Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

Acordo num salto e levo alguns segundos para me dar conta que estou sobre uma cama de hospital. Um tubo transparente com uma agulha está ligado a meu braço esquerdo, mas não estou presa a nenhuma máquina. Percebo que é noite, mas a rigidez que sinto em meus braços e pernas me diz que estou a pelo menos dois dias deitada nessa cama. Olho a minha volta e avisto Peeta cochilando sentado em uma cadeira.

Chamo por ele algumas vezes e quando ele finalmente desperta se levanta e caminha em minha direção.

--O que aconteceu? Por que eu estou aqui?

--Você realmente não se lembra de nada?

--Se eu lembrasse não precisaria estar te perguntando não é mesmo?

Peeta me olha e parece pensar numa resposta.

--Desembucha de uma vez! O que aconteceu?

--Você teve um pesadelo e depois começou a sangrar muito...

Então subitamente a lembrança retorna como uma flechada no meu peito. O pesadelo. A dor. O sangue. O bebê... O meu bebê!

As lágrimas ameaçam começar a cair dos meus olhos.

--O nosso filho... Eu perdi não foi?

Peeta apenas balança a cabeça em concordância e olha para o chão. Eu levo as mãos aos olhos e pressiono os polegares sobre as pálpebras.

--Faz quantos dias que estou aqui?

Peeta começou a dizer tudo de uma vez:

--Três dias e duas noites. Eu te trouxe quando vi nossa cama cheia de sangue e você começou a gemer de dor. Quando cheguei com você nos braços você já estava desmaiada e não acordou desde então. O médico disse que foi tanto pela perda de sangue quanto pelo choque e que você ficaria bem. Mas já não havia nada que pudesse ser feito quanto ao bebê. Você tomou algumas bolsas de sangue para repor o que perdeu e agora que acordou precisará tomar uma espécie de abortivo para que o que restou do feto saia de você. Se não funcionar precisaremos viajar até o hospital do 8 para que você faça um procedimento para a retirada...

Eu estou tonta com tantas palavras e o interrompo.

--Peeta! Peeta! -Grito- PEETA!

Ele se cala e me olha nos olhos. Vejo a dor estampada no fundo daqueles olhos azuis e isso me machuca ainda mais. Vi como ele ficou feliz com a confirmação de que teríamos um filho. Quase pude ver os planos para o futuro se formando em sua cabeça. Mas agora tudo tinha acabado antes mesmo de começar. Vê-lo tão abalado me destrói.

Busco forças em meu interior, estico meu braço direito que esta sem a agulha presa e ele segura minha mão entrelaçando nossos dedos. Levo sua mão até a altura do meu coração e deixo que sinta as batidas ritmadas contra sua palma, então digo olhando em seus olhos:

--Eu prometo do fundo do meu coração que teremos outro bebê. Ou mais de um, quantos você quiser. Eu te amo e só preciso que você esteja ao meu lado. Tudo o que você quiser de mim você sempre terá.

Peeta se abaixa, beija minha mão que está sobre a dele em meu coração e chora enquanto promete que jamais deixará de estar ao meu lado. Minhas lágrimas vencem meus olhos e escorrem por minhas bochechas e só param quando encontram o travesseiro que está sob minha cabeça.

--O que faremos agora? -Peeta pergunta-

Acaricio seus cabelos com a mão e depois de alguns segundos digo:

--Primeiro precisamos do médico para que eu possa sair dessa cama. Depois veremos.

Peeta me dá um beijo na testa e sai pelos corredores. Não sei quanto tempo passa, mas acabo dormindo e acordo com dois pares de olhos ao meu lado. Um deles é de Peeta, o outro é de um homem alto e pele escura que usa um jaleco branco sobre uma camisa listrada, seus olhos pretos me lembram Rue, minha pequena aliada da primeira arena. 

--Olá Katniss. -Ele sorri para mim-

-Olá -Digo com a voz rouca e pisco para ele-

--Eu sou o Dr. Andrew Schmidt. Eu estava de plantão na noite em que seu namorado te trouxe até aqui. É muito bom te ver de olhos abertos. Como está se sentindo?

A voz do Dr. Andrew é grossa e profunda, um grito dele deve ser assustador, mas ele fala com tanta calma que ouvi-lo é reconfortante.

--Estou bem. Só me sentirei ainda melhor quando puder me levantar.

Ele sorri para mim e vejo seus dentes muito brancos pela primeira vez.

--Logo você poderá ir para casa, você perdeu bastante sangue e seu tipo é o mais raro, mas conseguimos um doador e tudo correu bem. Agora precisaremos administrar os remédios para...

--Para que o bebê saia de dentro de mim. –Eu desvio o olhar e abaixo a cabeça-

--Exatamente. Por isso eu prefiro que você passe pelo menos mais algumas noites aqui, assim eu posso te monitorar durante todo o processo. Você não corre nenhum risco, mas ainda assim quero ficar de olho.

Eu estou pronta para protestar e dizer que quero ir para casa, mas Peeta se adianta e diz que tudo bem, que ficarei o tempo que for necessário e ele ficará comigo todo o tempo para garantir que eu não me levante e saia correndo no meio da noite.

--Quantos dias mais eu precisarei ficar nessa cama? –Digo sabendo que sou minoria e não irei mesmo para casa-

--Umas duas noites, ou menos talvez. Depende de como seu corpo vai reagir à medicação. Mas eu acredito que será bem rápido você estava com poucas semanas e devem restar poucos vestígios do feto no seu útero.

--Ok. E quando vou receber a medicação?

--Eu estava pensando em deixar para amanhã, assim você passa uma noite tranquila e durante o dia te medicamos e monitoramos.

--E porque não fazemos de uma vez? Não me importo de ter uma noite péssima se for para sair daqui o quanto antes.

--Tudo bem então. Eu vou chamar uma enfermeira para te preparar. Meu turno está quase no fim, mas antes de sair eu passo para te ver.

--Obrigada. –Eu sorrio agradecida-