Fanfics Brasil - 44 Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny

Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso


Capítulo: 44

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* * *


No final do dia, tive certeza do que eu faria. Enquanto Poncho assistia a TV com o pai, aproveitei para pegar uma folha de papel A4 na impressora e uma caneta no pote que ficava na janela da cozinha e escrevi o que queria dizer. Dobrei o papel, encontrei um envelope e deixei-o sobre a mesa da cozinha, destinado à mãe dele. Quando saí, à noite, Poncho e o pai conversavam. Na verdade, Poncho estava rindo.


Parei no corredor com a bolsa pendurada no ombro, escutando. Por que ele ria? O que poderia lhe provocar alegria, uma vez que faltavam poucas semanas para ele se matar?


- Terminei aqui — gritei porta adentro e comecei a andar.


- Ei, Portilla... — Poncho começou a falar, mas eu já tinha fechado a porta atrás de mim.


Passei a curta viagem de ônibus tentando pensar no que diria aos meus pais. Eles ficariam furiosos por eu largar um emprego que viam como perfeitamente adequado e bem pago.


Após o choque inicial, minha mãe pareceria sofrida e me defenderia, insinuando que tinha sido demais para mim. Meu pai certamente perguntaria por que eu não era mais parecida com minha irmã. Ele sempre fazia isso, mesmo que não tenha sido eu a estragar a vida ficando grávida, nem a depender do restante da família para ter dinheiro e cuidar do filho.


Não era permitido dizer nada assim na nossa casa porque, segundo minha mãe, era como dizer que Thomas não era uma bênção. Todos os bebês eram bênçãos de Deus, mesmo aqueles que diziam veado um pouco demais e cuja presença significava que metade do potencial de ganhar dinheiro de nossa família não podia de fato sair e arrumar um bom emprego.


Eu não conseguiria dizer a verdade para eles. Sabia que não devia nada a Poncho ou a sua família, mas não ia impor o olhar curioso da vizinhança sobre eles.
Todos esses pensamentos reviravam na minha cabeça quando saí do ônibus e desci a colina. E então cheguei na esquina da nossa rua e escutei o berro, senti a sutil vibração no ar, e tudo em que pensava foi brevemente esquecido.


Uma pequena multidão tinha se juntado em volta da nossa casa. Apressei o passo, com medo de que tivesse acontecido alguma coisa, e vi meus pais no vestíbulo, espiando, e notei que não era na nossa casa, afinal de contas. Era só a mais recente de uma longa série de pequenas batalhas que caracterizavam o casamento de nossos vizinhos.


Que Richard Grisham não era o mais fiel dos maridos era algo bastante sabido em nossa rua. Mas, a julgar pela cena no jardim, devia ter sido a esposa dele a descobrir isso.


- Você deve ter achado que eu era uma droga de uma idiota. Ela estava com a sua camiseta! Aquela que eu fiz para o seu aniversário!


- Querida... Dympna... não é o que você está pensando.


- Fui comprar os seus malditos ovos escoceses! E lá estava ela, usando a sua camiseta! Cheia de si! E eu nem gosto de ovos escoceses!


Diminuí o passo, abrindo caminho em meio à pequena multidão até conseguir alcançar nosso portão, vendo quando Richard se abaixou para evitar ser atingido por um aparelho de DVD. A seguir, veio um par de sapatos.


- Há quanto tempo eles estão nessa?


Minha mãe, com o avental cuidadosamente amarrado à cintura, descruzou os braços e deu uma olhada no relógio.


- Há uns bons quarenta e cinco minutos. Bernard, você diria que já tem uns bons quarenta e cinco minutos?


- Depende se você contar a partir de quando ela jogou as roupas ou de quando ele voltou e as encontrou.


- Considero quando ele chegou. Papai avaliou.


- Então faz realmente quase meia hora. Ela ficou um bom tempo jogando coisas pela janela nos primeiros quinze minutos.


- Seu pai disse que, se ela realmente expulsar Richard de casa, vai fazer uma oferta de compra pela Black and Decker dele.


A multidão tinha aumentado e Dympna Grisham não mostrava sinais de que desistiria. Pelo contrário, parecia encorajada pelo crescente tamanho de sua audiência.


- Pode dar para ela seus livros imundos — gritou, jogando um maço de revistas pela janela.
Isso promoveu uma pequena salva de palmas na plateia.


- Veja se ela gosta que você fique metade da tarde de domingo sentado no banheiro com isso, ok? — Ela sumiu dentro de casa e então reapareceu na janela, esvaziando o conteúdo de um cesto de roupas sujas em cima do que já estava no gramado. — E suas imundas cuecas. Vamos ver se ela acha você um... como era?... supergaranhão, quando estiver lavando essas coisas para você todos os dias! Richard recolhia inutilmente braçadas de suas roupas à medida que aterrissavam na grama. Ele estava gritando alguma coisa para o alto, na direção da janela, mas, com o barulho e os apupos, era difícil entender. Como se por ora admitisse a derrota, ele abriu caminho pela multidão, destrancou o carro, jogou uma braçada de seus pertences no banco de trás e bateu a porta para fechá-la.


Estranhamente, enquanto sua coleção de CDs e seus video games causaram muito interesse, ninguém moveu uma palha pela roupa suja.


Crash. Houve uma pequena agitação quando o aparelho de som encontrou o chão.


Ele olhou para cima, incrédulo.


- Sua vadia maluca!


- Você anda dando amassos naquele monstro vesgo e cheio de doenças que trabalha na garagem e eu é que sou a vadia maluca?


Mamãe virou-se para papai:


- Você gostaria de uma xícara de chá, Bernard? Acho que está ficando um pouco frio.
Meu pai não tirou os olhos da porta da vizinha.


- Seria ótimo, querida. Obrigado.


Foi quando mamãe entrou em casa que reparei no carro. Foi tão inesperado que a princípio não o reconheci — a Mercedes azul-marinho da Sra. Herrera, discreta e de suspensão baixa. Ela abriu a porta, observando a cena na calçada, e hesitou por um instante antes de sair do carro. Ela ficou parada, encarando as várias casas, talvez conferindo os números. E então, me viu.


Saí do vestíbulo e percorri o caminho para carros antes que papai perguntasse aonde eu ia. A Sra. Herrera permaneceu ao lado da multidão, olhando para o caos como Maria Antonieta olharia para um bando de camponeses revoltados.


- Briga doméstica — expliquei.


Ela desviou o olhar, como se estivesse quase constrangida por ter sido pega observando a cena.


- Sei.


- Para os padrões deles, é completamente construtivo. Quase uma terapia de casal.


O elegante tailleur de lã que ela usava, as pérolas e o cabelo de aparência chique bastavam para destacá-la na nossa rua, no meio das calças de moletom e dos tecidos baratos e de cores berrantes das lojas de departamento. Ela tinha uma aparência rígida, pior do que a daquela manhã em que chegou em casa e me encontrou dormindo no quarto de Poncho. Registrei em alguma parte distante da minha mente que eu não sentiria falta de Camilla Herrera.


- Estava pensando se você e eu poderíamos ter uma conversinha. — Ela precisou erguer a voz para se fazer ouvir acima da agitação.


A Sra. Grisham agora jogava pela janela os vinhos finos do marido. Cada garrafa que explodia no chão era saudada com gritos de deleite e mais um sincero acesso de raiva e apelos do Sr. Grisham. Um rio de vinho tinto escorria por entre os pés da multidão, para dentro do bueiro.


Lancei um olhar para aquela confusão, e depois virei para trás, para a nossa casa. Não conseguia pensar em levar a Sra. Herrera para a nossa sala da frente, com aquela confusão de trens de brinquedo, o vovô roncando silenciosamente diante da TV, mamãe borrifando essências para disfarçar o cheiro das meias de papai e Thomas aparecendo para mumurar veado para as visitas.


- Hum... não é uma boa hora.


- Talvez possamos conversar no meu carro? Olhe, só cinco minutos, Anahi. Certamente tem esse tempo a nos oferecer.


Alguns vizinhos olharam na minha direção quando entrei no carro. Tive sorte de os Grisham serem a grande novidade do dia, caso contrário, o tópico das conversas teria sido eu. Na nossa rua, se você entra num carro de luxo significa que conquistou um jogador de futebol ou está sendo preso por policiais à paisana.


As portas do carro se fecharam com um baque surdo e pesado e, de repente, fez-se silêncio.


O carro tinha cheiro de couro e não havia nada em seu interior além de mim e da Sra. Herrera. Sem papel de bala, lama, brinquedos perdidos ou coisas perfumadas penduradas para disfarçar o cheiro da embalagem de leite que tinha se derramado lá dentro três meses antes.


- Pensei que você e Poncho se dessem bem. — Ela falou como se estivesse se dirigindo a alguém bem à sua frente. Quando eu não disse nada, ela perguntou: — É problema de dinheiro?


- Não.


- Precisa de um intervalo de almoço maior? Sei que é um pouco curto.
Posso perguntar a Christian se ele...


- Não é por causa do horário. Nem do dinheiro.


- Então...


- Eu realmente não quero...


- Olhe, você não pode pedir demissão sem aviso prévio e esperar que eu nem ao menos pergunte o que aconteceu.


Respirei fundo.


- Ouvi a senhora. A senhora e sua filha. Na noite passada. E não quero... Não quero participar disso.


- Ah.


Ficamos em silêncio. O Sr. Grisham agora tentava derrubar a porta da frente para entrar e a Sra. Grisham estava ocupada em arremessar pela janela e em direção à cabeça dele qualquer coisa que localizasse. A escolha dos projéteis (rolo de papel higiênico, caixas de absorvente, escova de vaso, frascos de xampu) sugeria que ela estava no banheiro.


- Por favor, não vá embora — disse a Sra. Herrera, em voz baixa. — Poncho está à vontade com você. Mais do que tem estado em muito tempo. Eu... seria muito difícil nós conseguirmos isso com outra pessoa.


- Mas vocês... vocês vão levá-lo para aquele lugar onde as pessoas se matam. Dignitas.


- Não. Vou fazer tudo o que puder para garantir que ele não faça isso.


- Como o quê? Rezar?


Ela me deu o que minha mãe teria chamado de um “olhar desaprovador”.


- Você já deve ter percebido que, se Poncho decide se tornar inalcançável, há muito pouco que qualquer pessoa possa fazer em relação a isso.


- Já entendi tudo isso — falei. — Estou lá apenas para garantir que ele não trapaceie e se mate antes que os seis meses cheguem ao fim. É isso, não é?


- Não. Não é isso.


- É por isso que a senhora não ligou para minhas qualificações para o trabalho.


- Achei você inteligente, alegre e diferente. Você não parecia uma enfermeira. Não se comportava... como nenhuma das outras. Pensei... pensei que pudesse animá-lo. E anima... você realmente o anima, Anahi. Vê-lo sem aquela barba horrorosa ontem... você parece ser uma das poucas pessoas que consegue chegar até ele.


Roupas de cama saíram pela janela. Caíram emboladas, os lençóis se abriram rápida e graciosamente antes de atingirem o chão. Duas crianças pegaram um e correram pelo jardim com ele na cabeça.


- Não acha que teria sido justo dizer que eu seria, na prática, a vigia de um suicida?


O suspiro que Camilla Herrera deu soou como o de alguém obrigado a explicar algo educadamente para uma imbecil. Fiquei pensando se ela tinha consciência de que tudo o que falava fazia os outros parecerem idiotas. Pensei que aquilo era uma coisa que ela havia cultivado realmente de maneira deliberada. Acho que eu jamais conseguiria fazer alguém se sentir inferior.


- Podia ser assim na época em que nós nos conhecemos... mas tenho certeza que Poncho vai manter sua palavra. Ele me prometeu seis meses, e será isso o que terei. Precisamos desse tempo, Anahi. Precisamos desse tempo para que ele saiba que existe uma possibilidade. Eu esperava que isso plantasse nele a ideia de que existe uma vida que ele pode aproveitar, mesmo que não seja a vida que ele havia planejado.


- Mas é tudo mentira. A senhora mentiu para mim e todos na sua família estão mentindo uns para os outros.


Ela não parecia me ouvir. Virou-se para me olhar, puxando um talão de cheques da bolsa, a caneta já na mão.


- Escute, o que você quer? Dobro o seu salário. Diga-me quanto quer.


- Não quero o seu dinheiro.


- Um carro. Alguns benefícios. Bônus...


- Não...


- Então... o que posso fazer para que você mude de ideia?


- Sinto muito. Eu apenas não...


Fiz menção de sair do carro. Sua mão disparou. E ficou ali, no meu braço, estranha e radioativa. Nós duas olhamos para a mão.


- Você assinou um contrato, Srta. Portilla — disse ela. — Você assinou um contrato em que prometeu trabalhar conosco por seis meses. Pelos meus cálculos, cumpriu apenas dois. Só estou solicitando que cumpra suas obrigações contratuais.


Sua voz tinha se tornado áspera. Olhei para baixo, para a mão dela, e vi que tremia.
Ela engoliu em seco.


- Por favor.


Meus pais estavam olhando da varanda. Eu podia vê-los, canecas de chá equilibradas em suas mãos, as únicas pessoas que não acompanhavam a cena na porta ao lado. Viraram-se, desajeitados, quando perceberam que eu os havia notado. Papai, eu reparei, usava os chinelos xadrez manchados de tinta.
Abri a porta do carro.


- Sra. Herrera, eu realmente não posso simplesmente me sentar e assistir... é muito estranho. Não quero fazer parte disso.


- Apenas pense a respeito. Amanhã é Sexta-feira Santa; direi a Poncho que você tem um compromisso familiar, se precisa mesmo de tempo. Aproveite o fim de semana prolongado para pensar. Mas, por favor. Volte. Volte e ajude-o.


Entrei em casa sem olhar para trás. Sentei-me na sala de estar, olhando para a TV enquanto meus pais me seguiam, trocando olhares e fingindo que não estavam me examinando.
Passaram-se quase onze minutos até que eu finalmente ouvi o motor do carro da Sra. Herrera ser ligado e sair.



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Autor(a): day

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 121



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  • milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40

    Não entendi o final :(

  • franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42

    Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36

    ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54

    ;( quando vc vai postar mais??????

  • franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36

    VC NAO MUDOU O FINAL????????

  • Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55

    CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17

    Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31

    Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva

  • Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58

    AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????

  • franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49

    Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(


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