Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso
* * *
Mamãe estava animada durante o jantar. Tinha feito lasanha, o prato preferido de Treena, e Thomas teve permissão de ficar acordado até mais tarde, como prêmio. Comemos, conversamos, rimos e falamos de assuntos que não eram perigosos, como futebol, meu trabalho e os colegas de Treena. Mamãe deve ter perguntado umas cem vezes se ela tinha certeza de que estava se virando realmente bem e se Thomas precisava de alguma coisa, como se meus pais tivessem dinheiro sobrando para dar à ela. Foi bom eu ter avisado antes que eles estavam sem um tostão. Por isso, Treena respondeu, de um jeito firme e delicado, que não precisava de nada. Mais tarde, perguntei se não precisava mesmo.
Naquela noite, acordei por volta da meia-noite com um choro. Era Thomas, no quartinho. Ouvi Treena tentando consolá-lo e acalmá-lo, a luz sendo acesa e apagada, a cama sendo ajeitada. Fiquei deitada no escuro, observando a luz da rua passar pelas cortinas e iluminar o meu teto recém-pintado. Esperei até o choro parar, mas tudo se repetiu às duas da manhã. Desta vez, ouvi mamãe andar de chinelos pelo corredor e murmurar alguma coisa. Então, finalmente, Thomas se aquietou.
Às quatro, acordei com minha porta rangendo ao ser aberta. Pisquei, tonta, olhando na direção de onde vinha a luz. Podia ver a silhueta de Thomas na porta, as pernas do pijama compridas demais, o cobertorzinho de estimação arrastando um pouco no chão. Não conseguia ver seu rosto, mas ele ficou em pé ali, inseguro, como se não soubesse o que fazer.
- Venha cá, Thomas — sussurrei. Quando ele veio na minha direção, vi que ainda estava meio dormindo. Os passos eram hesitantes, o dedo enfiado na boca, o precioso cobertor sendo agarrado. Puxei o edredom e ele subiu ao meu lado na cama, deitando no outro travesseiro, e se encolheu todo. Cobri-o e fiquei olhando para ele, encantada com o seu sono profundo e imediato.
- Durma bem, querido — sussurrei e dei um beijo na testa dele; uma mãozinha gorda agarrou a minha camiseta como para garantir que eu não iria embora.
* * *
- Qual o melhor lugar onde você já foi?
Poncho e eu estávamos sentados no abrigo, esperando que uma chuvinha repentina parasse para darmos uma volta nos jardins atrás do castelo. Poncho não gostava de andar pelas áreas principais, pois lá muita gente ficava olhando para ele. Mas a horta era um dos tesouros ocultos do castelo, aonde poucos iam. Os pomares escondidos ficavam separados por trilhas de seixos, por onde a cadeira de rodas passava facilmente.
- Melhor de que forma? Por que essa pergunta
- Escalei o monte Kilimanjaro quando fiz trinta anos. Foi incrível.
- Que altura?
- Mais de cinco mil metros até o pico Uhuru. Nos últimos metros já estava engatinhando. A altitude prejudica muito.
- Estava frio?
- Não... — Ele sorriu. — Não é como o Everest. Pelo menos, na época do ano em que fui. — Ele olhou ao longe, imerso na lembrança. — Foi lindo. É considerado o teto da África. Lá de cima dá para ver quase até o fim do mundo.
Poncho ficou calado por um instante. Olhei para ele, pensando onde realmente estaria. Quando tínhamos essas conversas, ele parecia o meu colega de escola que se distanciou de nós depois que se aventurou pelo mundo.
- Que outros lugares você gostou de conhecer?
- A Baía Eau Douce, nas Ilhas Maurício. A população de lá é muito simpática, as praias são lindas, ótimas para mergulhos. Hum... o Parque Nacional de Tsavo, no Quênia, com toda a sua terra vermelha e os animais selvagens. O Parque Nacional Yosemite, na Califórnia. Montanhas tão altas que o cérebro da gente não consegue processar tamanha imensidão.
Contou de uma noite que passou escalando, pendurado num penhasco a muitos metros do chão, e precisou prender o saco de dormir no rochedo, pois, caso rolasse o corpo durante o sono, aconteceria um desastre.
- Você acabou de descrever o meu pior pesadelo.
- Gosto de grandes cidades também. Adorei Sydney. E as terras ao norte da Islândia. Lá tem um lugar perto do aeroporto onde se pode tomar banho em fontes vulcânicas. É uma paisagem um pouco estranha, nuclear. Ah, gostei também de andar a cavalo na planície central da China. Cheguei lá após dois dias a cavalo, partindo da capital da província de Sichuan; os moradores cuspiram em mim, pois nunca tinham visto um homem branco antes.
- Tem algum lugar que você não conhece? Ele tomou mais um pouco de sopa.
- Coreia do Norte? — Ele pensou. — Ah, nunca fui à Disneylândia. Será que vale a pena? Nem à Eurodisney.
- Uma vez, comprei uma passagem para a Austrália. Mas nunca fui. Ele virou-se para mim, surpreso.
- Acontece. Tudo bem. Talvez eu vá um dia — acrescentei.
- Nada de “talvez”. Você precisa sair daqui, Portilla. Prometa que não vai passar o resto da vida enfiada nesta cidade que mais parece uma maldita estampa de jogo americano.
- Prometer? Por quê? — Tentei fazer uma voz suave. — Aonde você vai?
- É que... não aguento pensar que você vai ficar aqui pelo resto da vida. — Ele engoliu em seco. — Você é muito inteligente. Muito interessante. — Ele desviou os olhos de mim. — Você só vive uma vez. É sua obrigação aproveitar a vida da melhor forma possível.
- Está bem — concordei, com cuidado. — Então me diga para onde eu devia ir. Aonde você iria, se pudesse ir para qualquer lugar?
- Agora?
- Sim, agora. E não me venha com Kilimanjaro. Tem de ser um lugar onde eu possa me imaginar — expliquei.
O rosto de Poncho relaxou e ele ficou parecendo outra pessoa. Naquele momento, um sorriso brotou em seu rosto, seus olhos apertados de satisfação.
- Eu iria a Paris. Sentaria numa mesa na calçada do Café Marais, tomaria uma xícara de café e comeria croissants quentes com manteiga sem sal e geleia de morango.
- Marais?
- É um pequeno bairro no centro de Paris. Com ruas de pedras, prédios residenciais que parecem balançar; gays, judeus ortodoxos e mulheres de certa idade que já foram parecidas com Brigitte Bardot. É o melhor lugar para ficar.
Virei-me para ele e disse baixinho:
- Podíamos ir. De Eurostar. É simples, acho que nem precisaríamos que Christian fosse junto. Nunca fui a Paris. Adoraria ir. De verdade. Principalmente com alguém que já conhece. O que acha, Poncho?
Eu já me imaginava naquele café. Sentada àquela mesa, talvez admirando meus novos sapatos franceses comprados em alguma butique chique, ou escolhendo um doce com os dedos pintados de esmalte parisiense vermelho. Podia sentir o gosto do café, o cheiro dos Gauloises que alguém fumava na mesa ao lado.
- Não.
- O que disse? — Levei um instante para deixar aquela mesa na calçada de Paris.
- Não.
- Mas você acabou de dizer...
- Você não entendeu, Portilla. Não quero ir lá nessa... nessa coisa. — Ele apontou para a cadeira, a voz sumindo. — Quero ir a Paris como eu era. Quero sentar, recostar-me nas cadeiras, usando minhas roupas preferidas, com lindas garotas francesas me olhando ao passar como fariam com qualquer outro cara sentado ali. Não quero vê-las desviar o olhar, rápido, ao perceber que sou um homem numa enorme e maldita cadeira de rodas.
- Mas podemos tentar. Não precisa... — arrisquei.
- Não, não podemos. Pois ao fechar os olhos consigo saber exatamente como é estar na Rue des Francs Bourgeois, fumando um cigarro, o suco de tangerina num copo alto e gelado na minha frente, o cheiro do rosbife com fritas que alguém pediu, o pipocar de uma lambreta ao longe. Conheço todas essas sensações.
Engoliu em seco.
- Se formos lá e eu estiver nesta maldita geringonça, todas essas lembranças, essas sensações boas, vão desaparecer, apagadas pela dificuldade de chegar à mesa, de subir e descer nas calçadas parisienses, pelos táxis que se recusam a nos levar, pela maldita bateria da cadeira de rodas que não pode ser recarregada numa tomada francesa. Entendeu?
A voz dele tinha endurecido. Tampei a garrafa térmica. Ao fazer isso, fixei o olhar nos meus sapatos para que Poncho não visse a minha expressão.
- Entendi — respondi.
- Certo. — Ele respirou fundo.
Um ônibus parou perto de nós e descarregou mais um bando de turistas nos portões do castelo. Observamos em silêncio eles descerem do veículo e entrarem na velha fortaleza formando uma única e civilizada fila, prontos para ver as ruínas de outros tempos.
Poncho decerto notou que fiquei desapontada, pois inclinou-se um pouco para o meu lado. Seu rosto se suavizou.
- Então, Portilla. Acho que a chuva passou. Aonde vamos esta tarde? Percorrer o labirinto do jardim?
- Não — respondi mais rápido do que pretendia, e vi o olhar que Poncho me lançou.
- Você sente claustrofobia lá?
- Quase isso. — Juntei nossas coisas. — Vamos voltar para casa.
Autor(a): day
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 121
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milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40
Não entendi o final :(
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franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42
Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36
;(
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franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54
;( quando vc vai postar mais??????
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franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36
VC NAO MUDOU O FINAL????????
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Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55
CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17
Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?
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hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31
Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva
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Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58
AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????
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franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49
Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(