Fanfic: O Último Romântico AyA FINALIZADA | Tema: AyA, Romance e Comédia

Em vez de pegar o caminho de costume, Anahi seguiu pelo roteiro mais panorâmico, vagando pelos bairros residenciais até chegar ao lago Harriet. Por uma reviravolta benevolente do destino, ela conseguiu arranjar uma vaga no estacionamento, trancou o carro e saiu.
O parque em torno do lago estava cheio de gente, barulhento com as quadras esportivas, mas Anahi mal notou. Seguiu até um banco desocupado sob um bordo. O lago banhado de sol levou sua mente de volta a um lugar que não via havia anos, outro lago azul, numa campina na montanha.
Tinha dezesseis anos e se sentia a mais infeliz das criaturas. Era o terceiro verão desde que seu pai a arrancara de Los Angeles e a enterrara com seus tios naquele rancho nos arredores de Muleshoe, três anos desde que a abandonara por um emprego numa companhia de petróleo no Oriente Médio, três anos desde que sua mãe morrera. E ela odiava Montana. Mais do que nunca naquele dia, porque seu pai acabara de informá-la que fora contratado para mais outros três anos no deserto saudita.
Anahi saíra correndo da casa de seu tio e não parará de correr até ver o azul da água. Suas pernas estavam moles quando desabou no capim e chorou até os olhos arderem, desejando que uma enorme serpente aparecesse e a picasse, pois assim ela morreria e então seu tio implicante teria de telefonar para o outro lado do mundo e contar a seu pai, e ele morreria de culpa na Arábia Saudita.
Já tinha esgotado as lágrimas quando Alfonso Herrera surgiu, a cavalo. Por pouco não a atropelou, e olhou feio para Anahi por baixo da aba de um chapéu surrado. Tinha um olho preto, mas isso não diminuía seu magnetismo.
— Que diabo está fazendo aqui? — ele perguntou.
— O diabo que eu quiser! — ela respondeu. Praguejar era uma das formas preferidas de rebeldia para Anahi, porque fazia tia Clarisse ficar roxa. Para Alfonso, era apenas parte de uma imagem. Durante a maior parte da adolescência, ele fora o garoto mais terrível de Muleshoe e arredores. Todos sabiam que sua mãe fugira e que seu pai era um bêbado, que deixara Alfonso crescer sem freios. Mas seus dias de bad-boy tinham terminado dois anos atrás, quando Buck Tanner, o técnico de futebol do colégio, o tomara sob a asa. De ovelha negra, passara a ser o garoto de ouro, só porque podia lançar uma bola mais longe do que qualquer um em Montana. Muitos de seus defeitos tinham sido trabalhados, mas ele ainda xingava por uma questão de princípios.
— Você é petulante, hein? — ele retrucou, desmontando, com um sorriso largo no rosto magro.
— E daí?
— E daí, quem sabe eu a beijaria se seu nariz não estivesse escorrendo.
Contrafeita, Anahi se levantou depressa e virou-se de costas para ele, tentando limpar o nariz discretamente com o dorso da mão. Quando se voltou outra vez para ele, estava na defensiva.
— Se você é "o bom", quem lhe deu esse olho roxo? Alfonso desviou os olhos.
— Meu pai.
Anahi levou uma mão à boca, mortificada. Não podia acreditar que fora tão sem tato.
— Eu teria batido nele de volta — Alfonso resmungou a voz um pouco mais rouca que o normal —, mas não queria machucar minha mão de lançar. Vou para o Colorado no outono. Consegui uma bolsa de estudos para jogar bola.
— Eu sei. Fico contente por você, Alfonso.
— Você sabe?
— Claro que sei. Todo mundo sabe.
Alfonso olhou para ela, os olhos falseando. Estendeu a mão e pegou uma mecha de cabelo entre dois dedos.
— E todo mundo sabe o quanto você é bonita? Anahi se virou para olhar a água.
— Não há nada bonito em mim — declarou, com franqueza, sentindo-se de repente duplamente desengonçada e sem-graça, algo que ninguém queria algo a ser escondido num rancho atrás do fim do mundo. A voz de Alfonso soou macia e enfumaçada.
— Tudo em você é lindo, Pernocas. — Mexeu as sobrancelhas na tentativa de lhe arrancar um sorriso. — Posso ver através das roupas, sabe?