Alfonso COSTUMAVA pegar táxis quando estava em Chicago. Mas já que queria oferecer a
Anahí o pacote completo do “encontro do leilão”, contratou uma limusine para a noite. Quando
eles saíram do prédio e ela viu o veículo preto, longo e reluzente parado no meio-fio, arregalou os
olhos de satisfação.
– Obrigada – murmurou quando ele a guiou até a porta, onde o motorista aguardava. – Você
investiu muito nesta noite, sendo que não precisava. Tenho certeza de que gastou demais.
Claro que ele podia bancar, mas não fez comentários. Anahí não lhe perguntou sobre seu
emprego, sobre como vivia, sobre seu sustento. Alfonso queria manter as coisas assim por um pouco
mais de tempo.
– Quem disse que não precisava? Você gastou bastante dinheiro no leilão…
– Pelo fim de semana – esclareceu ela ao entrarem no veículo.
Anahí deslizou pelo banco de couro, abrindo espaço para Alfonso sentar-se ao lado. Quando o fez,
as pernas longas e esbeltas de Anahí roçaram a dele, e Alfonso precisou afastar o olhar com muita
força de vontade. Mal ouviu quando ela continuou:
– E você está reembolsando me ajudando com minha família. – Anahí acenou, gesticulando
para o interior do carro: – Isto… definitivamente está além e acima do seu dever.
Com um sorriso predatório, ele indagou:
– Isso significa que você quer voltar lá para cima e me oferecer um pedaço de pizza pelo
encontro número 2?
Rindo baixinho, ela balançou a cabeça.
– Nem em sonho.
Durante o trajeto até o restaurante, Anahí observou cada centímetro do carro, espiando o
minibar, tamborilando as unhas na borda de um copo para testar a qualidade do cristal. Não foi
tão longe fazendo coisas como abrir o teto solar e pôr a cabeça para fora, mas, por outro lado,
decidiu aproveitar cada peculiaridade de um passeio de limusine. Alfonso suspeitava que Anahí
nunca entrara em uma.
Ele também não era bem do tipo limusine. Preferia táxis para circular nas cidades que
visitava, ou o próprio carro quando na cidade natal. Mas era divertido observá-la. Considerando o
apartamento pequeno, as roupas simples, as joias discretas e a criação boa e digna, desconfiava
que Anahí não se rendesse a luxos muito frequentemente.
Alfonso gostava de mimá-la. E se sentia feliz por se encontrar em posição de fazê-lo.
Lógico que não fora sempre daquele jeito.
Alfonso cresceu em uma família com dinheiro, embora seu pai não fosse adepto de mimos ao
filho e herdeiro. Mas nunca lhe falMaite nada.
Quando ele foi viver sozinho, no entanto, as coisas mudaram. Alfonso não chegou a ficar a zero,
mas o fundo fiduciário que sua avó paterna lhe deixara não dava para muita coisa. Ele o
administrou bem por esse período, vivendo no estilo estudante-morto-de-fome, morando em
albergues, viajando como mochileiro, enquanto tentava descobrir o que desejava fazer da vida.
Ainda assim, sua reserva financeira ia ficando cada vez menor.
Então ele descobriu sua habilidade: seduzir as pessoas e selar acordos. E começou a fazer
dinheiro de verdade.
E nunca mais olhou para trás.
– Bem… Aonde estamos indo?
Alfonso informou o nome do restaurante, o qual Anahí não conhecia. Aquilo não o surpreendeu.
Ele não a estava levando a um dos restaurantes típicos conhecidos na cidade. Era o tipo de lugar
que apenas os locais frequentavam, considerando que ficava no topo de um condomínio fechado
de arranha-céus. Alfonso conhecera o estabelecimento durante sua visita anterior à cidade, e sabia
que sua localização perto da água e a comida fabulosa eram perfeitos para a ocasião.
Por melhor que fosse o restaurante, porém, Alfonso tinha um arrependimento sobre sua
localização. Não era muito longe, o que significava que o passeio íntimo de carro iria ser bem
rápido. Então ele não podia nem mesmo pensar em tentar apresentá-la a uma das maiores
vantagens de se ter um motorista: sexo quente no automóvel.
Segundo encontro, lembra?
– Eu poderia muito bem me acostumar com isto – disse ela, enfim, afundando no banco,
fechando os olhos.
Os cílios longos esbarraram no rosto, e de repente Alfonso teve o ímpeto de beijá-la ali, de roçar
os lábios naquelas pálpebras fechadas, e então seguir pela têmpora e depois pelos frágeis lóbulos
das orelhas.
Alfonso resistiu. Os dois tinham uma noite inteira pela frente, e então um fim de semana inteiro
cercados pela família dela. Precisava se controlar… controlar o desejo que corria dentro dele
desde que colocara os olhos em Anahí na noite de segunda-feira. Para um homem acostumado a
agir devagar, prevendo e saboreando as melhores coisas da vida, seu desejo por ela era
enlouquecedor.
Quando chegaram ao restaurante, Alfonso deu uma gorjeta ao maître para que lhe desse a mesa
que desejava. Era uma bem privativa, em uma alcova ao lado das janelas que davam vista para
o lago abaixo. A água verde-opaco parecia cristalina daquela altura e brilhava sob os últimos
raios do sol poente.
– Lindo – murmurou Anahí .
Anahí era. A vista também era boa.
– Dá para ficar olhando para sempre. É difícil acreditar que o oceano seja mais do que isso.
Não que eu saiba.
Ele ergueu uma sobrancelha.
– Você não quer dizer…
– Não. Eu nunca vi. – Anahí enrijeceu o queixo. – Mas pretendo fazê-lo. Na verdade, pretendo
conhecer todos eles.
Seria interessante, considerando a temperatura do Ártico. Mas Alfonso havia notado o tom
resoluto de Anahí e não queria discutir com ela. Aquela mulher com rosto doce e delicado era
bem determinada. Ela já provara até onde poderia ir para conseguir o que queria… como um
fim de semana com ele.
Ainda assim, a ideia de que Anahí nunca viajara para nenhum lado da costa do próprio país o
surpreendeu. Talvez porque a extensão do país dele pudesse ser percorrida em um único dia.
Ou talvez porque fosse difícil para Alfonso enxergá-la naquele universo. Como aquela mulher
determinada, que fora atrás do que desejava com tanto afinco, poderia ter vindo de uma família
que nem mesmo noMaite sua avidez por algo mais?
Alfonso ainda estava incrédulo com aquilo quando o garçom trouxe o vinho que ele pedira.
Quando o provou, fazendo o típico ritual da abertura do vinho com o garçom de smoking, ele
notou que Anahí o observava com atenção, com a testa levemente franzida.
– O que foi? – Alfonso quis saber quando tornaram a ficar a sós.
– Nada. – Ela balançou a cabeça devagar, então admitiu: – É só que… Não sei como vai ser
este fim de semana.
– Porque somos quase estranhos e temos que fingir estar intimamente envolvidos?
Ela corou um pouco, e Alfonso soube que Anahí estava pensando na intimidade que ambos
haviam compartilhado no apartamento.
– Certo. Então estamos intimamente envolvidos – cedeu ele. Embora não íntimos o suficiente. –
Mas não nos conhecemos há muito tempo.
– E você é muito diferente.
Como ele estava pensando exatamente na criação dela, soube aonde Anahí queria chegar.
– Você diz diferente da sua família?
Ela assentiu.
– Está dizendo que não sou exatamente o tipo para se “levar em casa para conhecer os pais”?
Ela fez que não.
– Eu não devia ter dito nada. Vai dar certo. Mesmo que você não seja o que eu esperava.
– O que você esperava?
Anahí ergueu a taça de vinho, bebeu um gole, arqueou uma sobrancelha demonstrando ter
gostado, e respondeu:
– Não um irlandês, para começo de conversa. Pela sua biografia, pensei que eu estaria
levando um sujeito bonzinho e trabalhador de um bairro de classe operária que cresceu assistindo
a Plantão médico e resolveu se tornar paramédico.
– Um o quê?
Ela o encarou, intrigada.
– Um paramédico. É isso o que você é, certo? Ou usei a terminologia errada? Você é um
técnico em emergências médicas.
– Anahí , não faço a menor ideia do que você está falando.
Hesitando por um instante, como se certificando-se de que o choque era genuíno, ela pegou a
bolsa e sacou um pedaço de papel dobrado.
– Peguei isto mais cedo. Tive a sensação de que tinha algo de estranho aí. Leia você mesmo. –
Anahí entregou a página a ele. – Não diz nada sobre você ser irlandês… só que é um
paramédico.
Alfonso pegou a página, lendo-a com atenção, e balançou a cabeça em total perplecidade.
Porque as palavras sob a foto não faziam sentido algum.
– Este não sou eu.
– É você – insistiu ela.
– Refiro-me à descrição. Não sou este homem. – Incapaz de descobrir o que diabos estava
acontecendo, Alfonso franziu a testa. – Sei que enviei as informações corretas, de que sou um… –
Como foi mesmo que intitulou-se? – Um empresário itinerante internacional.
Anahí arregalou os olhos e puxou a página das mãos dele. Virou a folha, avaliou as palavras
sob a foto do Solteiro Número 19 e disse:
– Ahá! Foi isto o que você escreveu?
Alfonso leu a biografia. Empresário europeu. Mundano. Ama viajar, mulheres e se divertir . Sim,
aquilo soava mais como o texto dele. Afinal, colocar “acompanhante para mulheres ricas” não
soaria bem. “Consultor para acordos complicados para empresas internacionais” também não.
Assim, Alfonso exagerara um pouco nos adjetivos que pudessem ter um apelo para um solteiro num
leilão.
– Sim, foi. Alguém obviamente trocou as biografias. – Alfonso deu um sorrisinho quando viu a
foto acima da sua biografia. – Imagino o quanto esse tal Jake gostou de ter sido confundido com
um… comigo.
– Vamos apenas ter esperança de que a mulher que desembolsou 25 mil não estivesse louca
por um cara com sotaque.