Fanfics Brasil - Capítulo 19 Bodas de Fogo

Fanfic: Bodas de Fogo | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 19

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Fascinada, Maite observou o casal se afastar. Edith parecia caminhar de maneira diferente, um ondular sua­ve nos quadris. Desde a morte do marido, ela jamais se envolvera com homem nenhum. Será que aquela impli­cância com o soldado não passava de encenação, uma fachada para disfarçar sentimentos mais profundos? Se­ria ótimo, um verdadeiro alívio. Talvez com alguma coisa, ou alguém, para mantê-la ocupada, finalmente acabaria aceitando a nova vida em Dunmurrow.


A idéia a fez pensar na sua própria mudança de ati­tude. Depois da noite anterior já não podia considerar o castelo como uma residência temporária. Estava ali para ficar. Os planos para anular o casamento esquecidos no calor dos braços do marido.


A verdade é que desejava assumir a posição de esposa de Alfonso em todos os sentidos, de todas as maneiras pos­síveis, mesmo sabendo que a relação dos dois provavel­mente nunca seria tranqüila e relaxada. Suspeitava que Herrera jamais se sentaria ao seu lado na mesa do salão principal ou a acompanharia em passeios pelos arredores. .


O Cavaleiro Vermelho continuava envolto numa teia de mistérios, talvez agora mais do que antes, e apesar da paixão que os unia, Maite sentia-se inquieta no que dizia respeito ao marido. De vários modos ele continuava sendo um completo estranho.


Embora Maite tivesse passado a tarde inteira entre­tida com inúmeras tarefas, seus pensamentos continua­vam voltando para Alfonso e o jantar que deveriam parti­lhar à noite. Por mais que se esforçasse, não conseguia banir a visão do marido amando-a na escuridão do quarto.


Como algo proibido se torna sempre mais desejado, gostava de imaginar aquele corpo musculoso sobre o seu, aquela boca quente e ávida de encontro à sua pele nua, aquelas mãos experientes provocando-a de uma maneira ousada e sensual...


- Boa noite - ela falou entrando nos aposentos prin­cipais, a voz trêmula de emoção apesar do esforço para manter a calma.


- Esposa - ele respondeu simplesmente, com um breve aceno de cabeça.


O tom seco de Alfonso deixou-a atônita. Não esperava tanta indiferença depois da intimidade que haviam des­frutado juntos. Será que seria sempre assim? Encontra­rem-se apenas durante as refeições sem que nada de­monstrasse a mudança ocorrida no relacionamento de ambos? Ou talvez não houvesse ocorrido mudança algu­ma. A noite anterior poderia não ter representado nada para Alfonso, exceto o desempenho de um dever para tor­ná-la sua esposa de fato.


Perturbada com a possibilidade, Maite comeu em silêncio. Entretanto a cada vez que seus dentes se fe­chavam sobre uma fatia de carne não conseguia pensar em mais nada a não ser nas mordidas delicadas que o marido espalhara sobre seu corpo nu. Ainda bem que a escuridão do quarto impedia Herrera de notar o seu rubor...


- Você está quieta hoje - Alfonso falou de repente. ­- Alguma coisa errada?


Ela permaneceu imóvel durante alguns segundos, con­siderando qual resposta deveria dar. Mesmo que a ques­tão envolvendo o aparecimento de Cecil em dois lugares ao mesmo tempo a tivesse atormentado o dia todo, não ousava expor as dúvidas em voz alta. Temia despertara ira do Cavaleiro Vermelho e as explicações que ele poderia lhe dar. Às vezes a ignorância dos fatos acaba nos protegendo de um mal maior. Também não tinha coragem de falar sobre as sombras eternas que pairavam sobre os aposentos principais muito menos sobre o de­sejo incessante que sentia pelo marido.


- Não há nada de errado comigo, meu lorde.


Alfonso resmungou qualquer coisa e os dois continuaram comendo em silêncio. Maite procurava desesperadamente um sinal de que aquela figura distante e impessoal do outro lado da mesa fosse o amante ardente e carinhoso que a procurara na noite anterior.


- Espero que você não esteja esperando por Alan.


- Não - ela retrucou cautelosa. - Cecil me disse que o vassalo partiu esta manhã bem cedo... - Silêncio. - Você acha justo mandá-lo embora tão depressa... .es­pecialmente quando o Natal se aproxima?


- Então você já sente falta dele? - A voz de Herrera soava baixa e ameaçadora, fazendo-a pensar nos boatos que o cercavam. O Cavaleiro Vermelho era famoso por sua selvageria nas batalhas e pela força física extraordinária. As mesmas mãos que a tinham acariciado poderiam fazê-la parar de respirar com facilidade...


- Sinto falta da companhia, não do homem.


A reação de Alfonso, um resmungo entre os dentes, deixou claro que ele continuava com ciúmes do vassalo. Maite sorriu satisfeita. Talvez, no final da contas, ontem à noite não fora apenas uma questão de cumprir o dever marital. Talvez o marido a desejasse agora, tanto quanto ela o desejava... Me possua, pensou apaixonada. Me possua neste instante, sobre o tapete, sobre a mesa, em qualquer lugar... Bem que tentou dizer as palavras em voz. alta, porém faltou-lhe coragem. .


- Você já não tem companhia... suficiente? Não bas­tam Edith, Cecil e os novos servos trazidos da aldeia? Sem contar os aldeões que pretende conquistar com a simpatia de castelã nata. Meu salão principal já não tem um movimento adequado? Para que mais gente espa­lhando-se pelos corredores?


- Sim - Maite respondeu baixinho, sabendo que a presença de nenhuma daquelas pessoas poderia satisfa­zê-la. Era a companhia do marido que desejava, era a atenção dele que procurava. A idéia lhe parecia até absurda porque sempre fora um tipo independente, capaz de apreciar a solidão e jamais precisara de alguém Mas não é a mesma coisa - retrucou afinal. – E podem discutir assuntos variados, nem sabem ler ou jogar xadrez. Tampouco sabem caçar...


Somente depois de terminar de falar foi que Maite se deu conta do que dissera. Muitas daquelas atividades exigiam luz, portanto Alfonso não podia realizá-las enquan­to permanecesse trancado na escuridão. Sem que tivesse intenção de magoá-lo, acabara colocando o Cavaleiro Ver­melho na mesma categoria dos ignorantes ou aldeões sem instrução. Ansiosa para corrigir o erro antes que o marido explodisse num acesso de fúria, apressou-se com­pletar conciliatória:


- Talvez você pudesse sair comigo um dia desses.


- Não!


- Por que não? - ela implorou suspirando. - Porque devemos sempre nos encontrar cercados pelas som­bras? Eu sei que você não é o demônio que se esforça para fazer os outros acreditarem que é.


- Tem certeza disso? - A voz dura de Alfonso trazia uma ameaça embutida. Trêmula, Maite levantou-se, disposta a sair dali. - Onde você vai? - ele indagou secamente.


- Quando você tenta me irritar ou amedrontar perco toda a vontade de permanecer na sua companhia ­ela respondeu altiva, erguendo a cabeça num gesto de desafio.


- Talvez você deseje a companhia de outro?


- Talvez se eu o visse mais, não me sentiria tão so­zinha, meu marido! - Maite falou entre os dentes.


- Você sente a minha falta tanto assim?


Apesar de perceber a ironia e o deboche da pergunta, deixou os sentimentos virem à tona.


- Sim. E se você prestasse mesmo atenção em mim, saberia o quanto isto é verdade. Foi um prazer ontem, poder passear por suas terras, poder apreciar os arredores de Dunmurrow. Por que não podemos cavalgar juntos? Eu gostaria de lhe mostrar os planos que andei fazendo para a leiteria. A floresta é linda e tem uma cascata bem no meio das...


- Chega - Alfonso cortou-a decidido. - Não me fale sobre o que não pode ser, não me fale sobre o impossível.


- Mas por quê? Por quê? - Maite insistiu exaspe­rada. - Sou sua esposa! Será que você não pode me explicar que motivo é esse que o mantém na escuridão?


- Minha esposa! Uma donzela arrogante, sobre quem eu nunca havia posto os olhos antes, invade meu castelo e exige que sua despose do dia para a noite! E você quer que eu confie nela? - Ele riu, o som breve destituído de humor. Havia apenas uma enorme amargura.


Maite permaneceu imóvel alguns segundos, atordoa­da pelo sarcasmo capaz de feri-la com a frieza do aço. Como é que pudera pensar que o amava? Tinha ódio de si mesma por imaginar tamanho absurdo.


Agarrando-se a um resto de orgulho, cruzou os apo­sentos com passadas largas e saiu, batendo a porta com força.


 


 


No seu próprio quarto, todos os castiçais estavam de volta aos lugares e Cecil não apareceu para retirá-los. Embora a conclusão óbvia fosse de que Alfonso não viria vê-la, ainda assim Isadora aguar­dou-o sentada na cama, no meio da escuridão, desejando-o a despeito de si mesma. Então seria dessa maneira, pen­sou amargurada. Seu marido cumprira o dever, tirara-lhe a virgindade para demonstrar seus direitos de posse e não planejava possuí-la outra vez.


Embora tentasse se convencer de que a perspectiva lhe causava alívio pois ficaria livre das atenções do Ca­valeiro Vermelho, não conseguia pensar em outra coisa a não ser na noite em que experimentara aquelas sen­sações maravilhosas, sensações que se julgara incapaz de sentir. Maldito fosse Alfonso Herrera! O fato é que o queria acima de tudo... como uma mulher enfeitiçada.


Finalmente Maite adormeceu e quando acordou não foi por causa da presença do marido e sim pela urgência na voz de Edith.


- Minha lady! Minha lady! - a criada sussurrava apavorada.


- O que foi? - No mesmo instante ela abriu os olhos, os sentidos alertas. Incêndio, ladrões, um ataque a Dun­murrow. Todas essas possibilidades lhe passaram pela cabeça antes mesmo que ficasse de pé.


- Escute, minha lady! Ouça! É o amaldiçoado... o tal do Cavaleiro Vermelho... lá fora... fazendo o trabalho do diabo! No começo eu achei que estivesse invocando os espíritos. Gritava tão alto que poderia acordar os mortos. Mas quando coloquei a cabeça para fora da janela... - Edith fez o sinal da cruz, as mãos trêmulas -, vi uma outra pessoa também. Tenho certeza de que é um sacrifício humano, minha lady. Juro! E aquele imprestável do meu guarda-costas não vai tomar ne­nhuma atitude!


- Psiu! Não vou conseguir ouvir nada se você ficar aí lamuriando-se. - Depois de vestir um robe às pres­sas, Maite aproximou-se da janela. A Lua pálida e distante iluminava a figura viril de seu marido. Para sua total surpresa, ele parecia estar atacando alguém com a espada. Ansiosa, procurou algum ladrão ou ini­migo que justificasse a atitude de Alfonso, porém não viu ninguém.


- Não é nada, apenas algum tipo de treinamento ­falou decidida. - Basta meu marido praticar o uso da espada sobre um pedaço de madeira para você julga-lo o demônio em pessoa.


- Edith? Você está aí? - As duas mulheres viraram-se na direção do som da voz masculina e Maite logo re­conheceu a pronúncia arrastada de Willie. - Saia do quarto da sua lady agora e pare de se meter nos negócios do barão!


- Pois fico-lhe grata se me deixar em paz, seu soldado de meia-tigela! Eu estaria mais bem servida sob a pro­teção de um dos garotos da aldeia - a criada respondeu desdenhosa. Votando-se para Maite, retomou a conver­sa. - O barão estava gritando coisas horríveis. Prague­jando e amaldiçoando em altos brados.


Como se para confirmar o que a serva acabara de dizer, a voz forte de Alfonso ecoou dentro do silêncio da noite.


- Dane-se, Cecil, seu covarde imprestável! - Em­bora as palavras soassem altas, eram tão mal articu­ladas que se tornavam quase incompreensíveis. - Onde está meu vassalo? Mande buscar Alan, porque que­ro lutar com ele!


Não demorou muito até Maite perceber o motivo da fala enrolada.


- Meu marido bebeu além da conta. E só. Por acaso você já não viu homens bêbados, inclusive meus irmãos?


- Tem mesmo certeza de que é só isso, minha lady? Não sei não...


- Edith, se você não sair deste quarto agora, prometo que vou entrar. Com sua licença, minha lady – Willie gritou do lado de fora.


Pelo menos a criada teve bom senso suficiente para ficar desconcertada com a própria insistência e se des­culpar.


- Está tudo bem - Maite respondeu. - Fico sa­tisfeita que você tenha me acordado. Barulhos provocados por bêbados são sempre horríveis. - O que ela não disse é que pretendia ir ao encontro do marido. Para que deixar a mulher preocupada com a sua segurança? Sacrifício humano... que grande bobagem! - Boa noite. Por favor, saia antes que Willie ponha a porta abaixo.


Edith resmungou qualquer coisa sobre soldados e ho­mens baixos em geral serem uns imprestáveis e saiu bufando.


- Por que você veio incomodar a esposa do barão? ­- Maite ouviu Willie indagar irritado.


A resposta da serva ficou perdida no fechar da porta.


Mas não tinha importância. Coisas mais urgentes pre­cisavam da sua atenção imediata. Ela vestiu uma capa sobre o robe e correu para fora do castelo. Para sua com­pleta surpresa, não havia um só guarda à vista. Assim pôde andar livremente. Embora pretendesse ir direto ao encontro do marido, a visão daquele homem altíssimo e imponente a fez parar no meio do caminho.


Vestindo uma armadura, Alfonso era algo de tirar o fô­lego, mesmo na escuridão. Grande, bem proporcionado, como uma árvore sólida e altiva. Apesar de bêbado, seus movimentos com a espada eram elegantes. Mas estava claro que o vinho o afetava porque ele parecia ter difi­culdade para acertar o alvo.


Maite suspirou fundo, admirando o marido. O Ca­valeiro Vermelho não podia ser comparado aos outros homens em geral. O poder que dele emanava era algo Infinitamente superior. Já assistira a muitos torneios e a ira seus irmãos treinando vezes sem conta; porém ninguém nunca a afetara tanto.


Chocada, percebeu que o desejava com paixão. Queria der possuída ali, no chão frio, sob a luz da Lua, os lábios quentes esmagando os seus, o corpo musculoso envolven­do-a... Maite engoliu em seco, procurando ignorar os pensamentos sensuais. Só podia estar sob os efeitos do luar misterioso...


De qualquer forma seu marido parecia estar bêbado demais para se entreter com brincadeiras amorosas e provavelmente não aceitaria de bom grado as suas aten­ções. Entretanto, como esposa, tinha o dever e o direito de ajudá-lo agora. O que, neste caso, significava levá-lo para cama e garantir que os outros moradores do castelo não fossem perturbados durante o resto da noite pela barulheira infernal. No momento em que abriu a boca para chamá-lo, ouviu-o gritar:


- Ela me considera um meio-homem! - Alfonso rugiu, vibrando a espada perigosamente.


Será que o marido se referia a ela? Mas como, se o considerava muito mais homem do que qualquer outro? A ferocidade dos golpes era tão terrível que Maite deu um passo para trás, percebendo que Herrera estava furioso, como nunca o vira antes.


Alfonso deve tê-la ouvido mover-se, porque imediatamen­te ficou quieto, o corpo rígido, à espreita...


- Não é verdade! Ela se importa com você - respon­deu uma voz. Maite percebeu que se tratava de Cecil de pé a uma distância segura do barão. - Se ao menos...


Fique quieto, seu tolo!


A maneira ríspida como ele respondeu ao servo reno­vou-lhe a coragem de enfrentá-lo. Quando os outros meios falhavam, cabia a ela tomar a situação nas mãos e re­solvê-la.


- Venha para a cama, esposo - Maite falou, dando um passo para a frente.


Embora já tivesse testemunhado a ira do marido, não estava preparada para a reação dele. Alfonso virou-se, uma figura enorme protegida pelas sombras, o cavaleiro negro da escuridão. Como um anjo vingador, ele vibrou a espada no ar com força suficiente para arrancar a cabeça de um homem. Maite se deu conta que se não estivesse a uma distância segura poderia ter sido partida em duas.


- Maite? - Herrera indagou, a voz rouca e baixa.


- Venha para a cama, Alfonso. Está muito tarde para esse tipo de treinamento.


O grito inesperado de dor e ira que partiu daquele peito forte era tão angustiado que atingiu-a fundo. Antes que tivesse tempo de tomar uma atitude, Cecil aproxi­mou-se e praticamente arrastou-a para dentro do castelo.


- É melhor você voltar para seu quarto agora, minha lady.


Mesmo tendo vontade de correr e se esconder do ma­rido, Maite sabia que não teria coragem de fazê-lo.


- Não! Ele parece estar ferido - respondeu, tentando se livrar da mão do servo que a segurava pelo braço, impedindo-a de mover-se. - Preciso cuidar de Alfonso.


- Não, minha lady. O barão apenas tomou vinho de­mais. Só isso.


- Cecil, exijo que você me solte e me deixe ir ao encontro de meu marido. É uma ordem.


- Não, minha lady. Não posso fazer isso. Meu lorde me mataria se eu o fizesse.


O servo começou a caminhar, levando-a pelo braço. Maite olhou para trás a tempo de ver Alfonso arrancar, com um único golpe, o topo do poste de madeira usado para treinamento. Mesmo não sabendo o motivo, ela re­conhecia o poder daquela fúria que pulsava na escuridão da noite como uma coisa viva. Aterrorizada, soltou-se da mão de Cecil e correu para o quarto, tão atordoada que, quase não ouviu o criado murmurar:


- Isso o mataria.


Maite procurou evitá-lo. Resolveu ir até a aldeia pela manhã com o único objetivo de não almoçar na companhia do marido. Se tivesse coragem de desafiá-lo, recusaria-se a jantar nos aposentos principais também. Só não che­garia a tanto porque vira a extensão da ira de Herrera. Uma fúria tão grande que o transformara num animal enlouquecido. Jamais queria presenciar uma cena como aquela outra vez.


De todas as coisas assustadoras que ouvira dizer sobre o Cavaleiro Vermelho, e eram muitas, segundo Edith, nada sé comparava aos excessos emocionais de ontem. Fora um acontecimento tão angustiante que Maite sen­tia-se perturbada de uma maneira que não conseguia entender.


Fora capaz de não dar atenção aos rumores que o cer­cavam e até mesmo conseguira evitar pensar na miste­riosa habilidade de Cecil de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Contudo não havia como negar o tempe­ramento terrível do Cavaleiro Vermelho.


Quando finalmente o viu, na hora do jantar, talvez esperasse encontrá-lo arreganhando os dentes ou rugindo como um animal. Porém descobriu-o protegido pelas som­bras; como sempre. Sem saber qual atitude tomar, Maite sentou-se, achando difícil reconciliar afigura imóvel com a criatura descontrolada da noite anterior. Alfonso Herrera era um homem de muitas faces, um homem a quem muito pouco conhecia.


- Minha lady - ele cumprimentou-a, no tom seco que lhe era habitual.


- Como você está se sentindo hoje, meu lorde?


- Estou bem.


- Pensei que você tivesse se ferido ontem – Maite falou devagar. - Está realmente se sentindo bem?


- A não ser pela dor de cabeça que me manteve preso à cama durante toda a manhã, sinto-me ótimo.


Embora percebesse que o marido falava a verdade, o sarcasmo da voz masculina não lhe passou despercebido.


- Fico feliz em saber.


-É mesmo? - Herrera indagou como se não acreditasse numa só palavra.


- Sim. Vê-lo bem me dá muita alegria. Fiquei preo­cupada. - Ela baixou os olhos, desconcertada. Embora tivesse certeza que naquela escuridão seria impossível enxergarem-se um ao outro, às vezes tinha a sensação inquietante de que o olhar de Alfonso era capaz de desnu­dar-lhe a alma.


De repente, dentre todas as lembranças da noite an­terior, uma única visão ganhou importância. O momento em que o avistara brandindo a espada no ar. Alto, po­deroso, elegante. Um homem capaz de despertar o seu desejo como nenhum outro. Sem que conseguisse evitar, voltava a se imaginar sendo possuída sobre a terra úmida, sentindo-o mover-se nas suas entranhas. Apreensiva com o rumo dos pensamentos, bebericou o vinho, apesar de sua sede ser de coisas muito diferentes. Será que conti­nuava enfeitiçada?


- Sinto muito que você tenha presenciado minha... cena. Sou crescido o suficiente para não exceder na bebida como um adolescente inexperiente, mas acho que passei da conta ontem. - Alfonso fez uma pausa como se fosse difícil prosseguir. Depois continuou como firmeza. - Ce­cil me contou que você estava determinada a vir ao meu auxílio, apesar do meu péssimo humor. Desculpe-me se a ofendi.


- Não, não precisa se desculpar - ela se apressou a responder, ansiosa para desfazer qualquer mal-entendi­do. O Cavaleiro Vermelho se desculpando? Aquele homem sempre acabava surpreendendo-a. - Só espero... - Ner­vosa, Maite passou a língua pelos lábios e decidiu ir em frente. - Só espero que eu não tenha sido a causa da sua raiva... Sei que nós dois discutimos, mas eu odiaria pensar que... que você poderia ficar tão... tão furioso comigo.


Era a pura verdade. A ira do marido a assustara mais do que gostaria de admitir. Não suportaria se tamanha fúria fosse dirigida a ela, especialmente depois da noite que haviam partilhado. Talvez o interlúdio apaixonado não tivesse significado algum para Alfonso, entretanto era uma das mais doces lembranças que guardava junto ao coração. Uma lembrança querida do Cavaleiro Vermelho.


Alfonso permaneceu em silêncio durante alguns segun­dos, uma tensão palpável emanando da figura imóvel.


- Não - murmurou afinal. - Não foi culpa sua... É melhor esquecermos o incidente. Agora me fale sobre o seu dia.


Maite fez o que lhe foi pedido e enquanto conversa­vam, conseguiu relaxar. Os homens ficam fora de si quan­do bebem e portanto deveriam ser perdoados. Vira seus irmãos, bêbados, cometerem desatinos também. Porém nada se comparava à fúria do Cavaleiro Vermelho. Pelo menos serviria para fazê-la pensar que seu marido era capaz de emoções muito mais fortes do que demonstrara até o momento.


De repente um pensamento lhe ocorreu. Se este homem podia odiar com tanta intensidade, o que.dizer dos outros sentimentos? Amor, por exemplo? Poderia o Cavaleiro Vermelho amar uma mulher com igual ardor? Trêmula, Maite tentou imaginar como seria ser amada por seu marido, não apenas abraçada e acariciada, mas amada no sentido mais profundo do termo, de corpo e alma..A força de tal paixão devia ser algo assustador...


Irritada consigo mesma por alimentar tantas tolices, ela tomou o resto do vinho e colocou o cálice sobre a mesa. Nunca em sua vida procurara a afeição de quem quer que fosse, nem mesmo de seu pai. Se pretendia conquistar o coração deste cavaleiro, gigantesco e miste­rioso, devia estar louca... ou enfeitiçada. Além de tudo, demonstrações de afeto de qualquer tipo sempre a fizeram sentir desconfortável. Por que, então, ansiar pelas aten­ções de um homem perigoso como o barão?


- Gosto de seu perfume - Alfonso falou de repente. ­Almíscar, não é?


- Sim - ela respondeu corando. - Também gosto do seu cheiro. - Percebendo que fora muito longe no comentário, Maite desejou voltar atrás. Mas seu marido não riu.


- Obrigado. - A voz de Alfonso soou baixa e rouca, fazendo-a estremecer. Talvez Herrera fosse mesmo um animal selvagem ou uma criatura das trevas. Porém não conseguia se esquecer de como ele a beijara e aca­riciara naquela noite mágica e de como continuava a desejá-lo.


- Você poderia cantar para mim hoje?


- Sim, claro. - Maite levantou-se e escolheu as baladas preferidas do marido para cantar.


Ao terminar, só conseguia pensar em como as palavras de amor pareciam potentes e reais no silêncio e na pe­numbra daqueles aposentos.


- Lindo - Alfonso murmurou. - Você canta como um anjo, Maite minha flor.


Atordoada com o cumprimento, ela não sabia como reagir. Queria poder colocar em palavras as emoções que a sacudiam por dentro.


- Obrigada - falou afinal.


- Já está tarde. Você pode ir agora.


Depois do elogio carinhoso, ser dispensada tão fria­mente pegou-a de surpresa. Será que algum dia poderia compreender o Cavaleiro Vermelho? Tremendo da cabeça aos pés, decidiu que não queria deixá-lo.


- Espere - ela falou num impulso. Estendendo o braço, procurou a mão do marido, o contato de suas peles deixando-a arrepiada.


- Sim? .


- Eu queria saber... Você virá ao meu encontro esta noite, meu lorde? - Com, o rosto em chamas, Maite aguardou a resposta. E se ele se recusasse, ou debochasse dela, ou ficasse furioso...? Oh, Deus, não saberia o que fazer.


Um silêncio pesado caiu sobre o quarto.


- Você quer a minha companhia? - Alfonso indagou afinal.


- Sim, quero.


Com um gemido rouco, Herrera levantou-se e cru­zou o espaço que os separava com uma única passada. Então pegou-a no colo como se segurasse unia pluma.


- Pois então você a terá.



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Autor(a): taynaraleal

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 79



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:55:37

    Amei essa fic e espero de coração que venham mais e mais adaptações suas! Sei que elas virão, então saiba q estarei aq esperando!!! O Cavaleiro Vermelho e a Maite não poderiam ter um final melhor!!! Beijosss Tayzinha, e que venham os novos projetos!!

  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:54:34

    Como já te disse, amo suas adaptações!! vc escolhe mt bem e escolhe os melhores p colocar no nosso casal topper

  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:54:06

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, UMA BEBEZINHA ZENTIII

  • taynaraleal Postado em 06/02/2017 - 20:04:27

    VOU CONTINUAR MEU POVOOO, ESPERO QUE AINDA ESTEJAM AII

  • nessak. Postado em 24/03/2016 - 19:19:09

    Continua a fanfic e muito boa

  • dahnm Postado em 17/03/2016 - 15:22:31

    Hey ...Não Abandona Não ... Posta Mais...

  • dahnm Postado em 06/12/2015 - 14:11:58

    CONTINUA...

  • mylene_herroni Postado em 28/11/2015 - 01:02:26

    Continuaaaaaaa. *leitora nova* ameii tudoo.

  • Gisele Beorlegui Postado em 27/11/2015 - 08:48:18

    Posta mais. Necessito de mais.

  • Gisele Beorlegui Postado em 27/11/2015 - 08:47:51

    '- Me beije - ele pediu' JESUS


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