Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso
Ele sorria. O rosto parecia descansado e feliz, os olhos brilhavam quando virou-se para mim. Observei-o e, pela primeira vez, não senti um toque de medo.
- Gostou de vir, não? — perguntei, indecisa. Ele concordou com a cabeça.
- Ah, sim.
- Ah!! — exclamei, dando um soco no ar.
Depois, a música que vinha do bar aumentou, tirei os sapatos e dancei. Parece idiota, o tipo da coisa que, em outra situação, podia ser constrangedora. Mas ali, no escuro de breu, meio tonta por falta de sono, com a fogueira, o céu e o mar infinitos, a música nos nossos ouvidos e Poncho sorrindo, meu coração explodindo num sentimento que eu não conseguia identificar, eu só queria dançar. Dancei, ri, solta, sem me preocupar se alguém nos via. Senti que Poncho me olhava e sabia que ele sabia que aquela era a única reação possível para os últimos dez dias. Ora, para os últimos seis meses.
A música terminou e desmontei, ofegante, aos pés dele.
- Você... — ele disse.
- Eu o quê? — Meu sorriso era brincalhão. Eu me sentia fluida, elétrica. Não estava muito responsável pelos meus atos.
Ele balançou a cabeça.
Levantei-me lentamente da areia, descalça, fui até a cadeira, sentei no colo dele, nossos rostos quase colados. Após a noite anterior, aquele não pareceu um salto muito grande.
- Você... — Seus olhos verdes brilhavam à luz das brasas e grudaram nos meus. Ele tinha cheiro de sol, de fogueira e de algo áspero e cítrico.
Senti algo se entregar dentro de mim.
- Você... é uma figura, Portilla.
Fiz a única coisa que me ocorreu. Inclinei-me e encostei meus lábios nos dele. Poncho logo retribuiu o beijo. Por um instante, esqueci tudo: o milhão e meio de motivos para não fazer aquilo; meus medos; o motivo para estarmos ali. Beijei-o, sentindo o cheiro da pele, os cabelos macios nas minhas mãos. Quando ele retribuiu, tudo isso desapareceu e ficamos apenas os dois numa ilha no meio do nada, sob milhares de estrelas cintilantes.
Ele então recuou.
- Eu... desculpe. Não...
Abri os olhos. Coloquei a mão no rosto dele e percorri seu lindo contorno.
Senti o leve sal nos dedos.
- Poncho ... — comecei a dizer. — Você pode. Você...
- Não. — A palavra tinha um toque de aço. — Não posso.
- Não entendo.
- Não quero.
- Hum... acho que você tem que aceitar.
- Não posso porque eu não... — engoliu em seco. — Não posso ser o homem que quero ser com você. O que significa que isso — ele olhou meu rosto
- isso apenas se transforma... em outro lembrete do que não sou.
Não afastei meu rosto. Inclinei minha cabeça para tocar na dele, nossa respiração se misturou e falei baixo, para só ele ouvir:
- Não me importo com o que você... pensa que pode ou não fazer. Não é preto no branco. A gente Sabe que é possível Poncho e podemos aprender outras maneiras de satisfazer ambos.- Eu tinha começado a gaguejar um pouco. Me senti estranha com aquela conversa. Olhei bem para ele. — Poncho Herrera — eu disse, baixo — É o seguinte. Acho que podemos...
- Não, Portilla — ele interrompeu.
- Podemos fazer de tudo. Sei que essa não é uma história de amor como outra qualquer. Sei que há motivos para eu nem dizer isso. Mas eu amo você. De verdade. Vi isso quando deixei Manuel. E acho até que você gosta um pouco de mim.
Ele ficou calado. Seus olhos buscaram os meus, com aquela enorme tristeza de sempre. Afastei os cabelos da testa dele como se pudesse afastar a tristeza; ele inclinou a cabeça, encostou-a na palma da minha mão e ficou assim.
Engoliu em seco.
- Preciso lhe dizer uma coisa.
- Eu sei de tudo — cochichei.
Poncho calou-se. O ar pareceu estagnado.
- Eu sei da Suíça. Sei... a razão do meu contrato ser de seis meses.
Ele tirou a cabeça da minha mão. Olhou para mim, depois para o céu. Os ombros caíram.
- Sei de tudo, Poncho. Sei há meses. E, por favor, ouça... — Peguei a mão direita dele e encostei no meu coração. — Sei que podemos. Sei que não é como você queria, mas posso fazer você feliz. Só sei dizer que você me transformou... numa pessoa que eu nem imaginava. Você me faz feliz, mesmo quando é horroroso. Prefiro estar com esse você que você deprecia do que com qualquer outra pessoa no mundo
Os dedos dele apertaram um pouco os meus e isso me encorajou.
- Se acha muito estranho eu trabalhar para você, saio desse emprego e procuro outro. Queria lhe contar uma coisa: me inscrevi numa faculdade. Pesquisei muito na internet, falei com outros paraplégicos e cuidadores, aprendi muito sobre isso. Então, posso fazer o curso e ficar com você. Entende? Pensei em tudo, pesquisei tudo. Agora sou assim. Culpa sua. Você me transformou. — Eu estava quase rindo. — Você me transformou na minha irmã. Mas com um gosto muito melhor para se vestir.
Ele tinha fechado os olhos. Segurei as mãos dele e beijei os nós dos dedos.
Senti a pele dele e tive mais certeza do que nunca de que não poderia deixá-lo.
- O que acha? — cochichei.
Eu podia olhá-lo pelo resto da vida.
Ele falou tão baixo que por um instante pensei ter entendido errado.
- O que disse? — perguntei.
- Não, Portilla.
- Não?
- Desculpe. Não basta. Abaixei a mão dele.
- Não entendo.
Ele esperou para falar como se, por uma vez, lutasse para encontrar as palavras certas.
- Não basta para mim. Esse meu mundo, mesmo que seja com você. E pode ter certeza, Portilla, minha vida melhorou muito desde que você chegou. Mas para mim não basta. Não é a vida que eu quero.
Foi a minha vez de recuar.
- Eu entendo que podia ser bom. Entendo que, com você, talvez fosse até uma vida muito boa. Mas não é a minha vida. Não sou igual a essas pessoas com quem você fala. Não é a vida que eu quero. Não chega nem perto. — Ele falava aos trancos. Sua expressão me assustou.
Engoli em seco, balançando a cabeça.
- Você... uma vez me disse que aquela noite que passei no labirinto do castelo não podia ser o que me identificava. Disse que eu podia escolher o que fosse. Bom, pois você não pode deixar essa... cadeira de rodas ser a sua identidade.
- Mas é, Portilla. Você não me conhece. Nunca me viu antes disso. Eu adorava a vida, Portilla. Gostava mesmo. Do meu trabalho, das viagens, das coisas que eu fazia. Gostava de usar o corpo. De andar na minha moto, me desviando dos prédios. Gostava de dominar as pessoas nos negócios. Gostava de transar. Transar muito. Eu levava uma vida muito boa. — Falou mais alto: — Não nasci para viver enfiado nesta coisa; mas, por tudo e para tudo, é isso que me identifica. É a única coisa que me define.
- Mas você não está nem dando uma chance — cochichei. A voz parecia não querer sair do meu peito. — Não está me dando uma chance.
- Não é questão de dar uma chance. Nesses seis meses, vi você se transformar em outra pessoa, que está só começando a ver as possibilidades que tem. Não imagina como isso me deixou feliz. Não quero que você fique presa a mim, às minhas consultas hospitalares, às limitações da minha vida. Não quero que perca todas as coisas que outra pessoa poderia lhe dar. E, egoísta, não quero que olhe para mim um dia e sinta sequer o mínimo arrependimento ou pena por...
- Eu jamais pensaria isso!
- Você não sabe, Portilla. Não sabe o que iria acontecer. Não sabe nem como vai estar daqui a seis meses. E não quero olhar para você todos os dias, ver você nua, andando pelo anexo com suas roupas malucas e... não poder fazer o que quero com você. Ah, Portilla, se soubesse o que eu gostaria de fazer com você exatamente agora. E... não aguento pensar nisso. Não posso. Não é quem eu sou. Não posso ser um homem que apenas... aceita.
Ele olhou para a cadeira, com a voz trêmula.
- Jamais aceitarei isso. Chorei.
- Por favor, Poncho, não diga isso. Dê uma chance para mim. Uma chance para nós.
- Psiu. Escute. Você, principalmente. Ouça o que vou dizer. Esta... noite... é a melhor coisa que você poderia fazer por mim. O que disse, o que fez para me trazer aqui... mesmo sabendo o idiota completo que eu era no começo, acho incrível você conseguir resgatar algo para amar. — Mas — ele apertou minha mão — isso precisa acabar aqui. Chega de cadeira de rodas. Chega de pneumonia. Chega de coceiras nos braços e pernas. Chega de dores e cansaço, de acordar desejando que o dia acabe. Quando voltarmos para o anexo, vou para a Suíça. E se você gosta mesmo de mim, Portilla, como diz que gosta, eu ficaria muito feliz se me acompanhasse.
Recuei a cabeça, num susto.
- O quê?
- Minha situação não vai melhorar. A chance é piorar cada vez mais e minha vida, que já é limitada, vai ficar mais ainda. Os médicos disseram. Há várias coisas que estão me atingindo. Eu percebo. Não quero mais sentir dor, nem ficar enfiado nessa cadeira, nem depender de ninguém, nem ter medo. Por isso, peço a você que, se sente o que diz, me acompanhe. Fique comigo. Me dê o fim que desejo.
Olhei-o horrorizada, o sangue bombeando nos ouvidos. Mal consegui entender.
- Como pode me pedir uma coisa dessas?
- Sei que é....
- Eu digo que amo você e que quero construir um futuro e você me pede para assistir ao seu suicídio?
- Desculpe. Não queria ser agressivo. Mas não disponho do luxo de ter tempo.
- O que... o quê? Você fez reserva em algum lugar? Tem algum compromisso que não pode faltar?
Vi as pessoas do hotel parando, talvez porque falássemos alto, mas não me importei.
- Sim — respondeu Poncho, após uma pausa. — Sim, tenho. Estive lá. A clínica disse que me aceita. E meus pais concordaram com a data de treze de agosto. Vamos de avião um dia antes.
Minha cabeça girou. Faltava menos de uma semana.
- Não posso acreditar.
- Anahi...
- Pensei... pensei que eu tinha feito você mudar de ideia.
Ele inclinou a cabeça de lado e me olhou. A voz era suave; os olhos, gentis.
- Anahi, nada me faria mudar de ideia. Dei a meus pais o prazo de seis meses e cumpri. Você fez esse tempo ficar mais valioso do que pode imaginar. Deixou de ser um teste de resistência...
- Não diga isso!
- O quê?
- Não diga mais nada! — Eu soluçava. — Poncho, como você é egoísta. Como é idiota. Mesmo se houvesse a mais remota possibilidade de eu ir com você à Suíça... mesmo se você achasse que eu iria, depois de tudo o que fiz por você, de fazer o que fiz, é só isso que me diz? Fiz uma declaração de amor e você diz apenas “Não, você é pouco para mim. E agora quero que assista a pior coisa que pode imaginar.” O que eu mais temia desde que soube disso. Você tem noção do que me pede para fazer?
Eu estava furiosa. De pé na frente dele, como uma louca.
- Foda-se, Poncho Herrera. Foda-se. Gostaria de jamais ter aceito este trabalho besta. Gostaria de jamais tê-lo conhecido. — Chorei, corri pela praia e voltei para o quarto, longe dele.
Muito depois de fechar a porta do quarto, a voz dele me chamando ainda soava nos meus ouvidos.
Autor(a): day
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 121
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milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40
Não entendi o final :(
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franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42
Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36
;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54
;( quando vc vai postar mais??????
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franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36
VC NAO MUDOU O FINAL????????
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Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55
CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17
Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31
Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva
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Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58
AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????
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franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49
Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(