Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso
* * *
Mamãe não gostou. Gostou menos ainda quando o telefone começou a tocar. Após o quinto telefonema, deixamos todas as ligações serem atendidas pela secretária eletrônica, mas continuamos a ouvir aquelas vozes invadindo o nosso pequeno corredor. Eram quatro ou cinco, todas iguais. Todas oferecendo a Any a chance de dar a “versão dela”, como diziam. Como se Poncho Herrera tivesse se transformado numa apólice que todos queriam. O telefone e a campainha tocavam. Mantivemos as cortinas fechadas, ouvindo os repórteres na calçada do lado de fora do nosso portão, conversando uns com os outros e falando nos celulares.
Era como estar sitiado. Mamãe torceu as mãos e berrou pela caixa do correio para eles saírem da porra do nosso jardim, sempre que um deles ultrapassava o portão. Thomas olhou pela janela do banheiro de cima e perguntou por que tinha gente no nosso jardim. Quatro vizinhos ligaram querendo saber o que estava
acontecendo. Papai parou o carro na Ivy Street e veio para casa pelo quintal, e tivemos uma conversa bastante séria sobre castelos medievais e óleo fervente.
Então, depois de pensar mais um pouco, liguei para Manuel e perguntei quanto tinha ganhado com aquela pequena dica sórdida. A sutil demora em negar me disse tudo o que eu precisava saber.
— Seu merda — gritei. — Vou dar um chute tão forte nas suas canelas de maratonista que você vai achar que o centésimo quinquagésimo sétimo lugar foi mesmo uma boa colocação.
Any sentou-se na cozinha e chorou. Não propriamente soluçando, apenas lágrimas silenciosas que escorriam por seu rosto e que ela limpava com a palma da mão. Eu não sabia o que dizer para ela.
O que foi ótimo. Eu tinha muita coisa para dizer a todos os demais.
Todos os jornalistas sumiram lá pelas sete e meia da noite, menos um. Eu não sabia se tinham desistido, ou se haviam se cansado pelo fato de Thomas jogar peças de Lego pela caixa do correio toda vez que eles passavam mais um bilhete. Pedi para Anahi dar banho nele para mim, principalmente porque eu queria que ela saísse da cozinha, mas também porque assim eu poderia ouvir todos os recados da secretária eletrônica e apagar os que fossem de jornais enquanto ela não estivesse ouvindo. Vinte e seis. Vinte e seis daqueles cretinos. Todos parecendo tão simpáticos, tão compreensivos. Alguns chegaram a oferecer dinheiro.
Apaguei cada uma delas. Até as que ofereciam dinheiro, embora tenha de admitir que fiquei um pouquinho tentada a saber quanto davam. O tempo todo, ouvi Any conversar com Thomas no banheiro, o barulho dele bombardeando os quinze centímetros de espuma com seu Batmóvel. Isso é algo que só se sabe depois de ter filhos — a hora do banho, Lego e tirinhas de peixe empanadas não a deixam viver numa tragédia por muito tempo. E então eu cheguei à última mensagem.
- Anahi? É Camilla Herrera. Pode me ligar, com urgência?
Fiquei olhando a secretária eletrônica. Rebobinei e ouvi a mensagem de novo. Então corri para cima, tirei Thomas do banho tão rápido que ele nem percebeu o que houve. Ficou lá, a toalha firmemente enrolada nele como um bandagem de curativo, e Any, hesitante e confusa, já estava no meio da escada, sendo empurrada por mim pelo ombro.
- E se ela estiver com ódio de mim?
- A voz não dava essa impressão.
- Mas e se a imprensa os estiver cercando? E se acharem que isso é culpa minha? — Os olhos dela estavam arregalados e assustados. — E se for para me avisar que ele morreu?
- Ah, pelo amor de Deus, Any. Ao menos uma vez na vida, fique calma. Você só vai saber a resposta se ligar. Ligue para ela. Apenas ligue. Não há outra maldita escolha.
Voltei correndo para o banheiro para deixar Thomas sair. Enfiei o pijama nele, disse que vovó lhe daria um biscoito se ele fosse bem rápido até a cozinha. E então dei uma olhadela pela porta do banheiro para espiar minha irmã ao telefone no corredor.
Estava de costas para mim, passando a mão pelo cabelo da nuca. Esticou o braço para se equilibrar.
- Sim — dizia ela. — Sei. — Depois: — Certo. E após uma pausa:
- Sim.
Ficou por um bom tempo olhando para os próprios pés depois de desligar.
- Então? — perguntei.
Ela olhou para cima como se só então tivesse me visto ali e balançou a cabeça.
- Não era nada sobre os jornais — respondeu, a voz ainda entorpecida pelo choque. — Ela me pediu, me implorou, para ir à Suíça. Já reservou passagem no último voo desta noite.
Em outra ocasião, acho que seria estranho que eu, Any Portilla, que em vinte anos não deu mais que uma volta de ônibus na cidade natal, estivesse voando para o terceiro país em menos de uma semana. Preparei, com a rapidez eficiente de uma comissária de bordo, uma maleta com o essencial. Treena ficou por perto em silêncio, trazendo coisas que achava que eu poderia precisar, e descemos a escada. Paramos no meio. Mamãe e papai já estavam no hall com aquele jeito sério de quando chegávamos tarde da noite.
- O que está havendo? — Mamãe encarava minha maleta. Treena parou na minha frente.
- Any está indo para a Suíça. — disse ela. — E precisa ir logo. É o último voo.
Íamos em frente, mas mamãe se adiantou.
- Não. — Sua boca era um estranho risco, os braços estavam cruzados de maneira esquisita na frente dela. — Sério. Não quero que você se envolva nisso. Se é o que estou pensando, não.
- Mas… — começou Treena, olhando para trás, na minha direção.
- Não — repetiu mamãe, em um tom firme pouco usual. — Sem mais. Estive pensando nisso, em tudo o que você nos contou. É errado. É moralmente errado. E se você se envolver e for vista como alguém que está ajudando um homem a se matar, vai se meter em muita confusão.
- Sua mãe está certa — disse papai.
- Temos visto no noticiário. Any, isso pode afetar toda a sua vida. A entrevista na faculdade, tudo. Se for fichada na polícia, nunca vai conseguir um diploma universitário ou um bom emprego, nem nada…
- Ele pediu para Any ir. Ela não pode ignorá-lo — interrompeu Treena.
- Sim, ela pode, sim. Dedicou seis meses a essa família. E muitíssimas coisas boas aconteceram por causa de Any. Muitíssimas coisas boas são devidas a essa família aqui, incluindo gente batendo na porta e todos os vizinhos pensando que nos beneficiamos com alguma fraude ou algo assim. Não, ela enfim tem a chance de fazer algo por si própria e eles querem que ela vá para esse lugar horroroso na Suíça e se meta em Deus sabe o quê. Bom, minha resposta é não. Não, Anahi.
- Mas ela tem de ir — insistiu Treena.
- Não, ela não tem. Já fez muito. Ela mesma disse isso na noite passada, fez tudo o que pôde. — Mamãe balançou a cabeça. — Qualquer que seja a confusão em que os Herrera vão se meter com isso… isso… seja lá o que eles vão fazer com o filho, não quero que Anahi se envolva. Não quero que ela acabe arruinando toda a sua vida.
- Acho que eu mesma posso decidir — falei.
- Não tenho certeza. Ele é seu amigo, Anahi. É um jovem com a vida toda pela frente. Você não pode participar disso. Fico… fico chocada só de você considerar a possibilidade. — A voz de mamãe ganhou um novo tom, ríspido. — Não criei você para ajudar alguém a acabar com a própria vida! Você acabaria com a vida do vovô? Acha que deveríamos levá-lo para a Dignitas também?
- Vovô é diferente.
- Não é, não. Ele não consegue mais fazer o que fazia. Mas a vida dele é valiosa. Da mesma forma que a de Poncho.
- Essa decisão não é minha, mamãe. É de Poncho. Tudo isso é para dar apoio a ele.
- Apoio? Nunca ouvi tamanha bobagem. Você é uma criança, Anahi. Não viu nada, não fez nada. E não tem ideia do que isso vai lhe causar. Pelo amor de Deus, como vai conseguir dormir depois de ajudá-lo a fazer isso? Você terá ajudado um homem a morrer. Você realmente entende isso? Você terá ajudado Poncho, aquele jovem inteligente e simpático, a morrer.
- Eu conseguiria dormir porque acredito que Poncho saiba o que é melhor para ele e o pior é perder a capacidade de tomar suas próprias decisões, de não ser capaz de fazer qualquer coisa sem precisar de ajuda… — Olhei para meus pais, tentando fazê-los entender. — Não sou criança. Eu o amo. Eu o amo, e não deveria tê-lo deixado sozinho e é insuportável estar longe e não saber… o que ele… — Engoli em seco. — Portanto, eu vou. Não preciso que vocês cuidem de mim ou me entendam. Sei lidar com isso. Mas vou à Suíça, não importa o que vocês digam.
O pequeno corredor ficou em silêncio. Mamãe olhou bem para mim, como se não tivesse ideia de quem eu era. Aproximei-me, tentando fazer com que ela entendesse. Mas ela recuou.
- Mamãe? Eu tenho essa dívida com Poncho. Tenho que ir. Quem você acha que me sugeriu fazer uma faculdade? Quem você acha que me incentivou a fazer alguma coisa da vida, a viajar, a ter ambições? Quem mudou minha maneira de pensar sobre todos os assuntos? Até sobre mim mesma? Foi Poncho. Fiz mais coisas e vivi mais nos últimos seis meses do que nos últimos vinte e sete anos da minha vida. Portanto, se ele quer que eu vá para a Suíça, eu vou. Aconteça o que acontecer.
Fez-se um curto silêncio.
- Ela é igual à tia Lily — disse papai, baixinho.
Ficamos nos encarando. Papai e Treena se entreolhavam, como se um esperasse o outro dizer alguma coisa. Mas mamãe quebrou o silêncio.
- Se você for, Anahi, não precisa voltar.
As palavras saíram de sua boca como pedras. Olhei para minha mãe, que estava chocada. O olhar dela era obstinado. E ficou tenso conforme ela aguardava a minha reação. Era como se um muro que eu não sabia que existia tivesse se erguido entre nós.
- Mãe?
- Estou falando sério. Isso não é melhor que assassinato.
- Josie…
- É verdade, Bernard. Não posso participar disso.
Lembro de pensar, como se estivesse distante, que nunca vira Katrina tão insegura antes. Papai segurou o braço de mamãe, não sei se em reprovação ou se para confortá-la. Minha cabeça esvaziou. E, sem saber direito o que fazia, desci a escada devagar, passei por meus pais e fui para a porta da frente. Um segundo depois, minha irmã veio atrás.
Os cantos da boca de papai se voltaram para baixo, como se ele lutasse para conter todos os tipos de coisas. Ele se virou para mamãe e pôs a mão no ombro dela. Ela procurou os olhos dele como se já soubesse o que ele iria dizer.
Ele então jogou as chaves do carro para Treena, que agarrou-as com uma das mãos.
— Pronto — disse ele. — Saiam pelos fundos, pelo jardim da Sra. Doherty, e peguem o carro. Eles não vão ver vocês dentro do carro. Se saírem agora e o trânsito não estiver muito ruim, talvez consigam chegar a tempo.
* * *
- Tem alguma ideia de onde tudo isso vai dar? — perguntou Katrina.
Ela me olhou de soslaio quando pegamos a estrada.
- Não.
Eu não pude olhá-la por muito tempo — mexi na bolsa, tentando descobrir se tinha esquecido algo. Ainda ouvia a voz da Sra. Herrera ao telefone. Anahi? Por favor, você vai? Sei que tivemos nossas diferenças, mas, por favor… é fundamental que você venha agora.
- Merda. Nunca vi mamãe daquele jeito — prosseguiu Treena.
Passaporte, carteira, chaves. Chaves? Para quê? Eu não tinha mais casa.
Autor(a): day
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 121
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milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40
Não entendi o final :(
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franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42
Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36
;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54
;( quando vc vai postar mais??????
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franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36
VC NAO MUDOU O FINAL????????
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Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55
CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17
Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31
Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva
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Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58
AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????
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franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49
Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(