Ele não queria falar sobre
seu passado, além de mencionar que fora criado na Irlanda. Havia uma história ali… sem dúvida
alguma. No entanto, ele erguera muralhas em torno de si, usando seu charme fácil e visual
fantástico para evitar que qualquer um as escalasse.
O que, Anahí se perguntava, aguardava uma mulher que conseguisse chegar ao outro lado?
– Ainda não determinamos minha profissão. – Pigarreando, Alfonso quebrou o contato visual
intenso. Como se soubesse que ela tentava decifrá-lo. – Hum… dublê? Dublê de corpo para Brad
Pitt?
Ela tornou a bufar.
– Brad Pitt bem que gostaria que todos acreditassem que tem um corpo como o seu.
Então Anahí ficou séria, sabendo que eles realmente precisavam determinar isso. Se ao menos
ela pudesse martelar os detalhes na própria mente essa noite… A última coisa da qual precisava
era ser pega na mentira pela família, que se agarraria a qualquer mentira com o mesmo ímpeto
que Dy lan McFee se jogara em Jessie Sims para lhe tomar o brinquedo.
– Vamos simplificar. Você é um empresário.
Aquilo, de acordo com a biografia correta de Alfonso , era verdade. Anahí odiava arrastá-lo ainda
mais para suas mentiras, embora a malícia na expressão dele lhe dissesse que Alfonso se divertia
com toda aquela farsa.
– Quanto mais perto ficarmos da verdade, melhor. E essa é a verdade, certo?
Ele se remexeu na cadeira, desconfortável.
– Mais ou menos. Sou consultor. Mas empresário serve. – Prosseguindo, Alfonso perguntou: –
Onde nos conhecemos?
Anahí cerrou os punhos sob a mesa, e desejou que seu maxilar não enrijecesse numa raiva
instintiva. Tanto esforço para se manter próxima à verdade. Ela nem mesmo queria fingir ter
conhecido aquele homem do jeito como conhecera o verdadeiro Sebastian… ali, no trabalho, onde
devia ter sido mais esperta.
– Site de relacionamentos?
Ele revirou os olhos.
– Patético. Que tal em um encontro às escuras?
– E isso não é patético?
Alfonso franziu a testa, repensando.
– Festa?
– Está bem.
Anahí sentia como se estivessem negociando um contrato, em vez de estabelecendo um
relacionamento. E de repente viu que Alfonso devia ser um ótimo empresário.
Alfonso confirmou isso apresentando uma lista de questões que ela nunca teria pensando em
fazer. Sua cor, flor, filme e músico favoritos. Suas inclinações políticas, ambições, onde estudou.
Como gostava do café, seu sabor favorito de sorvete. Os lugares onde sentia cócegas.
Anahí lhe revelou um. No entanto, deixou o outro de fora. Alfonso chegara perto de descobrir no
sofá, na noite anterior. Perto… mas não muito. E se um dia descobrisse qual era, eles estariam
muito mais envolvidos do que duas pessoas planejando uma pequena farsa para a família dela no
fim de semana.
Todos os pormenores que Alfonso desejava saber eram irrelevantes, mas sem dúvida coisas que
um casal saberia um do outro. Bolo ou torta? Chocolate ou baunilha? Ele apresentava cada
detalhe, vez ou outra opinando sobre as preferências dela – Como você pode gostar mais de torta
de maçã que de crème brûlée? –, mas mudando de tópico logo em seguida.
Eram todos detalhes que poderiam ter sido discutidos no jantar da véspera, no típico segundo
encontro, no estilo “quero te conhecer melhor”. Em vez disso, eles ficaram rindo sobre a
confusão no programa do leilão, especulando sobre a reação da ricaça ao levar Jake, o
paramédico, em vez do empresário internacional. Alfonso a incentivara para que provasse caviar,
embora não o escargô, e Anahí pedira que embrulhassem as sobras da comida “para levá-las
para o cachorro” de propósito, só para ver como ele reagiria.
Ela devia ter adivinhado. Primeiro Alfonso sorriu, depois ergueu uma sobrancelha arrogante e
latiu para o garçom quando o sujeito esnobe o olhou com superioridade por causa disso.
E então, de algum modo eles pularam a parte da conversa básica, como se já estivessem tão à
vontade um com o outro que nada mais importasse. Até agora, quando perceberam que
importava sim, pelo menos no que dizia respeito à família dela.
A conversa continuou nessa linha por alguns minutos, até que Alfonso perguntou, sem rodeios:
– Você dorme nua?
– O quê?!
– É uma pergunta relevante.
– Não, não é – respondeu Anahí , um lado seu louco para contar a ele, e outro desejando
mostrar a ele, em vez disso. – Minha família não perguntará o que uso para dormir, porque meu
pai na certa o expulsaria da casa se você respondesse.
– Antiquado.
– Muito.
– Temos algo em comum.
– Próxima pergunta?
– Você não respondeu a última.
Ela o encarou.
– Próxima pergunta.
– Qual é o tamanho da sua cama? Eu nem mesmo dei uma espiadinha no seu quarto ontem.
Gemendo como se tivesse percebido que a parte séria da conversa terminara, Anahí se
inclinou sobre a escrivaninha e respondeu, séria:
– É grande. Modelo queen.
E geralmente muito vazia. Embora Wally costumasse dormir todo esparramado, tomando três
quartos do colchão, deixando Anahí bem perto da borda.
– Acho que eu deveria vê-la – sugeriu Alfonso soando totalmente inocente para um homem que
tentava manipulá-la para chegar à sua cama.
Manipular? Tão desnecessário. Considerando o jeito como Anahí vinha se sentindo a respeito
dele – excitada e atraída desde a primeira noite, honestamente interessada desde a segunda, e à
vontade e se divertindo agora –, tudo o que Alfonso teria de fazer seria convidá-la.
Eles passaram mais de uma hora juntos, conversando, rindo, flertando. Aquilo contava sim
como um encontro.
– Não concorda que eu deveria pelo menos… dar uma espiadinha?
O coração de Anahí vibrava daquela maneira engraçada outra vez. E as coxas se contraíram.
– Por quê?
– Bem, estamos saindo, não estamos? Sou um cavalheiro, e decerto a levarei até a porta. Sendo
assim, é provável que eu tivesse pelo menos um vislumbre do seu quarto.
– Você se dá bem com Wally . Essa é a prova de que você faz parte da minha vida.
– Voltando à pergunta anterior, então: o que costuma vestir quando rasteja para aquela cama
imensa tendo apenas seu gato como companhia?
Incapaz de resistir, ela disse a ele num sussurro rouco:
– Uma camisola de seda vermelha.
Mentira, mentira, mentira. Anahí costumava dormir usando uma camiseta bem grande. Mas
pelo menos tinha uma camisola vermelha, que comprara em uma liquidação depois do Dia dos
Namorados, no último inverno, determinada a usá-la para alguém antes que a data repleta de
cupidos voltasse a acontecer.
Talvez vá acontecer. Agora. Esta noite.