Alfonso PRECISAVA sair dali, agora, enquanto, como diziam nos filmes antigos, a fuga era
possível. A julgar pelo lampejo de raiva nos lindos olhos verdes de Anahí , a “fuga” poderia não ser
possível dentro de mais alguns instantes. Porque ela parecia reunir energia para atacá-lo
verbalmente. Chamá-lo de provocador… ou coisa pior.
A culpa era dele.
Embora sua pretensão essa noite fosse tão só pegar as informações das quais necessitava, além
de preparar Anahí para a viagem do dia seguinte, Alfonso se flagrou seguindo para um caminho
muito perigoso com ela. Um que vislumbrava ambos desviando-se do caminho principal da
amizade tranquila e casual onde deveriam estar. E entrava completamente no território do desejo
sexual.
Que tipo de idiota perguntaria a ela sobre o que vestia na cama, e sobre o tamanho da cama
dela?
Se ele de fato planejava fazer algo a respeito disso, seria uma coisa. Mas ele não fez.
Prometera a Anahí um terceiro encontro. E esta noite – apesar do quanto teria gostado de
quebrar as regras – não contava.
Além disso, Alfonso apreciava seu novo relacionamento, a estranheza de estar com uma mulher
sem as pressões da expectativa.
Ele ainda não queria apressar nada. No entanto, se não saísse dali agora, não só iria apressar as
coisas: iria bater um novo recorde mundial de deixar uma mulher nua. E mais outro por estar
dentro dela antes mesmo que algum dos dois pudesse ao menos pensar nas palavras “não
devíamos”; muito menos dizê-las.
Alfonso consultou o relógio de pulso, notando por quanto tempo eles haviam ficado conversando.
Eram quase 23h. Tinham perdido completamente a noção do tempo, isolados do mundo lá fora.
– Devemos ir embora. Está ficando muito tarde. Teremos um longo dia pela frente amanhã.
Encarando-o, os olhos arregalados de espanto, Anahí desabou na cadeira.
Não. Por favor, não. Se ela dissesse, se colocasse ali entre os dois palavras como “Por que
diabos você não está rasgando minhas roupas agora?”, Alfonso perderia todo o controle. Teria de
possuí-la bem ali, em seu local de trabalho, uma creche, que para qualquer homem solteiro seria
tão erótico quanto um convento. Mas o qual, nesse instante, serviria tão bem quanto um hotel
cinco estrelas com cama com lençóis seda.
Enfim, após um momento longo e silencioso, Anahí assentiu brevemente e levantou-se. Se a
cadeira dela fosse arrastada com um pouco mais de força do que ele esperava, Alfonso não ia
ajudar. Ou perguntar a Anahí qual era o problema.
Alfonso sabia qual era o problema. Ele era um tremendo idiota, esse era o problema. Um tolo que
sempre insistia em abrir por último o maior presente no seu aniversário, que ainda comia todos os
legumes do prato antes de se permitir saborear o prato principal. Que sempre acreditava que as
boas coisas da vida ficavam ainda melhores quando era preciso esperar por elas.
A espera podia até aumentar a empolgação. Mas Alfonso não tinha certeza de que seu coração
seria capaz de aguentar mais empolgação quando o assunto era o que iria acontecer entre Anahí
e ele.
– Tarde demais, você estragou tudo, seu burro – resmungou Alfonso ao sair do escritório.
Anahí podia até ter estado excitada e interessada. Agora parecia exaltada e furiosa.
Alfonso caminhou pelo corredorzinho que dava para uma grande sala principal, passando por
portas fechadas com placas que diziam “Berçário” e “Apenas crianças grandes”.Todo o lugar
permanecia silencioso e na penumbra. O resto de iluminação começou a desaparecer quando
Anahí apagou a luz do escritório. Ela fechou a porta detrás de si, então foi até o cômodo ao lado
para apagar mais um interruptor.
Nesse momento, não havia nada senão escuridão, quebrada apenas pela luz vermelhas das
saídas de emergência e pelo brilho da lua adentrando as janelas da frente. Ainda era o suficiente,
no entanto, para Alfonso distinguir o brilho do cabelo loiro de Anahí , que se aproximava. E, quando
ela chegou mais perto, o brilho em seus olhos.
Os olhos repletos de fúria.
– Anahí …
– Estou quase pronta. – Ela verificava o termostato. – Fique à vontade para ir embora.
– Não a deixarei sair à noite sozinha.
A creche ficava em uma área comercial, não residencial. Quando desceu a rua para beber
alguma coisa, Alfonso notou que cada prédio entre a creche e o restaurante estava fechado e
escuro, e aqueles na direção oposta pareciam na mesma condição.
– Faça como preferir, Alfonso . Mas não precisa. Eu sei que não é como se você quisesse estar
aqui.
Ouvindo o tom de frustração dela, e o eco da própria frustração lá no fundo de sua mente,
Alfonso abdicou de sua resistência de repente. Não seria capaz de deixar as coisas assim. Sem
chance de ele permitir que Anahí fosse para casa pensando que não a desejava.
Mas antes que Alfonso pudesse dizer qualquer coisa, como “Vamos economizar tempo de manhã
indo para sua casa agora à noite”, ele sentiu algo golpear seu peito. Algo pequeno e, ao mesmo
tempo leve, e ainda assim incomodava.
– O que diabos…
Mais um objeto colorido voou na escuridão. Desta vez, Alfonso o agarrou no ar, por reflexo,
percebendo logo estar segurando uma bolinha vermelha de plástico.
– Você está jogando coisas em mim?!
– Eu estava mirando a piscina de bolinhas – respondeu ela com inocência fingida. – Algumas
bolinhas espirraram para fora.
Alfonso ergueu o dedo indicador, apontando para sua direita.
– A piscina de bolinhas fica para aquele lado ali.
– Nossa, como minha mira é ruim…
Ela se provou uma mentirosa ao se abaixar, agarrar outra bola no chão escurecido e atirá-la
em Alfonso . Abaixando-se para se desviar, ele não soube se deveria rir ou agarrar Anahí para fazêla
parar e escutá-lo por um minuto.
Quando ela se agachou para pegar mais uma bola, os pés de Alfonso decidiram por ele. Antes
que ela pudesse atirá-la, decerto mirando na cabeça dele desta vez, Alfonso a impediu:
– Já chega, querida – murmurou, agarrando-lhe a mão erguida.
Alfonso a recostou na parede até os corpos estarem fundidos, todas as curvas delicadas dando
espaço às arestas sólidas dele. Uma raiva palpável exalava de Anahí . Combinada a algo mais:
excitação física pura.