Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

Mais um dia normal segue na Costura, eu saio cedo para entregar a caça do dia anterior no açougue e em seguida vou para a floresta, e Peeta vai para a cozinha.

Para famílias tradicionais nossa rotina pode parecer estranha e não convencional, mas para nós dois é natural que eu saia e Peeta permaneça em casa. Cada um fica onde se sente bem e útil.

Já conversamos a respeito e Peeta até sugeriu reformar o local onde funcionava a padaria de sua família para que não passe tanto tempo em casa. Eu disse para ele fazê-lo apenas se quisesse e não pelo que outros pensam sobre nós. Além do que não há necessidade de que ele vá trabalhar fora, primeiro porque não precisamos trabalhar, nós queiramos ou não como vencedores dos Jogos tudo o que ganhamos continua sendo nosso. E ainda assim, vez ou outra um morador pede a Peeta que prepare algum bolo ou pão especial para encomenda. Nossa cozinha é grande e equipada o bastante para isso.

Peeta e eu não temos nenhum acordo explícito sobre morarmos juntos. Pra dizer a verdade a coisa aconteceu sem que nenhum dos dois se desse conta.

Depois de tudo que houve na Capital e a queda de Snow e Coin nós nos tornamos a proteção um do outro, tanto para os pesadelos constantes quanto para nunca estarmos completamente sós. Ele ficou tantas noites em minha cama velando meu sono que acabou não encontrando motivos suficientes para ir embora. E eu não quis que ele se fosse. Tudo entre nós é implícito, não cobramos nada um do outro e não temos um nome específico para nossa relação. Ambos estamos bem desse jeito por hora, mas quem sabe o que o futuro na reserva?

Hoje está um dia especialmente quente e sem perceber caminho através da floresta até o rio onde meu pai me levava quando criança para brincar. Este lugar me traz boas lembranças e fazia algum tempo que não chegava até aqui.

Tiro minhas botas e minhas meias e me sento numa pedra que me permite esticar as pernas e molhar os pés na água fria e cristalina enquanto cardumes de peixes nadam no fundo bem próximos a mim. Por horas permaneço ali sentada sem pensar em nada especificamente, apenas relaxando.

Não vejo Haymitch há dois dias, mas não me preocupo porque sei que ele é assim, alguns dias perturba nossa paciência até não poder mais, outros prefere ficar sozinho com seus próprios fantasmas e sua bebida, ele é igual a mim em muitos aspectos, não que eu já tenha admitido isso em voz alta. Mesmo com aquele jeito irritante que Haymitch tem, criei afeição por ele e o tenho como família.

Effie é outra pessoa por quem criei um carinho especial. Apesar de preferi-la mais longe de mim do que perto, porque se Haymitch tem o dom de me tirar do sério, Effie é capaz de conseguir isso numa facilidade e velocidade assustadoras. Ainda bem que ela conseguiu se ajustar na Capital. Pelo que soube havia aberto uma boutique de perucas exclusivas desenhadas por ela mesma. Em se tratando de Effie, nem posso imaginar como essas coisas se parecem.

Mesmo após a guerra os moradores da Capital não mudaram seu estilo de vida, na verdade, tudo continua basicamente do mesmo jeito na vida de todos. A diferença é que não vivemos mais com medo de perder nossas crianças nos Jogos ano após ano, não precisamos fazer com que crianças se sacrifiquem trabalhando para garantir o próprio sustento já que agora há empregos para os pais e o que eles ganham é suficiente para viverem e podemos viajar livremente entre um distrito e outro.

Penso em meu amigo Gale, não o vejo há tempos e realmente sinto sua falta. Mas entendo sua necessidade de manter distancia. Nossa relação mudou, eu não posso retribuir o que ele sente por mim e não posso ser egoísta a ponto de obrigá-lo a me ver com Peeta todos os dias. Sei que um dia irei vê-lo novamente e se for preciso reconstruiremos nossa amizade. Mas até lá, a saudade permanecerá.

Já é hora de voltar para casa. Como não cacei nada, pesco vários peixes com minhas flechas, alguns vão para o açougue e outros levarei para casa porque sei que Peeta gosta de prepará-los.

Quando já estou no meio do caminho para chegar novamente a cerca faço um desvio que vai dar em uma parte da floresta que conheço bem, pois durante anos passei por ali todos os dias. Aquele vale quase invisível cercado por rochas e árvores enormes. Ao me aproximar quase não posso acreditar no que meus olhos vêem.