Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

Sinto meu rosto queimando e quando tento abrir os olhos apenas um deles corresponde, o outro está fechado por conta do inchaço.

Um raio de sol quente bate diretamente sobre minha bochecha e enquanto passo as mãos no rosto sentindo minha pálpebra esquerda que nem se move uma lembrança passa pela minha mente.

A noite passada, a transa no reservado, a briga com Peeta, o quanto bebi na festa, o sangue na camisa, a transa no quarto, o tapa que levei no rosto...

Nada disso é bom, nada disso deveria ter acontecido.
Mas que droga!

Me levanto da cama com dificuldade, os efeitos imediatos do álcool já passaram, mas minha cabeça lateja como se pedreiros trabalhassem a todo vapor dentro do meu crânio.

Busco meu vestido no chão, pego meus sapatos e abro a porta. Quando saio pelo corredor me dou conta que não estou na cobertura onde fica meu quarto. Estou em um lugar deserto onde há apenas a porta do quarto por onde acabei de sair além da porta do elevador onde uma placa em cima do batente diz SUBSOLO.

Meu único pensamento é o de que preciso sair daqui. Entro no elevador o mais rápido que posso e aperto a letra C no painel. Respiro fundo quando sinto que estou me movendo para cima.

Segundo andar... Quinto andar... Nono andar... A viagem parece demorar uma eternidade e os números no painel parecem não ter pressa de mudar.
Me olho no espelho e levanto a pálpebra com os dedos, verifico que meu olho está bastante vermelho. Minha bochecha tem apenas algumas marcar atravessadas na direção da boca.
Ele devia estar usando algum tipo de anel para ter feito esse pequeno estrago com meu olho. Mas ao que parece nada foi comprometido na minha visão.

Quando a porta do elevador se abre eu saio quase correndo com os sapatos em uma das mãos, segurando o vestido com a outra e a cabeça baixa. Dou apenas alguns passos no corredor quando esbarro em alguém deixando meus sapatos caírem. O susto me desperta e sua expressão me diz que ele sabe de onde estou vindo.

Peeta me olha com olhar acusatório, se abaixa para pegar meus sapatos e devolve-os para mim enquanto diz acho que isso é seu e logo em seguida passa por mim e entra no elevador sem me olhar de novo.

Eu fico no meio do corredor por alguns segundos antes de seguir caminho até a porta do quarto.

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O voo de volta sai as 12h e de acordo com o relógio da cabeceira da cama agora são 8h. Tenho algumas horas para arrumar tudo.

Tomo um banho escaldante e me esfrego como se tudo o que aconteceu de ruim fosse descer pelo ralo junto com a água, cuido do meu olho e da minha bochecha.

Visto shorts jeans e camiseta e me ponho a colocar o que restou dentro da mala. Mas antes que eu termine ouço uma batida na porta, olho para o relógio e são 9h45.

Tento ignorar as batidas, mas elas são insistentes e uma voz familiar chega aos meus ouvidos.

--Katniss, você está aí?

--Pode entrar. -Eu respondo.

--Eu até gostaria, mas só posso fazer isso se você destrancar a porta.

Nem sequer me lembro de ter trancado. Mas me aproximo e giro a chave, quando ouço o clique e a maçaneta virando, dou as costas e continuo a guardar minhas coisas na mala. Sinto Gale de pé atrás de mim me observando.

--Tudo bem com você?

--Uhum. -Respondo um pouco rápido demais.

--Você sumiu ontem à noite. Eu e Johanna te procuramos por todos os lados.

--Eu só queria ficar sozinha. -Tento manter a voz firme mas minha garganta me trai- Estou bem, obrigada.

--Diz isso olhando pra mim e eu penso se acredito em você.

--Eu já disse que estou bem! -Levanto a voz mas o nó que se formou na minha garganta me impede de continuar a falar.

Gale se aproxima de mim e segura meus ombros. O simples toque tão familiar de suas mãos faz meu peito se apertar tanto que chega a doer.

Viro-me e quando olho para seu rosto meu coração pula. Meu melhor amigo está com o lábio cortado, um olho vermelho que provavelmente vai se tornar roxo em pouco tempo e o nariz fraturado e inchado. Pondero alguns segundos no que devo ou não dizer enquanto ele passa o polegar na minha bochecha marcada, mas decido que não é o momento nem o lugar para termos essa conversa.

--Conversamos em casa. Agora eu não consigo fazer isso. Por favor. -Digo com tanta dificuldade que nem tenho certeza se ele ouviu.

Mas Gale balança a cabeça, aperta meus ombros e se vai, fechando a porta atrás de si e me deixando sozinha.

A viagem de volta foi silenciosa, todos tomaram os mesmos lugares da ida, exceto Peeta que se sentou no corredor oposto a mim. E Effie que ficou na Capital mandando para casa um Haymitch desolado abraçado a uma garrafa de aguardente branca.

Tentei falar com Peeta no caminho, mas ele se ateve apenas a me dizer que iria para a casa dele na Vila dos Vitorioso por algum tempo. Sua voz sem qualquer emoção entrou em meus ouvidos e bateu como uma pedra de gelo no meu coração.

Quando chegamos em casa ele se dirigiu apenas a Hazelle pedindo ajuda para que arrumasse algumas coisas e levasse os gêmeos com ele para a outra casa.
É obvio que ele levaria as crianças. Ele arrumou algumas coisas e saiu sem dar sinal de que sabia da minha existência. Hazelle ainda me dirigiu um olhar caloroso antes de sair com ele carregando a menina nos braços.

Hoje é o fim do dia 3 de Janeiro e desde então a cama é o único lugar onde tenho estado. Não tentei falar com Peeta de novo porque sei perfeitamente que seria em vão, quando e se decidir que quer conversar ele virá até mim. E se não vier será a confirmação de que não temos mais nada um com o outro.