Fanfics Brasil - Capítulo 12 Bodas de Fogo

Fanfic: Bodas de Fogo | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 12

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A urgência contida na voz do Cavaleiro Vermelho, tão diferente da habitual, trouxe-a de volta à realidade. Mes­mo não podendo lhe enxergar o rosto, sabia que Herrera queria lhe dizer algo e procurava as palavras certas.


- Tenho que viver dessa maneira por razões pessoais - ele falou afinal, ainda abraçando-a. - Mas uma coisa lhe garanto. Você pode fazer o que quiser dentro deste castelo. Limpar, arrumar, mobiliar, providenciar reparos. Se as mulheres da aldeia não quiserem vir ajudá-la, traga os homens para fazer o serviço. E se eles se recusarem, diga-lhes que irei pessoalmente ar­rastá-los até aqui, para prestarem serviço ao lorde de Dunmurrow. Agora vá.


A suavidade do tom impediu que a ordem soasse rude, porém quando Herrera se afastou, foi como se o mundo se tornasse repentinamente gélido.


Ainda trêmula e atordoada pelo acontecido, Maite deu alguns passos na direção da porta, mal percebendo que o Cavaleiro Vermelho lhe fizera enormes concessões.


Antes de sair, fitou a escuridão impenetrável, tentando acalmar as batidas descompassadas do coração. Só não sabia o que a assustava mais, o fato de Herrera a ter dispensado ou a certeza de que na verdade não queria deixá-lo.


 


Maite levantou-se na manhã seguinte sen­tindo-se estranhamente inquieta. Fora uma noite longa e insone. Ficara horas acordada, rolando na cama de um lado para o outro, incapaz de relaxar. Porém a ausência de Herrera não lhe trouxera qualquer alívio, muito pelo contrário. Bastava pensar naquele beijo para seu sangue ferver nas veias e ela se perguntava se em vez de apreciar a ausência do marido, não devia se considerar insultada.


Sempre soubera que os homens a consideravam uma mulher atraente, embora tivesse passado a maior parte da vida tentando ignorar o fato. Estar à altura dos irmãos, ajudar o pai a administrar Belvry e ter seu sucesso re­conhecido haviam sido muito mais importantes do que beleza física para a garota solitária, criada num ambiente marcadamente masculino. Sua família jamais dera qual­quer importância à sua aparência e sim às suas habili­dades de castelã.


Contudo outros homens costumavam valorizar quali­dades superficiais, como beleza, por exemplo, e até ma­nifestavam certas preferências. De repente Maite se perguntou quais seriam as preferências de Herrera em relação ao sexo oposto. Talvez mulheres altas, mo­renas, de curvas generosas. Irritada consigo mesma, pro­curou ignorar os pensamentos. Não ligava a mínima para o Cavaleiro Vermelho ou as suas predileções!


A única coisa que lhe interessava agora eram as concessões que recebera. Tinha mil planos para o castelo. Na verdade Dunmurrow não seria tão ruim assim se Herrera lhe desse carta branca para administrá-lo. E depois de ontem à noite, suspeitava que conseguiria obter sucesso na empreitada. Afinal ele parecera sofrer uma transformação durante o jantar. E que transformação! Num momento rugia como uma fera e no outro...


Sem que pudesse evitar o impulso, Maite tocou os lábios com as pontas dos dedos, lembrando-se do beijo apaixonado que haviam trocado. Como fora capaz de retribuir a carícia com tanto ardor? Pela primeira vez desde a celebração do casamento, perguntava-se o que estaria perdendo por não consumá-lo. Não; quanta tolice! Um beijo era uma coisa, dividir a cama com alguém era outra bastante diferente. Para completar, o Cavaleiro Vermelho também não podia ser considerado um homem comum, e sim um enigma, cuja face ou corpo sequer chegara a ver.


Ela estremeceu, mal conseguindo acreditar que, de livre e espontânea vontade, tivera coragem de abraçar um completo estranho. De repente a fama aterradora de Herrera pareceu pesar sobre seus ombros como um manto insustentável. Entretanto, apesar de todos os boa­tos, Edith se enganara a respeito de um detalhe. O Cavaleiro Vermelho, definitivamente, não era uma sombra, mas sim de carne e osso. Podia testemunhar quanto a esse detalhe. Aliás, o contato daquele corpo sólido a dei­xara em fogo...


Irritada, Maite procurou desviar o rumo dos pensamentos. Apesar dos beijos de Herrera não serem...detestáveis e apesar de lhe ter sido permitido fazer alterações no castelo, não se sentia pronta para colocar os planos de lado. Continuava determinada a provar sua falsa ascendência e conseguir a anulação do casamento. E quanto mais rápido melhor.


Enquanto isso, trataria de colocar Dunmurrow nos ei­xos. Era o tipo de trabalho que sabia fazer com perfeição.


Se sua aparência física não agradava Herrera, pou­co podia fazer a respeito, porém mostraria suas quali­dades de castelã. Eventualmente, mesmo o Cavaleiro Ver­melho ficaria satisfeito com os seus esforços.


Não que desse qualquer importância à opinião de Herrera a seu respeito. Também não era por causa dele que decidiu colocar uma de suas roupas preferidas. Um vestido de veludo azul claro, com bordados num tom mais escuro na gola e nas mangas. O contraste do tecido com sua pele branca e cabelos muito castanhos realmente a favorecia. Seu pai, nunca dado a elogios, quando a vira naquele vestido pela primeira vez, dissera que o fazia pensar numa jóia delicada encravada em prata. Maite ficara feliz porque sem um espelho onde pudesse se ver refletida, tinha apenas a opinião de terceiros para formar uma idéia quanto a própria aparência.


Depois de se vestir, ela chamou Edith para ajudá-la a arrumar os cabelos. Sendo agora uma mulher casada, seria mais adequado usar as longas tranças prateadas presas ao redor da cabeça, e não soltas sobre as costas como era de seu costume. Já que pretendia ir até a aldeia, acabou se deixando convencer pela velha criada a usar um broche no alto da cabeça, embora normalmente con­sideraria o enfeite pomposo demais.


- Você está linda - Edith murmurou, os olhos bri­lhando de emoção. - Se ao menos pudéssemos estar de volta à corte, aposto que todos os cavaleiros do reino iriam pedir sua mão ao rei Edward.


- Mas só que não podemos voltar no tempo. Também continuaria sem me interessar por qualquer um deles.


Jamais me arrumei de maneira especial para agradar um homem e não pretendo começar agora.


Por um momento Maite imaginou se Edith não es­taria provocando-a, acusando-a de se vestir de modo es­pecial para impressionar o marido. A serva acabaria pen­sando que ela perdera a cabeça!


- Vou até a aldeia hoje. Também pretendo assumir meu papel de castelã de Dunmurrow, com todas as obrigações que o cargo implica - Maite se apressou a explicar, como se assim justificasse a escolha do traje.


- Você pode estar parecendo uma rainha, minha lady como na verdade está. Porém, por mais que tente, não conseguirá fazer os aldeões mudarem de idéia. Eles dizem que o Cavaleiro Vermelho recebeu Dunmurrow como premio e que passou dois anos inteiros lutando ao lado do rei Edward, vindo visitar a propriedade apenas uma vez.


Dizem também que ao voltar para cá, o Cavaleiro Vermelho se trancou dentro do castelo e daqui não saiu mais desde então. Enquanto o lugar se transforma em ruínas, o barão continua às voltas com feitiçarias. Dizem que...


- Psiu! - Maite cortou-a impaciente. - Sei muito bem o que todos dizem e pensam a respeito de Herrera, mas precisamos de ajuda para colocar o castelo em ordem e pretendo consegui-la. Você duvida de que eu seja capaz de obter o que quero?


Edith sacudiu a cabeça vagarosamente, dividida entre o desespero que a situação lhe causava e a lealdade à sua senhora.


- Bem, não vou forçá-la a nada. Você pode ficar aqui enquanto vou à aldeia sozinha. O que foi agora? – ela indagou, percebendo que a serva retorcia as mãos sem parar, os olhos brilhando de ansiedade.


- Pense no que vou lhe dizer, minha lady. Eu poderia acompanhá-la e juntas daríamos um jeito de fugir desse lugar amaldiçoado.


- Edith! Me faça o favor de parar com essas bobagens. Estamos aqui e aqui vamos ficar, a menos que aconteça um fato novo, capaz de alterar as circunstâncias. Na ver­dade sinto-me chocada por você pensar que uma Perroni seria capaz de fugir de um desafio.


- Então você considera o barão Herrera um...um desafio?


- Claro que não! Estou me referindo ao castelo e à possibilidade de transformá-lo num local habitável. Não nada de errado com limpeza, pintura e pequenos reparos.


- E quanto a Herrera?


Maite descartou-o com um gesto impaciente de mãos.


- Ele ficará contente de nos deixar cuidar de nosso trabalho.


Deixando a criada totalmente apalermada com o co­mentário; Maite saiu depressa do quarto.


Embora ansiosa para chegar ao salão principal, foi obrigada a andar devagar por causa da quase total es­curidão. Durante todo o trajeto, procurava se convencer de que seu entusiasmo devia-se apenas às melhorias que planejava fazer no castelo e não tinha nada a ver com o Cavaleiro Vermelho. De qualquer forma, tremia de an­tecipação só de pensar que talvez ele a estivesse aguar­dando lá embaixo. Quem sabe seu marido decidira levá-la a aldeia, tanto para cumprir a promessa de que trariam servos para Dunmurrow quanto para passar algum tem­po ao seu lado?


Ao descobrir que o salão estava vazio, à exceção do sempre-presente Cecil, não conseguiu evitar uma pontada de decepção.


- Meu marido não vem se encontrar comigo?


- Ele está ocupado com outras coisas urgentes, minha lady. Pediu que eu a acompanhasse à aldeia.


- Então vamos - ela respondeu secamente, incapaz de disfarçar a frustração. Na verdade o servo, apesar de taciturno, era uma pessoa educada e cortês. O problema é que parecia onipresente.


Em vez de ficar impressionada com a aparente habi­lidade de Cecil, sentia-se tentada a culpá-lo pelo estado deplorável em que o castelo se encontrava. Um homem, por mais competente que fosse, não podia dar conta de tudo sozinho. Mesmo ela, com todos os seus talentos de castelã, fora forçada a delegar responsabilidades a ter­ceiros. Seria bom que Cecil aprendesse a fazer o mesmo.


Dunney não ficava muito distante e, para seu prazer, a aldeia em nada lembrava a atmosfera sinistra do castelo. Quando se espalhou a notícia de que a esposa do Cavaleiro Vermelho iria passar por ali, as pessoas co­meçaram a chegar às portas e janelas das casas para dar uma espiada. A princípio os olhares frios e descon­fiados a incomodavam, porém, gradualmente, o humor dos aldeões pareceu se alterar.


Maite sorriu de leve ao ouvir os murmúrios cheios de admiração sobre a sua aparência. Embora fosse o tipo de coisa a que não desse importância, se a beleza de seu rosto podia ajudá-la a conquistar um pouco da atenção dessas pessoas, iria aproveitar a vantagem. Quando um grupo de crianças aproximou-se do seu cavalo, ela ,os brindou com um sorriso radiante.


- Você é mesmo a mulher do Cavaleiro Vermelho? - perguntou um menininho, mais ousado do que os outros.


- Sou sim. Qual o seu nome?


- Kendrick - o garoto respondeu orgulhoso. - E esta é minha irmã Moira.


Uma menininha, de cabelos longos e escuros, saiu de trás do irmão.


- Você é uma feiticeira? - a criança indagou ofegante.


- Claro que não!


Apesar do olhar furioso de Kendrick, a menina resolveu continuar.


- Mas você se casou com ele... com o Cavaleiro Vermelho.


- Preste atenção no. que vou lhe dizer, Moira, e todos vocês também. - Maite ergueu a cabeça e aumentou o tom de voz para que não ficassem dúvidas quanto às suas palavras. - O barão Herrera não é nenhum demônio, ou uma criatura do mal. É apenas um ser hu­mano de carne e osso, como qualquer um de vocês. As histórias que se contam a respeito dele não passam de tolices e seu único objetivo é assustar os inimigos de Dunmurrow. Vocês estão sob a proteção do Cavaleiro Ver­melho e não têm motivos para temê-lo.


- Você não sente medo dele? - Moira insistiu, os olhos castanhos arregalados.


- Não tenho medo de homem algum. E muito menos do Cavaleiro Vermelho.


O burburinho excitado que se seguiu às suas palavras era um bom sinal, Maite pensou satisfeita. Se os aldeões manifestavam opiniões diferentes era porque algumas das pessoas acreditavam no que acabara de dizer. Apesar de saber que seria Impossível fazê-los mudar de idéia do dia para a noite, conseguira plantar a semente da dúvida.


Chateada por não ter se lembrado de trazer doces para distribuir à criançada, ela atirou várias moedas, ouvin­do-os gritar o nome da castelã de Dunmurrow cheios de prazer. Se pudesse conquistar a simpatia dos adultos com igual facilidade e levá-los para o castelo...


Para sua surpresa, Glenna, uma senhora viúva, mãe de Kendrick e Moira, foi a primeira a se manifestar. Dizendo-se à beira da miséria desde que perdera o com­panheiro, aceitou assumir o cargo de cozinheira de Dun­murrow. Logo a irmã de Glenna e seu marido, mais um garoto órfão, decidiram ir também. Um grupo pequeno, é verdade, mas melhor do que ninguém. Ao ouvir mur­múrios de que aqueles que cruzassem os portões do cas­telo não seriam vistos no mundo dos vivos outra vez, Maite perdeu a paciência.


- Quanta bobagem! Pretendo que essas pessoas me ajudem no trabalho de fazer esta aldeia florescer. Vocês a verão aqui de novo amanhã mesmo, quando vierem ao mercado. Agora prestem atenção. Todos os que quiserem prosperar associando-se a Dunmurrow fiquem avisados de uma coisa: não difamem meu marido! Não o caluniem!


Ela puxou as rédeas do cavalo e afastou-se devagar, imponente como uma rainha, certa de que começara bem o lento processo de conquistar a confiança dos aldeões.


Eles teriam muito sobre o que falar e amanhã, quando mandasse aqueles que a seguiam de volta ao mercado, ficaria provado que o lorde não era nenhum demônio.


Satisfeita consigo mesma, Maite deu uma olhada fur­tiva na direção de Ceci! e surpreendeu-se ao notar que o servo a observava atentamente. O homem parecia de­saprovar seu pequeno discurso de minutos atrás. Talvez ela tivesse se excedido um pouco. Talvez tivesse sido me­lhor ficar de boca fechada o tempo inteiro.


Afinal, quem era ela para defender o Cavaleiro Ver­melho se desde que chegara a Dunmurrow, sequer lhe conseguira ver o rosto?


No final das contas, o saldo do dia foi positivo. A nova cozinheira logo assumiu os afazeres domésticos e provi­denciou uma refeição adequada para todos. Depois do almoço, Maite os liderou na tarefa de limpar o salão principal.


Quando Ceci! veio chamá-la para jantar, seu vestido estava empoeirado e as tranças caíam desalinhadas sobre as costas. Seus esforços para parecer bonita haviam sido em vão, porém sentia-se cansada demais para se importar.


Herrera parecia de mau humor, portanto sua aparência descuidada não iria fazer a menor diferença aos olhos do marido. De qualquer maneira, a não ser um gato, nenhum ser vivo poderia distinguir. o que quer que fosse dentro da escuridão reinante. Não era de se estranhar que o Cavaleiro Vermelho não a considerasse atraente já que nem se dera ao trabalho de querer vê-Ia à luz do dia. O fato a irritava profundamente, contudo sentia-se tão feliz com os progressos feitos na recuperação do castelo que preferia não se deixar incomodar pelo si­lêncio pesado e sufocante.


Mesmo não sendo uma pessoa de natureza falante, Maite sentiu prazer em relatar os sucessos do dia. Ani­mada, contou sobre a resistência inicial dos aldeões, sobre a maneira calorosa como as crianças a tinham recebido e sobre as pessoas que trouxera para trabalhar no castelo.


- Já é um começo, meu lorde.


Ignorando os murmúrios sem entusiasmo de Herrera, ela foi em frente, ansiosa para expor seus planos de estreitar os laços entre Dunmurrow e a aldeia.


- Assim que os aldeões se convencerem de que você não costuma comer gente no jantar se prontificarão a trabalhar aqui.


- E como você pode ter certeza de que eu não como pessoas? - o barão indagou, num tom frio e ameaçador.


De repente ela se lembrou das histórias estranhas que insistiam em persegui-lo e da atmosfera sinistra que a rodeava. Entretanto estava de muito bom humor para se deixar abater com facilidade.


- Como posso ter certeza? Simplesmente porque você ainda não me comeu - respondeu rindo.


Ruídos estranhos ecoaram pelos aposentos. Depois de alguns segundos Maite percebeu que o barão tossia forte.


- Você se engasgou? - Antes mesmo de terminar a frase, levantou-se preocupada.


- Não foi nada. Pode se sentar.


Mais tranqüila, ela voltou a atenção para a conversa.


- Estive pensando nos preparativos para o Natal. Uma comemoração adequada, com todas as honras, aca­bará conquistando os aldeões de uma vez por todas. Tam­bém teremos tempo suficiente para organizar uma pe­quena ceia. Vamos precisar de especiarias para o bolo de gengibre e também para o bolo de frutas. Nosso es­toque está baixo, mas creio que será possível darmos um jeito. Será um longo caminho até ganharmos a confiança deles, meu lorde.


- Maite. - A voz de Herrera não guardava nada da reserva habitual, o que imediatamente lhe pren­deu a atenção. Era algo tão pequenino, ser chamada pelo nome de batismo... Ainda assim sentiu um arrepio es­tranho percorrê-la de alto a baixo.


- Sim, meu lorde?


- Alfonso. Meu nome é Alfonso.


- Alfonso - ela repetiu devagar. Gostava do som, assim como gostava da maneira como a palavra deslizava em sua língua. Ao se lembrar de como as línguas de ambos tinham se encontrado no dia anterior, Maite corou violentamente, grata pela escuridão protetora. Será que Alfonso iria beijá-la de novo? Só de pensar na Possibilidade ficava em fogo, imagens sensuais dançando selvagens em sua mente.


Chocada consigo mesma, percebeu que queria ser beijada. Na verdade, queria o marido por inteiro. Ele não passava de uma silhueta enorme, sempre imersa nas sombras, um mistério que não conseguia decifrar. Mas apesar dos perigos, não conseguia resistir. Queria só mais um beijo...


Inspirando fundo, Maite cerrou os punhos sobre o colo e aguardou imóvel.


Os cães haviam parado de se remexer e com certeza deviam estar deitados aos pés de Herrera. Aos pés de Alfonso. Alfonso. Embora repetisse aquele nome silencio­samente, como um pedido, uma súplica, seu objeto de de­sejo permanecia indiferente aos seus pensamentos ousados.


- Você falou que sabe cantar bem -ele disse de repente. - Se importaria de exibir esse talento?


- Claro que não. - Oh, Deus, por que se sentia assim, toda trêmula por dentro? Não era possível que estivesse sedenta das atenções do Cavaleiro Vermelho. Só podia ter bebido vinho demais durante a refeição. Além de tudo o dia havia sido longo e cansativo. Isso explicava o tu­multo interior... Ou será que não?


Com muito esforço, conseguiu acompanhar o que Herrera dizia agora.


- Estou pensando em mandar Cecil chamar o garoto que chegou da aldeia hoje para acompanhá-la. Ouvi-o tocar flauta algumas horas atrás.


- Você acha que seria sensato? - Talvez fosse melhor evitar que o garoto penetrasse nos aposentos do Cavaleiro Vermelho. Depois do sucesso relativo obtido naquela ma­nhã, detestaria que rumores sobre a figura ameaçadora do lorde chegassem à aldeia.


- Não, não creio que seria sensato. Embora esteja certo de que você não hesitaria em defender minha honra dos que tentam me caluniar.


Ela enrubesceu até a raiz dos cabelos. Então Cecil repetira suas palavras aos ouvidos do barão.


- Será que alguma vez já lhe ocorreu, esposa, que de gosto das histórias contadas a meu respeito como uma maneira de manter as pessoas afastadas da minha porta?


- Mas por que, meu lorde?


- Alfonso.


- Alfonso - ela repetiu, seduzida pelo poder daquela voz profunda. - Por quê?


- Não importa o porquê. Agradeço sua lealdade e suas boas intenções, mas deixe as coisas como estão. Ago­ra que você conseguiu trazer algumas pessoas até o cas­telo, vamos fazer uso delas. Cecil!


O servo apareceu imediatamente, como se não tivesse mais nada a fazer na vida a não ser aguardar ser chamado do lado de fora dos aposentos do barão. Minutos depois o rapazinho sentava-se diante do fogo. Talvez pensando que os recém-casados preferissem as sombras quando es­tavam juntos, ele não estranhou a ausência de velas e tocou com prazer.


Maite cantou antigas baladas de amor, uma depois da outra. Alfonso sempre pedia por mais, até que ela se viu obrigada a parar, à beira da exaustão. Nunca pensara que faria um sucesso tão grande. Seu marido podia não apreciá-la, porém não tinha dúvidas de que ele gostava da sua voz.


Herrera não fora muito efusivo nos elogios, é ver­dade. Contudo soubera como reverenciá-la através do si­lêncio absoluto e das poucas palavras de admiração. Em sua vida recebera agrados antes, mas nenhum deles fora mais sincero.


Alfonso ficara encantado. Bem depois de Maite ter se retirado, ele continuara ouvindo os sons melodiosos. .Ja­mais escutara algo tão belo ou tão doce. Quando Cecil voltou, encontrou o barão sentado no mesmo lugar, uma expressão absorta no rosto viril.


- Ela acendeu tocheiros no salão principal - o servo comentou. - As sombras foram banidas e as pessoas que vieram da aldeia hoje estão agora estendendo os catres para passar a noite.


- E então? - Herrera não conseguia disfarçar a irritação. Cecil soubera estragar o clima perfeito que sua esposa criara através da música.


- E então você tem um lugar a menos para andar dentro da sua própria casa. Além de mais pessoas abri­gando-se sob os tetos do castelo.


- E então? Qual o problema? Simplesmente começou o fim, como eu sabia que iria começar um dia.


- Sim, meu lorde, começou. Mas o que acontecerá com sua lady?


Sua lady. As palavras do criado tinham um peso quase insuportável. Embora pudesse lhe parecer estranho, Maite era sua esposa. O que aconteceria com ela quando o mundo viesse bater à sua porta? o mundo do qual durante meses tentava se manter afastado? Não se sentia preparado para pensar no assunto.


Praguejando entre os dentes, Herrera fez sinal para que Cecil se retirasse. Por que iria se importar com o que acontecesse à mulher responsável pela sua ruína? A mulher que invadira sua escuridão sem qualquer pudor?


Alfonso tinha consciência de tudo isso, assim como sabia ser Maite a culpada de sua futura condenação. Entretanto apesar dos graves problemas que o aguardavam, só conseguia pensar na voz maravilhosa, suave como a de um anjo vindo dos céus para lhe aquecer o frio da alma.


Maite deixou que Edith a ajudasse entrar na pequena banheira. Depois de um dia inteiro passado inspecionando a leiteira e os campos, estava ansiosa para se livrar da sujeira. Suspirando fundo, pegou o sabonete e começou a ensaboar-se. Não havia nada como um delicioso banho quente.


Sua satisfação era ainda maior porque a serva parecia tranqüila. Finalmente Edith aceitara mudar-se para o próprio quarto e já não falava tanto sobre abandonarem Dunmurrow de uma hora para a outra.


- É bom vê-la alegre outra vez - Maite comentou.


- Hum... Não posso dizer que esteja feliz aqui e tam­bém não confio naquele demônio vermelho. Mas vendo como ele a trata bem e como lhe deu permissão para dirigir o castelo... E, suponho que por enquanto eu vou ficar aqui.


Ela sorriu, sabendo que a criada jamais pensara em abandoná-la. Entregando-se ao calor da água que a aque­cia até aos ossos, Maite percebeu que na verdade sen­tia-se bastante contente. Era uma idéia estranha, pois jamais julgara possível encontrar motivos para satisfação dentro daquelas quatro paredes e muito menos que o papel de lady de Dunmurrow pudesse lhe dar prazer. Contudo... aqui estava, ronronando como uma gata depois de um longo e proveitoso dia.



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Autor(a): taynaraleal

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 79



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  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:55:37

    Amei essa fic e espero de coração que venham mais e mais adaptações suas! Sei que elas virão, então saiba q estarei aq esperando!!! O Cavaleiro Vermelho e a Maite não poderiam ter um final melhor!!! Beijosss Tayzinha, e que venham os novos projetos!!

  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:54:34

    Como já te disse, amo suas adaptações!! vc escolhe mt bem e escolhe os melhores p colocar no nosso casal topper

  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:54:06

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, UMA BEBEZINHA ZENTIII

  • taynaraleal Postado em 06/02/2017 - 20:04:27

    VOU CONTINUAR MEU POVOOO, ESPERO QUE AINDA ESTEJAM AII

  • nessak. Postado em 24/03/2016 - 19:19:09

    Continua a fanfic e muito boa

  • dahnm Postado em 17/03/2016 - 15:22:31

    Hey ...Não Abandona Não ... Posta Mais...

  • dahnm Postado em 06/12/2015 - 14:11:58

    CONTINUA...

  • mylene_herroni Postado em 28/11/2015 - 01:02:26

    Continuaaaaaaa. *leitora nova* ameii tudoo.

  • Gisele Beorlegui Postado em 27/11/2015 - 08:48:18

    Posta mais. Necessito de mais.

  • Gisele Beorlegui Postado em 27/11/2015 - 08:47:51

    '- Me beije - ele pediu' JESUS


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