Fanfic: O Último Romântico AyA FINALIZADA | Tema: AyA, Romance e Comédia

Alfonso esboçou um sorriso hesitante. Estava tremendo por dentro. Ensaiara mentalmente aquele momento mil vezes desde Kansas City. Imaginara Anahi parada, implacável. Visualizara a si mesmo dizendo alguma frase mágica que pudesse apagar toda a mágoa que lhe causara no passado. Mas agora, não se lembrava de nenhuma das palavras mágicas. Agora, não conseguia superar o medo de que nada que pudesse dizer ou fazer a convencesse a aceitá-lo de volta. Podia sentir o passado se erguendo entre os dois como uma muralha.

— É bom demais ver você, Pernocas — ele resmungou baixinho, com aquela voz enfumaçada que despertava em toda mulher um desejo desvairado. Para Anahi, conjurava imagens de uísque e fumaça e lençóis amassados.

Anahi fechou a cara.
— Eu diria o mesmo se fosse verdade, mas francamente prefiro abrir a porta e encontrar uma cobra no capacho. Pelo menos sei que é uma cobra mesmo e não alguém que age como uma víbora.
Alfonso pestanejou.
— Desse jeito você me magoa.
Anahi estreitou os olhos com desprezo.
— Você não sabe o significado dessa palavra. Não sabe o que é sentir-se magoado.
— Eu sei, sim, mas não vim aqui para brigar.
Droga pensou Alfonso, era bem provável que merecesse aquela recepção hostil, por ter retalhado Anahi com uma faca enferrujada e dado de comer aos vira-latas; mas ele estava ali para mudar tudo isso, se pudesse. Aquela mulher era o seu destino, a mulher que ele amara e abandonara e que ainda era a dona do seu coração. A mulher que o encarava com toda a ferocidade de uma tigresa zangada.
Fitou-a, e viu a mesma garota de olhos arregalados que conhecera lá em Muleshoe, uma menina travessa que desabrochara numa bela mulher. Os óculos que usava pareciam pertencer a um velho astro de rock. A camiseta azul desbotada pendia sem forma até os quadris. A cueca samba-canção revelava as pernas longas e bem torneadas. Os cabelos caíam desalinhados até a cintura. Ela não usava um pingo de maquiagem. Apesar disso, era simplesmente maravilhosa.
Alfonso inclinou ligeiramente a cabeça e arqueou as sobrancelhas, esperançoso.
— Eu poderia entrar?
— Não.
Anahi recuou e fechou a porta à maior parte de seu passado. Cruzou o pequeno hall de entrada aturdida e voltou para a sala. Acomodou-se no sofá, encolhendo as pernas sob o corpo mais uma vez. Seu coração batia disparado, seus ouvidos zuniam. E ela se sentia quente e fria ao mesmo tempo. O vírus voltara.
Daltonite. O sujeito não era muito diferente de um caso de malária, recorrente quando ela menos esperava, tirando-a do prumo. Que remédios para gripe ou dor de cabeça, qual o quê... Se alguém inventasse uma fórmula para combater os efeitos de A.R. Herrera nas mulheres, isso sim, valeria a pena.
Liz ergueu os olhos da segunda camada de esmalte, levemente curiosa.
— Era um vendedor?
A boca carnuda de Anahi se retorceu entre um sorriso e uma carranca.
— Eu não quis nada.
— O que ele estava vendendo?
— Estrume de cavalo. Liz fez uma careta.
— Que coisa estranha de se vender de porta em porta...
Anahi fingiu concentrar a atenção no artigo que lia antes que a campainha tocasse, mas de alguma forma a constipação intestinal não prendia seu interesse no momento. Como imagem visual, não podia se equiparar a Alfonso Herrera. Droga, ele precisava ser tão lindo? Deveria ser proibido um homem ter aquele charme todo... E ainda por cima usar um jeans apertado daquele jeito!
— Ele era assim tão gato? — Liz perguntou, com malícia.
Um rubor de culpa tingiu o rosto de Anahi quando ela relanceou os olhos para a amiga. Liz a fitava com os olhos escuros estreitados. Liz tinha uma percepção aguçada para detalhes, o que a fazia muito bem-sucedida como gerente de uma das butiques mais chiques de Minneapolis. E também a tornava desconfortavelmente perspicaz como amiga.
— Você ficou do jeito que me senti quando conheci Mel Gibson em Nova York — ela murmurou. — Quente, fria, tonta, fraca.
— Parece mais um resfriado, isso sim.
— Oh, não! — retrucou Liz, adotando seu Ar de Grande Saber. Enfiou o pincel no vidro de esmalte para poder gesticular enquanto falava. — Foram os hormônios. Hormônios enfurecidos! O tipo de hormônios que correm em suas veias como cavalos selvagens. O tipo de hormônios que emanam calor suficiente para derreter as calotas polares. O tipo de hormônios que fazem você querer agarrar um homem pelo...
— Basta! — Anahi exclamou, erguendo as mãos. — Já chega de hormônios! Não tenho hormônios. Meus hormônios estão em remissão.
Liz arqueou uma sobrancelha.
— Ponce Chato vai ficar arrasado ao saber disso.
— Ponce... — Anahi cortou a frase quando o pânico apertou-lhe o pescoço.
Carlos! Ela se esquecera de Carlos! Um olhar para Alfonso Herrera e seu mundo inteiro virará de cabeça para baixo. Ela até mesmo se esquecera de seu relacionamento com o mais disputado cirurgião plástico da cidade. Uma sensação de ruína iminente desceu sobre ela como uma pedra.
Por que Alfonso Herrera tivera de voltar? O que queria dela? Fazia um ano que não tinham nenhum contato, desde que os Vikings negociaram o passe dele com um time de Kansas City. Alfonso saíra de sua vida, pela terceira vez, e ela não ouvira mais falar dele desde então. Agora, aparecia de novo, do nada.
A campainha tocou com um ruído alto e insistente que quase catapultou Anahi até o teto. Liz encarou-a com um silêncio divertido enquanto ela se enchia de coragem para ir atender à porta.
— O bonitão vendedor de estrume de cavalo é insistente, não? — comentou Liz, arqueando as sobrancelhas enquanto Anahi se encaminhava para o hall.