Fanfics Brasil - 102 Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny

Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso


Capítulo: 102

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* * *


 


Finalmente, pouco depois das quatro, Poncho acordou.  Eu  estava  no corredor, esticada nas cadeiras, lendo um jornal que alguém jogara fora, e dei um pulo quando a Sra. Herrera veio falar comigo. Parecia um pouco mais animada ao dizer que ele estava conversando e queria me ver. Disse também que ia descer e ligar para o Sr. Herrera.


Depois, como se não conseguisse evitar, ela   acrescentou:


- Por favor, não o canse.


- Claro que não — garanti. Dei um sorriso simpático.


- Olá — eu disse, enfiando a cabeça pela porta entreaberta. Ele virou a cabeça devagar na minha direção.


- Olá.


Sua  voz  estava  rouca, como se tivesse  passado as últimas  trinta  e  seis  horas gritando e não dormindo. Sentei-me e observei-o. Ele olhou para baixo.


- Quer que eu tire a máscara de oxigênio um minuto?


Ele concordou com a cabeça. Tirei-a com cuidado, puxando-a para o alto da cabeça. A parte que cobria a pele deixou uma camada fina de suor. Peguei um lenço de papel e passei gentilmente no rosto dele.


- Como está se sentindo?


- Já estive melhor.


Um grande nó se formou na  minha  garganta e tentei  engoli-lo.


- Sei... Você faz tudo para  chamar a  atenção, Poncho Herrera. Aposto que  isso foi apenas...


Ele fechou os olhos, fazendo com que eu interrompesse  a  frase.  Quando os abriu de novo, traziam um  toque  de  desculpas.


- Perdão, Portilla. Acho que hoje não consigo fazer graça.


Ficamos ali sentados. Comecei a matraquear no pequeno quarto verde-claro, contei que tirei minhas coisas do apartamento de Manuel e que  foi bem fácil pegar os meus CDs no meio da sua coleção graças à insistência dele para eu arrumá-los em ordem.


- Você está bem? — perguntou Poncho, quando acabei de falar. Tinha o olhar solidário, como se imaginasse que a minha situação fosse mais difícil do que era.


- Sim, claro. — Dei de ombros. — Não é tão ruim assim. De todo jeito, tenho outras coisas com que me preocupar.


Poncho ficou calado. Por fim, disse:


- A questão é a seguinte: acho que não vou fazer bungee jump tão cedo.


Eu sabia. Meio que esperava por isso desde que recebi a mensagem de Christian. Mas ouvir as palavras saírem da sua boca foi como um soco.


- Não se preocupe — falei, tentando manter a voz firme. — Está tudo bem.


Vamos numa outra  ocasião.


- Desculpe. Eu sei que você queria muito ir.


Coloquei a mão na testa dele e alisei o cabelo para trás.


- Psiu. Não tem importância. Só quero que melhore logo.


Ele fechou os olhos com um leve piscar. Eu sabia o que significavam aquelas rugas ao redor dos olhos, aquela expressão resignada. Significavam que não haveria outra ocasião. Significavam que ele achava que nunca  mais ficaria   bom.


 


* * *


 


Na volta do hospital, parei na Granta House. O pai de Poncho abriu a porta para mim, e parecia quase tão cansado quanto a Sra. Herrera. Segurava um casaco impermeável surrado, como se estivesse prestes a sair. Avisei que a Sra. Herrera ficaria mais uma vez com Poncho; que os antibióticos pareciam estar fazendo efeito e que  ela  pediu para  avisar que  passaria mais uma  noite  no hospital. Não sei por que ela mesma não podia avisá-lo. Talvez estivesse com a cabeça cheia, só  isso.


- Como ele está?


- Um pouco melhor que de manhã — respondi. — Chegou a ingerir líquidos enquanto eu estava lá. Ah, e reclamou de uma das enfermeiras.


- Continua uma pessoa difícil.


- É, continua.


Por um instante, vi o Sr. Herrera apertar os lábios e seus olhos brilharem. Olhou pela janela, depois para mim. Não sei se ele preferia que eu não tivesse percebido.


- Esta foi a terceira crise. Em dois anos. Levei um tempo para entender.


- De pneumonia?


Ele concordou com a cabeça.


- Coitado. Ele tem muita coragem, você sabe. Por trás de toda aquela arrogância. — Engoliu em seco e balançou a cabeça, como se falasse consigo mesmo. — Ainda bem que você sabe, Anahi.


Eu não sabia o que fazer. Estiquei a mão e toquei o braço dele.


- Sei, sim.


Ele acenou levemente com a cabeça para mim. Pegou o chapéu panamá no cabideiro do corredor. Resmungou algo que podia ser um obrigado ou um até logo, passou por mim e saiu pela porta da frente.


O anexo ficou estranhamente silencioso sem a presença de Poncho. Percebi que eu tinha me acostumado com o zunido da sua cadeira motorizada, indo para a frente e para trás, as conversas sussurradas com Christian no quarto ao lado, o som suave do rádio. Agora que o anexo estava calmo, o ar parecia ter sumido à minha volta.


Arrumei uma mala com todas as coisas que ele poderia precisar no dia seguinte, inclusive roupas limpas, escova de dentes, escova de cabelo e remédios, além de fones de ouvido, caso estivesse disposto a ouvir música. Ao fazer isso, precisei lutar contra uma conhecida e crescente sensação de pânico. Uma vozinha subversiva ficou gritando dentro de mim: Seria exatamente igual, se ele tivesse morrido. Para afastar esse pensamento, liguei o rádio, tentando trazer o anexo de volta à vida. Fiz uma faxina, substituí as roupas da cama de Poncho por novas e colhi flores no jardim e as coloquei na sala. Então, quando ficou tudo pronto, encontrei o folheto de férias na mesa.


Eu passaria o dia seguinte inteiro com aquela papelada, cancelando toda a viagem, todos os passeios marcados. Não dava para saber quando Poncho teria condições de ir. O médico recomendou repouso, terminar a bateria de antibióticos, manter o corpo aquecido e seco. Canoagem em águas claras e mergulho de cilindro não faziam parte da recuperação    dele.


Olhei  bem  para  os  folhetos,  lembrando  de  todo  o  esforço,  trabalho   e imaginação que me custaram. Olhei para o passaporte  que  consegui  após encarar uma fila, lembrei da  minha crescente  animação  até  quando  peguei  o trem para a cidade e, pela primeira vez desde que havia começado a planejar, me senti desapontada. Faltavam apenas três semanas e eu tinha fracassado. Meu contrato ia terminar e eu não tinha feito nada que mudasse a cabeça de Poncho. Tinha medo até de perguntar à Sra. Herrera para onde íamos agora. De repente, fiquei deprimida. Apoiei a cabeça nas mãos e fiquei assim naquela pequena casa silenciosa.


- Boa noite.


Levantei a cabeça, assustada. Christian estava ali, enchendo a pequena cozinha com seu corpanzil. Carregava a mochila nos ombros.


- Só passei aqui para deixar algumas receitas  médicas  para  quando  ele voltar. Você... está bem?


Esfreguei os olhos.


- Claro. Desculpe. Só... meio desanimada de cancelar tudo isso.


Christian deixou a mochila escorregar pelo ombro e sentou-se à minha    frente.


- É uma pena, sem dúvida. — Pegou o folheto e deu uma olhada. — Quer ajuda amanhã? Eles não precisam de mim no hospital, então poderia passar uma hora aqui de manhã. Para ajudar nos telefonemas.


- É muita gentileza sua. Mas não precisa,  talvez  seja  mais  fácil eu fazer tudo.


Christian fez chá e sentamos um em frente ao outro para beber. Acho que foi a primeira vez que realmente conversamos, pelo menos sem Poncho entre nós. Ele contou de um ex-paciente paraplégico que usava um aparelho para controlar a respiração e que ficou doente pelo menos uma vez por mês enquanto ele trabalhava lá. Contou sobre as outras pneumonias de Poncho, e que ele quase morreu na  primeira, levando semanas  para  se recuperar.


- Ele fica com aquele olhar... — disse Christian. — Quando está mal mesmo.


É assustador. Como se ele... se retirasse. Como se não estivesse  ali.


- Sei como é. Detesto aquele olhar.


- Ele é um... — começou Christian. E, abruptamente, desviou o olhar de mim e calou-se.


Ficamos segurando nossas xícaras de chá. Observei  Christian  pelo  canto do olho, o rosto simpático que de repente pareceu se fechar. Percebi então que eu ia fazer uma pergunta cuja resposta já   sabia.


- Você sabe, não é?


- Sei o quê?


- O que... ele pretende fazer.


O silêncio na cozinha foi súbito e intenso.


Christian me olhou atento, como se pesasse a  resposta.


- Eu sei. Não devia, mas sei — continuei. — Por isso... pensei em fazer a viagem. Por isso as saídas de casa. Eu estava tentando fazer com que ele mudasse de ideia.


Christian colocou a xícara na mesa.


- Eu imaginei — disse ele. — Você parecia... estar cumprindo uma missão.


- Eu estava. Estou.


Ele balançou a cabeça, não sei se para indicar que eu não devia desistir, ou para dizer que não havia nada a ser feito.


- O que vamos fazer, Christian?


Ele levou uns dois minutos para responder.


- Sabe de uma coisa, Any? Gosto muito do Poncho. Não me importo de dizer, gosto do cara. Trabalho com ele há dois anos. Vi-o nos piores e nos melhores momentos, e tudo o que posso dizer é que não gostaria de estar no lugar dele nem por todo o dinheiro do mundo.


Deu um gole no chá.


- Algumas vezes, ele acordava à noite gritando porque sonhava que andava, esquiava e fazia coisas; nessas horas, quando está com as defesas baixas e tudo fica insuportável, ele não consegue pensar que nunca mais vai fazer nada. Não consegue. Eu ficava com ele e não havia o que dizer para melhorar a situação. Ele recebeu as piores cartas do jogo. E sabe de uma coisa? Olhei-o na noite passada, pensei na vida dele e no que vai ser... e, apesar de desejar toda a felicidade do mundo para ele... não o condeno pelo que quer fazer. É escolha dele. Tem que ser.


Minha  respiração ficou presa  na garganta.


- Mas... isso foi antes. Todos vocês dizem que foi antes de eu vir. Ele mudou.


Não mudou?


- Certamente, mas...


- Se não acreditarmos que ele  vai se sentir  melhor, que  vai melhorar, como ele vai acreditar?


Christian colocou a xícara na mesa. Olhou bem para mim.


- Any. Ele não vai melhorar.


- Você não sabe.


- Eu sei. A menos que haja um grande avanço na pesquisa de células-tronco, Poncho vai ficar mais  dez  anos  naquela  cadeira. No mínimo. Ele  sabe, mesmo que os pais dele não admitam. E essa é a metade do problema. A mãe quer que ele viva de qualquer maneira. O Sr. H. acha que, à certa altura, temos de deixar Poncho resolver.


- Claro que ele decide, Christian. Mas ele precisa avaliar.


- Poncho é inteligente. Sabe exatamente as chances que tem. Minha voz pairou na pequena cozinha.


- Não, você está errado. Você diz que ele está igual a antes de eu chegar aqui. Que não mudou nada.


- Não vejo dentro da cabeça dele, Any.


- Você sabe que mudei a maneira de ele pensar.


- Não, eu sei que ele faz tudo para agradar você. Olhei bem para ele.


- Você acha? — Fiquei furiosa com Christian, furiosa com todos eles. — Se acha que nada disso adianta, por que ia conosco na viagem? Por que quis ir? Só para ter umas boas férias?


- Não. Quero que ele viva.


- Mas...


- Mas que viva se ele quiser. Se não quiser, então, por mais que você e eu gostemos dele, viramos só mais um bando de chatos que não respeitam sua vontade.


As palavras de Christian reverberaram no silêncio. Sequei uma lágrima  solitária no rosto e tentei fazer com que meu coração voltasse ao ritmo normal. Christian pareceu constrangido com meu choro, coçou o pescoço e, sem dizer nada, um minuto depois me passou uma folha  de  papel-toalha.


- Tenho que impedir, Christian. Ele não disse nada.


- Tenho — repeti.


Olhei o meu passaporte na mesa da cozinha. Era horrível. Parecia uma outra pessoa. Alguém cuja vida, cuja maneira de viver não era a minha. Olhei o passaporte, pensando.


- Christian?


- Sim?


- Se eu organizar uma viagem que os médicos aprovem, você viria? Você continuaria a me ajudar?


- Claro que sim. — Ele levantou-se, lavou a xícara e colocou a mochila no ombro. Virou-se para mim antes de sair da cozinha. — Mas vou ser sincero, Any. Não sei se você consegue.


 



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Autor(a): day

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Prévia do próximo capítulo

Exatos dez dias depois, o carro do Sr. Herrera nos deixou no aeroporto de Gatwick, Christian arrastava nossa bagagem num carrinho enquanto eu checava novamente se Poncho estava confortável — até que ele ficou irritado. - Cuidem-se. E façam boa viagem — recomendou o Sr. Herrera, colocando a mão no ombro de Poncho. — Não fa ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 121



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  • milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40

    Não entendi o final :(

  • franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42

    Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36

    ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54

    ;( quando vc vai postar mais??????

  • franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36

    VC NAO MUDOU O FINAL????????

  • Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55

    CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17

    Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31

    Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva

  • Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58

    AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????

  • franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49

    Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(


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