Fanfic: First dandelion in the spring | Tema: Jogos Vorazes

Peeta não volta a tentar se aproximar de mim mais do que o estritamente necessário. E até quando Willow pede para dormir no lugar dele, ele nega ou faz o possível para não encostar o corpo no meu. 
Metade de mim agradece, mas a outra metade implora para voltar a senti-lo de perto. 

--Vamos lá ver a Stella, mamãe? –Willow pede um dia logo que termina de almoçar. 

--Vamos, filha. –Respondo sorrindo ao ver a boca dela toda suja com a comida- Mas antes vamos lavar essa boca senão você vai assustá-la. 

No minuto que atravesso a porta da casa de Haymitch sei que há algo errado.  
Vejo garrafas vazias sobre a pia e ouço um choro bem de longe. 

--Filha, espera a mamãe aqui, tudo bem? –Digo a Willow antes de subir as escadas- A mamãe já volta.  

Quando chego ao quarto encontro Haymitch caído ao lado da cama perto de uma poça de sangue, com cacos de vidro em volta dele, uma fotografia rasgada ao seu lado, e Stella se segurando de pé no berço chorando. 

Coloco a mão no pescoço de Haymitch e vejo que seus batimentos cardíacos estão muito lentos e seu pulso bastante fraco. 
Não sei o que fazer, só sei que preciso agir rápido. 

Então, pego Stella no colo para que ela se acalme e desço de volta a sala onde Willow me espera sentada no primeiro degrau da escada. 
Vou até o telefone pendurado na parede, mas quando o tiro do gancho percebo que mais uma vez Haymitch arrebentou o fio. E preciso me controlar para não soltar vários palavrões. 
Nunca vou conseguir ajudar Haymitch sozinha e se demorar demais pode ser tarde. 

--Willow, vamos brincar com a Stella lá em casa? –Estendo a mão para ela que prontamente vem sorrindo em minha direção. 

Atravesso os poucos metros que separam a casa de Haymitch da casa de Peeta o mais rápido que posso com duas crianças. 
Quando entro na sala deixo as duas sobre o grande tapete de tecido fofo que elas adoram brincar em cima. 
E depois de ligar para o hospital chamando uma ambulância, começo a procurar por Peeta. 

Percorro todos ao quartos e banheiros, e já estou quase gritando de desespero quando o encontro no jardim a frente de uma tela. 

--Peeta! –O chamo de longe. 

--O que foi? –Ele pergunta assustado. 

--Preciso da sua ajuda! 

--Qual é o problema? –Ele se aproxima preocupado. 

--O Haymitch. –Começo a falar e minha voz treme- Eu o encontrei caído em casa. Trouxe a Stella pra cá e chamei uma ambulância. Mas preciso que você cuide das meninas pra que eu possa ir com ele pro hospital. 

--Ambulância? O que foi que aconteceu com ele? 

--Eu não sei. Só o encontrei lá caído. Não tenho tempo pra explicar nada agora. Já devem estar chegando para busca-lo. As meninas estão na sala. 

--Espera, você não quer eu vá com ele e você fica aqui? 

--Não, eu vou.  

--Tudo bem. Mande notícias! 

--Ok. 

A ambulância chega e Haymitch é levado às pressas ao hospital. 
No meio do caminho dois atendentes tentam reanima-lo e logo que chegamos ele é internado imediatamente. Eu fico em um corredor esperando notícias. 

Espero por várias horas e lembro que a última vez que estive em um lugar deste, foi há quase 5 meses atrás, no Distrito 8. 
Estava acompanhando Haymitch, que saiu de casa com a mulher e dois filhos, e voltou apenas com uma filha.  
Não consigo deixar de pensar no quanto ele aguentou nesses meses por causa de Stella que só tem a ele. 

--Quem é o acompanhante de Haymitch Abernathy? –Um homem pergunta. 

--Eu sou. –Respondo na hora e me aproximo. 

--O que você é dele? 

--Amiga. 

--Não posso dar informações sobre o paciente se não for da família. –O homem me olha por cima das lentes dos óculos. 

--Ele não tem família. Só amigos e uma filha pequena. 

--Ok então. –Vejo o homem revirar os olhos e sinto meu estomago se contorcer- Seu amigo está muito desidratado e fraco, parece que o estômago dele não recebe comida há vários dias. E o fígado dele só existe ainda por muito pouco. Se não começar a se cuidar pra ontem ele não passa do próximo mês. –Ele diz com arrogância. 

--E como é que ele está agora? –Digo tentando controlar a repulsa que sinto do médico. 

--Estável. Vou deixa-lo internado só por um ou dois dias para ver como o organismo dele se comporta, mas ele não corre riscos.  

--Obrigada. –Digo enquanto o médico vira as costas e se vai. 

“Que homem gentil e compreensivo”, penso comigo mesma. 

Ligo para Peeta e ele respira aliviado quando descobre que Haymitch não corre nem um risco maior. 
Quando me autorizam a entrar no quarto ele está dormindo, reparo que ele está bem mais magro e seus cabelos grisalhos estão começando a rarear. 
Meu amigo precisará de toda a ajuda possível quando sair dessa e voltar para casa. 

Passo toda a noite ao lado da cama de Haymitch, mas só troco algumas palavras com ele pela manhã quando ele por fim acorda. 

--Olá, docinho. –Ele diz ainda meio grogue por causa dos remédios. 

--Que susto você deu na gente. –Me aproximo da cama dele. 

--Eu pensei que meu fígado fosse mais resistente. Estou me sentindo pessoalmente traído. –Ele diz com um sorrisinho. 

--Não tem graça, Haymitch! –Falo séria- Como seria se você também morresse? 

--Seria melhor pra todos. –Ele responde amargurado. 

--Menos pra sua filha. –Olhos nos olhos dele- A Stella precisa de você. Ninguém nunca vai poder ser o que você é pra ela. 

--A mãe dela poderia. –Ele fecha os olhos. 

--A Effie te deixou a Stella porque sabia que você cuidaria dela como um bom pai. –Coloco uma mão sobre a mão dele que não tem uma agulha- Não a decepcione. 

Deixo Haymitch sozinho e vou para casa tomar banho e descansar, enquanto Peeta vai para o hospital tomar meu lugar de acompanhante.