felizes ao ouvir seus nomes.
- Sim, é uma mulher tentadora demais... Sei muito bem o que eu gostaria de fazer com lady Perroni. Quando da usa aquele tom de voz superior, tenho vontade de jogar os pratos e as travessas para o lado e possuí-la ali mesmo, em cima da mesa. Mas isso está fora de cogitação... não é?
O sensato seria devolvê-la para a corte de Edward, que a essas alturas dos acontecimentos deveria estar morrendo de rir com o desfecho da história.
Como se concordando com as palavras do dono, os cães agitaram os rabos freneticamente.
Autor(a): taynaraleal
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 79
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fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:55:37
Amei essa fic e espero de coração que venham mais e mais adaptações suas! Sei que elas virão, então saiba q estarei aq esperando!!! O Cavaleiro Vermelho e a Maite não poderiam ter um final melhor!!! Beijosss Tayzinha, e que venham os novos projetos!!
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fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:54:34
Como já te disse, amo suas adaptações!! vc escolhe mt bem e escolhe os melhores p colocar no nosso casal topper
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fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:54:06
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, UMA BEBEZINHA ZENTIII
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taynaraleal Postado em 06/02/2017 - 20:04:27
VOU CONTINUAR MEU POVOOO, ESPERO QUE AINDA ESTEJAM AII
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nessak. Postado em 24/03/2016 - 19:19:09
Continua a fanfic e muito boa
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dahnm Postado em 17/03/2016 - 15:22:31
Hey ...Não Abandona Não ... Posta Mais...
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dahnm Postado em 06/12/2015 - 14:11:58
CONTINUA...
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mylene_herroni Postado em 28/11/2015 - 01:02:26
Continuaaaaaaa. *leitora nova* ameii tudoo.
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Gisele Beorlegui Postado em 27/11/2015 - 08:48:18
Posta mais. Necessito de mais.
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Gisele Beorlegui Postado em 27/11/2015 - 08:47:51
'- Me beije - ele pediu' JESUS