Anahí Portilla não iria à festa de 35 anos de seus pais sem um acompanhante. De jeito
nenhum. Seria preferível perder um dente da frente em vez disso. Decisão tomada, restava-lhe verificar seu talão de cheques, para avaliar até onde poderia ir, o
quanto teria condições de gastar, para garantir evitar um destino pior do que acabar tendo de
fazer um implante dentário.
– Dois mil e quinhentos dólares. Isso é tudo o que posso gastar – murmurou para a amiga Maite,
sentada ao seu lado a uma mesa livre nos fundos do salão do hotel.
Dois mil e quinhentos eram o máximo a que poderia chegar, e ainda conseguir pagar as contas
e comer no mês seguinte.
Maite, que vez ou outra a ajudava na Baby Daze, a creche bemsucedida de Anahí , só compareceu àquele leilão de caridade de solteiros para oferecer apoio moral. Seu saldo bancário de aspirante a atriz não poderia arcar com o preço de um glamouroso hotel em Chicago. Anahí , por seu lado, vinha usando suas economias estritamente para emergências. Assim, o
que a levara até ali naquela noite fora o puro desespero, causado pela ideia de um fim de semana em família, desacompanhada, sendo alvo de piedade e de risadinhas de todas as mulheres,suportando a provocação dos homens – principalmente seus irmãos –, e vendo todos em sua pequena cidade natal tentando lhe arranjar encontros. Isso sem mencionar ter de responder às inevitáveis perguntas sobre os motivos de estar só quando todos os familiares sabiam que ela vinha namorando um rapaz gentil e bonito nas últimas
semanas. Olhar para seus pais e ter de admitir que aquele moço gentil e bonito com quem estava era um
idiota casado? Nem sob tortura! Limpar sua conta bancária parecia um preço baixo a pagar para
evitar a agonia. Talvez até suas economias também.
Não. Sem chance. Não, a menos que Johnny Depp e Josh Duhamel aparecessem naquele palco, oferecendo um fim de semana de pura exploração carnal a um lance elevado.
– Ninguém foi arrematado por menos de 3 mil pratas até agora, Anahí – lembrou Maite. A
morena, sempre esfuziante e atrevida, soava atipicamente pessimista. – Nem mesmo o
loiro fracote fingindo realizar um striptease.
Anahí se encolheu ao recordar o homem de 20 e poucos anos realizando uma dancinha desajeitada que fez as mulheres da fileira da frente fingirem desmaiar. Céus…
– Talvez eu devesse verificar os bancos do parque. Com certeza há um monte de caras que
fariam isso por muito menos de 2.500 dólares.
– Você está desesperada, Anahí , mas não é suicida.
– E isso por acaso é mais arriscado do que o que estou fazendo agora? Esses homens aí também são todos desconhecidos.
A única diferença era que eles desfilavam e eram comercializados diante de uma multidão de
mulheres ricas e um tanto bêbadas em um salão de hotel. Sim, eles ofereciam encontros legítimos, jantares românticos, caminhadas na praia, passeios e piqueniques vespertinos para o maior lance. Mas aqueles homens ainda eram completos desconhecidos para ela. Além disso, Anahí nem mesmo tinha certeza de ser capaz de convencer o solteirão que viesse
a arrematar a acompanhá-la à visita à família, em vez de fazer o que quer que ele estivesse oferecendo.
Sendo assim, por que era mesmo que ela estava fazendo aquilo?
Maite pareceu ler sua mente.
– Momentos de desespero pedem…
– Um serviço de acompanhantes?
Maite bufou.
– Claro, apareça na casa dos seus pais com um garoto de programa. Isso vai dar muito certo.
– Ele não seria necessariamente um pervertido. Poderia ser um sujeito legal, normal, bonito.
– Pare de achar que está no filme Muito bem acompanhada. – Maite bateu no braço de Anahí
com a brochura enrolada do leilão. – Profissionais desse tipo não existem.
– Mas eu preciso de um plano B.
Anahí sabia que o tempo estava se esgotando. Talvez um jovem com aparência decente que
estivesse saindo da fila do seguro-desemprego. Contanto que ele tivesse todos os dentes e quatro
membros, como sua família descobriria que ele não era o seu namorado? Ou até mesmo três membros… ele poderia ser um nobre sobrevivente de um acidente.
Nobre era bom. Muito bom. Foi por isso que Anahí deu uma olhada nas ofertas da noite em busca de homens no estilo de bombeiros, paramédicos ou policiais. Seu pai ficaria totalmente encantado.
A família de Anahí não sabia a profissão de seu ex-namorado, Sebastian. Aliás, não sabia quase
nada sobre o relacionamento dos dois. Apenas que Anahí estava nas nuvens por causa de um
sujeito alto, moreno e lindo. Eles não sabiam especificamente como Sebastian era. Então ela poderia
apresentar praticamente qualquer um e dizer que ele era o namorado maravilhoso que havia mencionado à família.
Bem, qualquer um, exceto o sujeito maravilhoso verdadeiro, que se provou ser nada além de
um belo mentiroso.
– Pare de pensar em Sebastian, o Babaca.
– Você é telepata?
– Não, você é que é muito previsível, minha querida loirinha, sorridente e boazinha. Sempre
que pensa nele, sua testa enruga, você franze os lábios e dá a impressão de querer bater em
alguém. – Dando de ombros e bebericando sua cerveja, Maite acrescentou: – É claro, você também fica desse jeito quando briga com uma das mamães-águia, mas nenhuma delas está aqui. Mamães-águia. Era assim que Anahí e Maite se referiam a algumas das clientes mais irascíveis da creche de Anahí . Não eram muitas, mas algumas mães ambiciosas, arrogantes e
ultraorganizadas das crianças zeladas pela Baby Daze pareciam encarar as cuidadoras como babás de cachorro superfaturadas. Como se cuidar de um bebê exigisse apenas saber trocar fraldas.
– Você não estava apaixonada por ele; chegou a admitir isso. E nem mesmo dormiu com ele,
Anahí .
– Graças a Deus!
Algo a deteve, algum tipo de intuição. Anahí agradecera por aquela intuição ao descobrir que o
seu sr. Maravilhoso divorciado era, apesar de suas alegações em contrario, o sr. Porco Traidor casado.
– Nesse caso, esqueça-o.
– Já esqueci, Maite. Quase. Só preciso superar esse fim de semana, e aí poderei fingir que
jamais conheci o sujeitinho.
– Explique-me mais uma vez por que você não pode simplesmente contar à sua família o que aconteceu. Afinal, isso não foi sua culpa.
– Você conheceu meus parentes quando eles vieram me visitar na última primavera. Precisa
mesmo fazer essa pergunta?
Maite comprimiu os lábios e balançou a cabeça lentamente. Havia presenciado em primeira
mão a vida de Anahí como filha única em uma família de interior superprotetora que desejava que ela retornasse para casa, se casasse e começasse a produzir bebês… agora, se não seis meses atrás.
Se eles descobrissem que sua “garotinha” tivera um caso com um homem casado, iriam perturbá-la sem descanso para que Anahí desistisse de seus sonhos de fazer sucesso na cidade grande e voltasse para casa, onde poderia conhecer um camarada local decente e sossegar.
– Esqueça o que perguntei.
– Vou arranjar alguém para bancar o namorado, fazer com que todos vejam que estou feliz
e… bem, encenar um rompimento pouco a pouco, ao longo de telefonemas semanais.
Satisfeita com pelo menos aquela parte do plano, Anahí pegou sua bebida, ainda meditando sobre a possibilidade de um plano B. O homem com o qual ela iria aparecer na festa não precisava ser de fato bonito só porque dissera à família que ele era. Alguém muito mais comum e de aparência normal do que qualquer um daqueles solteiros sensuais leiloados para
proporcionar o Natal a uma criança serviria.
A beleza, conforme Anahí já sabia, estava nos olhos de quem a via, e sua família compreendia
isso. No último ano, por exemplo, seu irmão Christopher convencera a todos de que conhecera a futura
Miss América. A noiva dele, no entanto, uma garota adorável de quem a família gostava muito, estava a anos-luz de distância desse ideal de beleza.
Nesse caso, talvez eles fossem achar que ela simplesmente exagerara a respeito da formosura
de seu par. Ou que estivesse muito apaixonada, assim como seu irmão. Anahí não precisava
levar para casa um homem parecido com… com…
Ai, meu Deus. Com ele.