Fanfic: O tempo entre nós | Tema: Separação
Passou-se muito tempo desde que encontrei Natasha. Nós éramos grandes amigos de infância que sempre compartilhamos tudo desde risos, choros, vitórias, derrotas e aquele gostinho amargo que é perder alguém que nos é muito querido. Depois de algum tempo, me mudei, mas continuei pensando que poderia ter sido diferente. Á uma quadra de distância da minha casa, existia uma rua estreita e acidentada por onde era bem difícil o trafego de automóveis por ali – e era definitivamente o melhor lugar para uma boa dose de pega-pega com pique esconde e uma rodada de sete erros para complementar – e sempre nos encontrávamos, algumas vezes difíceis outras mais fáceis, naquela mesma rua onde as casas eram grudadas umas nas outras e os muros eram bem coloridos. Os buracos, nos dias de chuva principalmente, eram uma mão na roda para nós, sempre traquinando, mas sempre com um bom motivo para estarmos juntos, e eu me sentia bem.
Com todas as brincadeiras também vieram os problemas, o dia-a-dia, as separações, brigas... O tempo. Não demorou em a velha turma que havíamos formado se desfazer e todos se aquietarem em seus cantos, sem ao menos uma palavra amiga ou uma troca de olhares. Carlos, um rapaz inteligente e estudioso, meio rechonchudinho, mas que quando era para se divertir com a turma, topava qualquer parada. Ana, uma menina super descolada e melhor amiga de Natasha da qual compartilhavam todos os segredos e se consideravam “irmãs” de mães diferentes até. André, um rapaz atlético, vidrado nos esportes radicais e super seguro de si mesmo, mas também alguém super companheiro e que daria um braço pelo seu colega e Clarice, a líder pela sua postura decidida e bem cabeça dura, mas que sempre administrava as brincadeiras e patrocinava as nossas travessuras. Nosso grupo era muito unido sem duvida, mas nada é para sempre não é?
Depois de alguns desentendimentos, Carlos se mudou e foi para outra cidade, também por causa de uma oportunidade na escola técnica de lá que era muito boa. Clarice adoeceu gravemente com isso, depois de algum tempo, mudou de ares e foi para a França fazer um tratamento, onde adquiriu a nacionalidade francesa e passou a freqüentar as escolas de lá, isso também por causa de um programa de intercâmbio que sua antiga escola proporcionou para a menina. Depois da saída de Clarice, o resto do grupo começou a definhar lentamente e os encontros passaram a ser tornar cada vez mais raros. Uma vez ou outra, alguém adoecia ou não podia vim por causa de algum compromisso... Enfim, tudo estava diferente e aquilo afetou a todos nós, em especial Natasha. Nunca falei para ela, mas sempre havia sentido uma atração por Natasha que nem mesmo eu entendia; e ver tudo aquilo acontecendo e tão depressa... Natasha estava triste e confusa com tudo aquilo e de certo modo, também me atingia ao vê-la naquele estado de incertezas.
Depois foi a vez de André sair e com ele, se foi Ana. Depois fiquei só eu e Natasha nos encontrando ainda, periodicamente, mas ainda nutríamos a nossa amizade apesar de tantas separações. Em uma noite, ainda posso lembrar... As palavras que troquei com ela... Poderia sonhar com elas todas as noites. Nós jazíamos sentados na varanda da casa dela e o vento frio da noite batia em nossos rostos. A lua estava brilhante e o céu límpido e estrelado daquela noite de primavera nos trazia lembranças e com as lembranças, saudades.
– Está uma noite linda não é?
– Sim... – ela respondeu com meias palavras. Seu pensamento estava longe enquanto mirava profundamente a grande lua.
Procurei não ater-me muito as palavras, permanecendo no silêncio. A rua dos sonhos, como nosso grupo gostava de chamá-la, estava deserta e quieta. Eu só ouvia o barulho da minha respiração, bem como o cantar dos grilos e estava suando frio. Nunca havia estado tão nervoso antes; estava junto com a garota pela qual sempre nutri uma paixão secreta e agora poderia abrir meu coração sem medo de alguém estar lá para ouvi-los senão ela. Com isso pude me concentrar e escolher as palavras certas para expressar o que eu sentia, temendo quebrar aquele silêncio sagrado com minhas profanas palavras. Meu peito apertava e minha garganta estava seca, bem como meu pulso trêmulo estava inútil demais para qualquer ação. Só poderia falar mesmo, nada mais.
– Natasha... – finalmente abri a boca. Ela me olhou no mesmo instante, me petrificando subitamente. Tentei me acalmar e fiz uma breve pausa para reorganizar as idéias. – Olha... Sempre... S-sempre... T-tem algo... Algo... Que eu gostaria d-d-d-dizer...
Natasha soltou um risinho, provavelmente rindo da minha estúpida tentativa de falar com ela.
– O que Caleb?
Minha voz enguiçou e eu não conseguia dizer. O suor descia frio e minhas cordas vocais pareciam atrofiar. Eu bati no peito enquanto me virei rapidamente para pegar o copo da água que estava perto do meu pé no chão.
– Bem... Sabe... Depois de tanto tempo... Depois de nossos amigos irem embora... Ficou tudo tão chato não é? – interpelei não conseguindo dizer o que eu realmente queria.
Seu semblante ficou pensativo e eu decidi parar a conversa por ali novamente.
– Sabe... Depois que Carlos se foi e depois o resto... Eu pensei que fosse me deixar também... – Sua voz era chorosa e eu sentia que ela estava, naquele momento, emocionalmente frágil.
– Não diga isso! Eu nunca iria te deixar sozinha!
– Mesmo?
– Claro que não! – confirmei. – Eu... Na verdade... – Logo ela chegou perto de mim e me abraçou. Fiquei lá feito um mongol, apenas aproveitando aquele abraço apertado e quente de Natasha. Eu nunca havia me sentido tão bem... Tão intimo com ela. Nossos corações agora pareciam um só.
– Natasha! – eu segurei pelos ombros olhando firme nos olhos dela. – Eu... Realmente tenho que te dizer algo!
– Diga... Caleb! – ela sussurrou baixinho e de modo sedutor no meu ouvido, arrepiando-me até a espinha.
– Eu... Na verdade eu...
– Crianças! Já para dentro! Está frio ai fora! – chamou a mãe dela. De novo eu não havia conseguido falar com Natasha e me xinguei mentalmente por aquilo. Nós entramos, fechando a porta da varanda. Estava tarde para eu voltar para casa então dormi na casa dela para voltar de manhã. Isso era bem comum e nossas mães já eram bem amigas, então nunca havia problemas enquanto á isso.
De noite eu pensava... Não consegui dizer á ela que a amava e isso me atormentava todas as noites depois daquele dia. Pensei em tentar novamente, mas algumas semanas depois ela também havia ido embora, deixando apenas uma carta com o porteiro do meu prédio. Para minha raiva, eu estava no colégio, no momento em que ela foi embora. No meu quarto pude ler o que Natasha havia deixado escrito:
“Querido Caleb... Você sempre foi muito gentil e atencioso comigo e eu achei que iríamos ficar juntos até crescermos, freqüentar a mesma faculdade juntos, entrar no mesmo emprego... Enfim, fazer tudo juntos até o fim. Eu vim para falar com você antes de ir e foi até meio repentino isso, mas não consegui e sendo assim eu deixei essa carta. Quando estiver lendo isso, eu já vou estar longe, mas eu quero que saiba que eu te amo muito... Meu sujinho favorito, meu brigão que sempre me defendia... Meu irmão... Meu amor. Se cuide e eu prometo que algum dia... Vou te procurar novamente... Vou te ver novamente. Beijos e se cuide esta bem?
Com amor, Natasha”
Naquele momento meus olhos se encheram de lágrimas e coloquei lentamente a carta de volta no envelope e o deixei em cima da escrivaninha de madeira em frente á cama. Deitei e comecei a divagar... Minha mente só pensava nela... Só que via no meu pensamento era Natasha. E meus olhos novamente começaram a arder e as lágrimas amargas agora estavam mais azedas do que costumavam a ser. E eu sentia que havia falhado miseravelmente... Porque não conseguir dizer que a amava... E só descobri que ela sentia o mesmo... Depois que ela se foi.
– Droga... – eu cobri meu rosto com meu braço enquanto chorava.
Já estava sentindo sua falta.
Autor(a): Beansprouth_Terra
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