AQUILO NÃO estava começando muito bem.
Anahí não tinha nem mesmo ouvido a aproximação do irmão mais velho, Christopher . Mas ela ouvira
o grunhido de surpresa de Alfonso , que desviara sua atenção do puro prazer que estava
experimentando com o toque dele. Sob o sol quente e o céu azul, com a mão de Alfonso em sua
coxa e a boca em seu quadril, Anahí conseguira se esquecer momentaneamente de que eles
estavam prestes a entrar de mãos dadas no covil do leão.
Até uma das feras sair do covil e atacá-los de surpresa.
– Papai está na varanda – informou o irmão.
Anahí olhou para a casa, mas não conseguiu vê-lo. Alfonso estacionara o pequeno carro esportivo
entre as duas caminhonetes monstruosas que os irmãos dirigiam, e o veículo ficou
completamente escondido da vista da casa.
– Obrigada por vir nos buscar. – Anahí fez um esforço para disfarçar o sarcasmo.
– Você estava demorando tanto que ele resolveu descer e verificar se precisava de ajuda com
a bagagem.
Certo. Como se eles estivessem com um porta-malas cheio para uma visita de dois dias. Se
Anahí conhecia bem o pai, ele contava os segundos no relógio, calculando quanto tempo levaria
para ela e seu novo namorado chegarem à varanda sem nenhuma gracinha acontecendo. Era
exatamente o quanto ele aguardava por Anahí depois de qualquer encontro quando ela era
adolescente.
– Eu estava apresentando Rex a Se… – Anahí se conteve, mas de repente achou impossível
forçar o nome de alguém que detestava a alguém de quem estava começando a gostar
imensamente. Assim, emendou rápido: – Ao meu amigo.
– Rex. É assim que você chama seu traseiro agora?
Anahí ergueu o dedo do meio, do mesmo modo como fizera muitas vezes quando garota, com
os pais por perto, mas fora do alcance visual.
– Sei lá… Era assim que você estava chamando o de Becca quando flagrei os dois nus debaixo
da árvore na última véspera de Natal?
Christopher se desviou do contra-ataque.
– Ela é minha noiva.
– Mas não era naquela época. – Sorrindo com pura crueldade, Anahí acrescentou: – Não sei do
que você a chamava, mas, pelo que eu soube, ela acha que você é algum tipo de divindade: “Ai,
Deus, sim! Sim!”
Christopher deu uma risada, deixando de lado a atitude ridícula de irmão mais velho superprotetor. Seu
bom humor inato apareceu em seus olhos.
– Mamãe nunca deveria ter deixado você assistir a Barrados no baile quando era criança.
– Ah, claro, isso explica tudo. Agora caia fora para podermos sair.
Christopher se afastou da porta do carro, abrindo-a e então oferecendo a mão à irmã. Tomando
cuidado para não chutar Alfonso ou lhe dar uma joelhada na cabeça enquanto passava por ele,
Anahí saltou e abraçou o irmão.
– Sentiu saudade de mim?
– Dessa sua boca suja, não. – Christopher apertou com força, e acrescentou: – Mas, sim, acho que
sentimos um pouquinho de saudade do restante de você.
Então, com a postura típica do irmão valentão, ele a soltou e voltou toda a atenção para Alfonso . E
endureceu o maxilar. Vendo o que ele estava vendo, Anahí suspeitava que soubesse o motivo.
Alfonso não apenas era tão belo que deixava os outros homens desconfortáveis, mas sem dúvida
parecia um tanto rebelde se comparado à maior parte dos homens dali. O cabelo longo estava
solto e bagunçado, embaraçado na nuca. O brinco dourado brilhava sob a luz do sol. Os óculos
escuros, que ele colocara na cabeça quando chegaram, pertenciam a uma grife pela qual
nenhuma pessoa comum era capaz de pagar. E estava dirigindo o tipo de carro reservado a
estrelas de cinema.
Em resumo, Alfonso era tudo do qual os irmãos ficariam desconfiados… e tudo o que Anahí já
sabia que adorava.
– Você deve ser Christopher . – Alfonso esticou seu corpo esbelto quando saiu do carro e estendeu a mão.
– Ela se esqueceu de me apresentar. Meu nome é Herrera , mas todos me chamam de Murph.
Boquiaberta, Anahí olhou para ele e falou, sem emitir som “Murph?”, ganhando um dar de
ombros em resposta.
Murph não combinava nada com ele. Mas Alfonso estava fazendo o possível para evitar qualquer
confusão com seu nome falso no fim de semana. Ela poderia lhe dar um beijo por isto.
Bem, por muitos motivos.
Christopher apertou a mão de Alfonso , e ambos fizeram aquela coisa de apertar bastante a mão para
provar quem é mais macho. Tão estúpido, embora Anahí suspeitasse que Christopher fosse quem
estivesse tentando provar alguma coisa. Alfonso não era do tipo que se incomodava com isso.
Cansada do jogo vamos comparar nossa macheza, Anahí se colocou bem entre os dois, se
abaixando para pegar a gaiola de Wally no banco traseiro.
– Deixe-me fazer isto, querida.
– Ai, Deus, você trouxe a fera? – perguntou Christopher soando assustado.
Sabe-se lá o motivo. Não era como se os sapatos dele que Wally batizara com xixi fossem
italianos, e Christopher certamente pisara em coisas piores ali na fazenda. E daí que Wally tinha feito xixi
em suas botas uma vez? Ou duas…
– O que eu deveria fazer? Deixá-lo sozinho em casa para ficar triste e morrer de fome?
– Ele poderia ter se lançado sobre um ladrão que invadisse a casa se tivesse fome – disse Christopher ,
espiando o gato, com cautela.
Em vez de simplesmente agarrar o transporte, como Anahí tinha a intenção de fazer, Alfonso na
verdade abriu a grade, pegando Wally. O gato devia ter ficado arisco e agressivo depois de ter
passado as últimas horas preso. Em outros tempos, ele até mesmo chegara a morder Anahí uma
ou duas vezes depois de viagens longas.
Em vez disso, Wally se aninhou no peito de Alfonso e enfiou a cabeça sob seu queixo, lambendo a
pata delicadamente e encarando o irmão de Anahí .
Christopher ficou embasbacado.
E Anahí reprimiu um sorriso. O mero fato de Alfonso ter conquistado Wally devia servir como
recado sobre seu novo “namorado” e sobre o quanto ele fazia parte da vida de Anahí .
Mesmo que não fizesse. Não por muito tempo, pelo menos.
Não pense assim, lembrou ela quando uma punhalada de decepção lhe acertou a barriga. Teria
pelo menos um dia e meio com Alfonso . E precisava aproveitar o máximo. Porque era tudo o que
teria com ele.
Alfonso deixara isso bem claro. Ela aceitava as condições. Fim da história.
Só até amanhã à noite.
Ah, como Anahí queria que eles não precisassem passar a maior parte desse tempo
remanescente ali…
– Venha, antes que ele envie reforços – disse Christopher quando se voltou para a casa.
O irmão dela estava tão aturdido com a amizade de Alfonso com Wally que se esqueceu de ser
um idiota beligerante por ter visto Alfonso enfiando a mão sob a saia de Anahí . Em vez disso, ele os
guiou em silêncio pela estrada que dava para a varanda, onde os outros homens da família Portilla
estavam de pé, atentos.
– Minha nossa… – murmurou Anahí . – Por que vocês não pegaram suas espingardas e
começaram a cutucar os dentes com facas de caça?
Ao lado dela, Alfonso deu risada, mas Christopher simplesmente continuou andando.
– Aqui estão – avisou. – Anahí teve que parar para cumprimentar seus amigos de pelos e pena
antes de saudar a própria família.
Hum. Nenhuma menção à boca de Alfonso em seus quadris. Aquilo não era muito surpreendente.
Christopher podia ser um irmão mandão, mas não era falastrão.
Então, mais uma vez ele mantinha o bico fechado em benefício próprio. Conhecia Anahí bem
o suficiente para esperar um troco sério caso fizesse estardalhaço.