Fanfic:  Minha Luz- Vondy | Tema: Vondy

Oscar...-Chamou Christopher ao atendente, quem logo chegou á frente dele.- Aquela moça de cabelos vermelhos...-apontou discretamente  ao empregado. – a que horas ela chegou aqui? E com quem ela está?

O empregado a olhou um par de vezes e logo a reconheceu.

- Não está aqui mais do que uma hora, e pelo que me recordo, ela não está com ninguém, Senhor Casillas. 

Christopher quase bufou de raiva. A garota era mais teimosa do que uma mula empacada! Pois bem, a levaria de volta ao quarto agora mesmo! E se fosse possível, mandaria colocar um cadeado para que ela não saísse. Por acaso ela não sabia os riscos de uma pessoa... Ele tragou a saliva interrompendo bruscamente o pensamento. Baixou a cabeça, envergonhado, e suspirou incapaz de terminar o pensamento. Pensando bem... Por acaso ela estava pensando em entrar no mar agora pela noite para que ninguém pudesse salvá-la? 

Continuou olhando-a de longe, e quando a viu tatear um copinho para levá-lo a boca, Christopher arregalou os olhos.

- Ela está bebendo!

O empregado o olhou com uma sobracelha erguida, estranhando o comportamento do patrão para com a moça.

- Oscar! – chamou Christopher outra vez. O empregado novamente chegou junto ao patrão. – O que você a serviu? O que ela está bebendo? Quantos copos ela bebeu?

Oscar precisou de um pouco de tempo para pensar nas perguntas que seu patrão lhe fez.

- Primeiro a servi de um coquetel de frutas, ela deixou a metade do copo e então me pediu uma dose de tequila. – Christopher arqueou as sobrancelhas surpreso. – E a servi duas doses, Senhor Casillas.

- Que?! – quase gritou em um misto de surpresa e irritação. 

Já não bastava tudo o que ela aprontou hoje? Ainda queria ficar bêbada? Saiu andando indignado até onde ela estava, sentou-se em um banco vago a seu lado. Estava com tanta raiva que nem ao menos prestou atenção em seu rosto um pouco maquiado e em sua vestimenta. 

Christopher tomou o copo das mãos dela, vendo-a encarar o balcão com a testa franzida.

Dulce sorriu, ela havia esvaziado outro copinho daquela bebida forte, não adiantava ninguém pegar o copo de volta. 

- Garçom... – levantou uma mão encarando o balcão. E somente soube que o Garçom estava perto quando tateou sua mão. – quero mais uma tequila.

Oscar olhou para Christopher que negou com a cabeça, murmurando “água” para o empregado. Christopher apoiou uma mão no balcão enquanto a fitava e a expressão dela se endurecia.

- Seja você quem for...- anunciou sem se virar. - eu sinto sua presença.

- Ah sim? – sorriu Christopher com a informação.

Dulce aguçou os ouvidos ao ouvir aquela voz grave. Virou a cabeça até de encontro à voz e fixou o olhar na camisa de Christopher, quem sufocou a respiração ao sentir aquele olhar se fixar nele, mesmo sabendo que ela não poderia enxergá-lo, quase podia sentir que ela conseguia vê-lo. Nem que fosse somente com os olhos da alma...

Bendita la luz
Bendita la luz de tu mirada
Bendita la luz
Bendita la luz de tu mirada...
Desde el alma 

- Apresente-se, por favor. – pediu ela enquanto tateava o balcão alcançando o copinho de água.

Ela estava tão bonita, se disse Christopher em pensamentos. Passou os olhos em seu rosto. Era tão atraente. Tinha um charme natural que o ofuscava. Seus olhos estavam mais escuros, parecia maquiada, mas não havia batom, somente os olhos e o cabelo estavam bem feitos, como se ela tivesse ido ao cabeleireiro. Mas como? Ele não conseguia entender nada. Os cachos vermelhos serpenteavam por seus ombros, e com o vento deslizavam entre seus seios generosos dentro daquele top de crochê branco. Sufocou o fôlego ao se dar conta de que começava a ter uma ereção somente em vê-la. Por Deus, era o pior cafajeste do mundo por abrigar sentimentos tão impuros a uma pessoa tão inocente! Que por sinal, vendo-a desse jeito, ela não parecia tão desprotegida e nem tão frágil assim como ele pensava.

Talvez fosse o efeito da bebida que havia deixado-a assim. Não evitou sorrir quando ela fez uma careta, como se tivesse tragado lama em vez de beber o copinho com água.

- Mas que diabos...? Essa bebida não presta! – vociferou ela, colocando o copinho no balcão com uma força um pouco exagerada.

Christopher olhou para Oscar que estava preocupado, mas logo meneou a cabeça com um meio sorriso na boca, para ele não fazer nada.

- Será que eu posso lhe oferecer alguma outra coisa? – perguntou Christopher, fixando o olhar na mão dela que estava muito perto de tocar a dele no balcão.

- Não aceito bebidas de estranho.

Christopher sorriu assentindo. “Garota esperta!”, pensou ele.

- E se eu me apresentasse?

Dulce então captou aquela voz familiar. Era o mesmo homem que a tirara do mar. Fechou os olhos de uma vez se concentrando nas coisas que escutou enquanto estava naquele quarto estranho. Se seus olhos não funcionavam, seus ouvidos funcionavam duas vezes melhor. E aquela voz era irreconhecível, desde que entranhou em sua mente.

– Você precisa viver...

Aquela frase retumbava em sua mente uma e outra vez. E seu coração levemente acelerou ao se dar conta de que ele correu risco ao se jogar no mar...somente para salvá-la. Respirou fundo, abrindo os olhos, recolheu sua mão que estava em cima do balcão e virou-se para o bar. Você precisa viver... Havia dito ele apenas uma vez, sem saber como essa frase fora tudo o que ela precisava ouvir, fora tudo o que ela necessitava para lutar contra o desejo de morrer naquele momento.

- E então, posso me apresentar? 

Agora não tinha mais dúvidas nenhuma. Era ele mesmo.

- Cheguei Christopher... – ouviu outra pessoa entrar no quarto, enquanto sentia a outra presença se distanciar.

O Doutor o chamou de Christopher! Talvez esse fosse o seu nome. Franziu a testa. Não o queria ali. De certo, era alguém que estivesse vigiando-a. Dulce começou a se desesperar ao perceber que cairia na boca de seu pai. E ele a poria de castigo! Não, mais uma vez não. Já bastava tudo o que havia acontecido hoje. Não podia ficar trancada mais uma vez. Não! Ela aproveitaria essa noite como todo mundo. Aproveitaria essa noite como nunca o fizera em vinte e dois anos de sua miserável existência. Não iria deixar esse Christopher levá-la de volta àquela triste jaula de ouro. Nem ele e nem ninguém a tiraria dali.

- Em vez de se apresentar, siga seu rumo e me deixe em paz. – disse Dulce com um misto de irritação e seriedade, fazendo com que Christopher arregalasse os olhos pela surpresa. – Não quero a companhia de ninguém. Estava muito bem aqui sozinha.

- Se você fosse pelo menos um pouco mais educada, eu poderia dizer quem sou. E pensando bem... – suspirou com irritação. – vou dizer mesmo contra a sua vontade. Fui eu quem tirou você do mar hoje, fui eu quem salvou sua vida!

- Se está querendo que eu te agradeça, está perdendo seu maldito tempo. Garçom... – bateu uma vez no balcão atraindo a atenção de Oscar, quem imediatamente lançou um olhar confuso ao patrão. – me traga uma tequila ou eu beberei em outro bar.

Christopher ficou espantado com tanta altivez. Era tanta fortaleza concentrada em uma só mulher que o espantou. Nem ao menos parecia de perto a mulher frágil a quem salvou essa manhã. Ela tinha mais valor do que pensava. Christopher se deu conta da confusão do jovem e meneou a cabeça, assentindo para dar o que ela pedisse. Afinal de contas, não era nada dela, não tinha nada a ver com ela...se ela queria beber, o problema seria somente dela.

Oscar entregou o copinho com tequila na mão de Dulce, quem assentiu irritada.

Christopher não conseguiu pronunciar mais nenhuma palavra, mas também não conseguia tirar os olhos daquela criatura tão encantadora. Era tão altiva, geniosa, obstinada, teimosa...mas sabia que por dentro era sensível, e por incrível que pareça, carente...de afeto, de atenção. Sentiu uma vontade súbita de abraçá-la, afagá-la em seu peito para que ela chorasse todas as mágoas que guardava dentro de seu coração. Aquele sentimento protetor o assustou. Arregalou os olhos, mirando-a estupefato. O assustou porque nunca sentira nada igual por ninguém. Queria proteger a dona do olhar mais sincero que havia visto na vida.

Havia se equivocado quando pensou que ela era uma mulher comum. Ela nunca seria comum, e não pelo fato de não poder ver, mas sim, por sua personalidade forte e perspicaz. 

Não sabia como explicar. Mas existia uma força oculta que o puxava cada vez mais para ela. Era como um imã de alta tensão, tentava escapar...mas não conseguia. Aqueles olhos, aquele rosto, aquele corpo de mulher o absorviam cada vez mais. Simplesmente não podia deixar de mirá-la. Era como se ela tivesse lhe enfeitiçado ao somente abrir os olhos. Era como se estivesse enfeitiçado ao sentir-se tão grato por tê-la salvo, quando ela nem mesmo o estava.