Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

Peeta não voltou no dia seguinte, nem no outro e nem no próximo. Não o vejo há uma semana e não consigo deixar de me importar ou me sentir preocupada com seu sumiço repentino.

Johanna, como alguém que entende as coisas sem que elas precisem ser ditas a ela, chegou um dia pela manhã para me dizer que Peeta não havia evaporado no ar como ela estava pensando, só tinha viajado para a Capital com os gêmeos Rue e Joshua, duas crianças gêmeas que ele havia adotado depois de encontra-las abandonadas na floresta.
Não sabia que estava tão apreensiva até sentir um peso sair do meu peito logo depois de saber que não havia nada de errado.

Na mesma manhã, enquanto Johanna jogada na minha cama brincava de fazer cócegas em Willow, outra novidade: Gale e ela estavam oficializando o namoro e evoluindo para noivado, com chances de casamento para muito em breve. Um lindo anel com uma pedra vermelha brilhava em sua mão direita.

Os dois não quiseram dar uma festa e fizeram da cerimônia de noivado algo bem íntimo.
Gale a levou até a Campina, em um lugar no topo do vale, e lá, com as árvores, o céu e o vento como testemunhas ele se ajoelhou e fez o pedido. Que ela aceitou no mesmo instante.

--Qual o motivo da escolha desse lugar? –Perguntei a ela- Algo especifico entre vocês dois?

--Pra dizer a verdade esse lugar é o ponto onde vocês dois se encontraram por anos antes de começar a caçar. –Olhei para ela confusa- Ele me disse que aquele lugar era onde ele sonhava com dias melhores que viriam. E me levou até lá porque eu represento os dias melhores que chegaram para ele. –Ela disse com um olhar que poderia descrever como apaixonado.

Fiquei muito feliz pelos dois e não consegui pensar em melhor momento e lugar para eles oficializarem o relacionamento que tem.

A medida que o último dia das minhas medicações se aproxima me sinto mais forte, minha visão se estabiliza por completo, a não ser por vez ou outra quando me abaixo e levanto rapidamente que me sinto tonta e a escuridão me impede de enxergar. Minha audição está boa como sempre foi, já consigo andar um pouco, mas ainda sem fazer muito esforço porque as vezes minha costela ainda protesta.
Minha mãe diminuiu as exigências desde que comecei a demonstrar maior preocupação com meu próprio bem estar, agora ela apenas me lembra dos horários de cada remédio que devo tomar.

Tendo Willow não preciso sair de casa para me manter ocupada. Ela começou a engatinhar e dá alguns passinhos se segurando nos móveis. Isso é mais do que suficiente para que ela se sinta independente e ande pela casa toda tirando do lugar tudo o que estiver ao alcance de suas mãozinhas frenéticas.
Agora ela quase nunca aceita ser pega no colo, a cama e o chão se tornaram seu parque de diversões particular e preciso estar o tempo todo cuidando para que ela não se machuque.

Não participei das eleições para Segundo Presidente do Distrito 12 porque não saberia a quem apoiar, já que perdi várias semanas internada.
Após a contagem dos votos feita com transmissão ao vivo pela Presidente Paylor direto da Capital, Effie Trinket, que sei agora que completa seu quinto mês de gravidez de gêmeos foi eleita, levando Haymitch Abernathy e Gale Hawthorne como seus Representantes Oficiais.

Haymitch parece o mais animado com a nova posição e frequentemente chama a si mesmo de “o primeiro-damo do Distrito 12”, o que faz Effie acerta-lo com um tapa e dizer “damo não existe, ou é dama ou é cavalheiro”.
Mas o prazer dele em vê-la se irritar e começar a usar seu sotaque da Capital, que ela normalmente esconde tão bem, é infindável. O que sempre rende cenas engraçadas.

Peeta voltou da Capital com notícias ruins para ele.
Paylor soube em que circunstâncias os gêmeos chegaram e disse que precisaria abrir uma investigação para ter certeza de que os dois não tinham mais nem um familiar vivo para reclamar por eles, e depois de constatado ela poderia agir em favor de Peeta para oficializar a adoção se assim se fizesse necessário.
Mas se ela deixasse tudo como está e alguém aparecesse buscando pelas crianças, os problemas seriam ainda maiores, podendo acabar até em processo e cadeia por sequestro.

Paylor até foi compreensiva e permitiu que Peeta permanecesse com as crianças enquanto a investigação prossegue, mas ele ficou visivelmente abalado com a possibilidade de perder os dois após tanto tempo.

Normalmente Peeta nem trazia as crianças com ele quando vinha ver Willow, ou os deixava com Haymitch e Effie, com Hazelle ou até com Johanna e Gale. Mas com as chances de acabar ficando sem os dois de uma hora para outra ele não desgruda mais e os carrega para todos os lados.

Agora, sentados um de frente para o outro no tapete da sala e vendo Willow, Joshua e Rue rolarem em meio a dezenas de almofadas como se fossem filhotinhos, Peeta espera uma reação minha depois de contar sobre a posição da Presidente.

--Você não pode realmente culpar a Paylor por cumprir com o papel dela de líder. -Digo a ele- Que tipo de pessoa ela seria se passasse por cima das regras para satisfazer cada um neste país?

Ele me ouve e só balança a cabeça em concordância.

--Ela sabe como você foi importante para a causa Rebelde durante a queda do Snow e da Coin, e mostrou gratidão permitindo que você fique com eles enquanto todo o processo acontece.

--Quem te contou isso? -Ele me encara visivelmente confuso- Sobre os Rebeldes, quem te disse?

Preciso pensar por alguns segundos na pergunta dele.

--Ninguém me contou. –Digo por fim e ele arregala os olhos- Foi só uma coisa que saiu sem que eu percebesse. -Concluo.

--Você se lembrou! -Peeta abre um grande sorriso- Você está se lembrando!

Não acompanho o raciocínio dele, mas então como quem desperta de repente no meio da madrugada entendo o que ele está dizendo. Lembrei de mais alguma coisa!

Começo a rir e Peeta se aproxima ficando bem a minha frente com um grande sorriso no rosto e me segurando pelos ombros, quando me dou conta ele está me abraçando com força e meus braços estão em volta dele o puxando para o mais perto possível.

Fecho os olhos sentindo o peito dele tremer enquanto ele ri e com o rosto próximo ao dele sinto cheiro de loção pós-barba e o cheiro dele que não vem de nenhum perfume específico, é apenas o cheiro dele que impregna meu nariz e meus poros e me faz querer passar todas as horas que me restam ali o abraçando.
Minhas bochechas doem porque ainda mantenho o sorriso que só desaparece quando minha boca encontra a curva do seu maxilar onde deposito um beijo.

Enquanto Peeta acaricia minhas costas com as mãos sinto meu corpo enfraquecer sob seu toque, mesmo com o tecido da blusa impedindo que eu o sinta completamente.

Com um misto de delicadeza e urgência ele passa o rosto encostando na minha orelha a na minha bochecha e sinto minha pele ser arranhada, o que me faz ficar paralisada enquanto Peeta segura meu rosto entre as mãos para me beijar.

Com os olhos fechados sinto ele encostar os lábios quentes nos meus, mas antes que eu consiga raciocinar sobre aprofundar o beijo ouço um barulho e abro os olhos para ver minha mãe passar pela porta da sala.
Ela até tentou de todas as formas disfarçar e fazer parecer que não viu nada, mas um sorrisinho a traiu e Peeta também percebeu porque suas bochechas ficaram vermelhas imediatamente.

--O almoço está pronto. -Foi só o que minha mãe disse antes de virar as costas e sair.

--Ela viu. -Peeta me olha apavorado- Ela deve achar que estou me aproveitando de você.

--Nós não somos crianças, e não sei se você percebeu, mas para algo como isso – Faço um gesto com a mão apontando para nós dois- acontecer, são necessárias duas pessoas. -Respondo com um sorrisinho.

--Sim, mas eu não devia deixar acontecer, você ainda não está totalmente boa, não quero te deixar ainda mais confusa. -Ele diz e vejo em seus olhos que está sendo sincero.

--Olha pra mim. -Seguro o rosto dele com uma mão- Você não me deixa confusa, as horas que você passa aqui cuidando da nossa filha, comigo, são as melhores que eu tenho passado nos últimos dias. -Aproximo minha boca da dele e o beijo, nossas línguas se encontram por alguns segundos e então me afasto- Eu queria que acontecesse. -Digo antes de ficar de pé.

Johanna e Gale concederam a Effie a oportunidade, solicitada por ela mesma, de organizar para eles uma cerimônia de casamento.
Agora, com todos os hormônios de grávida a controlando, mais o jeito naturalmente espalhafatoso que ela tem, as coisas estão sendo comandadas sob mãos de ferro.

Os dois tentam se manter alheios a tudo, mas Johanna vez ou outra deixa transparecer um pouco da animação e expectativa de uma nova vida.

--Até agora não entendi porque vocês decidiram se casar tão rápido. -Disse a ela uma vez enquanto conversávamos.

--Porque queremos poder fazer barulho enquanto transamos, mas morando com a mãe e os irmãos pequenos, que eu amo, mas que não entenderiam o porquê da "tia Joh" estar gritando enquanto o irmão mais velho está em cima dela, isso fica um pouco difícil. -Ela respondeu as gargalhadas e eu desisti de saber desde então.

Até suspeitei de gravidez, mas não perguntei nada por medo do que poderia ouvir.

Os dois juntos já compraram uma das novas casas construídas na Costura. Gale até disse que se ela quisesse poderiam ir para o Distrito 7 onde ela tem a própria casa da Vila dos Vitoriosos, mas Johanna vetou a ideia terminantemente e não discutiram mais. Eu fiquei particularmente feliz de saber que os dois continuarão por perto.