Fanfics Brasil - Capítulo 20 Bodas de Fogo

Fanfic: Bodas de Fogo | Tema: Herroni


Capítulo: Capítulo 20

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Enlaçando-o pelo pescoço, Maite sentiu os lábios mas­culinos fecharem-se sobre os seus com sofreguidão. Abra­çando-a forte, Alfonso depositou-a sobre a enorme cama de casal e fechou as cortinas com uma das mãos enquanto a outra procurava livrá-la das roupas com impaciência.


Dentro da escuridão total, Maite nada podia enxer­gar. Podia apenas acomodar-se sob o peso do corpo viril e aceitar a língua que procurava a sua avidamente.


Ali estava a felicidade...


Alfonso fechou os olhos e sentiu a dor diminuir um pouco enquanto o desejo superava qualquer desconforto físico. Em questão de segundos nada mais importava a não ser a mulher em seus braços e o calor que se espalhava por suas virilhas enlouquecendo-o. Maite era tão pequeni­na, tão delicada, que precisava ter cuidado e ir devagar. Fora o que fizera naquela primeira noite, embora tivesse sido difícil conter a paixão, mas hoje...


Hoje Alfonso a queria mais do que qualquer outra coisa que jamais quisera na vida. Queria se enterrar dentro dela até que nada mais existisse no mundo, exceto Maite e sua doce feminilidade. Por um longo instante ele permaneceu imóvel, os lábios pousados no pescoço branco e macio.


- Você ainda quer minhas atenções?


- Sim - ela sussurrou ofegante. - Sim. Eu desejei você ontem à noite... e anteontem também, quando des­cobri que estava sozinha em meu quarto. E desejei você hoje, aqui, diante da lareira, sobre o tapete, de qualquer maneira...


A única resposta de Alfonso foi um gemido de prazer ao se atirar sobre a mulher com uma paixão que beirava ao desespero, uma paixão que se igualava em intensidade à fúria provocada pela bebida. Ah, sim, Maite pensou inebriada, tudo em Alfonso Herrera, quando fluía li­vremente, era maior do que a própria vida. Tanto a paixão quanto o ódio.


Quando ele rasgou seu vestido, na ânsia de Possuí-la, Maite hesitou alguns segundos, assustada com o ímpeto do marido. Mas depois, como se desabrochando sob o toque sensual, entregou-se num total abandono, correspondendo às carícias com a mesma ousadia. Nunca pen­sara que seria capaz de arrancar a túnica de Alfonso, mor­der a carne firme ou segurar o membro pulsante nas mãos enquanto o ouvia murmurar o seu nome vezes sem conta. Nunca imaginara que perderia o controle e gritaria e gritaria o seu prazer para o infinito... como uma mulher enfeitiçada.


- Por que o chamam de Cavaleiro Vermelho? - Maite indagou baixinho, enroscada ao lado do marido na enorme cama de casal, o corpo e a mente saciados depois de haverem feito amor com selvageria.


Alfonso suspirou fundo e por um momento ela achou que sua pergunta ficaria sem resposta. Mas então ele decidiu falar, a voz baixa embalando-a dentro da escuridão.


- Foi há muito tempo atrás, quando lutei pela pri­meira vez ao lado de Edward nas Cruzadas. Devido a um sério incidente, fiquei coberto de sangue da cabeça aos pés, mais até do que é natural numa grande batalha.


Embora pouco daquele sangue fosse o meu próprio, os inimigos ficaram impressionados como é que eu po­dia continuar lutando estando gravemente ferido e pas­saram a me chamar de o Sangrento ou de Cavaleiro Vermelho. Assim começaram os rumores sobre feitiça­ria também. Diziam que somente um mestre da magia negra poderia sobreviver a ferimentos tão sérios. Claro que Edward achou a situação toda muita divertida e resolveu me chamar de Cavaleiro Vermelho. No que foi imitado por todos.


- E você continuou lutando, sua reputação crescendo.


- Sim. - Alfonso acariciou os cabelos da esposa com tanta delicadeza, que ela se aconchegou ainda mais ao peito forte. - Hoje percebo que não foi uma atitude sau­dável. Uma reputação construída sobre a crença da imor­talidade serve apenas para que outros decidam desafiá-lo.


- Quer dizer que muitos tentaram matá-lo?


- Sim, muitos tentaram me matar.


- Mas você continuou lutando até...


- Até que Edward me deu Dunmurrow - ele res­pondeu depois de uma breve hesitação.


Maite esperou que o marido continuasse, porém Pires permaneceu em silêncio, alisando os cabelos Pretos e macios.


- Então você veio para cá e se trancou, deixando o mundo do lado de fora.


- Aparentemente as fechaduras não eram fortes o suficiente - Herrera murmurou, deslizando as mãos pelas pernas bem torneadas da mulher -, porque uma donzela linda e pequenina, a quem o Cavaleiro Ver­melho não metia o menor medo, entrou dentro do meu castelo e me tomou por marido.


Gentilmente, Alfonso segurou um dos pés da esposa nas mãos.


- Seus pés são tão pequenos e delicados, minha que­rida. - Ele beijou-a perto dos dedos.


Maite riu. Satisfeito com a reação feminina, Herrera passou a acariciar a sola do pé em movimentos lentos e firmes. Ela ria descontroladamente enquanto tentava se desvencilhar dos braços que a prendiam.


- Pare! Pare! O que você está fazendo?


- Estou lhe fazendo cócegas, esposa - Alfonso respon­deu surpreso. - Nunca ninguém lhe fez cócegas antes?


- Não.


- Seus irmãos não costumavam lhe fazer cócegas?


- Não. Nunca fomos muito íntimos - ela falou bai­xinho, tentando encontrar palavras capazes de explicar o relacionamento distante que sempre mantivera com a família. - Claro que eu os amava... - Só que eles jamais brincavam comigo, ou me faziam rir, ou me abraçavam... - Os dois eram bem mais velhos do que eu e ocupados demais com suas tarefas para darem importância a essas bobagens.


- Pois se eu tivesse uma irmã como você, tão bela e inteligente, aposto que a teria mimado terrivelmente.


Maite sentiu um aperto no coração ao pensar que chegara a planejar a anulação de seu casamento sob a alegação de um parentesco entre ela e o marido.


- Fico feliz que você não seja meu irmão.


- Concordo plenamente. Não seria normal sentir esse desejo pela irmã. - Ele beijou-a no pescoço e acariciou os seios firmes com reverência. - Jamais experimentei um desejo assim, essa vontade incontrolável de possuí-la outra vez, outra vez e outra vez... Não tenho dúvidas de que você me enfeitiçou, esposa.


- Por favor, não brinque com essas coisas! – Antes que Maite tivesse tempo de falar sobre as suspeitas que a atormentavam, envolvendo a escuridão constante dos aposentos principais e o comportamento misterioso de Cecil, os lábios de Alfonso fecharam-se sobre os seus com avidez, a língua ardente explorando, sugando, lam­bendo...


Ao sentir seus seios de encontro ao peito largo, Maite gemeu baixinho e abriu as pernas para receber o membro ereto e pulsante.


A cada nova investida, ela implorava por mais e mais... ansiando pelo alívio daquela pressão entre as coxas.


Quando pensou que já não conseguiria suportar tanto prazer, Alfonso deslizou a mão entre os corpos de ambos e começou a massagear o ponto escondido da sua femi­nilidade num ritmo crescente. Enlouquecida de paixão, Maite atirou a cabeça para trás e gritou alto, enterrando as unhas nas costas do marido enquanto espasmos vio­lentos a sacudiam de alto a baixo.


Alfonso continuou as investidas, mais depressa e com mais força, até fazê-la atingir o orgasmo outra vez. Só então ele chegou ao clímax, o corpo musculoso estreme­cendo, a voz rouca cortando o silêncio do quarto numa doce agonia.


- Ah, querida, que amante selvagem você é. Quem teria suspeitado que minha castelã, tão delicada, e dedi­cada, pudesse ser passional assim?


Ma abraçou-o com força, experimentando uma onda de sentimentos que jamais se julgara capaz de sen­tir. Tudo seria perfeito se não fosse pela confusão e es­tranheza que volta e meia a atormentavam. E essa in­quietação só desaparecia por completo quando as mãos do marido a tocavam...


- Alfonso... - ela começou um tanto vacilante, ainda atordoada depois dos momentos de intensa paixão. ­Os rumores sobre você ser um feiticeiro são mesmo in­fundados?


Imediatamente ele ficou tenso, como se percebesse alguma coisa escondida atrás daquelas palavras ino­fensivas.


- Por quê? Você quer que eu a enfeitice? Que lance um encantamento? Que prepare poções mágicas?


- Não, não é isso. É que eu... É que me sinto como se tivesse sido enfeitiçada!


Herrera atirou a cabeça para trás e riu com von­tade.


- Pelo amor de Deus, mulher. Pensei que você se recusasse a acreditar neste amontoado de bobagens!


- Claro que não acredito! - Maite protestou com veemência, corando até a raiz dos cabelos. - Eu apenas imaginei... - Numa demonstração de coragem, resolveu abordar aquilo que a incomodava. - O que me diz de Cecil, então? Ou você não sabe que o homem pode estar em dois lugares ao mesmo tempo?


Alfonso continuou a rir, desta vez ainda mais alto, até que Isadora, irritada com o comportamento inexplicável do marido, interveio.


- Não consegui entender qual é a graça - falou de mau humor, tentando afastar-se.


- Cecil! - Alfonso chamou em voz alta, parecendo se divertir enormemente. Antes que o criado chegasse, ela cobriu a ambos com o lençol, mesmo sabendo que naquela escuridão seria impossível se tornarem visíveis. Porém não ficaria surpresa se os poderes de Cecil incluíssem a visão noturna, assim como os gatos que são capazes de enxergarem na mais total escuridão.


- Sim, meu lorde - o criado respondeu.


Oh, Deus, será que o homem estivera escutando a con­versa atrás da porta?


- Vá buscar seu irmão.


- Sim, meu lorde.


- Ponha seu vestido agora, esposa. Assim estará pron­ta, e decente, para receber meus servos.


Irritada com as risadinhas do marido, Maite levan­tou-se depressa e começou a procurar as roupas espa­lhadas pelo chão. Não era tarefa fácil, devido à total falta de iluminação. Impaciente, acabou se esquecendo da presença dos cães. Mas Alfonso não.


- Castor! Pollux! afastem-se - ele ordenou quando os animais começaram a rosnar ameaçadoramente. No mesmo instante as feras obedeceram e foram-se deitar no lado oposto do quarto.


Quando Cecil retornou, Maite já estava vestida e sentada à mesa, aguardando-o.


- Fique de pé junto à lareira - Alfonso mandou, sem sair da cama.


Surpresa, Maite observou que dois homens se mo­viam ao mesmo tempo. Ambos eram baixos, de meia-ida­de, cabelos castanhos, rostos sérios e bastante parecidos. Aliás, muito mais do que isso. Idênticos, seria melhor.


- Digam à minha lady o nome de vocês.


- Ceci! - os dois responderam juntos.


- Vocês são gêmeos - ela murmurou atônita.


- Sim, minha lady - um deles respondeu. O outro balançou a cabeça concordando.


- Mas e seus nomes? - Maite insistiu confusa.


- Nossa mãe dizia que só havia escolhido um nome masculino quando ficara grávida, portanto teria que ser­vir a nós dois - um dos criados explicou.


- Podem sair agora; ambos - Alfonso falou, e Maite suspirou aliviada. Como pudera ser tão tola a ponto de se deixar influenciar pelas histórias absurdas de Edith? Não era à toa que Herrera se rira às suas custas.


- Volte para minha cama, esposa.


A voz rouca do marido tinha o poder de deixá-la ar­repiada da cabeça aos pés. A única coisa que a angustiava era que ele não passava de uma voz sem Corpo, uma voz dentro da escuridão, além do alcance da luz do fogo, uma forma escondida pelas sombras, um enigma... seu cava­leiro da noite.


- Mas eu... eu acabei de me vestir - ela murmurou, os seios arfando, a respiração ofegante. Oh, Deus, quem era este homem de fato? Como ele conseguira dominá-la tanto, a ..ponto de deixá-la quase sem vontade própria?


- Venha para minha cama e não tenha medo. Não vou possuí-la de novo esta noite, minha pobre esposa Você está muito dolorida?


Com o rosto em chamas, Maite concordou com um breve aceno de cabeça. Porém, por mais que sua mente tentasse encontrar desculpas que a fizessem desejar voltar para seu quarto, cheio de velas e claridade, seu coração queria apenas fazê-la voltar para os braços do marido, mesmo que isso significasse uma opção pelas sombras.


- Não, não estou dolorida.


- Então venha.


Atraída irresistivelmente pelo som daquela voz, Maite caminhou até a cama protegida pela escuridão. Em­bora não fizesse mais um movimento sequer, sentiu a mão de Alfonso se fechar ao redor de seu pulso e puxá-la com firmeza. Ao perceber o que o marido tinha em mente, tentou se afastar, ou pelo menos, obrigá-lo a parar.


- Alfonso, não! - ela gritou. Porém suas palavras não tiveram o menor efeito. Decidido, Herrera livrou-a das sapatilhas e começou a lhe fazer cócegas sem piedade. - Por favor! Por favor, pare! - Longos segundos se passaram antes que seu pedido fosse atendido. - Por que você me tortura tanto, seu malvado?


- Porque gosto de ouvi-la rir. Seu riso é cristalino como a água de um riacho. - Ainda ofegante e inspirando o ar aos borbotões, Maite sentia-se muito fraca para protestar quando Alfonso tirou seu vestido num movimento rápido e preciso. Aos sentir as mãos fortes de encontro à sua pele nua, ela ficou arrepiada, cada centímetro do corpo pulsando de vida e desejo.


- Por que você gosta de me ouvir rir?


- Porque seu riso me alivia, me conforta, me dá paz - Herrera respondeu, aconchegando-a de encontro ao corpo. Respeitando a palavra empenhada, ele não ten­tou possuí-la outra vez. Simplesmente a manteve bem apertada de encontro ao peito, os braços musculosos como um ninho quente e protetor. Sem entender bem por que, Maite experimentou uma felicidade tão grande que de­sejou ficar ali para sempre. Em silêncio, imóvel, apenas sentindo a presença do marido como uma extensão de seu próprio corpo.


- Você me reconforta, Maite - Alfonso falou baixinho, abraçando-a com tanta força que por um momento ela achou que não conseguia nem respirar.


 


Maite queria dormir com ele. Enroscada ao lado do marido, apoiada num dos braços for­tes, ouvindo o som da respiração regular, sentia-se feliz. Essa proximidade era diferente de tudo o que jamais experimentara antes. Estranho sim, porém, pela primeira vez, não pensava em fugir ou evitar os sentimentos. Ins­pirando o perfume másculo daquela pele quente, queria apenas permanecer junto ao corpo viril para sempre. Não conseguia entender por que encontrava tanto conforto junto ao Cavaleiro Vermelho. Mas o fato é ele lhe trans­mitia calor, aconchego e a fazia se sentir... desejada.


Imersa na escuridão, conseguia até imaginar que se tratava de um casamento normal, talvez até melhor do que a maioria, porque ambos pareciam se importar um com o outro, algo incomum nas uniões entre nobres. Maite tinha consciência de seu afeto em relação a Alfonso e, apesar da hostilidade inicial, acreditava que ele lhe dedicava alguma consideração. Pelo menos era o que po­dia entrever através dos momentos de paixão.


Ali terminava a pretensão pela normalidade, pois qual esposa nunca conseguira enxergar o próprio marido à luz do dia ou à luz de velas?


Por mais que tentasse visualizá-lo, a tarefa se mos­trava impossível. Embora tivesse acompanhado os con­tornos do rosto dele com as pontas dos dedos, não era nenhuma artista para imaginar a realidade a partir do toque. Seriam os cabelos de Alfonso negros como a noite,castanhos ou avermelhados, para fazer jus ao título? Oh, Deus, como gostaria de saber...


- Querida... - A voz do marido, baixa e profunda, desviou o rumo de seus pensamentos. Ele beijou-a na testa, fazendo-a sorrir e aconchegar-se de encontro ao peito largo. Será que o homem nunca a deixaria descansar? Mas mesmo exausta, sabia muito bem que poderia ser facilmente persuadida a se entregar aos prazeres do sexo outra vez... e outra vez. - Está ficando tarde. É melhor você ir para seu quarto agora.


Maite abriu os olhos surpresa, apesar de não ser possível enxergar nada além da escuridão. Então ele a estava mandando embora? Não poderia passar a noite ali? Os sentimentos maravilhosos que cresciam em seu coração foram reduzidos a pó. Imediatamente levantou-se e procurou o vestido. Quando não conseguiu achá-lo, pra­guejou baixinho. Ou seria um soluço?


- Maite, querida...


O tratamento carinhoso só lhe provocou desdém. O toque de ternura não tinha a menor importância. Afinal qual o motivo de ser enxotada da cama como uma mulher à-toa, a quem se paga por um instante de prazer com algumas moedas de prata? Agarrada a um resto de dig­nidade, continuou procurando as roupas, as mãos tre­mendo incontrolavelmente. Alfonso segurou-lhe os pulsos e tentou abraçá-la. Porém ela se recusou a aceitar o con­tato e deu um passo para trás, tropeçando nos cães.


- Ai! - Sentindo-se à beira de uma explosão nervosa, Maite já estava disposta a sair dos aposentos do marido enrolada num cobertor quando ele entregou-lhe as rou­pas. Em questão de segundos, vestiu-se e se preparou para ir embora.


- Maite... suas sapatilhas.


Será que Herrera estava debochando dela? Como é que pudera imaginar que aquele homem arrogante lhe dedicava um pouco de afeição? Oh, Deus, só queria de­saparecer e esquecer o que acontecera naquela cama casal.


- Boa noite, minha esposa. Durma bem.


Furiosa, ela teve vontade de bater a porta com força. Só não o fez porque a porta era pesada demais e um de Cecils aguardava do lado de fora. O criado a acompanhou até o quarto sem dizer uma única palavra. De repente sua própria cama lhe pareceu enorme, vazia e solitária. Seria uma longa noite. Como poderia dormir bem?


Na manhã seguinte, enquanto Edith a ajudava a vestir-se, Maite procurava se convencer de que precisava agir de maneira mais sensata. Talvez estivesse perdendo mesmo a razão. Descobria-se ansiosa para pular na cama do Cavaleiro Vermelho e relutante na hora de deixá-lo. Passara sua vida inteira esquivando-se dos sentimentos e protegendo o coração. Por que agora se sentia impelida i a entregá-lo de bandeja ao marido?


Ainda sentia o perfume de Alfonso impregnado na sua pele, o corpo marcado pela noite de amor. Se resolvesse tomar um banho a esta hora da manhã, para livrar-se das lembranças, Edith acabaria desconfiando do motivo e recomeçaria com a mesma ladainha sobre o Cavaleiro Vermelho tê-la enfeitiçado.


Ela fitou a serva cheia de reservas, esperando o mo­mento de ser acusada de participar, como cúmplice, de cerimônias de magia negra. Entretanto, para sua com­pleta surpresa, Edith não estava lhe prestando a mí­nima atenção. Em vez de queixar-se sobre a vida em Dunmurrow, como era de seu costume, a criada man­tinha-se ocupada trançando os cabelos da ama enquan­to... cantarolava.


Com uma pontada de inveja, Maite concluiu que al­guma coisa especial devia ter acontecido. De repente sen­tiu-se mais sozinha do que nunca. Estava tão acostumada a defender o marido dos ataques da criada que agora se perguntava de quem iria defendê-lo?


- Descobri como Cecil pode estar em vários lugares ao mesmo tempo.


- Verdade? - Edith indagou sem muito interesse, voltando a cantarolar uma melodia totalmente diferente da anterior.


- Sim. Ele não é sequer um homem só, mas dois. São gêmeos - ela anunciou, aguardando a reação da outra. Para sua decepção, a expressão do rosto da serva continuou inalterada.


- Sério? Então não é de se estranhar que ele faça trabalho dobrado. Ou talvez não façam nada, com a des­culpa de serem dois. Um fica empurrando o serviço para o outro.


Maite fitou-a atentamente, atônita com o sorriso es­tampado no rosto de Edith e com as palavras despreo­cupadas. Esperara assombro, discussão, comentários so­bre a magia negra que reinava em Dunmurrow. Só não estava preparada para que a criada aceitasse suas ex­plicações com uma tranqüilidade quase indiferente.


- Muito bem, minha lady, terminei de trançar seus cabelos. Você está linda esta manhã. Vai precisar de mim para mais alguma coisa?


Ela balançou a cabeça de um lado para o outro. Até parecia que quem estava enfeitiçada era Edith...


Determinada a não passar o dia inteiro alimentando pensamentos que envolvessem o marido, Maite atirou-­se ao trabalho, porém, por mais que tentasse, não con­seguia parar de desejá-lo.


Ansiava pelo toque daquelas mãos fortes, pelo som da voz baixa e sensual. Contudo não eram apenas os mo­mentos de paixão carnal que a perturbavam. Também sentia falta da ternura, das cócegas, da segurança ofe­recida pelo seu abraço.


Talvez Alfonso a tivesse enfeitiçado e assim não mais possuía uma vontade própria. Não, não era verdade. Ti­nha vontade própria sim, estava apenas enfraquecida. Como voltar a ser o que era? A mulher independente e segura? Agora mais do que nunca estava certa de que os rumores envolvendo o Cavaleiro Vermelho não tinham o menor fundamento, principalmente depois de descobrir que Cecil não passava de um mortal comum.


Embora Maite duvidasse que Alfonso possuísse poderes especiais para encantá-la, não podia negar que sentia alguma coisa especial por ele, alguma coisa que a fazia se entregar sem qualquer hesitação ou pudor. Porém, à luz do dia, algumas certezas a magoavam de forma pro­funda. Afinal não aprendera, tempos atrás, de que não vale a pena ansiar pela proximidade de alguém? Depois de todos esses anos, ainda era difícil lidar com a rejeição. Em particular agora, quando conhecera a mais deliciosa intimidade nos braços do Cavaleiro Vermelho.


Ela tentava se convencer de que nunca desejara ou precisara de quem quer que fosse. Por que então se sentia atraída pelo marido, uma figura estranha e misteriosa que fazia questão de se manter escondido nas sombras? O fato é que sentia-se impotente diante do próprio destino e isto a perturbava profundamente. A imagem de Alfonso não lhe saía da cabeça, impedindo-a de viver em paz, e de repente só queria tornar-se indiferente em relação ao marido, como sempre fora em se tratando de outros homens.


Abandonando as tarefas num impulso, Maite foi até a cozinha. Quem sabe um pouco de companhia antes do almoço não a arrancaria daquele mau humor? Glenna recebeu-a com prazer.


- Obrigada por ter cuidado tão bem da queimadura de Moira. Está cicatrizando que é uma beleza.


Maite sorriu, porém as palavras da cozinheira dei­xaram-na inquieta. Fora somente alguns dias atrás que imaginara ser Alfonso portador de alguma queimadura que o desfigurasse, que o obrigasse a permanecer nas som­bras? Agora tinha certeza de que este não era o caso. Não havia nada de errado com seu marido. Apenas não conseguia entender por que ele permanecia trancado den­tro da escuridão.


Outra vez as velhas suspeitas, envolvendo o Cavalheiro Vermelho, a assaltaram. Ele afirmara que os rumores não tinham fundamento e chegara a rir das suas preo­cupações. Mas quem, em sã consciência, admitiria estar envolvido na prática de magia negra?


- É bom ter uma lady em Dunmurrow que conheça a arte de curar - a cozinheira falou agradecida.


- Concordo - emendou uma voz masculina. - Eu confio mais na minha lady do que na curandeira da al­deia, Maite reconheceu o rapaz que a acompanhara tocan­do flauta na primeira vez que cantara para o barão Herrera. Thomas era o nome dele.


- Você está se referindo à viúva Nebbs? –Glenna indagou ao recém-chegado.


- Sim. Eu preferia cuidar de mim mesmo do que acei­tar o conselho daquela mulher.


- A viúva Nebbs é muito sábia. Está velha agora e raramente se dedica à arte da cura, porém tem um grande conhecimento de ervas.


- Hum... Poções de amor e coisas parecidas - o rapaz desdenhou.


- Não é bom desrespeitar os mais velhos - Glenna aconselhou num tom maternal. Thomas não disse mais nada enquanto Maite voltava para o salão, pensativa.


Viúva Nebbs. Já ouvira falar da curandeira da aldeia antes e. chegara a planejar visitá-la a fim de trocarem algumas receitas envolvendo o preparo de ervas. Como qualquer outra mulher com as suas habilidades, a viúva costumava ser vista pelos aldeões tanto como uma santa quanto uma bruxa, dependendo do resultado dos trata­mentos prescritos, é claro. Ela sentia-se inclinada a con­cordar com Glenna. Pessoas como a viúva Nebbs costu­mavam saber mais do que deixavam transparecer, pois durante uma vida inteira acumulavam conhecimento talvez até utilizassem um pouco de magia.


Magia. Maite irritou-se com os próprios pensamentos. Nunca acreditara em tamanha bobagem antes. Entretanto jamais desconfiara que pudesse ser enfeitiçada um dia, em especial por alguém como o Cavaleiro Vermelho. Será que a viúva Nebbs saberia como quebrar esse encantamento?


Edith entrou naquele exato momento, rindo de algum comentário feito por Willie e embora se sentasse ao lado da ama, quase não lhe deu atenção. Ótimo, Maite pensou aliviada. Sinal de que a serva estava se acostumando à vida em Dunmurrow.


- Você vai precisar de mim hoje à tarde, minha lady Porque senão, Willie prometeu me levar para um passe pelos campos. - A criada corou até a raiz dos cabelos e de repente Maite se deu conta de que ela parecia anos mais jovem... e mais bonita também.


- Não, não vou precisar de você. - As roupas que planejava costurar podiam ficar para outro dia. Que Edith aproveitasse a tarde fora.


- Você não quer vir conosco, minha lady? - a mulher perguntou de repente. - lhe faria bem sair um pouco respirar ar puro.


- Não, mas de qualquer maneira obrigada pelo con­vite.


O almoço transcorreu tranqüilo, Edith e Willie trocando olhares sugestivos e rindo a troco de nada.


- Tem mesmo certeza de que não quer vir conosco


- a criada indagou preparando-se para sair.


Maite sorriu e balançou a cabeça de um lado para o outro, olhando-os com benevolência e compreensão.


- Então vamos, minha garota - Willie falou orgu­lhoso. - Tem uma paisagem bonita lá fora que quero lhe mostrar.


Ela os observou afastarem-se a caminho da claridade enquanto tudo o que lhe restava eram os aposentos som­brios de Dunmurrow. Ainda assim, sabia que se o Ca­valeiro Vermelho a chamasse, seria capaz de se esquecer até da luz do Sol para passar o dia inteiro na cama, ao lado do marido. Será que chegaria o dia em que se agarraria a ele de tal forma que acabaria se tornando uma criatura da noite também, uma sombra como Alfonso Herrera?



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Autor(a): taynaraleal

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Maite estremeceu amedrontada. Havia desejado ser a esposa dele em todos os sentidos, mas agora reconhecia o perigo de uma intimidade total. O fato é que vivera melhor e mais tranqüila antes, num mundo repleto de deveres e trabalhos a serem feitos e não assim... ator­doada por desejos e... emoções que preferiria não sentir. Se ao me ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 79



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:55:37

    Amei essa fic e espero de coração que venham mais e mais adaptações suas! Sei que elas virão, então saiba q estarei aq esperando!!! O Cavaleiro Vermelho e a Maite não poderiam ter um final melhor!!! Beijosss Tayzinha, e que venham os novos projetos!!

  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:54:34

    Como já te disse, amo suas adaptações!! vc escolhe mt bem e escolhe os melhores p colocar no nosso casal topper

  • fsales_ Postado em 18/10/2017 - 20:54:06

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, UMA BEBEZINHA ZENTIII

  • taynaraleal Postado em 06/02/2017 - 20:04:27

    VOU CONTINUAR MEU POVOOO, ESPERO QUE AINDA ESTEJAM AII

  • nessak. Postado em 24/03/2016 - 19:19:09

    Continua a fanfic e muito boa

  • dahnm Postado em 17/03/2016 - 15:22:31

    Hey ...Não Abandona Não ... Posta Mais...

  • dahnm Postado em 06/12/2015 - 14:11:58

    CONTINUA...

  • mylene_herroni Postado em 28/11/2015 - 01:02:26

    Continuaaaaaaa. *leitora nova* ameii tudoo.

  • Gisele Beorlegui Postado em 27/11/2015 - 08:48:18

    Posta mais. Necessito de mais.

  • Gisele Beorlegui Postado em 27/11/2015 - 08:47:51

    '- Me beije - ele pediu' JESUS


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