Fanfic: A Impostora | Tema: Nada específico. Imagine aqui, você, seu personagem preferido!

   Eu soube o exato momento em que ela chegou acompanhada da irmã. Marcela era bonita e esbelta, mas, se comparada à Rafaela, ela seria facilmente descartada. Ela transcendia um brilho próprio. E apesar de 80% do tempo ser uma completa megera mimada, eu sabia que ela possuía um sentimento bom dentro de si, nas mais profundezas trevas da sua alma, mas ele estava ali. De fato, nem ela mesma deveria saber da sua existência, considerando o veneno que sempre exalava, porém eu o via. Na mudança de sentimentos que passavam por seu rosto, eu o via ali, passando também. Quando ela olhava pra ele.

   Alguns senhores falavam sobre a crise da Europa e como isso poderia afetar os seus negócios no exterior. Todavia, nenhum assunto por mais importante que parecesse ou mais tediante que fosse – como era o caso – prenderia minha atenção quando ela estava presente. Ainda mais naquela noite que nunca a vira mais esplêndida. Seu vestido valorizava suas curvas e o decote da frente aumentava seu busto, mas foi outra coisa que mais me agradou nele: a costa.

   Durante anos, a única coisa que eu via de Rafaela Gomes de Campos fora suas costas. Por diversos motivos, principalmente a inimizade entre mim e Eduardo, uma amizade, entre ela e eu era improvável, diria até, impossível. Então, me contentava em admirá-la pelas costas. E com certeza era a parte dela que ele mais gostava, mesmo assim de longe. Ah, céus! Lembro-me muito bem da última vez que tivemos algo parecido com uma conversa. Podia jurar que sairia morto com tanto veneno. Era uma grande decepção que alguém que tinha tudo por fora: dinheiro, beleza, saúde, amor, amigos, fosse tão vazia por dentro. E ficava mais decepcionado ainda em saber que, mesmo assim, me sentia atraído por ela.

   Os senhores continuavam a falar sem parar. Podia ouvi-los, mas suas vozes soavam distantes e indecifráveis.

   Meu olhar se fixou ainda mais nas costas dela até eu avistar meu afeto pessoal. Um sinal singelo, mas não indolatrável que ela possuía na direção de sua última costela e que parecia ter sido feito para aquela região, para aquela pele, para aquela pessoa... Ele não era pequeno, mas também não era tão grande, de forma que me peguei forçando um pouco a vista para vê-lo melhor. Minha ação atraiu o olhar raivoso de Eduardo e no minuto seguinte ele a estava levando para longe, mas não pude deixar de levar meu olhar com ela.

   –Tio! – gritou Vitória ao meu pé, arrancando-me do transe.

   –Nossa Senhora, Vitória! Já lhe pedi para não fazer mais isso. – eu disse me virando pra ela e nos afastando do grupo de senhores para dar mais atenção a ela, e para não atrapalhar eles.

   –Isso, o quê, exatamente? – disse ela levantando uma das sobrancelhas de forma provocativa.

   –Assustar outras pessoas. – disse me curvando um pouco em sua direção.

   –Se o senhor se assustou foi porque quis. Eu estava ao seu lado lhe chamando à, pelo menos, dez minutos e...

   –Dez minutos? – foi a minha vez de levantar a sobrancelha.

   –Talvez cinco...

   –Cinco? – continuei com a sobrancelha levantada de forma mais divertida.

   –Isso não importa. O importante é que fui obrigada a gritar. – disse de maneira bem fática e depois fechou os olhos e fez bico.

   –Ah, tudo bem. O que você quer? – disse sabendo que se ela se aproximara fora por algum interesse.

    –Não é óbvio?

   –Claro, você veio até seu tio querido porque sentiu saudades e quer conversar sobre teorias e planos de como podemos passar mais tempo juntos.

   –Não. Estou com fome. – disse fazendo uma cara dramática de frustração.

   –Que surpresa.

   – Sou uma pobre criança inocente no meio de velhos pelancudos...

   Não pude resistir ao impulso e sorri ao mesmo tempo que olhara para os lados afim de ter certeza que ninguém a escutara.

   –... que só escutam outros velhos pelancudos – continuou ela – ou pessoas que têm alma de velho, como o senhor...

   –Não posso deixar de agradecer por essa colocação – falei irônico.

   –Que por sua vez contrataram um buffet que só escuta pessoas como seus clientes. Resultado: estou sendo ignorada há umas duas horas.

   Não consegui segurar outra risada.

   –Descemos não faz nem uma hora.

   –Pra mim é como se fosse três.

   Revirei os olhos.

   –Tio, isso é muito chato. Até as outras crianças são esnobes demais. Eu entendo e até admito que também sou esnobe as vezes...

   –Claro, às vezes. – não pude deixar de comentar.

   –O fato é que esses garotos já passaram muito o limite disso. Além de serem extremamente chatos.

   –Você já disse isso.

   –Pra você vê o quanto eles são chatos.

   Voltei a sorrir. Minha sobrinha era mesmo uma criança excepcional. Com apenas dez anos ela estava à anos luz de crianças da sua idade. Podia compreender e criticar situações que até eu mesmo achava complicado. Sem dúvida a espiritualidade de minha irmã estava impregnada nela, assim como a inteligência e o atrevimento.

   Desde que minha irmã, também chamada Vitória, morreu, há um ano, coube a mim cuidar de minha sobrinha. E como havia sido difícil no começo. Ainda era. Vitória, minha sobrinha, continuava chorando todas as noites e quando os dias começavam de novo ela colava no rosto um sorriso falso e tentava encarar a vida como se nada tivesse acontecido. De certa forma, admiro-a muito por isso, apesar de ser uma menina ainda, por uma parte do dia conseguia esquecer tudo e por seus sentimentos tristes de molho. Sei que isso não era o suficiente, mas era um ótimo começo.

   –Vamos fazer o seguinte: você aguenta essa tortura, como você mesmo disse, por mais vinte minutos enquanto cumprimento algumas pessoas e logo depois subimos para o quarto e pedimos uma pizza, o que acha?

   –Um bom plano, mas...

   –O quê?

   –Você acha que esses chatos mais velhos vão liberar o senhor depois de apenas vinte minutos sugando o seu tempo? – ela levantou uma sobrancelha.

   –Touché. Que tal sairmos de fininho agora, então?

   –Bem mais inteligente, tio, continue assim e será o próximo presidente.

   –Não acredito que as pessoas são tão tolas para votarem em mim.

   –As pessoas podem votar em qualquer um. Basta serem convencidas. Ou enganadas.

   –Acho que o próximo presidente vai ser você.

°°°

*Continua..*

CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO: 

"Caminhei para longe da multidão à procura de um banheiro. Logo avistei Penelope sentada perto do bar. Nossos olhares logo se cruzaram e estremeci. Ela sorriu discretamente e respondi com um aceno de cabeça. Ela se levantou e veio na minha direção. Droga. " -Eduardo.

NOTA DA AUTORA:

  Sei que muitos devem se perguntar por essa webnovela é escrita com tanta riqueza de detalhes, como ocorre em um livro. Bem, de fato, é escrito como um livro, mas com um enredo de uma novela: drama, traição, drama, romance, drama, mentiras, dramas, mistérios... Um dos motivos que tive para escrever assim é porque acho que desse modo há um envolvimento melhor entre história e leitor. Espero que esteja certa.

   Ah! Gostaria de pedir desculpas por todos os erros que podem ter ocorrido ou que venham a ocorrer nas minhas histórias ^^

   PS: Provavelmente, os capítulos serão postados todos os dias até o 10º capítulo. Depois, será postado com o intervalo de dois dias de um capítulo para o outro, até por causa da escola que eu e meu amigo leitor podem frequentar (até mesmo trabalho). Não quero saturar nenhum de nós dois. Espero que me compreenda, obrigada.

   Beijos de purpurina e até o próximo capítulo.

   Ah, não saia daqui sem dar o seu comentário!