Fanfic: Só pro meu prazer | Tema: Livre

– Amor? – Perguntei, ignorando todo o restante – Desconheço essa palavra.

Analua apenas deu de ombros e continuou com suas tragadas.

– Dá para parar de fumar um pouco? Eu odeio esse cheiro. 
– Se afasta então.
– Nosso grupo não me perdoaria por te deixar sozinha. E ainda mais nesse estado... – Comentei, vendo-a dar de ombros mais uma vez – Então, por obrigação, acho melhor não me afastar.

Sim, fazíamos parte de um mesmo grupo. Ao todo éramos cinco: Eu, Analua, Apolo, Heitor e Agatha. Nos conhecemos no primeiro dia da faculdade naquele mesmo ano, no curso de Cinema, e desde então criamos um forte vínculo e não nos separamos mais. A minha relação com a Analua, desde essa época até hoje, sempre foi a mais conturbada do grupo, isso devido as diversas brigas e desentendimentos bestas que tivemos. Ela era super complicada, difícil de lidar e bem marrenta, e isso de certa forma prejudicava bastante para que conseguíssemos uma relação mais tranquila. Eu também não era lá muito quieto e de ficar calado, então sempre existia um atrito. Hoje, a nossa sorte de mantermos pelo menos um contato são os três outros componentes do grupo que tentam sempre nos apartar nas brigas.

– Não acredito que vou ter que passar a virada de ano te levando em casa. – Comentei depois de um tempo em completo silêncio.

Analua me encarou de relance enquanto dava uma última tragada e jogava seu cigarro no lixeiro mais próximo.

– Sei o caminho de casa.
– E eu sei que você não vai seguir esse caminho – Retruquei.
– Bom, esse já é um problema meu – Completou de forma rude, apressando os passos.
– O que aconteceu? – Indaguei, voltando a lhe alcançar – Algum problema em casa? 
– E você se importa? 
– Você poderia parar de querer complicar um pouco, não? – Me irritei. Ela apenas deu de ombros – Você não deixa ninguém te ajudar, cara.
– Não preciso de ajuda.
– Claro que precisa! – Exclamei furioso enquanto parava de andar. Ela me acompanhou, cruzou os braços e fez sua pose de durona de sempre. Porém, aquela pose perdia toda a força com seu rosto borrado e seus olhos marejados, demostrando toda sua fragilidade – Olha o seu estado, garota. Você está acabada, um verdadeiro caco. 
– Pois é, esse é outro problema meu. 
– Dá para parar com teimosia e falar sério, como uma adulta? – Perguntei, apertando firme o caderno que ainda estava em uma das minhas mãos. 
– Adultos não ficam perdendo tempo falando disso. Aliás, eles perdem tempo escondendo as coisas, escondem tudo... – Comentou com a voz embargada, dando passagem para curtos soluços – Tudo. 

As lágrimas que antes estavam em seus olhos finalmente caíram, mas não ficaram muito tempo em seu rosto pois seus dedos rudes fizeram questão de limpar. Claro, ela não ia ceder, queria manter a pose de durona... Essa que nem existia.