Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

O Domingo amanhece gelado e branco porque uma fraca nevasca caiu durante a noite. Peeta dorme me abraçando por trás e dois cobertores estão sobre nós.
Viro ficando de frente para ele e toco em seu rosto. Então ele abre os olhos e me olha por vários segundos. Eu o trago para um demorado beijo.
Com um impulso me deito sobre ele e encosto a cabeça em seu peito e fico ouvindo seu coração bater.

--Você aceita ir a um lugar comigo hoje?

--Hoje? Onde você poderia querer ir nesse frio?

--Primeiro diga se aceita depois digo aonde iremos.

--Hum. Isso não me cheira bem. Mas ok, aceito sim.

--Ok, então vamos levantar. Preciso preparar algumas coisas antes de irmos.

--Espera. –Eu digo quando ele começa a se levantar- Você não disse aonde nós vamos.

--Ah, não disse? –Peeta sorri e sai do quarto.

Eu continuo deitada sob as cobertas e ele volta cerca de uma hora depois.

--Tudo pronto, vamos? -Peeta diz sentando-se ao meu lado e descobrindo.

--Não saio daqui até você me dizer aonde nós vamos. -Cruzo os braços sobre meu corpo.

--Porque você não confia em mim? -Ele diz puxando o cobertor e eu puxo de volta  tapando a cabeça- Tenho certeza que você vai gostar. E se te anima, vai ter comida e podemos levar alguns cobertores também.

Acabo vencida pela insistência e também pela curiosidade. Levanto, visto roupas quentes de moletom, meias, luvas e gorro e saímos de casa carregando três cobertores grandes e uma cesta de comida.

As ruas do Distrito 12 normalmente não são tão movimentadas, mas hoje por conta do frio estão completa e assustadoramente desertas. E já quase passa do meio-dia, mas por conta do frio ninguém se dispõe a dar o ar da graça.

De mãos dadas Peeta e eu atravessamos as ruas, passamos pela praça e cruzamos o canteiro de obras onde esta sendo construído e quase concluído o edifício de três andares onde será a fábrica de medicamentos que atenderá toda Panem.

Então seguimos caminhando e por um segundo quase não acredito para onde Peeta está me levando. Mas não há outra possibilidade, não com o caminho que tomamos. Quando paramos a beira da cerca que nos separa da Campina Peeta me olha e sorri.

--Você já sabe aonde vamos, não sabe? -Ele pergunta. Suas bochechas estão vermelhas por conta do frio e seus olhos estão azuis muito claros.

--Eu desconfio. -Sorrio.

--Então, quer fazer as honras? -Peeta pisa em uma parte da cerca fazendo com que a abertura fique maior- Afinal você conhece aqui melhor do que eu.

--Ok. -Me abaixo e passo pela cerca- Sua vez. -Chego ao outro lado e repito o mesmo que ele segurando a abertura com um pé.

Peeta se abaixa e passa um pé para o outro lado. Mas se atrapalha e na hora de terminar de passar o corpo acaba se desequilibrando e caindo de bunda em um monte de neve que se formou. Ele grita "gelado, gelado, gelado" E eu começo a rir desesperadamente.

--Quer ajuda meu amor? Você me fez uma surpresa, é o mínimo que posso fazer para retribuir. -Peeta diz numa imitação da minha voz- Não meu amor, não precisa me ajudar. Obrigada. -Ele se levanta.

--Me desculpe, eu estava meio ocupada rindo e me esqueci de te socorrer. -Continuo a rir.

--Sei. -Ele me olha sério- Continuamos então? -Ele diz me estendendo a mão.

--Você é quem manda. -Pego sua mão e continuamos a andar.

Não sei o quanto Peeta conhece da floresta, mas ele anda com destreza entre as árvores  e me leva em direção ao rio. Paramos numa parte alta onde há uma grande pedra redonda cercada por várias grandes árvores. Ninguém viria aqui num dia como hoje, mas se viesse não seríamos vistos.

Forramos a pedra com um cobertor, enrolamo-nos nos outros dois e nos sentamos um ao lado do outro, olhando para o horizonte onde só se vê o chão branco, o céu cinza e as árvores verdes.

Para qualquer outra pessoa sair de casa para ir a floresta num dia frio seria o pior dia de todos. Mas não para mim, a calma que sinto quando estou ali não sinto em nenhum outro lugar, o sangue que corre em minhas veias é de uma caçadora e Peeta sabe disso, ou nunca teria me feito o convite.

--Obrigada. -Eu digo e deito a cabeça em seu ombro.

--De nada. -Ele responde.

As horas passam sem nos darmos conta. Comemos sanduíches e tomamos chá quando o estômago reclama.

Quando o frio aumenta juntamos os dois cobertores e nos cobrimos juntos, compartilhando o calor de nossos corpos.

Entre beijos e caricias nos deitamos sobre a pedra, Peeta abre os braços para que eu apóie a cabeça sobre ele e juntos vemos a dia dar lugar a noite.

--Como é mesmo aquela música que você canta quando tenho pesadelos? –Ele diz de repente.

--Que? –Estava tão distraída que nem me processei o que ele disse- Como é o que?

--A música. A música que você cantou para mim todas as vezes que tive pesadelos. –Ele entrelaça nossos dedos enluvados.

--Ah. O que tem?

--Como ela é?

--Do inicio você quer dizer?

--Sim. –Ele cheira meu cabelo.

Nem me lembro onde ouvi essa canção, mas nunca mais a esqueci. Penso por alguns segundos na melodia. Canto baixinho enquanto olho para o céu quase totalmente escuro.

Eu me lembro das lágrimas escorrendo pelo seu rosto

Quando eu disse "nunca te deixarei ir embora"

Quando todas as sombras quase acabaram com a sua luz

-Peeta aperta com força nossas mãos juntas-

Eu me lembro que você disse "não me deixe aqui sozinho"

Mas nesta noite tudo está morto, acabado e já passou

Somente feche seus olhos

O sol está se pondo

Você ficará bem

Ninguém pode te machucar agora

Ao chegar a luz da manhã

Nós ficaremos sãos e salvos

-Ele leva minha mão até o peito e sinto seu coração bater forte-

Não se atreva a olhar pela janela

Querido, tudo está em chamas

A guerra do lado de fora da nossa porta continua devastando

Agarre-se a essa canção de ninar

-Sinto o peito de Peeta subir e descer a medida que ele respira, acho que está chorando-

Mesmo quando a música tiver acabado

Acabado

-Pulo uma estrofe e canto as últimas notas de uma vez- Somente feche seus olhos

Você ficará bem

Ao chegar a luz da manhã

Nós ficaremos sãos e salvos

Peeta respira fundo olhando para o céu e não solta minha mão sobre seu coração. Seus batimentos aos poucos se acalmam e adquirem um ritmo suave e seu peito sobe e desce mais lentamente.

Capítulo de brinde pra encerrar a noite.

Divirtam-se.

Xoxo