– O que houve?
– Ele era casado.
Surpreso, Alfonso não conseguiu evitar ranger os dentes. Anahí não parecia desse tipo. Ela era tão
honesta, tão sincera e doce.
Não que ele fosse julgá-la, dada a própria história. Jesus Cristo, muitas das mulheres com
quem estivera eram esposas entediadas de maridos que pagavam a Alfonso para lhes fazer
companhia.
Ainda assim, a ideia de Anahí ser parte de algo assim doía. Profundamente.
– Entendo.
Ela soltou a mão de Alfonso , como se estivesse sentindo-o se afastar, mesmo que apenas
mentalmente.
– Não, você não entende. Eu não sabia que ele era casado.
Anahí começou a lhe revelar a história toda, falando rápido, e a cada palavra dela a raiva de
Alfonso aumentava. Assim que Anahí terminou, as mãos dele estavam cerradas com tanta força
em torno do volante que chegava a machucar.
– Quer dizer que ele usou o filhinho para cair nas suas graças, para comovê-la com a história
do pobre pai abandonado. Em seguida, tentou mentir para levá-la para a cama.
– Foi bem isso.
Desgraçado! Alfonso gostaria de apertar as mãos em torno do pescoço do sujeito, em vez de estar
agarrando aquele volante acolchoado e impessoal. O tal Sebastian merecia ser estrangulado por
alguém que soubesse como executar o serviço.
– Desculpe, Alfonso , eu não contei a verdade. É que é muito humilhante… Estou envergonhada e
constrangida.
– E apavorada diante da perspectiva de seus pais descobrirem – disse ele, sabendo de imediato
que era verdade.
– Ah, você não faz ideia!
Após ter acabado de passar um fim de semana com os Portilla , ele fazia uma boa ideia, sim.
– O que exatamente sua mãe disse?
Anahí fungou, então riu, como sem saber se deveria rir ou chorar com o alívio de ter tirado
toda aquela história sórdida de seu peito.
– Que não conseguia pensar em um único “apelido” que soasse como Sebastian.
Pois é, aquela não fora a melhor saída.
– E que, ao mesmo tempo que não gostou da farsa…
– Sim?
Pigarreando, Anahí admitiu:
– …A julgar pela maneira como você e eu olhávamos um para o outro, mamãe constatou que
havia sentimentos verdadeiros entre nós, e ela achava que poderíamos ser muito felizes juntos.
Sentimentos verdadeiros. Muito felizes. Juntos. Ele e Anahí . Como em “felizes como um
casal”, um casal genuíno. Casamento, família, um lar. Todas as coisas que Alfonso nunca imaginara
para si, e das quais fugia desde que completara 21 anos.
E tudo aquilo era o que – ele sabia – Anahí realmente desejava, mas nas condições
estabelecidas por ela, depois de conhecer o mundo.
Anahí não falou mais nada. Em vez disso, recolocou os óculos escuros no rosto e inclinou a
cabeça para trás para deixar o sol bater em suas faces, como se quisesse tirar um cochilo.
Na verdade, ela estava dando espaço a Alfonso , não queria obrigá-lo a ter que conversar. Não
que fosse saber o que dizer. Então ele simplesmente continuou a dirigir.
A cada quilômetro passado sob as rodas do carro, Alfonso sentia a pressão sutil de sua vida
verdadeira. Quanto mais se aproximavam de Chicago, mais a vida o arrastava de volta,
lembrando-lhe das escolhas que fizera.
Escolhas que lhe pareceram certas àquela época. Mas que agora, com as palavras sussurradas
de Anahí sobre uma relação fantasiosa que ele nunca sonhara ser possível se repetindo ao seu
ouvido, deixavam Alfonso com muita vergonha.