Fanfics Brasil - 103 Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny

Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso


Capítulo: 103

23 visualizações Denunciar


Exatos dez dias depois, o carro do Sr. Herrera nos deixou no aeroporto de Gatwick, Christian arrastava nossa bagagem num carrinho enquanto eu checava novamente se Poncho estava confortável — até que ele ficou irritado.


- Cuidem-se. E façam boa viagem — recomendou o Sr. Herrera, colocando a mão no ombro de Poncho. — Não façam muita bobagem. — E literalmente piscou para mim ao dizer isso.


A Sra. Herrera não pôde sair do trabalho para ir também. Desconfio que, na verdade, ela não quis  passar duas horas num  carro com o  marido.


Poncho concordou com a cabeça, mas não disse nada. Ele permanecera surpreendentemente quieto no carro, olhando pela janela com seu olhar impenetrável, ignorando a conversa entre mim e Christian sobre o trânsito e o que já sabíamos que tínhamos nos esquecido de levar.


Até atravessarmos o pátio eu não estava muito segura de que fazíamos a coisa certa. A Sra. Herrera foi totalmente contra a viagem. Mas, depois que ele concordou com o meu plano reformulado, eu soube que ela teve medo de dizer que ele não deveria ir. Parecia estar com medo de falar conosco naquela última semana. Ficava em silêncio perto de Poncho, falando somente com os médicos. Ou se ocupava do jardim, podando as plantas com uma eficiência assustadora.


- Alguém da companhia aérea deve nos encontrar. Eles devem vir nos encontrar — afirmei, à medida que nos encaminhávamos para o guichê do check-in, mexendo na minha papelada.


- Relaxe. É pouco provável que coloquem alguém na porta — disse Christian.


- Mas a cadeira tem que ser despachada como “equipamento médico frágil”. Conferi três vezes pelo telefone com a mulher. E temos de ver se eles não vão implicar com o equipamento médico de bordo de Poncho.


O serviço on-line de paraplégicos forneceu pilhas de informações, avisos, direitos e listas. Depois, conferi três vezes seguidas com a empresa aérea que seríamos alocados em assentos localizados na parte mais espaçosa da cabine e que Poncho embarcaria primeiro e não sairia de sua cadeira motorizada até que estivéssemos no portão de embarque. Christian deveria ficar em solo, retirar o controle remoto e colocar a cadeira em funcionamento manual, e depois, cuidadosamente, deveria dobrar e fechar a cadeira, prendendo os pedais. Ele acompanharia pessoalmente o despacho da cadeira, para evitar que sofresse alguma avaria. Ela  receberia etiquetas cor-de-rosa para avisar os   carregadores


 


que era um aparelho muito delicado. Reservamos três assentos seguidos para que Christian pudesse dar a ajuda médica de que Poncho precisasse sem contar com olhares curiosos. A empresa aérea garantiu que os braços dos assentos levantavam, assim não machucaríamos os quadris de Poncho ao transferi-lo da cadeira de rodas para o assento do avião. Ele poderia ficar entre nós dois o tempo todo. E seríamos os primeiros a desembarcar.


Tudo isso estava na minha lista “aeroporto”. Era a página que vinha antes da lista “hotel”, mas depois da lista “um dia antes da partida” e do itinerário. Mesmo com todas essas garantias em ordem, eu me sentia    enjoada.


Toda vez que olhava para Poncho, eu me perguntava se tinha feito a  coisa certa. Poncho recebera de seu clínico geral a autorização para viajar somente na noite anterior. Comera pouco e passara quase o dia todo dormindo. Parecia cansado não só por causa da doença, mas exausto com relação à vida, cansado das nossas interferências, das nossas entusiasmadas tentativas de conversar, da nossa incansável determinação em tentar melhorar as coisas  para  ele.  Ele  me suportava, mas eu tinha a sensação de que, frequentemente, queria ficar sozinho. Ele não sabia que essa era a única coisa que eu não o deixaria    fazer.


- Ali está a moça da companhia aérea — falei, quando uma jovem de uniforme, com um grande sorriso e uma prancheta, veio rápido na nossa direção.


- Bom, ela vai ser muito útil na transferência — Christian  murmurou.  — Parece que não consegue levantar um camarão congelado.


- Vamos dar um jeito — respondi. — Aqui entre nós, damos um jeito.


Tinha se tornado o meu bordão, desde que decidi o que queria fazer. Desde minha conversa com Christian no  anexo, fui  tomada  por  um  renovado entusiasmo em provar que todos estavam errados. Só porque não podíamos fazer a viagem que  planejei não queria dizer que  Poncho não pudesse fazer  nada.


Acessei os sites de bate-papo na internet e disparei perguntas. Que lugar seria bom para um agora bem mais fraco Poncho se recuperar? Alguém sabia aonde podíamos ir? O clima era a minha principal preocupação — o clima inglês era muito instável (e não há nada mais deprimente do que um hotel à beira-mar com chuva). Grande parte da Europa estava quente demais no  fim  de  julho,  o  que excluía as praias da Itália, da Grécia, do sul da França e outras regiões litorâneas. Eu tinha uma visão, sabe? Imaginava Poncho relaxando à beira-mar. O problema era que, com tão pouco tempo para planejar e embarcar, havia pouca chance de tornar  tudo realidade.


Houve muitas mensagens solidárias, e muitas, muitas histórias sobre pneumonia. Aquele parecia ser o fantasma que assombrava a todos eles. Houve algumas sugestões de lugares aonde ele poderia ir, mas nenhuma que me inspirasse. Ou, mais importante, nenhuma sugestão que pudesse interessar a Poncho. Eu não queria spas, ou lugares onde ele pudesse ver pessoas na mesma situação que  ele. Eu não sabia  direito o que  queria, mas revi as sugestões  da  lista   de sugestões e soube que nenhuma era adequada.


Foi Ritchie, aquele assíduo membro do bate-papo, que acabou me ajudando.


Na tarde em que Poncho saiu do hospital, ele enviou uma mensagem:


 


Mande o seu e-mail. Meu primo é agente de viagens. Contei o caso para ele.


 


Liguei para o número que ele me deu e falei com um homem de  meia-idade, com forte sotaque de Yorkshire. Quando ele me disse o que tinha em mente, um sininho de reconhecimento soou em alguma parte das profundezas da minha memória. Duas horas depois, tínhamos tudo arranjado. Fiquei tão grata a ele que poderia ter chorado.


- Não tem de quê, garota — disse ele. — Apenas garanta que o seu amigo se divirta.


Dito isso, quando partimos, eu estava quase tão cansada quanto Poncho. Tinha passado dias numa batalha contra os menores requisitos para viagem de paraplégicos, e até a manhã da viagem, ainda não estava convencida de que Poncho estava bem o suficiente para ir. Agora, sentada com a bagagem, olhava para ele, desanimado e pálido no aeroporto movimentado e me perguntava de novo se tinha me enganado. Por um breve momento senti pânico. E se ele adoecesse outra vez? E se detestasse cada minuto, como aconteceu na corrida de cavalos? E se eu tivesse entendido tudo errado e ele precisasse não de uma viagem épica, mas de dez dias em casa, na própria cama?


Mas não dispúnhamos de dez dias sobrando. Era isso. Aquela era a minha única chance.


- Estão chamando o nosso voo — avisou Christian, ao voltar do Duty Free.


Olhou para mim, levantou uma sobrancelha e respirou fundo.


- Certo — respondi. — Vamos lá.


 


* * *


 


O voo em si, apesar das longas doze horas de duração, não foi a provação que eu temia. Christian provou ser muito eficiente em fazer as rotinas de troca de Poncho escondido sob um cobertor. A equipe de bordo foi solícita, discreta e cuidadosa com a cadeira. Poncho, conforme o prometido, embarcou primeiro, foi transferido para sua poltrona sem se machucar e ficou entre mim e Christian.


Depois de uma hora de voo, percebi que, estranhamente, acima das nuvens, uma vez amarrado o suficiente para ficar estável em sua poltrona posta na posição inclinada, Poncho era igual a todo mundo no avião. Preso na frente de uma tela, sem ter para onde ir e nada para fazer a dez mil metros de altura, ele pouco se destacava dos demais passageiros. Comeu e assistiu a um filme e, principalmente, dormiu.


Christian e eu sorrimos precavidos um para o outro e tentamos  nos comportar como se tudo estivesse bem, tudo ótimo. Olhei para fora da janela, com as ideias tão confusas quanto as nuvens abaixo de nós, ainda incapaz de pensar no fato de que aquilo não era apenas um desafio logístico, mas uma aventura  para  mim  — que eu, Any Portilla, estava literalmente a caminho do outro lado do mundo. Eu não enxergava isso. Não conseguia enxergar nada além de Poncho àquela altura. Eu me senti como minha irmã assim que deu à luz Thomas. “É como se eu estivesse vendo o mundo através de um funil” ela dissera, olhando para aquele ser recém- nascido. “O mundo ficou reduzido apenas a mim e a ele.”


Ela tinha me mandado uma mensagem de texto quando eu estava no aeroporto.


 


Você consegue. Estou superorgulhosa de você. Bjs


 


Abri a mensagem de novo, só para olhar para ela, sentindo-me subitamente emocionada, talvez pela escolha das palavras. Ou talvez porque eu estava cansada, com medo e ainda achando difícil acreditar que eu tinha conseguido nos levar tão longe. Por fim, para bloquear meus pensamentos, liguei minha pequena TV, olhando sem ver alguma série americana de humor até que o céu à nossa volta escurecesse.


E então acordei com a aeromoça parada à nossa frente, oferecendo o café da manhã, e notei que Poncho estava conversando com Christian sobre um filme a que tinham acabado de assistir juntos e — surpreendentemente e contra todas as possibilidades —, estávamos a menos de uma hora do pouso nas Ilhas Maurício.


Acho que não acreditei que tudo aquilo pudesse acontecer até que tivéssemos aterrissado no Aeroporto Internacional Sir Seewoosagur Ramgoolam. Surgimos, meio grogues, no portão de chegada, ainda enrijecidos pelo tempo de voo, e eu quase chorei de alívio ao ver o motorista do táxi especialmente adaptado. Naquela primeira manhã, quando o motorista nos levou rapidamente ao resort, reparei muito pouco da ilha. Claro, as cores pareciam mais fortes que as da Inglaterra, o céu era mais vívido, de um tom azul-celeste que apenas se perdia de vista ficando mais e mais profundo até o infinito. Notei que a ilha era viçosa e verde, margeada por quilômetros de canaviais, o mar surgindo como uma faixa de mercúrio por entre as colinas vulcânicas. O ar tinha tinha um matiz fumacento e enérgico, o sol estava tão alto no céu que tive de semicerrar os olhos na luz branca. No estado de exaustão em que me encontrava, era como se me acordassem no meio das páginas brilhantes de uma revista.


Mas, mesmo com os meus sentidos lutando contra o desconhecido, meu olhar se voltava repetidamente para Poncho, para o seu rosto pálido, cansado, para a  sua


 


cabeça que parecia estranhamente caída entre os ombros. Então, atravessamos uma entrada de veículos ladeada de palmeiras, paramos do lado de fora de um prédio baixo e o motorista saltou e descarregou nossa bagagem.


Recusamos o chá gelado e um passeio pelo hotel. Encontramos  o quarto  de Poncho com a bagagem dele já descarregada, o deitamos na cama e, quase antes de fecharmos as cortinas, ele dormiu de novo. E ali estávamos nós. Eu  tinha conseguido. Saí do quarto, finalmente soltando um grande suspiro, enquanto Christian espiava pela janela  a  arrebentação branca  atrás  do recife  de  coral. Não sei se foi a viagem, ou porque era o lugar mais lindo em que eu já tinha estado na vida, mas meus olhos subitamente se encheram de   lágrimas.


— Está tudo bem — disse Christian, vislumbrando minha  expressão. Depois, o que foi totalmente inesperado, ele se aproximou e me envolveu em um enorme abraço de urso. — Relaxa, Any. Tudo vai dar certo. Sério. Você fez tudo  certo.


 



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): day

Este autor(a) escreve mais 12 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

* * *   Precisei de quase três dias para começar a acreditar nele. Poncho dormiu durante a maioria das primeiras quarenta e oito horas — e então, espantosamente, começou a parecer melhor. A pele recuperou a cor e ele perdeu as sombras azuladas ao redor dos olhos. Os espasmos diminuíram e ele voltou a comer, percorrendo devagar o ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 121



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40

    Não entendi o final :(

  • franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42

    Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36

    ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54

    ;( quando vc vai postar mais??????

  • franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36

    VC NAO MUDOU O FINAL????????

  • Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55

    CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17

    Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31

    Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva

  • Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58

    AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????

  • franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49

    Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais