Fanfic: O tempo entre nós | Tema: Separação
Acordei de manhã bem cedo e abri a janela. O vento frio da matina congelou minha face, coloquei as chinelas e fui para o banheiro escovar os dentes. Era a mesma rotina todos os dias e já se passara quatro anos desde que minha mãe faleceu. Meu pai arrumou um emprego para mim e com isso comprei uma casa regular na periferia, com uma suíte, uma sala e uma cozinha americana. Eu morava sozinho, mas se parecia uma eternidade desde que eu não via ninguém conhecido, fora Charlie, meu colega de trabalho que sempre vinha me buscar de carro todo dia ás sete da manhã. Meu emprego? Bem... Eu trabalho como repositor em um supermercado do bairro. Isso foi um dos favores que meu pai fez, alem de me ajudar a comprar minha casa. Os dias se passavam muito rápido; depois do trabalho nós sempre dávamos um pulinho no bar para relaxar e conversar sobre o dia ou mulheres. Eram quase os mesmos papos todos os dias. Meu pai morava na mesma casa onde a minha mãe havia falecido de um ataque fulminante, para conservar a memória dela dizia ele – Não acho que ele fosse se esquecer mesmo –, e depois ele entrou em depressão e começou a beber direto.
– Cara... Será que você não fala de outra coisa a não ser mulheres?
– Não posso evitar cara – respondeu Charlie tomando outra dose de cerveja. – São coisas importantes...
– Sei... Só você mesmo hein? – alfinetei.
Charlie soltou uma risadinha.
– Você que sabe cara. Mas ainda prefiro falar da Bruna.
– Bruna?
– Aquela atendente gostosa lá da área de presentes. – disse Charlie brincando com a latinha.
– Ta certo... Aquela tia lá e casada você sabe né?
– Eita... É mesmo né? Então mudando um pouco de tática...
– Pois é... – Nós continuamos a beber quando eu sinto uma cotovelada de Charlie no braço.
– Ah! O que foi agora?
– Olha só aquela gatinha passando ali cara!
– Cara... Dá para parar de ficar secando todas as mulheres que passam aqui?
– Essa ai não tem como não secar cara. Hahahahahahahah! – disse ele com uma risada.
Eu me virei e uma mulher de cabelos longos e ondulados, de casaco e calça jeans junto de uma espécie de cachecol, pois naqueles dias fazia um frio intenso na cidade. Mas ela não me era estranha. Sentia que já havia visto ela antes.
– O que foi Caleb? – perguntou Charlie.
Eu balancei a cabeça e recobrei o juízo que pensei ter perdido por alguns instantes e me virei novamente agarrando a latinha de forma descarada e ordinária; Charlie por alguns instantes ficou meio dúbio com minha reação – embora talvez eu também já tivesse bebido demais e estivesse vendo coisas.
– N-n-não foi n-nada! – Interpelei. – Só preciso de outra dose, só isso!
– Ah! Esse é o meu garoto! Ei David! Traz mais uma rodada aqui! – gritou ele para o garçom.
Nós bebemos mais uma lata de cerveja e meu estômago embrulhou enquanto eu tentava desviar minha atenção da menina. Minha mente estava dividida e agora eu sentia náuseas e minha cabeça começava a latejar... Não me sentia bem ali; só queria sair daquele bar e ir para casa.
– Depois dessa vamos embora? Não estou me sentindo muito bem...
– Qual é cara? Já vai jogar o pano?!
– Pois é cara... Já deu pra mim hoje. – eu me levantei da cadeira e me voltei para a saída.
Charlie cuspiu.
– De boa. Cuidado para não tropeçar hein?
– Obrigado... – Eu passei da porta do bar e minha visão girava. Minha cabeça doía e não sentia meus pés.
Eu andei me esgueirando pelas paredes dos prédios e dos comércios; meus passos eram desajeitados e eu sentia meus olhos formigarem. Logo a chuva leve e a brisa gelada de final de tarde tocaram meu rosto quente e senti que poderia cair e dormir ali mesmo. Minhas pálpebras pesavam e a única coisa que eu podia ouvir era o barulho da buzina dos carros e de movimento urbano enquanto eu definhava. Eu estava tonto... Não conseguia enxergar. Logo minha mente embranqueceu e eu não me lembrei onde havia caído. Estava submerso em um lago e eu continuava afundando enquanto minha cabeça focava naquela menina estranha que eu havia encontrado – estranhamente familiar, como se eu a já tivesse visto antes –, e onde eu jazia, eu caí ali mesmo.
Depois eu não me lembrei de nada... Apenas acordei em uma cama, dentro de um quarto fechado, com o ar-condicionado no mínimo, mas fazendo uma temperatura agradável, e ao lado estava uma cômoda com alguns lenços e outras coisas como um copo de água e alguns remédios. Eu olhei para os lados e me deparei com um quarto decorado finamente com um piso e as paredes de cerâmica, com um tapete enorme em meio ao quarto. Do outro lado jazia um armário de madeira meio rústico e enorme com várias caixas empilhadas em cima e ao lado um pequeno Jukebox tocando uma musiqueta baixa e aprazível. Eu me levantei retirando o lençol e ficando sentado na cama quando a porta do quarto se abre repentinamente, passando por ela aquela menina linda e ruiva que eu havia encontrado no bar, vestindo apenas uma blusa regata roxa com um shortinho curto e meias rosa. Eu corei subitamente e meu coração acelerou, quase me fazendo cair de novo; O que ela estava fazendo lá? E outra pergunta ainda melhor: Onde era lá? Eu chacoalhei a cabeça e ela se sentou na cama ao lado, colocando uma bandeja que trazia consigo com algumas fatias de queijo coalho cortadas e uma jarra de suco na cômoda ao lado. Eu não entendia nada daquilo que parecia ser um lindo e bizarro sonho.
– Está melhor? – perguntou ela sorrindo.
Eu tomei fôlego para responder, mas a voz insistia em falhar naquela hora.
– C-claro! Eu tenho uma saúde de ferro! Vou me recuperar logo...
Logo ela esboçou um sorriso tão lindo que eu senti que poderia ter um ataque cardíaco.
– Não pareceu quando eu encontrei você deitado na calçada do bar ontem.
Eu ri também, embora eu estivesse mais constrangido que ela pela situação.
– Eu acho que eu bebi demais. – respondi sucinto. – Mas eu me lembro de ter visto você no bar ontem também.
– É eu fui ontem. Às vezes é bom para sair da rotina.
– Concordo. – minhas palavras estavam saindo quase que automáticas. Eu parecia um robô em pane. – Mas meu amigo Charlie... Ele às vezes me faz beber demais e eu acabo passando mal.
Ela riu novamente e novamente meu coração começava a acelerar e eu sentia como se estivesse enfeitiçado.
– Entendo. Mas não exagere muito hein? – disse ela piscando.
– Tudo bem... Alias onde eu estou mesmo? – perguntei.
– Bem... Eu encontrei você no meio da rua caído e não sabia onde você morava então... Trouxe-te pra minha casa. – Logo eu senti algo ruim com aquilo e minha mente trabalhou a mil, pensando em um milhão de coisas diferentes. Eu realmente estava em um sonho ou eu teria batido a cabeça em algum lugar e morrido, e agora eu estava no céu. Meu peito estava apertado e eu mal conseguia respirar; eu estava junto com aquela menina linda e gostosa, com o corpo delicado e de roupa bem casual na minha frente e estávamos a sós dentro de um quarto com ar-condicionado. Eu não poderia deixar de pensar besteiras naquele momento.
– Então essa é sua casa? – perguntei confirmando.
Ela riu novamente com a pergunta.
– Sim, sim. E esse é o meu quarto alias. – respondeu deitando-se bem perto de mim, no travesseiro enquanto o agarrava fortemente. Eu me levantei e eu estava só com o calção que eu havia vestido por debaixo da calça, para minha surpresa e eu caí no chão como uma fruta podre de vergonha. Ela riu novamente deitada.
– Porque eu estou só de calção?! – perguntei com meu coração quase saindo pela garganta.
– Suas roupas estavam bem molhadas por causa da chuva, então estão secando na varanda.
– Como?! Como? Quando? Onde?! – Eu nem sabia mais o que dizer e ela se acabava em risadas.
– Você ainda não está totalmente sóbrio não é?
Eu assenti.
– Bem... Considerando que eu estou em um quarto com uma mulher linda na minha frente e eu estou quase pelado... Eu acho que eu não sei mais o que é ser sóbrio.
– Vou considerar isso um elogio... – Ela se levantou, ficando sentada na cama. Eu me levantei logo em seguida, ainda enrubescido enquanto minhas mãos e pernas tremulavam. – Por que você está tão nervoso Caleb?
Naquele momento, ao ouvir aquelas palavras, me questionei se eu realmente ainda não estaria bêbado, caído na calçada e apenas sonhando com aquilo; aquela mulher realmente sabia meu nome? Ela me conhecia de algum lugar? Naquele momento eu já não sabia mais o que pensar.
– E-e-espera ai! Como você sabe meu nome?
Ela riu novamente como se eu tivesse dito algo engraçado.
– Então você não se lembra de mim não é?
– Depende... Eu te devo algum dinheiro? – perguntei e logo em seguida levei um cocorote na cabeça; e aquilo para mim, ainda era familiar. – ai, ai, ai, ai! Por que fez isso?!
Agora, em um piscar de olhos, já estava irritada. Eu tinha esse dom, convenhamos.
– Seu pateta! Sou eu, Natasha!
Senti que meu coração talvez fosse parar ao escutar aquele nome.
– C-como assim?! Natasha?! É você mesma?!
– Claro que... – Logo sem pensar duas vezes abracei-a com todas as forças que tive naquele momento enquanto chorava. Ela respondeu meu abraço e nós ficamos ali, apenas aproveitando o silêncio e o calor de um abraço amigo e sincero que há tempos não sentia mais. Meu desejo era nunca sair daquele lugar e apertar cada vez mais enquanto minhas lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu ainda não poderia acreditar em meus olhos...
Natasha estava de volta.
Autor(a): Beansprouth_Terra
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