Fanfic: L, um amor quase indesejado | Tema: Death Note
Quando eu acordei, estava claro e começando a chover.
A memória do que acontecera veio logo que senti a dor. Era lancinante, parecia atravessar a carne e chegar aos ossos. Não tinha coragem de olhar minhas pernas, me encolhi em posição fetal e comecei a chorar copiosamente, querendo que naquele momento o mundo acabasse e eu simplesmente desaparecesse. Quando a chuva já estava incomodando muito, me arrastei para debaixo de uma marquise. A minha bolsa ainda estava lá. Tremendo, puxei-a para mim, peguei meu celular e liguei para o Katsuo.
– Não posso falar agora. – Ouvi sua voz indiferente.
– Katsuo, socorro. – Sussurrei quase engasgada.
– Depois eu te ligo. – E desligou.
Tentei de novo, após mais um acesso de choro.
– O que é? – A voz dele estava ríspida, ele estava impaciente e irritado.
– Socorro. Por favor. Vem me buscar. – Chorei.
– Eu estou ocupado, você esqueceu? Essa reunião é a coisa mais importante da minha vida, você entende isso?
Um choque passou pelo meu peito ao ouvir suas palavras. Não, eu não ia deixar aquilo me abalar. Ele estava nervoso, era só isso. Ia ter que explicar logo.
– Katsuo... Eu fui – A palavra parecia uma lâmina em minha língua. – Eu fui estuprada. Por favor, vem me buscar.
Silêncio.
– Katsu-kun? – Achei que ele tivesse desligado.
– Já aconteceu, espera aí mais um pouco.
Quando ouvi o bipe de chamada encerrada, o celular caiu da minha mão. Eu simplesmente não conseguia acreditar nas palavras dele. Minhas mãos tremiam e eu chorei convulsivamente. Reuni coragem para olhar minhas pernas. Estavam roxas, minha calcinha não estava mais em mim, só a saia, rasgada.
Pensei em ligar para uma amiga, ela tinha moto e com certeza iria até mim se eu chamasse. Não, eu não estava em condições de subir numa moto. Quando já estava considerando a possibilidade de telefonar à polícia, ouvi um motor de carro. Minha mente estava funcionando com um décimo da velocidade que normalmente agia. Então, um carro preto parou à minha frente. Um homem de cabelos brancos e um terno preto desceu e eu gritei:
– Não! Por favor, não. – Voltei a chorar abraçando minhas pernas.
– Espere, Quillish. – Uma voz jovem falou. O senhor que descera do carro usava um chapéu, ele olhou para mim com piedade e recuou. Ouvi uma porta batendo e pouco tempo depois um jovem de cabelos pretos havia contornado o carro e parado à minha frente, com as costas curvadas.
– Eu não vou te machucar. – Disse ele enquanto olhava para mim como se esperasse uma reação minha. Eu só tremia, não sabia o que pensar, não conseguia nem me dar conta de que ele realmente esperava alguma reação de minha parte.
Eu nunca imaginara que Shiro fosse capaz daquilo, mas ele fora. Ele me tratava como uma irmã, ele idolatrava o Katsuo. Se ele fora capaz de me violentar de tal forma, o que impediria aqueles dois homens desconhecidos de fazer o mesmo?
O rapaz se abaixou na minha frente, a um metro de distância. Virei a cabeça rapidamente para olhá-lo, com os olhos arregalados de medo. O senhor Quillish havia aberto um guarda-chuva sobre os dois.
– Não precisa ter medo de mim. Eu não vou te machucar. – Repetiu o rapaz de cabelos pretos. – Eu só quero te ajudar, está bem?
– O que vai fazer? – Perguntei com a voz fraca.
– Primeiro vou te tirar desse chão, depois posso te levar pra sua casa. Ou para um hospital. Você parece machucada.
– Minha casa não... – Disse, gemendo. Mamãe estava no trabalho e eu não teria como entrar sem a chave, além disso, ela nunca poderia me ver naquela situação. Eu preferia morrer ao deixar minha mãe me ver assim.
– Hospital?
Ergui os olhos para os seus, desesperada com a mera possibilidade de entrar num hospital naquele momento. Percebendo meu pânico, ele continuou:
– Posso te levar para o hotel onde estou hospedado, então. Depois de tomar um banho e descansar você pode pensar melhor no que quer fazer.
Senti um novo tremor, mas, dessa vez, controlei minha reação. Se até aquele homem tentasse me machucar, eu simplesmente morderia a língua e esperaria pela morte. Esperava que mamãe me perdoasse. Assenti levemente com a cabeça e ele me pegou nos braços como se eu não pesasse mais de 5 kg, andou até o carro e me colocou sentada no banco de trás, depois contornou o carro para sentar, ou melhor, agachar ao meu lado. O Sr. Quillish ligou o carro e eu tremi, dessa vez de frio. O rapaz colocou um casaco em cima de mim e me puxou para me abraçar, cauteloso.
– Como se chama?
– Isane. – Disse sentindo minha cabeça pesar.
– Não se preocupe, Isane. Eu vou te ajudar. Me chame de Ryuuzaki.
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– O que aconteceu, Isane? – Ele perguntou após um tempo calado. Eu ainda tremia um pouco, mas agora não era mais de frio.
Demorei um tempo para conseguir falar, meu corpo era frequentemente atacado por uma ânsia de vômito sempre que eu tentava.
– Eu... Eu fui... Estuprada. – Disse, quase chorando novamente. Me segurando porque sentia que ia desmaiar se o fizesse. Vi suas mãos tremerem um pouco e ele fechando-as em punho.
– Eu... Imaginei isso. – Ele respirou profundamente. – Ele havia ido embora há muito tempo quando chegamos?
– Foram quatro... Homens. À noite. Eu desmaiei. Acordei um pouco antes de você chegar.
Dessa vez ele estava literalmente tremendo, colocou uma das mãos, a que não estava em meu ombro, sob a dobra de seu joelho para conter os tremores. Depois não falou mais nada.
O carro parou em frente a um hotel e ele me tirou gentilmente de seus braços, saiu do carro e me pegou pelo outro lado. Carregou-me passando pela recepção onde olhares assustados nos encaravam. Entramos no elevador com Quillish, que apertou o botão do último andar.
Quando entramos no quarto, Ryuuzaki me colocou deitada no sofá.
– Vou preparar seu banho. – Ele ainda falava com um tom contido, como se estivesse se controlando. Quillish se aproximou.
– Não se preocupe, senhora. Ryuuzaki é o mel... Ele é um ótimo detetive. Ele vai descobrir quem fez isso e eles serão punidos.
O que ele ia dizer? Que aquele rapaz era algo como O melhor detetive?
Antes que eu pudesse prosseguir com meus pensamentos, Ryuuzaki voltou e me carregou novamente até o banheiro, onde uma banheira cheia de água quente estava me esperando. Nesse momento ele ficou meio confuso.
– O que devo fazer? Acha que consegue ficar em pé? Devo... Chamar uma camareira para te ajudar a se despir?
Eu não estava em capacidade de criar um raciocínio lógico naquele momento. Estava trêmula e sentia minha respiração pesada e uma tontura e dor de cabeça absurdas que imaginava ter a ver com o momento em que minha cabeça batera no chão.
Por um momento, eu não sabia sequer o que ele queria dizer com chamar uma camareira, depois os pensamentos se embaralhavam em minha mente. O que havia restado de dignidade em mim naquele momento? Mas eu queria que mais alguém me visse? Já era desconfortável ter sido vista nessa situação por duas pessoas, sobretudo... Homens – Eu tentava não pensar nisso, afinal, foram os únicos que estiveram ali para me socorrer. Mesmo assim, não sabia o que pensar. –. Eu não queria outro par de olhos vendo meu estado. A única ideia que me parecia menos angustiante era que, naquele momento, depois do horror que eu passara, ser vista por aquele homem, que estava me ajudando, era o menor dos males.
Engoli em seco e pedi:
– Me ponha sentada no vaso um instante.
Ele o fez, apesar de sua expressão ter sido de desespero por um momento. Lentamente, tirei a blusa e ele virou o rosto para o outro lado, claramente angustiado em estar ali enquanto eu me despia. Tirei o sutiã e os sapatos, não ia conseguir tirar a saia sentada, não com as pernas fracas como estavam.
– Me ajude, me ponha de pé. Por favor. – Pedi sentindo que estava entorpecida.
Ele parecia desesperado com a perspectiva de me pôr de pé agora, sem parte da roupa, mas obedeceu, me carregando e segurando pela cintura. Soltei a saia que caiu aos meus pés, ele me carregou e colocou deitada na banheira, a água quente inicialmente aguçou, mas logo em seguida atenuou a dor. Observei seu rosto, ele estava completamente roxo de vergonha. Senti minha expressão, estava triste, mas dei um risinho ao vê-lo envergonhado, um riso que logo se converteu em choro. Eu sentia como se estivesse embriagada de álcool, entorpecida, tonta e enjoada.
Ele sentou ao lado da banheira, mantendo uma certa distância, com os olhos marejados e as mãos tremendo, o dedo indicador esticado, acariciando minha mão na beira da banheira, cantarolando uma música de ninar.
– Não sei expressar o quão sinto pelo que aconteceu a você. – Sua voz era fria e ainda tremulava.
– Eu... Obrigada. – Eu mal conseguia manter meus olhos abertos, tamanha era a vontade de desmaiar novamente e sumir.
– Peço desculpas por ainda deixar que existam pessoas assim soltas no mundo. – Não entendi direito, mas deixei para perguntar depois. – Eu me sinto extremamente enojado por saber que homens fazem coisas assim... Alguém que comete um ato desses... – Uma lágrima tentou escapar dos olhos dele, mas ele a secou tão rápido que poderia ter sido minha imaginação, o que não era difícil, diante do meu estado.
– Obrigada por me ajudar... Se não fosse você eu... Talvez ainda estivesse jogada na sarjeta. – Suspirei sentindo o choro vir novamente, mas controlando-o. – Meu namorado estava mais preocupado com a reunião de trabalho dele.
– O quê? – Perguntou ele incrédulo.
Ergui levemente a sobrancelha, numa tentativa de expressar concordância com sua incredulidade. Olhei para as minhas pernas com várias manchas roxas. Sentia minha genital inchada, ferida. Doía, mas não doía mais do que minha dignidade. Do que a sensação de total falta de autonomia, de poder sobre mim mesma. O terrível sentimento de que, durante todo aquele tempo, aqueles homens se acharam no direito de me destruir da forma mais horrenda possível, como se eu fosse um mero objeto, um brinquedo. Ou nada.
Voltei a chorar e ele coçou a nuca, indeciso.
– Você está segura agora, está bem? Eles vão ser punidos, nunca mais vou deixar ninguém te machucar. Respire fundo. Você está muito fraca.
Assenti, com os olhos fechados, enquanto abraçava meu corpo, tentando controlar os tremores quase convulsivos do choro. Tentei me concentrar no presente. "Eu estou em uma banheira quente. Aquilo acabou. Eu não estou mais naquela calçada suja. Eles já foram embora. Eu estou segura agora. Eu vou ficar bem. A banheira. Concentre-se na água quente. Respire fundo. De novo..."
Os soluços foram dando espaço a uma respiração lenta e pesada e junto com ela um torpor que enevoava meus sentidos. Encostei a cabeça na parede ao lado da banheira.
– Eu vou te deixar sozinha, está bem? – A voz de Ryuuzaki soava baixa e distante aos meus ouvidos. – Consegue não desmaiar?
Assenti fracamente.
– Não estou muito confiante... E se você se afogar? – Ouvi sua voz preocupada e abri os olhos.
– Não... Não vou desmaiar. Ao menos não a ponto de me afogar. Eu quero ficar sozinha um minuto. – Minha fala soava baixa e lenta, mas consegui dar a ela o tom de consciência que precisava.
– Claro. Vou pedir algo para você comer. – Ele me deu um potinho de sabonete líquido e se levantou. – Estarei do lado da porta, grite se precisar de mim. E... Não desmaie.
Ryuuzaki saiu do banheiro. Observei suas costas curvadas até que elas sumiram ao passar pela porta, que ele encostou com cuidado. A sensação de torpor abandonava meu corpo lentamente e a dor vinha tomar seu lugar, junto com a consciência de que eu tinha que agir. Eu tentava me lavar, mas não havia sabonete, fricção nem água que tirasse a sensação de sujeira presente por todo o meu corpo.
Mergulhei na banheira para molhar o cabelo, encontrei um potinho de shampoo do lado da banheira e usei quase todo nos fios. Abri o ralo da banheira e liguei a torneira para que a água fosse trocada. Continuava esfregando o sabonete em meu corpo, sobretudo nas pernas, sem, porém, poder fazer o mesmo na genital devido à dor que sentia. Repeti o processo de troca de água mais uma vez, lavando novamente todo o meu corpo. Depois de mais ou menos uma hora, me sentia um pouco mais limpa. Esvaziei a banheira e tentei ficar em pé, mas percebi que não daria certo a tempo de evitar um acidente.
– Ry... Ryuuzaki? – Chamei baixinho, me abraçando. Eu duvidava que ele realmente fosse estar lá, tão próximo da porta a ponto de poder me ouvir, depois de tanto tempo, mas ele surgiu em 2 segundos.
– Já terminou? – Perguntou com a voz baixa, colocando somente a cabeça para dentro do banheiro. Acenei positivamente. Ele entrou e pegou a toalha pendurada numa barra de metal próxima ao box enquanto eu me sentava na banheira. Ryuuzaki me entregou a toalha, com a qual enxuguei boa parte do corpo, depois enrolou a toalha em meu corpo e me carregou, agora que eu estava mais calma, observei que ele tinha os braços razoavelmente definidos, o que não parecia à distância, através da camisa branca de manga longa. Ele me pôs sentada no vaso, pegou outra toalha para enxugar meus cabelos e minhas costas enquanto eu terminava de enxugar o resto do meu corpo.
– Quillish comprou roupas novas para você. – Disse após um tempo com a voz mais calma.
– Obrigada. – Disse sentindo-me extremamente grata. "Deus o abençoe, eu realmente não queria vestir aquelas sujas."
– Espero que sirvam. Mandei lavarem e centrifugarem para que secassem rápido.
Ele realmente pensara em tudo.
– Eu... Agradeço. – Senti novas lágrimas ameaçando escorrer pelo canto do olho.
– Não me agradeça, por favor. Eu odiaria quem visse você naquela situação e não fizesse o mesmo, podendo fazer. – Sua voz era suave, mas demonstrava muita sinceridade.
Quando fiquei completamente seca, ele me enrolou novamente na toalha e me levou com cuidado pra fora do banheiro. Em cima do sofá, um pijama branco de algodão macio me aguardava, limpo e passado a ferro. Vesti a roupa um pouco desajeitada, ainda com ele me segurando. Ryuuzaki me carregou novamente e me levou para outro cômodo, um quarto onde me sentou na cama.
– Seu café da manhã. – Anunciou ele me apresentando uma bandeja de frutas, torradas e geleia com um copo de água e outro de suco de laranja. Percebi que estava morrendo de fome e comi tudo rapidamente. Ele ergueu a mão com um comprimido branco pousado na palma, olhei confusa para a pequena pílula, sem entender do que se tratava.
– O que é? – Perguntei lentamente.
Ele parecia ter um gosto amargo na língua quando respondeu:
– Pílula anticoncepcional de emergência.
Peguei a pílula e engoli com suco, quase desmaiando de pensar na possibilidade de engravidar de um daqueles monstros.
– Agora descanse. – Ele disse suavemente. – Mais tarde veremos o que fazer. Tenho que te levar a um hospital para tomar algumas medicações, fazer exames e tudo o mais... Mas fique calma, – acrescentou após ver minha expressão de desespero. – Eu vou estar com você o tempo todo.
Eu assenti, agradecida. Deitei e ele me cobriu com um grosso edredom. Durante os poucos minutos que levei para adormecer, tudo o que vi foi Ryuuzaki acocorado numa poltrona aos pés da cama, olhando-me com a expressão amargurada e as unhas ferindo a pele dos pés.
– Não se machuque – Tentei dizer, mas o sono me engolfara e os pesadelos começaram a me torturar.
*A partir daqui, o conteúdo está apenas no Spirit ou Wattpad. O motivo é que eu não quero ter que administrar tantas plataformas e meu alcance é bem maior lá (fora que estive publicando no SS desde sempre). O nome é o mesmo no SS, no WTP é "Um amor quase indesejado"
Autor(a): lewmaggie
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 4
Para comentar, você deve estar logado no site.
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spps Postado em 20/04/2022 - 11:04:36
Não consigo encontrar a história no Spirit, foi deletada?😢
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ayase Postado em 13/10/2015 - 20:41:47
Muito legal sua fanfic!!!!! Quero mais :(
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lewmaggie Postado em 16/07/2015 - 23:38:46
Que bom que está gostando, 2º capítulo já no ar!
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Akuma-sama Postado em 16/07/2015 - 11:22:15
Finalmente uma fanfic sobre animes... E não só "uma fanfic", uma boa fanfic! Bem escrita e bem elaborada! Parabéns. Espero que tenha outros capítulos...