Claro, Alfonso erguera as sobrancelhas, aproximando-as da linha negra de seu couro cabeludo, e ficara sem palavras durante alguns instantes. Então, com uma piscadela daqueles lindos olhos
verdes – sim, eles tinham mesmo aquela tonalidade violeta-verdesada da fotografia –, ele simplesmente murmurou “muito bem”, pegou o cartão de visitas que ela lhe oferecera e lhe
desejara boa noite.
Como se estivesse tudo acertado. Fácil, fácil.
E completamente enlouquecedor.
– Ele vai me deixar plantada esperando.
– Deu para notar se o smoking dele era feito sob medida, Anahí ? Sem dúvida parecia, quando o vimos de lá de trás.
– Alfonso vai agendar uma viagem para a Sibéria enquanto nós duas estamos aqui conversando.
– Ele é alto, certo? Parecia alto.
– Em vez de me dar o restante da semana para me preparar para aparecer sozinha na festa,Alfonso vai me deixar aguardando, toda esperançosa, e aí me deixará plantada, no sábado. Terei morte cerebral por estresse, e não serei capaz de inventar nem uma desculpa, como por exemplo que meu namorado está em uma missão militar secreta na Hungria ou coisa assim.
– Estamos em guerra com a Hungria?
– Odeio quando você zomba de mim! – Anahí lançou um olhar flamejante para Maite, ciente de que sua amiga a estava provocando de propósito.
Maite sorriu e parou de importuná-la.
– Pelo amor de Deus, dá para parar? Ele disse que estaria lá. E vai estar. Por que o cara a deixaria plantada esperando?
– Ah, sei lá… Talvez por parecer que ele nunca ouviu a palavra “fazenda” na vida e não faz ideia de que o filé mignon que comeu no jantar de ontem à noite já usou um sininho no pescoço.
Maite, a vegetariana – por este mês –, ergueu a mão em protesto.
– Desculpe…
Chegando ao estacionamento, entraram no elevador para ir ao quarto piso. Enquanto subiam,Anahí continuava a pensar em todos os pretextos que Alfonso Herrera criaria para não aparecer.
Ela não conseguia encontrar em um único motivo para ele aparecer, apesar de os beijos entre os dois terem sido ótimos. E apesar daquelas palavras sensuais e da expressão ainda mais sensual
de Alfonso quando mencionou a química entre eles. Anahí estava quase soltando palavrões quando elas passaram pelo segundo andar.
– Eu devia tê-lo seduzido. Ter aproveitado uma noite de sexo em vez de esperar que Alfonso fosse conhecer minha família.
– Nossa, sem dúvida!
Anahí encarou a amiga.
– Eu pareço mesmo tão fácil?
– Não, não parece. Mas para um homem assim, querida, até a mãe do Papa seria fácil.
– Estraguei tudo – resmungou Anahí , sem querer entrar na conversa “como ele é sexy ” com Maite, sabendo que decerto levaria ao tópico “ele beija muito bem”, o qual ela não queria abordar
agora; de jeito nenhum.
Aqueles dois beijos pertenciam a ela, e só a ela.
Maite colocou a mão no braço de Anahí , com delicadeza.
– Pare, Anahí . Ele não parece o tipo de cara que não tem palavra.
- Sebastian também não parecia.
Se os olhos de Maite fossem capazes de soltar fogo, teriam feito isso à menção do nome do ex de Anahí .
– Eu não conheço esse rapaz do leilão, mas fico insultada em nome dele por você ao menos cogitar compará-lo àquele balde de lama mentiroso, traidor e mulherengo.
Suspirando de remorso, Anahí assentiu.
– Você está certa. Alfonso parecia ser um sujeito decente.
E lindíssimo, quase magnético. E, a julgar por sua biografia, bastante heroico também. Alfonso era paramédico. Salvava as vidas das pessoas em vez de tentar destruí-las de forma imprudente,
como Sebastian fizera com a dela.Honestamente, Alfonso Herrera não se parecia com ninguém que ela conhecia.
– Eu não devia ficar julgando. Talvez só esteja inventando problemas.
– Pode apostar que sim. Agora, conte-me tudo sobre ele. – Maite não estava brincando dessa vez. Ela queria a notícia em primeira mão.
– Você o viu.
– De longe. Só as ganhadoras do leilão puderam entrar no coquetel. – Maite torceu o nariz. – Veteranas nazistas.
– Bem, ele é alto.
– Percebi, querida. Dê-me uma informação boa.
– Tem orelha furada e é totalmente sexy . – Muito embora ela nunca tivesse imaginado que um homem de brinco poderia ser.
A amiga deu de ombros, pouco impressionada. Como Maite não lia dois romances por semana,como Anahí , então provavelmente não captaria a fantasia instantânea do pirata de brinco de ouro
e longo cabelo negro que invadira a mente de Anahí no momento em que o vira de perto.
– Mais.
– Ele tem uma voz incrível.
– Rouca? Tipo aquela voz de conversinha safada ao pé do ouvido?
Anahí balançou a cabeça quando saíram do elevador e se aproximaram da minivan,estacionada na área central do piso quase vazio. Anahí apertou a bolsinha de festa com mais força sob o braço, dando uma olhada cuidadosa para os recantos sombrios da garagem.Apesar do que sua família podia pensar sobre ela estar pouco segura na “perigosa metrópole”, depois de ter sido criada em uma cidadezinha pacata, Anahí sabia cuidar de si. Ela posicionou as chaves na mão, colocando as mais longas e afiadas nos vãos entre os dedos,e supunha que os dedos de Maite estivessem repousando calmamente sobre a latinha de spray de pimenta que sempre carregava. Que dupla de Panteras. Se um bandido com uma faca se aproximasse, elas provavelmente jogariam suas bolsas para ele e correriam como loucas de volta ao elevador. Para ser sincera,
essa seria a coisa mais inteligente a se fazer. Mas e o que fazer com algum psicopata que quisesse mais do que uma bolsa? Bem, as chaves fazendo o papel de soco inglês e o spray de pimenta eram necessidades básicas quando se morava na cidade. Além do mais, Anahí gostava de pelo menos achar que era durona, ainda que
só para evitar as preocupações constantes de sua família de que ela não dava conta do recado.Eles previram roubo, estupro, assalto… quase tudo, menos mutilação, quando Anahí informara
que estava indo para Chicago, para dar um tempo da fazenda, depois de quatro anos frequentando uma pequena faculdade local. Durante os cinco anos ali, desde que se mudara, já tivera a bolsa roubada, e o apartamento fora arrombado. Duas vezes.