Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

Deixamos os dois dormindo, eu passo direto pela minha casa e sigo com Peeta para a casa dele na Vila dos Vitoriosos. Nós dois precisamos de um banho e algumas horas de sono antes de ir buscar as crianças com Hazelle.

Quando passamos pela casa de Haymitch vemos a porta da frente aberta até o canto.

--Ainda é cedo demais para os dois já estarem acordados. –Digo a Peeta.

--Muito estranho. –Ele me responde- Vamos entrar e ver se está tudo bem.

Nós percorremos todos os cômodos da casa e não vemos sinal de nenhum dos dois.
A única coisa que vejo e me deixa ainda mais confusa é o paletó que Haymitch estava usando na noite anterior e o par de sapatos de salto que Effie calçava.

Quando ouço Peeta me chamar da cozinha tenho certeza de que algo não está certo.

--O que foi? –Me aproximo rápido dele- Achou alguma coisa?

--Sim. Isso. –Ele aponta para o chão onde uma poça de água se forma no piso- E isso. –Ele me mostra um pedaço de papel colado na geladeira onde se lê: HOSPITAL.

--Ela se sentiu mal e ele a levou para o hospital. Vamos para lá, agora mesmo! –Digo e saio rápido da casa com Peeta bem atrás de mim.

Chegamos ao pequeno hospital bem rápido, vasculhamos a recepção e nem sinal de Haymitch.
Então Peeta pede informações a uma mulher que trabalha em uma mesa e depois de procurar por alguns segundos ela nos diz que Effie Trinket foi internada ali, mas que precisou ser transferida para o Distrito 8 para uma cesariana de emergência. Ela e o marido saíram duas horas atrás em um aerodeslisador.

--Peeta, isso não pode ser bom. –Digo quando saímos do hospital e voltamos a andar pela rua- Se ela estava mal a ponto de precisar ser transferida, então o caso é sério.

--Não acho que seja algo grave. –Peeta responde com a voz calma- O hospital daqui não está apto a atender nem um caso mais grave do que uma dor de barriga. Vai ver transferiram ela só por precaução mesmo.

--Pode ser, mas não vou me acalmar até saber de tudo. –Olho para ele- Peeta, eu preciso ir para o Distrito 8 e encontrar o Haymitch.

Peeta diz que não pode ir comigo porque vai ficar cuidando das crianças para não sobrecarregar Hazelle, mas me acompanha até em casa e enquanto eu tomo um banho rápido e me visto, ele pega o telefone e liga para o hospital. Quando estou a ponto de sair ele me diz que Effie está em cirurgia, mas estável. E depois de Peeta me abraçar e dizer para não deixar de mandar notícias, corro para a estação e pego o primeiro trem.

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Entre o momento que me sentei em um dos vagões do trem e o momento que encontrei Haymitch andando de um lado para o outro no corredor da maternidade se passaram exatamente três horas. Mas considerando que acordei junto com o amanhecer do dia e saí do Distrito 12 quando os primeiros raios de sol apareciam, o dia ainda estava apenas começando, pelo menos para os outros.

Cresci assistindo Haymitch Abernathy e Effie Trinket perderem crianças nos Jogos Vorazes ano após ano. Mas só vim a conhece-los quando fui voluntária no lugar da minha irmã na 74ª edição dos Jogos e passei a ter uma relação de amizade com os dois apenas no Massacre Quaternário, quando fui obrigada a voltar para a arena.
Se qualquer pessoa me dissesse que Haymitch, o mentor bêbado do Distrito 12, e Effie, a louca exagerada da Capital que sorteava crianças para a matança, seriam um dia dois dos meus amigos mais próximos, eu nunca teria acreditado.
Hoje no entanto, eu atravessei quatro distritos por eles, mesmo depois de uma noite quase insone.

Com muita dificuldade consegui fazer Haymitch aceitar um copo com água e se sentar ao meu lado, mas no instante em que viu uma porta dupla se abrir no fim do corredor ele se levantou com um salto e se aproximou do médico.
Um senhor com alguns fios de cabelo grisalhos aparecendo sob uma touca de tecido com várias pequenas mãos infantis desenhadas nela.

--Como é que ela está? –Haymitch pergunta antes que o médico diga qualquer coisa.

O médico olha para Haymitch e como uma caçadora que percebe o perigo muito perto eu me aproximo dos dois e paro com o ombro esquerdo encostado em meu amigo.

--Nós tentamos tudo. –O médico diz com calma- Mas não foi o suficiente.

Nesse momento Haymitch olha para mim como se esperasse uma explicação. Eu apenas o seguro pelo ombro com uma mão.

--O que aconteceu? –Pergunto ao médico quando Haymitch não diz nada.

--Ela teve uma parada cardíaca quando estávamos iniciando a cesariana. Conseguimos reanima-la e fazer o parto de uma das crianças, mas antes de a outra nascer ela teve outra parada e as duas ficaram sem oxigênio por algum tempo.

--Uma das minhas filhas morreu? –Haymitch pergunta respirando fundo.

--Infelizmente perdemos uma das crianças e a mãe. –E médico responde- Eu sinto muito. –Ele aperta o ombro de Haymitch.

“Você não esquece o rosto da pessoa que representou sua última esperança”.
Não pensava nessa frase havia muito tempo, mas quando vi meu amigo e mentor se entregar ao desespero na frente de um médico, e se ajoelhar no chão implorando que não fosse verdade, foi a primeira coisa que me veio à mente.
Tudo parecia estar em câmera lenta, aquele homem, aquele estranho que vimos pela primeira vez e que tínhamos grandes chances de nunca mais ver, em poucas palavras mudou nossas vidas para sempre.
Eu nunca mais me esqueceria dele, e tinha certeza de que Haymitch também não conseguiria.

Não o chamei para sair dali, não pedi que ele parasse de chorar, não fiz nada. Só me sentei ao lado de Haymitch no chão para que soubesse que eu estava ali, porque não há nada que se possa fazer quando alguém que você ama se vai e deixa um buraco para trás.

Passamos todo o dia ali no corredor. Haymitch estava aparentemente fora do ar e olhando para o nada.
Eu vi uma maca coberta por um lençol passar por nós e precisei engolir seco para conter as lágrimas ao pensar que poderia ser Effie ali debaixo.
Vi um pai e uma avó comemorarem a família que aumentava. Vi enfermeiras usando rosa carregarem recém nascidos nos braços.

Por volta de 01h00 da manhã me ausentei por alguns minutos para ir ao telefone mais próximo e ligar para Peeta.
Voltei para onde estava, pensando na última coisa que ele me disse: “feliz aniversário, Katniss”.
Só quando ouvi essas palavras é que me dei conta. Hoje é dia 8 de Maio, a partir de hoje eu tenho 22 anos, a partir de hoje Effie Trinket e sua alegria não existem mais. Se o dia de hoje também deixasse de existir eu não me importaria.

Quando volto ao lugar onde estava sentada com Haymitch vejo que ele já não está mais lá.
Ando por todos os lados e nem sinal dele. Até penso em procura-lo pelas ruas, em bares ou qualquer lugar que ele possa ter se escondido. Mas fico paralisada quando viro um corredor e o vejo, parado próximo a um vidro, chorando e sorrindo ao mesmo tempo.

Effie se foi, levou com ela um menino chamado Stefan. Levou para o próprio bem dele, porque se o deixasse, cedo ou tarde seu coração defeituoso pararia, ele nunca seria uma criança saudável.
Mas deixou para Haymitch uma linda e perfeita menina chamada Stella. Dona de cabelos loiros como os da mãe e de olhos cinzentos como os do pai.
E mesmo com toda a tristeza, vejo esperança nos olhos do meu amigo, e sei que isso será o bastante para que os dois sigam em frente apesar de tudo.

DIVIRTAM-SE AMORES <3