Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

Vagabunda sim!
Ela ta gravida. Gravida! E nem ao menos sabe quem é o pai.
Se ela foi mesmo forçada como você diz e merecesse respeito a mínima suspeita de que o filho fosse dele deveria ser suficiente pra ela tirar a criança e acabar com a dúvida de uma vez.
Mas olha pra ela, em pouco tempo vai estar parindo e não está se importando. Isso pra mim é prova suficiente de que não teve estupro coisa nenhuma. ELA DEU PRA ELE PORQUE QUIS. ENTÃO QUE MORRAM OS DOIS E ESSE BEBÊ!

Desperto de um salto e preciso piscar os olhos algumas vezes para clarear a mente e me lembrar de onde estou.
Johanna Mason está ao meu lado e consigo distinguir um tudo bem? em seu olhar questionador sob a parca luz dentro do vagão do trem.

Pesadelo, balbucio para ela.

Levanto-me e caminho lentamente até o banheiro que fica estrategicamente perto dos nossos assentos, Johanna se certificou disso antes do nosso embarque de última hora.

Lavo o rosto e me olho no espelho, quase não reconheço a pessoa refletida ali. Tantas mudanças em tão pouco tempo.

Quando volto Johanna está bem desperta e me acompanha com o olhar até que eu me acomode novamente.

--Só você mesmo pra ter uma ideia brilhante dessas. -Ela diz em tom acusatório.

--A que você se refere exatamente?

--Essa viagem! Você está a menos de um mês de dar à luz e ao invés de estar quieta em casa deitada numa cama, decidiu entrar num trem e viajar sozinha até a Capital.

--Não estou sozinha, você está comigo. -Sorrio irônica- E depois do que você me disse eu não conseguiria ficar em casa de braços cruzados sem saber de nada.

--E o que você pretende fazer quando chegar lá? Vai impedir que eles se matem fazendo uma barreira com a barriga?

--Se for necessário...

Quase consigo sentir Johanna chegando ao limite.

--Katniss -Ela respira fundo- presta atenção. Nada do que você fizer vai impedi-los de acertar as contas com esse tal Mark. Mesmo que você atrapalhe agora, eles vão sempre dar um jeito depois. E você deveria estar satisfeita. Eles foram por você!

--Ah, agora sim eu me sinto muito melhor! -Reviro os olhos e jogo a cabeça para trás sobre o encosto do banco- Eles foram defender a minha honra e podem acabar presos por assassinato. Que ótimo.

--Não tinha pensado nisso.

--Você não pensou nem isso!

--Mas eles não podem ser presos, isso é o mesmo que legítima defesa, não?

--Eu não sei em que país você pensa que vive, mas o Mark não fez nada diretamente com eles pra poderem sequer pensar em alegar legítima defesa. Os dois podem acabar se dando muito mal nessa história toda. E o Mark ainda tem algum tipo de parentesco com a presidente que o idolatra.

--Merda!

--Exatamente. É uma merda.

--Nós vamos dar um jeito de para-los. -Johanna diz e encosta a cabeça no vidro da janela olhando para fora.

Do lado de fora formas indistinguíveis passam rapidamente na completa escuridão, do lado de dentro o silêncio toma conta de tudo.

--Preciso que você me tire uma dúvida. -Digo a Johanna que até agora passou mais tempo se remexendo do que dormindo.

--Como você sabia que eu estava acordada? -Ela responde aos sussurros.

--Pelo tanto e pelo jeito que você se mexe. É humanamente impossível alguém dormir desse jeito.

--Ah, desculpa. Passar muito tempo em lugares fechados me deixa tensa. -Ela suspira- Mas o que você quer perguntar?

--Ah... É... Hum. O que aconteceu naquele dia? Não consigo me lembrar de nada até a hora que ja estava dentro do trem.

--Quer dizer depois que eu dei uma lição naquele projeto de homem que você tanto ama e você saiu desembestada da casa do Haymitch e estragou sua festa de aniversário, que aliás, eu tenho certeza que a Effie vai te odiar até o dia de você deixa-la fazer uma nova festa aberta para todo o 12?

--Exato.

--Nada demais na verdade. Quando você apareceu e a Effie te socorreu ele olhou pra você por uns dois segundos e foi embora.
E pensando bem, eu acho que ele sabia que você estava lá, ele não diria tudo aquilo se não quisesse que você ouvisse.

Lembro vagamente de Peeta me olhando e por um segundo deixando transparecer um vestígio do meu garoto do pão, mas em seguida voltando a se fechar para mim. Foi mais um sentimento que veio e se foi na mesma velocidade, mas está lá.

--E depois?

--Depois nada. Você saiu em desabalada em direção a sua casa, eu e Gale te seguimos. Você começou a arrumar malas e com muito custo conseguimos te fazer dizer onde estava indo.

--Hum. –Faço uma anotação mental para falar com Gale depois sobre ele ter contado para Johanna o que aconteceu.

--Nós até tentamos te impedir. Mas você fez a mesma coisa que fez com a sua mãe algumas horas atrás: Disse que faria o que quisesse. Se nem sua mãe e uma barriga de quase 9 meses conseguiram te parar, eu e Gale é que não conseguiríamos.

--Obrigada por vir comigo.

--Sua mãe é muito ocupada e você vir sozinha estava fora de questão. Além do mais você não é a pior pessoa do mundo pra se ter ao lado numa viagem.

--Mas se não fosse pela minha estupidez nada disso estaria acontecendo agora e estaríamos confortáveis e quentinhas em casa.

--Tudo bem que você e álcool são uma combinação terrível, mas você não teve culpa no que aconteceu. E mais uma vez, você não é a pior pessoa do mundo pra se ter ao lado numa viagem.

Não contenho um sorriso e Johanna responde da mesma maneira.

--E com tudo o que houve acabei nem te agradecendo.

--La vem você. -Mesmo no escuro posso vê-la revirar os olhos- O que é agora?

--Você me defendeu. Quase bateu nele por minha causa. Mesmo depois de ter me dado uma lição sobre não ter tentado falar com ele.

--Você devia ter tentado falar com ele, mas ele não precisa saber disso. E além do mais ele te insultou, foi baixo e cruel. Nem se você tivesse alguma culpa merecia ouvir tudo aquilo. Sendo inocente foi pior ainda.

Ela volta a olhar através da janela e dou o assunto como encerrado. No meio de toda a confusão que minha vida se tornou nos últimos meses, contra todas as probabilidades acabei conquistando uma amiga, uma que está disposta a me defender de quem quer que seja e não hesita em estar comigo independente da loucura que eu faça.
Gale está comigo há tantos anos que eu me acostumei a saber que sempre teria a quem recorrer. Mas com Johanna eu tenho entendido que se trata mais de um sentimento, algo bem próximo ao que sinto por minha irmã. Algo muito bom.