P.O.V Anahí
Coloquei a última caixa no caminhão e suspirei olhando para trás. Aquela casa iria me fazer tanta falta. Ali eu vivi toda a minha infância e adolescência, mas agora ela estava tão vazia e mórbida que eu não conseguia mais vê-la com a mesma harmonia de antes. As árvores e plantas que a cobriam estavam sem vida, tenho que contratar um jardineiro para vir aqui semanalmente cuidar delas ou vão morrer. A cor da fachada da casa estava um pouco apagada, o amarelo vivo de antes se transformou em uma mistura de amarelo com branco, e nas laterais das paredes frontais haviam desbocos não muito visíveis por causa das plantinhas.
Eu realmente não queria me mudar, pelo contrário, a minha mente me gritava que tudo o que fiz até agora não passa de uma tolice, mas o meu estado psicológico e emocional implora para o começo de uma nova vida longe daqui. Eu espero estar fazendo a coisa certa, principalmente porque quem me receitou isto foi minha psicóloga.
Inúmeras foram as perdas que me fizeram mudar, agora sou eu sozinha contra o mundo. A minha única fortaleza que me mantém viva e não me fez fazer uma besteira até agora, é o Christian. Se não fosse por ele eu tenho certeza que teria cometido um suicídio há tempos, seria a minha única saída para essa solidão ifinita tomando conta do meu peito - que eu tinha dúvidas se ainda existia um coração dentro batendo.Tem também a Alana, mas ela anda muito afastada de mim ultimamente e nós não somos tão unidas assim, a única amiga que eu tive de verdade foi a Dulce, só que agora ela nem olha mais na minha cara e me odeia. Isso me faz ter raiva de mim mesma a cada instante, estraguei uma amizade de anos com uma besteira - uma besteira que a Dulce deveria esquecer, convenhamos.
- Vocês podem ir agora - disse para um dos caminhoneiros - Eu vou no meu carro, tenho que passar no mercado primeiro.
Peguei um papel e uma caneta para escrever o endereço do meu novo apartamento, entreguei as chaves e dei as instruções para colocarem as caixas nos lugares que quero. Eles foram na frente enquanto eu pegava o meu carro vermelho, presente do meu pai quando fiz dezoito anos. Mirei mais uma vez a minha casa, assenei para a Dona Caren que me via de longe pela janela, ela parecia abatida. Outra pessoa que me traria uma enorme saudade. Dona Caren sempre me ajudou quando eu precisava e e apoiou quando meus pais se foram.
Eu ia sentir muita falta desse bairro e também dos vizinhos. Kike, o filho da Dona Caren, foi fazer intercâmbio em outro país há três dias atrás. Ele era o meu melhor amigo antes do Christian, nós crescemos e estudamos juntos. Eu o amava e ele me amava, mas não era com intenção de um relacionamento de namorados, apenas amigos. Bons amigos.
Dei partida no carro antes que eu começasse a chorar com essas lembranças melancólicas, andava muito sensível ultimamente. As ruas não estavam movimentadas e não se via muitas pessoas andando pelas calçadas, apesar de ser oito da manhã.
Parei num mercado próximo, onde também não havia muita gente. Estacionei o carro e desci, pegando na entrada uma cesta pra colocar as compras. Eu tinha o pensamento de fazer as compras geral para passar o mês inteiro, mas não estava com muita vontade então compraria apenas o básico pra sobreviver, no mínimo, uma semana.
Joguei bastante chocolate dentro da cesta, tem mulheres que precisam de chocolate quando estão naqueles dias, mas eu precisava muito mais. Até quando estava nos dias normais. Peguei todynho e danone também, já não era mais uma criança porém ainda gosto de beber essas coisas.
Fui pro caixa pagar tudo e quase cai para trás quando o homem disse o preço total. Paguei tudo e sai quase correndo, tenho a impressão de que não virei nesse mercado por um bom tempo. Voltei para o estacionamento e destravei a porta do meu carro, quando senti uma mão cutucar o meu ombro e meu coração gelar pelo susto.
- Com licença, desculpe o incômodo, mas será que você poderia me ajudar? - o garoto falou. Moreno dos olhos verdes misturados com cinzas, era um pouco complicado distinguir a cor real, admito que ele era terrivelmente lindo.
Observei para quê ele queria a minha ajuda e percebi que estava cheio de sacolas e duas bolsas - algumas sacolas até cairam no chão. Não tinha ninguém ao redor pra fazer isso por mim.
- Claro - joguei minhas compras no banco traseiro do carro e apanhei as três sacolas no chão, pegando mais três penduradas no braço do garoto.
Ele me guiou até a sua caminhonete, não era muito longe do meu carro, abriu a porta e pusemos tudo lá dentro.
- Obrigado - ele agradeceu sorrindo - Ah, perdão, meu nome é Derrick. Prazer - Ele deu um tapa na cabeça, como se estivesse sido muito mal-educado por não dizer o nome. Nos cumprimentamos com um beijo na bochecha. Sorri.
- Sou Anahí, prazer Derrick. - imediatamente o seu sorriso morreu e sua expressão passou de sorridente para espanto. Não entedi o porquê dele ter agido assim - Algum problema?
- Que? Não, não, que isso! - dava para perceber que ele ficou nervoso e forçou um sorriso - Tenho que ir, obrigado mais uma vez.
Derrick entrou na caminhonete e deu partida, me deixando confusa por sua reação esquisita.
- Garoto estranho - murmurei para mim mesma.
Dei a volta e sai correndo, depois de tanto ver filmes de terror fiquei com medo de estacionamentos vazios. Dei partida no carro - a qual eu havia deixado as portas abertas para quem quisesse roubar - e liguei o rádio no pen drive.
A música que começou a tocar seguido de Sugar, do Maroon 5, me deixou deprimida. Mas eu amava essa canção com toda a minha alma, ela me faz querer chorar e também me faz repeti-la quando acaba. Assim que dei por mim, já cantarolava junto com a cantora.
- But I`m only human, and I bleed when I fall down. I`m only human, and I crash and I break down. Your words in my head, knives in my heart, you build me up and then I fall apart, cause I`m only human. - que traduzido seria: Mas sou apenas humana e eu sangro quando caio. Sou apenas humana e eu me desmonto e me arrebento. Suas palavras em minha cabeça, facas em meu coração, você me bota lá em cima e depois eu caio aos pedaços, pois sou apenas humana. As palavras me tocam profundamente, eu sinto que essa música foi feita para mim. Do começo ao fim, tudo me descrevia no momento, pelas emoções e desilusões que estou passando.
Enxuguei as leves lágrimas que ameaçavam cair assim que cheguei em frente ao prédio. Não encontrei o caminhão de mudanças e nenhum lugar por perto, deduzi que já haviam feito seu trabalho e ido embora.
- Com licença - chamei o porteiro - Dois homens trouxeram algumas caixas para cá, eles deixaram uma chave com você?
- Ah. Sim, mocinha. - ele buscou em uma caixa sob o seu balcão e achou as chaves, me entregando em seguida - Sou Carter, o porteiro.
- Prazer Carter, sou Anahí. - sorri e assenei como despedida. Me direcionei ao hall, a caminho do elevador.
Tudo estava tão vazio hoje. Ou eu quem estava vazia, não sei. A recepcionista falava com alguém ao telefone, enquanto um homem mal-humorado batucava o pé frustrado. Havia um tapete como caminho até o elevador, o balcão da recepção ficava ao lado direito das portas de vidro de entrada. A porta do lado do elevador dava para as escadas e os corredores extensos, um em cada lado, se localizavam os apartamentos do primeiro andar.
Assim que as portas do elevador se abriram, saiu de lá uma ruiva um pouco dark. Confesso que tive vontade de perguntar qual a tonalidade do batom escuro que ela usava, achei muito perfeito.
Por um curto segundo, me imaginei sendo a Any de antigamente e a comparei com o meu eu de hoje. A Any antiga era alegre, espontânea e extrovertida, a Any de agora está horrível, antipática e pessimista. Não sei identificar em qual momento eu me transformei nessa pessoa abatida e sem amigos, talvez os problemas que vêm acontecendo na minha vida contribuíram em noventa e sete por cento.
Em fim, cheguei no meu andar. Procurei pela minha porta e a encontrei sendo a última do corredor. Coloquei as chaves na fechadura e girei, a abrindo com facilidade.
As paredes eram brancas, na verdade tudo era branco. Fiz uma careta quando percebi que tinha que reformar aquele lugar.
***
- Enfim, o último móvel - falei ao arrastar o sofá para o canto da parede.
Passei a tarde toda arrumando o apartamento sozinha e agora estava morrendo de cansaço. Pelo menos, tudo ficou organizado e eu não precisaria mais dividir as tarefas em dois dias e incomodar o Christian. Acabei por me lembrar que não falei com ele hoje.
Peguei meu celular em cima da estante e disquei o número daquele retardado. Chris atendeu no terceiro toque.
- Quem pertuba-me? - sua voz saiu embrulhulhada, acho que ele estava comendo.
- Eu, querido, Any. Quer vir aqui em casa hoje? Acabei de me mudar.
- Deixe-me pensar - houve um silêncio por breves segundos, já estava ficando entediada.
- Chris? Ainda está vivo? - chamei, pensando em desligar
.
- Estou. Me espere que eu já chego aí, ame-me.
- Por que está falando assim?
- É que eu quero me tornar uma pessoa com um vocabulário formal. Entendeu-me? - reviro os olhos e dou uma risada.
- Vou te esperar, tchau.
Desliguei antes dele responder, com certeza ele faria um barraco quando chegasse aqui por causa disso. Sorri com esse pensamento. Christian e eu nos conhecemos quando ainda estávamos no fundamental II, lá pelo sexto ano. Eu era nova na escola, junto com a Dulce, o Christian se aproximou de nós e nos tornamos amigos. Mas a Dulce acabou se afastanto e rompeu a amizade triangular, como dizia o Chris.
Nós três, na verdade, éramos três loucos. Inventávamos relacionamentos entre os professores e ficávamos dublando a fala dos colegas e funcionários de longe. Aquele é um tempo ao qual eu mais sinto saudades, a inôcencia - nem tanto - de três crianças malucas e insanas.
Fui para a cozinha fazer o jantar, se passavam das sete horas e eu não havia comido nada durante o dia inteiro. Decidi preparar uma lasanha de frango. Mesmo com a hipótese de que o Chris já jantou em casa, tenho certeza de que ele vai querer repetir aqui também, porque ele tem dois estômagos e a boca furada.
Enquanto esperava o Chris e a lasanha, decidi tentar me animar um pouco e fazer uma coisa que não fazia há bastante tempo: dançar.
Liguei o som e coloquei a música mais dançante que tinha na minha playlist, Worth It. Começou a tocar e eu me senti uma das Fifth Harmony, tentava ao máximo rebolar e me mexer igual a elas como vi no clipe, mas acho que não estava dando muito certo.
Nem escutei quando a campanhia tocou e muito menos percebi o Chris invadir a minha casa, só notei sua presença quando me virei e bati em seu peito.
- AAAAAAAAAAH! - eu gritei pelo susto e ele acabou me acompanhando.
- Que cara/lho você está fazendo? - Onde está o vocabulário formal?
- Dançando, óbvio - Chris riu de mim e eu acabei o acompanhando.
- O que tem pra comer? - Ele me empurrou e se direcionou para a cozinha, vasculhando os potes e armários.
- Estou fazendo lasanha - assim que terminei de falar o microondas apitou informando a comida já preparada.
Christian não pensou duas vezes em praticamente arrombar a portinha do microondas e pegar o prato que continha a lasanha. Mesmo com os palavrões ditados por estar com as mãos queimando, Christian não soltou a comida até chegar no balcão e colocá-la em cima de um pano.
- Onde ficam os talheres? - ele saiu desesperado até as gavetas dos armários procurando uma faca, até que encontrou.
O jeito que Chris estava vestido me fez gargalhar escandalosamente. Estava de noite, mas ele usava óculos escuros e uma camisa neon escrito "fuck you, i`m gay". Acho que ele não tinha notado esse detalhe quando comprou aquilo.
- Qual a graça, Elsa? - Chris perguntou, com a boca cheia. Ele me chamava de Elsa desde que assistiu Frozen, de acordo com ele eu era muito parecida com ela.
- Sua camisa - respondi, quase sem ar.
- O que tem ela? - ele mesmo a analisou e olhou pra mim depois, erguendo o dedo do meio - Foda-se, eu NÃO sou gay. Sabia que não devia ter aceitado essa merda daquele estúpido.
- Quem? - a essa hora já tinha parado de gargalhar.
- O meu cunhado, ele é mais cú do que nhado - ele falou colocando mais um colherada cheia na boca.
Ri mais um pouco e fui me servir também. Christian e eu fizemos mais algumas coisas e foram bastante divrtidas, ele me contou algumas histórias de quando ele era pequeno e de sua família - aposto que Kristina, a irmã dele, não ia gostar nada de saber que segredos dela estavam sendo revelados sem sua permissão. O tempo passou tão depressa e nem percebemos quando já era mais de 22:00hrs, queria que o Christian ficasse, mas ele tinha que ir ao dentista bem cedo. Assim que fiquei sozinha me senti muito sozinha - confuso? - acho que eu precisava de uma pessoa pra me fazer companhia urgentemente ou entraria em uma depressão. Sou um pouco exagerada, mas acho que é a verdade.
Oi gente, até que em fim eu postei (é pra glorificar de novo, senhor) O computador que eu mexo e faço os capítulos tá com vírus, então fica meio ruim de postar porque a página do Fanfics fica toda bugada .-. mas espero que gostem e RESPONDAM SEM ME DEIXAR NO VÁCUO:
Qual o dia da semana que vocês preferem que eu poste: Sexta, sábado ou domingo?
Belle_: Que bom kkkkk continuando, amoraney Emoticon heart x
rafa_previato: Bien venida, amora. Continuando *-* x
bia_herrera: Sério? Tenkiu very much u.u Eu também tenho um vício nela x