Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso
Não há nada mais desconcertante para quem está passando do que ver um cadeirante se defendendo da mulher que deveria estar cuidando dele. Aparentemente, ficar bravo não é a coisa certa a ser feita com o deficiente que está sob seus cuidados.
Sobretudo quando está dizendo, suavemente:
- Portilla. Por favor. Apenas venha aqui. Por favor.
Mas eu não podia. Não podia olhar para ele. Christian tinha feito as malas de Poncho e encontrei os dois no saguão na manhã seguinte — Christian ainda grogue por causa da ressaca — e, a partir do momento em que fomos obrigados a ficar juntos de novo, me recusei a ter alguma coisa a ver com Poncho. Estava furiosa e infeliz. Havia uma voz insistente e irritada dentro da minha cabeça que exigia que eu ficasse o mais longe possível dele. Que eu voltasse para casa. Que eu nunca mais o visse.
- Você está bem? — perguntou Christian, surgindo ao meu lado.
Assim que chegamos ao aeroporto, marchei para longe deles, em direção ao balcão de check-in.
- Não — respondi. — E não quero falar sobre isso.
- Ressaca?
- Não.
Fez-se um curto silêncio.
- Isso significa o que eu penso que significa? — De repente, ele ficou soturno. Não consegui falar. Assenti e vi a mandíbula de Christian se enrijecer por um momento. Mas ele era mais forte do que eu. Afinal, era um profissional. Minutos depois, ele voltou para perto de Poncho, mostrando-lhe algo que tinha visto numa revista, pensando alto sobre as perspectivas de um time de futebol que os dois conheciam. Ao vê-los, você não imaginaria a notícia que eu tinha acabado de receber.
Procurei me ocupar durante todo o tempo de espera no aeroporto. Encontrei mil coisinhas para fazer — ocupando-me com etiquetas de bagagem, comprando café, folheando jornais, indo ao banheiro —, tudo isso significava que eu não precisava cuidar dele. Não precisava falar com ele. Mas, de vez em quando, Christian sumia e éramos deixados a sós, sentados um ao lado do outro, a pequena distância entre nós soando estridentemente com recriminações tácitas.
- Portilla... — começou ele.
- Não — cortei —, não quero falar com você.
Surpreendeu-me como eu poderia ser fria. E, sem dúvida, surpreendi as comissárias de bordo. Eu as vi durante o voo, murmurando entre si sobre como eu me virara rigidamente para longe de Poncho, colocando meus fones de ouvido ou olhando resolutamente para fora da janela.
Pela primeira vez, ele não ficou furioso. Isso foi quase o pior de tudo. Ele não ficou furioso, ele não foi sarcástico, simplesmente ficou mais quieto até quase não falar. Sobrou para o pobre Christian puxar conversa, perguntar sobre o chá ou o café, ou recusar saquinhos de amendoim torrado, ou perguntar se alguém se incomodava de ele passar por cima de nós nas poltronas para ir ao banheiro.
Isso provavelmente soa infantil agora, mas não foi apenas uma questão de orgulho. Eu não podia suportar aquilo. Não conseguia suportar pensar que poderia perdê-lo, que ele estava tão obstinado e determinado a não ver como era bom, como poderia ser bom, que não mudou de ideia. Eu não conseguia acreditar que ele fosse se prender àquela data, como se aquilo estivesse entalhado em pedra. Um milhão de argumentos silenciosos se agitaram na minha cabeça. Por que isso não basta para você?Por que eu não basto para você? Por que não confiou em mim? Se tivéssemos mais tempo, teria sido diferente? De vez em quando, eu me pegava olhando as mãos bronzeadas dele, aqueles dedos de formato quadrado, a poucos centímetros dos meus, e me lembrava de como era a sensação dos nossos dedos entrelaçados e um nó se formava na minha garganta até eu achar que mal conseguia respirar e tinha de ir ao banheiro, onde me debruçava na pia e soluçava em silêncio sob a faixa luminosa. Havia alguns momentos, quando pensava no que Poncho pretendia fazer, que eu realmente precisava lutar contra a vontade de gritar; eu me sentia invadida por uma espécie de loucura e pensava que eu podia apenas me sentar no corredor e gritar e gritar até alguém aparecer. Até que alguém garantisse que ele não podia fazer aquilo.
Portanto, embora eu parecesse infantil — ainda que a equipe de bordo (uma vez que eu me recusava a falar ou olhar Poncho) achasse que eu era a mulher mais sem coração do mundo —, eu sabia que fingir que ele não estava ali era quase a única maneira de lidar com aquelas horas de proximidade forçada. Se tivesse certeza de que Christian seria capaz de lidar com ele sozinho, honestamente eu teria trocado de voo, talvez teria desaparecido até estar segura de que havia um continente inteiro entre nós, não só alguns inacreditáveis centímetros.
Os dois dormiram e eu senti uma espécie de alívio — uma breve suspensão temporária da tensão. Olhei para a tela da TV e, a cada quilômetro que nos aproximávamos de casa, sentia meu coração ficar mais pesado, minha preocupação aumentar. Comecei a achar que o fracasso não era só meu; os pais de Poncho ficariam arrasados. Provavelmente, me culpariam. A irmã dele decerto ia me processar. E eu havia fracassado com Poncho também. Eu havia falhado em convencê-lo. Ofereci a ele tudo o que podia, inclusive eu mesma, e nada do que lhe mostrei o convenceu de que tinha uma razão para continuar vivendo.
Talvez, eu me peguei pensando, ele merecesse alguém melhor que eu. Mais inteligente. Alguém como Treena poderia ter pensado em coisas melhores para fazer. Talvez tivesse encontrado alguma rara pesquisa médica ou algo que pudesse ajudá-lo. Podia tê-lo feito mudar de ideia. O fato de que eu teria de viver para sempre com esse fato fez com que eu me sentisse quase tonta.
- Quer uma bebida, Portilla? — A voz de Poncho penetrou nos meus pensamentos.
- Não. Obrigada.
- Meu cotovelo está ocupando muito espaço no braço da sua cadeira?
- Não. Está bem.
Foi somente naquelas últimas horas de voo, no escuro, que eu me permiti olhar para ele. Meu olhar deslizou devagar da minha brilhante tela de TV até que eu o olhei disfarçadamente sob a luz suave da pequena cabine. E quando vi seu rosto, tão bronzeado e bonito, em um sono tão tranquilo, uma lágrima solitária rolou pela minha bochecha. Talvez de algum modo consciente de meu escrutínio, Poncho se mexeu mas não acordou. E sem que as comissárias ou Christian vissem, puxei o cobertor devagar até o pescoço dele, prendendo-o com cuidado, para que, no ar-condicionado da cabine, Poncho não sentisse frio.
Autor(a): day
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 121
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milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40
Não entendi o final :(
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franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42
Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36
;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54
;( quando vc vai postar mais??????
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franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36
VC NAO MUDOU O FINAL????????
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Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55
CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17
Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31
Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva
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Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58
AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????
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franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49
Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(