Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

“Paylor está vindo para o 12 e parece que o sobrinho vem junto” essa foi a notícia que Haymitch me deu pela manhã, e eu pensava que acordar de pesadelos era ruim o bastante. Mas pelo menos os pesadelos são menos assustadores depois que abro os olhos.

Pelo que eu entendi da explicação de Haymitch a Presidente passou em todos os distritos nos últimos dias e convocou reuniões que foram transmitidas para toda a população de cada distrito para definirem os métodos de eleições para alguém que ela chama respeitosamente de “segundo presidente”.
Aparentemente Paylor anunciou essa viagem antes de sair da Capital, mas como agora as transmissões não passam mais automaticamente em todos os televisores, nem todos ficaram sabendo e a noticia jamais chegou aos meus ouvidos até eu descobrir que um aerodeslisador pousaria a qualquer momento no meio da praça.
Considerando que fui despertada com o susto de saber que o culpado dos meus pesadelos e medos estava mais próximo do que eu imaginava, acho que consegui acompanhar bem a explicação sucinta do meu mentor que tem uma garrafa de aguardente como melhor amiga.

Agora, dentro novo prédio que será em breve a fábrica que fornecerá medicamentos para boa parte de Panem, estou em volta de uma mesa cercada por todos os vitoriosos e algumas outras pessoas do Distrito 12, enquanto Paylor fala com transmissão ao vivo para as pessoas que se aglomeram na praça em frente aos telões ou simplesmente assistem de dentro de suas casas.

Deixei Willow com Hazelle porque sob nem uma circunstância quero que Mark saiba da existência dela, e ele foi uma das primeiras pessoas que vi quando cheguei, com seu terno e sapatos impecavelmente pretos, parado ao lado da porta controlando a entrada e saída das pessoas.

Cercada por Peeta, Johanna, Gale, Haymitch e até Effie com a barriga já um pouco evidente, passei por ele e quando ouvi um “bom dia” sair da sua boca, o encarei com raiva.

Paylor não é o tipo de mulher que desperdiça muitas palavras, então foi o mais breve possível para dizer que a partir do próximo ano que se iniciará em menos de dois meses todos as pessoas de Panem que tenham de 15 anos para cima poderão ter direito em eleger para o seu distrito a pessoa que será a voz deles na Capital.
Será algo bem próximo do que tínhamos com o Prefeito Undersee, mas todos terão muito mais espaço e voz ativa nas decisões junto a ela ou aos seus sucessores.

Por isso ela intitula esses futuros eleitos como SEGUNDO PRESIDENTE porque eles serão seus olhos nos distritos, estão em pé de igualdade com ela, não estão abaixo, não são subordinados. Serão sempre tratados como iguais.

O voto não é obrigatório, podemos apoiar quem quisermos, todos estão aptos a se candidatar, a única exigência é que cada um deve votar para o representante do lugar onde vive, não do lugar onde nasceu. Já que agora a mudança de um distrito para outro se tornou algo bem comum, acho a regra imposta mais do que justa.

Os eleitos ficarão por 6 anos à frente de cada distrito, cada um deles poderá ter um ou dois representantes e se antes desses anos chegarem ao fim as pessoas acharem necessária a troca por qualquer motivo que seja, então uma nova votação poderá ser aberta.
E o mesmo acontecerá com o cargo na presidência, ela está à frente agora, mas se acharmos que precisa ser substituída, então seremos ouvidos.

Agora os candidatos e representantes terão as próximas semanas para se apresentar e em seguida os votos de todos serão marcados e contados abertamente. Acho que é isso que chamam de democracia.

“Nós marchamos e continuaremos a marchar juntos por uma nova Panem” é a fala que dá por encerrada a reunião, que ainda ganha mais vários minutos de aplausos das pessoas na praça e também dos presentes na sala.

Nos dirigimos a saída do prédio em fila e por isso acabei me separando de todos, o mais próximo de mim era Gale, que ficou umas três pessoas a minha frente.
Quando coloquei o pé para fora da porta ouvi Mark dizer “tchau, Katniss” e olhando de relance ainda vi um sorriso abusado brincar em seus lábios.
Até ameacei parar e voltar atrás para encará-lo, mas as pessoas atrás de mim não estavam ali para entrar no meio de uma confusão sem saber sequer o motivo dela.

Segui com Gale, Johanna e Peeta para a casa de Hazelle já que além de Willow ela também ficou cuidando de Rue e Joshua enquanto a reunião acontecia.
Quando chegamos a casa parecia uma festa com tantas crianças correndo e falando ao mesmo tempo.
Eu já teria enlouquecido de passar cinco minutos que fosse em meio à confusão toda, mas Hazelle era só sorrisos e Johanna ainda chegou com a brilhante ideia de brincar de esconde-esconde com eles dentro de casa.

Com Rory de rosto virado pra parede e contando até um número que ele achava o bastante, Posy, Vick, Rue, Joshua, Johanna e até Willow, que foi sendo jogada de colo em colo, eles começaram uma correria enlouquecida por todo lado.
Peeta ajudando Hazelle com o almoço e eu e Gale sentados a mesa da cozinha falando, ou tentando falar sobre a reunião, vimos Posy sair de trás de uma das cortinas das janelas e correr em desabalada até uma das colunas da parede da sala e gritar o próprio nome batendo a mão onde Rory estava gritando os números poucos segundos antes.
Ele começou a pular e comemorar como se tivesse acabado de ganhar um prêmio.
Algum tempo depois ouvimos a baixinha Vick aparecer correndo na extremidade do corredor oposto a cozinha, mas antes que ela tivesse a chance de gritar o próprio nome Rory foi mais rápido e fez isso na frente dela, que ficou emburrada e com as bochechas vermelhas na mesma hora. Gale começou a rir da cena.

--Você acha que essa ideia da Paylor pode ser uma boa? –Gale me pergunta ainda rindo da cara da irmã que de longe mostra a língua pra ele.

--Na verdade eu acho que sim, isso pode... –Antes que eu complete a resposta ouço mais gritos.

Dessa vez até Peeta e Hazelle param o que estão fazendo para observar.
Johanna surge de algum lugar correndo a toda velocidade mas quando Rory tenta impedi-la de continuar até a parede os dois se encontram e tropeçam um no outro fazendo com que se enrolem, e quando Rory tenta continuar pra chegar a coluna da parede Johanna o segura pelos pés e rola pelo chão com o garoto que grita e ri.

Joshua e Rue aparecem e se jogam em cima dos dois e Johanna grita por socorro, batendo as mãos e os pés no chão.

Hazelle e Peeta riem de sair lágrimas dos olhos e Gale só falta se jogar no chão de tanto rir com a cena.
Quando eles se acalmam eu grito “acho que ainda falta acharem alguém, ou não?” Johanna, Rory e Posy se entreolham e gritam A WILLOW! Antes de saírem correndo por todos os lados e Johanna ainda esbraveja comigo “você não está na brincadeira, então não atrapalhe!” e logo depois corre para onde quer que tenha escondido Willow.

--Como eu ia dizendo antes de um furacão nos interromper. –Olho para Gale- Acho que a ideia é boa sim, tudo o que não tivemos nos últimos anos foi direito de escolher, tudo era imposto a nós. Depois da queda do Snow e da Coin tudo ficou suspenso no ar, não sabíamos o que mudaria ou o que continuaria do mesmo jeito.
Agora sabemos, agora teremos realmente voz ativa.

--Acho que tem razão. –Gale balança a cabeça em concordância- E você já pensou se vai se candidatar a algum cargo? –Ele ri.

--Você é louco? –Arregalo os olhos- A última coisa que eu quero é estar à frente de qualquer coisa que não seja minha própria vida.

Vemos enfim a brincadeira das crianças acabar quando Johanna aparece carregando Willow e grita no nome dela, seguida por uma divisão de comemorações e lamentações em coro.

--Agora toma a sua vitoriosa de volta. –Johanna se aproxima e senta Willow no meu colo.

--Céus, filha, você está fedida. –Digo a colocando de pé e de frente para mim, ela ri- Onde foi que você a escondeu afinal de contas?

--No cesto de roupas suja do banheiro, é claro, porque é o melhor esconderijo de todos. –Ela responde com um sorriso.

--JOHANNA! –Gale, Peeta e Hazelle gritam juntos, mas ela se senta no chão com todos os pequenos e não tão pequenos em volta dela.

--Nem adianta falarem nada, eu mesma já desisti. –Olho para eles que ainda encaram o exemplo de tia sentada no chão- Mas quando chegar em casa você vai precisar urgentemente de um banho, moça. –Falo com Willow- Parece que andou abraçada com vários cachorros molhados.

O almoço acabou sendo mais rápido do que o normal, porque Posy, o irmão do meio sem contar Gale, apostou com Johanna e Rory para ver quem conseguia comer toda a comida do prato mais rápido e em seguida secar todo o grande copo de suco.
Todas as crianças acabaram entrando na brincadeira e quando terminaram a mesa e o chão tinham quase mais comida do que o estômago de alguns, na hora do suco Rory acabou engasgando e fez uma sujeira ainda maior entornando mais da metade do conteúdo do copo no rosto de Posy e Johanna que riam descontroladamente.
A coisa só não foi mais feia porque Hazelle gritou impedindo que Johanna fizesse o mesmo com o suco dela de volta em Rory. “Mas foi ele quem jogou em nós primeiro!” Ela disse se defendendo.

--Às vezes eu não sei quem tem a menor idade mental, você e o Rory ou a Rue e o Joshua que seguem tudo o que vocês dois propõe como se fossem grandes ideias. –Hazelle pôs fim aos argumentos.

Me despedi de todos e segui para casa.
As ruas já voltaram a ficar tão desertas como normalmente são e apenas algumas poucas pessoas ainda estão sentadas na praça provavelmente argumentando sobre as novidades trazidas por Paylor.

Sentindo muita pena preciso acordar Willow para dar banho e ela resmunga mal humorada quando sente a água morna na pele. “Eu não mandei você entrar na brincadeira da sua tia” digo quando ela abre os olhos “agora não vai dormir até sair todo esse cheiro de cachorro molhado que está em você”. Estou começando a ficar igual a Johanna que fala como se a menina entendesse mesmo tudo. Sorrio com o pensamento.

--Pronto, acabamos. –Enrolo Willow em uma toalha com capuz e saio do banheiro.

Enquanto coloco a fralda e visto as roupas ela já está cochilando novamente, então lhe dou um beijo na testa, que agora cheira muito melhor e volto para o banheiro, minha vez de tomar banho.

Não demoro muito debaixo do chuveiro porque me sinto cansada, quando Haymitch me acordou ainda era cedo e eu não consegui mais voltar a dormir. E depois da jornada matinal o sono veio buscar seu espaço.

Enrolo uma toalha no cabelo e outra no corpo, mas quando saio do banheiro para o quarto meu coração quase me sai pela boca.
Vejo Mark, sentado na minha cama, com minha filha nos braços, me olhando e sorrindo, o mesmo sorriso sarcástico e doentio que vi pela manhã.

Por enquanto é só gente, não demoro a voltar. :*