Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso
* * *
Finalmente, pouco depois das quatro, Poncho acordou. Eu estava no corredor, esticada nas cadeiras, lendo um jornal que alguém jogara fora, e dei um pulo quando a Sra. Herrera veio falar comigo. Parecia um pouco mais animada ao dizer que ele estava conversando e queria me ver. Disse também que ia descer e ligar para o Sr. Herrera.
Depois, como se não conseguisse evitar, ela acrescentou:
- Por favor, não o canse.
- Claro que não — garanti. Dei um sorriso simpático.
- Olá — eu disse, enfiando a cabeça pela porta entreaberta. Ele virou a cabeça devagar na minha direção.
- Olá.
Sua voz estava rouca, como se tivesse passado as últimas trinta e seis horas gritando e não dormindo. Sentei-me e observei-o. Ele olhou para baixo.
- Quer que eu tire a máscara de oxigênio um minuto?
Ele concordou com a cabeça. Tirei-a com cuidado, puxando-a para o alto da cabeça. A parte que cobria a pele deixou uma camada fina de suor. Peguei um lenço de papel e passei gentilmente no rosto dele.
- Como está se sentindo?
- Já estive melhor.
Um grande nó se formou na minha garganta e tentei engoli-lo.
- Sei... Você faz tudo para chamar a atenção, Poncho Herrera. Aposto que isso foi apenas...
Ele fechou os olhos, fazendo com que eu interrompesse a frase. Quando os abriu de novo, traziam um toque de desculpas.
- Perdão, Portilla. Acho que hoje não consigo fazer graça.
Ficamos ali sentados. Comecei a matraquear no pequeno quarto verde-claro, contei que tirei minhas coisas do apartamento de Manuel e que foi bem fácil pegar os meus CDs no meio da sua coleção graças à insistência dele para eu arrumá-los em ordem.
- Você está bem? — perguntou Poncho, quando acabei de falar. Tinha o olhar solidário, como se imaginasse que a minha situação fosse mais difícil do que era.
- Sim, claro. — Dei de ombros. — Não é tão ruim assim. De todo jeito, tenho outras coisas com que me preocupar.
Poncho ficou calado. Por fim, disse:
- A questão é a seguinte: acho que não vou fazer bungee jump tão cedo.
Eu sabia. Meio que esperava por isso desde que recebi a mensagem de Christian. Mas ouvir as palavras saírem da sua boca foi como um soco.
- Não se preocupe — falei, tentando manter a voz firme. — Está tudo bem.
Vamos numa outra ocasião.
- Desculpe. Eu sei que você queria muito ir.
Coloquei a mão na testa dele e alisei o cabelo para trás.
- Psiu. Não tem importância. Só quero que melhore logo.
Ele fechou os olhos com um leve piscar. Eu sabia o que significavam aquelas rugas ao redor dos olhos, aquela expressão resignada. Significavam que não haveria outra ocasião. Significavam que ele achava que nunca mais ficaria bom.
* * *
Na volta do hospital, parei na Granta House. O pai de Poncho abriu a porta para mim, e parecia quase tão cansado quanto a Sra. Herrera. Segurava um casaco impermeável surrado, como se estivesse prestes a sair. Avisei que a Sra. Herrera ficaria mais uma vez com Poncho; que os antibióticos pareciam estar fazendo efeito e que ela pediu para avisar que passaria mais uma noite no hospital. Não sei por que ela mesma não podia avisá-lo. Talvez estivesse com a cabeça cheia, só isso.
- Como ele está?
- Um pouco melhor que de manhã — respondi. — Chegou a ingerir líquidos enquanto eu estava lá. Ah, e reclamou de uma das enfermeiras.
- Continua uma pessoa difícil.
- É, continua.
Por um instante, vi o Sr. Herrera apertar os lábios e seus olhos brilharem. Olhou pela janela, depois para mim. Não sei se ele preferia que eu não tivesse percebido.
- Esta foi a terceira crise. Em dois anos. Levei um tempo para entender.
- De pneumonia?
Ele concordou com a cabeça.
- Coitado. Ele tem muita coragem, você sabe. Por trás de toda aquela arrogância. — Engoliu em seco e balançou a cabeça, como se falasse consigo mesmo. — Ainda bem que você sabe, Anahi.
Eu não sabia o que fazer. Estiquei a mão e toquei o braço dele.
- Sei, sim.
Ele acenou levemente com a cabeça para mim. Pegou o chapéu panamá no cabideiro do corredor. Resmungou algo que podia ser um obrigado ou um até logo, passou por mim e saiu pela porta da frente.
O anexo ficou estranhamente silencioso sem a presença de Poncho. Percebi que eu tinha me acostumado com o zunido da sua cadeira motorizada, indo para a frente e para trás, as conversas sussurradas com Christian no quarto ao lado, o som suave do rádio. Agora que o anexo estava calmo, o ar parecia ter sumido à minha volta.
Arrumei uma mala com todas as coisas que ele poderia precisar no dia seguinte, inclusive roupas limpas, escova de dentes, escova de cabelo e remédios, além de fones de ouvido, caso estivesse disposto a ouvir música. Ao fazer isso, precisei lutar contra uma conhecida e crescente sensação de pânico. Uma vozinha subversiva ficou gritando dentro de mim: Seria exatamente igual, se ele tivesse morrido. Para afastar esse pensamento, liguei o rádio, tentando trazer o anexo de volta à vida. Fiz uma faxina, substituí as roupas da cama de Poncho por novas e colhi flores no jardim e as coloquei na sala. Então, quando ficou tudo pronto, encontrei o folheto de férias na mesa.
Eu passaria o dia seguinte inteiro com aquela papelada, cancelando toda a viagem, todos os passeios marcados. Não dava para saber quando Poncho teria condições de ir. O médico recomendou repouso, terminar a bateria de antibióticos, manter o corpo aquecido e seco. Canoagem em águas claras e mergulho de cilindro não faziam parte da recuperação dele.
Olhei bem para os folhetos, lembrando de todo o esforço, trabalho e imaginação que me custaram. Olhei para o passaporte que consegui após encarar uma fila, lembrei da minha crescente animação até quando peguei o trem para a cidade e, pela primeira vez desde que havia começado a planejar, me senti desapontada. Faltavam apenas três semanas e eu tinha fracassado. Meu contrato ia terminar e eu não tinha feito nada que mudasse a cabeça de Poncho. Tinha medo até de perguntar à Sra. Herrera para onde íamos agora. De repente, fiquei deprimida. Apoiei a cabeça nas mãos e fiquei assim naquela pequena casa silenciosa.
- Boa noite.
Levantei a cabeça, assustada. Christian estava ali, enchendo a pequena cozinha com seu corpanzil. Carregava a mochila nos ombros.
- Só passei aqui para deixar algumas receitas médicas para quando ele voltar. Você... está bem?
Esfreguei os olhos.
- Claro. Desculpe. Só... meio desanimada de cancelar tudo isso.
Christian deixou a mochila escorregar pelo ombro e sentou-se à minha frente.
- É uma pena, sem dúvida. — Pegou o folheto e deu uma olhada. — Quer ajuda amanhã? Eles não precisam de mim no hospital, então poderia passar uma hora aqui de manhã. Para ajudar nos telefonemas.
- É muita gentileza sua. Mas não precisa, talvez seja mais fácil eu fazer tudo.
Christian fez chá e sentamos um em frente ao outro para beber. Acho que foi a primeira vez que realmente conversamos, pelo menos sem Poncho entre nós. Ele contou de um ex-paciente paraplégico que usava um aparelho para controlar a respiração e que ficou doente pelo menos uma vez por mês enquanto ele trabalhava lá. Contou sobre as outras pneumonias de Poncho, e que ele quase morreu na primeira, levando semanas para se recuperar.
- Ele fica com aquele olhar... — disse Christian. — Quando está mal mesmo.
É assustador. Como se ele... se retirasse. Como se não estivesse ali.
- Sei como é. Detesto aquele olhar.
- Ele é um... — começou Christian. E, abruptamente, desviou o olhar de mim e calou-se.
Ficamos segurando nossas xícaras de chá. Observei Christian pelo canto do olho, o rosto simpático que de repente pareceu se fechar. Percebi então que eu ia fazer uma pergunta cuja resposta já sabia.
- Você sabe, não é?
- Sei o quê?
- O que... ele pretende fazer.
O silêncio na cozinha foi súbito e intenso.
Christian me olhou atento, como se pesasse a resposta.
- Eu sei. Não devia, mas sei — continuei. — Por isso... pensei em fazer a viagem. Por isso as saídas de casa. Eu estava tentando fazer com que ele mudasse de ideia.
Christian colocou a xícara na mesa.
- Eu imaginei — disse ele. — Você parecia... estar cumprindo uma missão.
- Eu estava. Estou.
Ele balançou a cabeça, não sei se para indicar que eu não devia desistir, ou para dizer que não havia nada a ser feito.
- O que vamos fazer, Christian?
Ele levou uns dois minutos para responder.
- Sabe de uma coisa, Any? Gosto muito do Poncho. Não me importo de dizer, gosto do cara. Trabalho com ele há dois anos. Vi-o nos piores e nos melhores momentos, e tudo o que posso dizer é que não gostaria de estar no lugar dele nem por todo o dinheiro do mundo.
Deu um gole no chá.
- Algumas vezes, ele acordava à noite gritando porque sonhava que andava, esquiava e fazia coisas; nessas horas, quando está com as defesas baixas e tudo fica insuportável, ele não consegue pensar que nunca mais vai fazer nada. Não consegue. Eu ficava com ele e não havia o que dizer para melhorar a situação. Ele recebeu as piores cartas do jogo. E sabe de uma coisa? Olhei-o na noite passada, pensei na vida dele e no que vai ser... e, apesar de desejar toda a felicidade do mundo para ele... não o condeno pelo que quer fazer. É escolha dele. Tem que ser.
Minha respiração ficou presa na garganta.
- Mas... isso foi antes. Todos vocês dizem que foi antes de eu vir. Ele mudou.
Não mudou?
- Certamente, mas...
- Se não acreditarmos que ele vai se sentir melhor, que vai melhorar, como ele vai acreditar?
Christian colocou a xícara na mesa. Olhou bem para mim.
- Any. Ele não vai melhorar.
- Você não sabe.
- Eu sei. A menos que haja um grande avanço na pesquisa de células-tronco, Poncho vai ficar mais dez anos naquela cadeira. No mínimo. Ele sabe, mesmo que os pais dele não admitam. E essa é a metade do problema. A mãe quer que ele viva de qualquer maneira. O Sr. H. acha que, à certa altura, temos de deixar Poncho resolver.
- Claro que ele decide, Christian. Mas ele precisa avaliar.
- Poncho é inteligente. Sabe exatamente as chances que tem. Minha voz pairou na pequena cozinha.
- Não, você está errado. Você diz que ele está igual a antes de eu chegar aqui. Que não mudou nada.
- Não vejo dentro da cabeça dele, Any.
- Você sabe que mudei a maneira de ele pensar.
- Não, eu sei que ele faz tudo para agradar você. Olhei bem para ele.
- Você acha? — Fiquei furiosa com Christian, furiosa com todos eles. — Se acha que nada disso adianta, por que ia conosco na viagem? Por que quis ir? Só para ter umas boas férias?
- Não. Quero que ele viva.
- Mas...
- Mas que viva se ele quiser. Se não quiser, então, por mais que você e eu gostemos dele, viramos só mais um bando de chatos que não respeitam sua vontade.
As palavras de Christian reverberaram no silêncio. Sequei uma lágrima solitária no rosto e tentei fazer com que meu coração voltasse ao ritmo normal. Christian pareceu constrangido com meu choro, coçou o pescoço e, sem dizer nada, um minuto depois me passou uma folha de papel-toalha.
- Tenho que impedir, Christian. Ele não disse nada.
- Tenho — repeti.
Olhei o meu passaporte na mesa da cozinha. Era horrível. Parecia uma outra pessoa. Alguém cuja vida, cuja maneira de viver não era a minha. Olhei o passaporte, pensando.
- Christian?
- Sim?
- Se eu organizar uma viagem que os médicos aprovem, você viria? Você continuaria a me ajudar?
- Claro que sim. — Ele levantou-se, lavou a xícara e colocou a mochila no ombro. Virou-se para mim antes de sair da cozinha. — Mas vou ser sincero, Any. Não sei se você consegue.
Autor(a): day
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Exatos dez dias depois, o carro do Sr. Herrera nos deixou no aeroporto de Gatwick, Christian arrastava nossa bagagem num carrinho enquanto eu checava novamente se Poncho estava confortável — até que ele ficou irritado. - Cuidem-se. E façam boa viagem — recomendou o Sr. Herrera, colocando a mão no ombro de Poncho. — Não fa ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 121
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milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40
Não entendi o final :(
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franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42
Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36
;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54
;( quando vc vai postar mais??????
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franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36
VC NAO MUDOU O FINAL????????
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Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55
CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17
Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31
Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva
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Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58
AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????
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franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49
Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(