Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

Estar em casa com minha mãe me ajudando sempre que pode e Johanna ao meu lado enquanto cuido de Willow se revela uma terapia libertadora e os dias voam sem que me dê conta.
Minha cabeça desanuvia bem rápido e consigo pensar em tudo com mais clareza, fico realmente boa em dar banhos e trocar fraldas e me divirto vendo Johanna ter longas conversas como se a qualquer momento a bebê fosse responde-la.

Tentei sem sucesso ligar para o Distrito 12, mas como que prevendo que era eu Peeta não me atendeu ou retornou. E depois de alguns dias acabei deixando de lado, uma hora ou outra eu precisaria voltar para casa e ele não se esconderia para sempre.

Um dia pela manhã quando ainda estou deitada Johanna entra em desabalada pela casa com a cara mais animada que jamais a vi fazer.

--O que foi que aconteceu com você? –Digo quando ela puxa uma cadeira e se senta ao lado da cama.

--Eu tenho uma surpresa incrível! –Ela diz sorrindo.

--Lá vem você. –Reviro os olhos- Desde que não seja outra toalhinha, camiseta, calcinha ou body personalizado com a frase –Faço sinal de aspas com os dedos- “A titia é a melhor”.

--Não. É uma coisa bem mais legal. Mandei fazer especialmente pra Willow.

--É claro que você fez isso. Vamos, mostra de uma vez.

--Ah, antes tenho uma coisinha para você também.

Antes que eu me situe Gale atravessa a porta quarto a dentro e se aproxima da cama ficando ajoelhado ao lado de Johanna.

--Pensei que tivesse me esquecido lá fora. –Ele diz.

--Ah não, ela só estava ocupada demais com toda a animação do novo presente. –Digo rindo.

Enfiando a mão numa sacola de papel com o nome de uma loja Johanna tira de dentro uma minúscula caixinha de veludo comprida e vermelha com detalhes de flores e passarinhos pintados em torno na cor dourada.
Não faço ideia do quanto ela procurou por uma coisa tão cheia de detalhes assim.

Quando ela abre a caixinha e tira de dentro o menor colar do mundo, seus olhos quase brilham de admiração.

--Rodei quase todo o distrito a procura de uma joalheria que fizesse isso da maneira que eu queria que ficasse, demorei mas encontrei.

--O que é isso exatamente? –Pergunta Gale.

Eu não preciso perguntar, sei exatamente o que é.

--Segura ela pra eu poder colocar? –Ela diz para ninguém diretamente e eu levanto Willow nos braços.

O colar é feito de ouro branco, uma correntinha tão fina que parece que vai se desintegrar ao menor toque carrega o fecho mais delicado que já vi e é completado por um pingente com a forma exata de um machado de lenhador que por sua vez tem uma letra W desenhada bem no meio com pedrinhas brancas que não faço ideia do que sejam, mas me baseando na corrente, deve ser no mínimo uma pedra preciosa.

Johanna nasceu no Distrito 7, onde desde que saem do berço as crianças aprendem a cortar madeira e tem machados bem letais.
Quando assisti as fitas dos Jogos passados antes de ir para minha segunda arena tive uma demonstração do que Johanna era capaz de fazer.
E quando participamos juntas do Massacre Quaternário na 75ª edição tive demonstrações claras e perigosas de suas habilidades com o objeto.

O machado é o objeto que faz de Johanna quem ela é, assim como meu arco e flechas faz de mim quem eu sou.

--É lindo. –Digo admirando o presente que brilha no pescoço de Willow- Eu perguntaria como você mandou fazer o pingente com a letra do nome dela sendo que nem eu mesma sabia qual nome ela teria até poucos dias atrás, mas não tenho certeza se quero saber a resposta.

--Eu sei que é lindo, meu bom gosto é minha maior qualidade–Ela diz sorrindo- O legal é que a medida que ela for crescendo a corrente vai poder facilmente ser aumentada, então ela sempre vai poder usá-lo. –Seu tom é de puro orgulho de si mesma por ter pensado em tudo- E matando sua curiosidade, eu mandei fazer isso há algum tempo, mas só mandei colocarem a letra depois que ela foi registrada.

--Muito esperta. –Pisco para ela- E você ainda me deve uma conversa sobre isso.

--Agora a pergunta que não me abandonou desde que cheguei aqui. –Gale interrompe e Johanna e eu o encaramos ao mesmo tempo- Quem é você e o que fez com a minha namorada?

--Por que? –Ela diz.

--Porque você não leva o menor jeito com crianças e agora está bancando a tia que mima. –Gale ri- Não estou reclamando, só estranhando.

--Pro seu governo, eu adoro crianças, e levo muito jeito com eles. Seus irmãos me adoram que eu sei.

--Adoram porque você os incentiva a aprontar todas e os deixa fazer tudo o que tem vontade. Minha mãe fica de cabelos em pé.

Eu começo a rir.

--Isso não é verdade. Eu não deixo eles fazerem tudo o que querem. Mas não posso impedi-los de se divertirem de forma saudável.

--Ah, então agora deixar eles pularem dentro de uma poça de lama gigantesca pra tomar banho é diversão saudável? –Gale ri ainda mais e eu engasgo com uma gargalhada- Ou dizer para eles que encher balões com agua e atirar nas pessoas que passam pela rua é uma coisa legal?

--Lama é bom pra pele. Foi a Effie quem disse. –Johanna diz fazendo cara de quem sabe tudo.

--Acho que minha mãe não levou isso em consideração enquanto dava banho neles e disse que te mataria quando te encontrasse. –Gale continua a rir- Quando ela viu os três chegarem em casa de lama até os olhos dizendo que “a tia Johanna deixou” até eu tive medo que ela fosse atrás de você.

--Para com isso, a Hazelle me adora. –Como uma criança de quatro anos Johanna mostra a língua para Gale.

Nunca tinha ouvido nenhuma destas histórias, sabia que Johanna se relacionava bem com os irmãos de Gale, mas não que era a tia que incentiva e participa das bagunças.
Mais uma coisa sobre Johanna que eu nunca imaginaria. Ela nunca deixará de me surpreender.

--Já estou arrependida de tê-lo trazido até aqui de presente para você. –Johanna diz com uma falsa indignação na voz- Minha reputação de boa tia está sendo manchada.

--Espera, de presente? Você me trouxe até aqui de presente pra ela?

--Sim, porque mais seria? –Os dois se olham ainda rindo- Pelos seus belos olhos é que não né?

--Não sei. Mas já que é por isso você poderia ter me avisado, então eu teria me fantasiado de caixa de presente.

Minha barriga chega a doer de tanto rir com a cena dos dois e Willow abre os olhos em meio a bagunça. Ela olha para todos os lados por breves segundos e volta a fecha-los.

--Só pra constar, eu acho uma injustiça que a Willow ganhe um colar personalizado só para ela e eu ganhe só o Gale. Sem querer provocar, só comentando.

--Muito obrigada, mesmo. -Gale responde com cara de decepção forçada- Adoro ser diminuído assim. Ainda mais sendo minha melhor amiga e minha namorada ao mesmo tempo.

Mas a essas alturas Johanna já está em outro mundo, um mundo onde só ela e Willow existem e dialogam sobre as coisas da vida e os mistérios da humanidade.

--Cuidado senão ela nunca mais devolve sua filha. –Diz Gale se sentando na cadeira quando Johanna se levanta e sai do quarto carregando Willow.

--Eu já me acostumei. Desde que ela nasceu já passou mais tempo no colo de Johanna do que no meu.

--Antes que me esqueça, eu te trouxe uma coisa.

--Ai, até você?

--Não é nada comparado ao de Johanna, é só uma coisa que eu vi.

Gale se abaixa e pega uma sacola pouco maior do que a que Johanna trouxe o colar e me entrega.
Eu me levanto e sento encostada na cabeceira da cama.

Tiro da sacola uma caixa quadrada com um sapatinho dentro, um par de meias e uma calcinha com um laço combinando.

O sapato na verdade é quase uma réplica de minhas botas de caça, feitos de couro preto com tiras dos lados e fivelas prateadas onde se lê perfeitamente o nome Everdeen escrito em preto de relevo fundo. As meias brancas tem desenhos de arco e flechas por toda a volta em várias cores e na parte de baixo alguns pontos brancos emborrachados quase imperceptíveis que Gale me diz que são para que elas não escorreguem se entrarem em contato com uma superfície mais lisa. Já a calcinha é rosa claro com a parte de trás preenchida com babados de seda num tom quase dourado e o laço também rosa com pequenas flores douradas em cima.

--Onde foi que você arranjou isso? –Olho maravilhada para os presentes.

--Segredo de estado, só encontrei e pensei que você ia gostar de usar nela. –Gale sorri com a diversão passando por seus olhos cinza- Só acho que ela não vai conseguir usar muito em breve, mas esse era o menor tamanho.

--Muito obrigada. –Sorrio e faço sinal para ele se sentar ao meu lado na cama- São lindos. Não vejo a hora de poder usar nela, mas ainda vai demorar um pouquinho mesmo.

--Mal posso esperar pra ver.

Meu melhor amigo sorri e passa um braço por meus ombros. Seu toque é reconfortante como sempre foi e deito a cabeça bem próxima ao seu peito. Sinto que poderia ficar ali por tanto tempo quanto fosse necessário.