Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso

* * *

Leo McInerney morreu no dia vinte e dois de maio, em um quarto anônimo de um apartamento na Suíça, usando sua camisa preferida do time de futebol e ao lado dos pais. O irmão caçula se recusou a ir com eles, mas divulgou uma nota dizendo que ninguém foi mais amado ou recebeu mais apoio do que seu irmão. Leo tomou o líquido leitoso de sedativos letais às três e quarenta e sete da tarde e os pais disseram que, alguns minutos depois, ele pareceu cair em um sono profundo. Foi declarado morto pouco depois das quatro da tarde por uma testemunha que registrou tudo, além da câmera de vídeo instalada para evitar qualquer alegação de mau procedimento.

“Ele parecia em paz”, consta na declaração da mãe. “É o que me consola.”

Ela e o pai de Leo foram interrogados três vezes pela polícia e ameaçados de processo. Receberam cartas indignadas. A mãe parecia, no mínimo, vinte anos mais velha do que era. Mesmo assim, quando ela falava havia algo em sua expressão que, além da tristeza, da raiva, da preocupação e do cansaço, mostrava um  profundo alívio.

— Ele finalmente pareceu o Leo de antes.

* * *

- Então, vamos lá, Portilla. Que programas animados você  planejou  para esta noite?

Estávamos no jardim. Christian fazia fisioterapia em Poncho, levantando as pernas dele até o peito e abaixando-as enquanto Poncho estava deitado em um cobertor, seu rosto voltado para o sol, seus braços estendidos, como se estivesse tomando banho de sol. Eu me sentei no gramado perto deles e comi meus sanduíches. Agora, eu raramente  saía  para almoçar.

- Por quê?

- Curiosidade. Quero saber como passa seu tempo quando não está aqui.

- Bom... esta noite participarei de uma pequena luta de artes marciais avançadas, depois vou de helicóptero jantar em Monte Carlo. E então, no caminho de volta para casa, talvez tome um drinque em Cannes. Se você olhar para cima às... aah... lá pelas duas da manhã, acenarei para você quando passar

- respondi. Abri o meu sanduíche e olhei o recheio. — Acho que vou terminar de ler meu livro.

Poncho deu uma olhada para Christian.

- Dez pratas — disse ele, sorrindo.

Christian enfiou a mão no bolso para pegar o dinheiro e falou:

- Sempre assim.

Olhei para os dois e perguntei:

- Sempre assim o quê?

Christian pôs o dinheiro na mão de Poncho.

- Ele disse que você ia ler um livro, eu disse que ia ver TV. Ele sempre ganha a aposta.

O sanduíche grudou nos meus lábios.

- Sempre? Vocês têm apostado quão chata é a minha vida?

- Não usamos essa palavra — respondeu Poncho. O olhar levemente culpado me fez pensar em outra coisa.

Empertiguei-me.

- Deixe-me ver se entendi. Vocês estão apostando dinheiro se numa noite de sexta-feira eu vou estar em casa para ler um livro ou ver TV?

- Não — respondeu Poncho. — Teve uma rodada em que apostei que você iria ver o Corredor na pista.

Christian  soltou  a   perna   de  Poncho.  Pegou  o  braço,  esticou-o  e  começou   a

massageá-lo a partir do pulso.

- E se eu dissesse que ia fazer uma coisa totalmente diferente?

- Mas você nunca faz — disse Christian.

- Na verdade, vou ficar com o dinheiro — falei, tirando a nota de dez da mão de Poncho. — Porque esta noite vocês erraram.

- Você disse que ia ler! — protestou Poncho.

- Agora que tenho isto — continuei, mostrando a cédula de dez libras —, vou ao cinema. Pronto. Pode acionar o Juizado de Pequenas Causas ou seja lá como se chame.

Levantei, guardei o dinheiro no bolso e joguei o resto do meu almoço no saco de papel pardo. Sorri ao me afastar deles mas, estranhamente, e sem qualquer razão aparente, meus olhos se encheram de lágrimas.

Naquela manhã, fiquei uma hora trabalhando no calendário antes de ir para a Granta House. Em alguns dias, eu apenas me sentava na cama e, de lá, olhava o calendário, a caneta na mão, pensando para onde eu poderia levar Poncho. Ainda não estava convencida de que poderia levá-lo para muito mais longe e, mesmo com a ajuda de Christian, pensar em passar a noite em algum lugar parecia uma ideia assustadora.

Olhei o jornal da cidade, à procura de jogos de futebol e festas regionais, mas, após o fracasso das corridas, tive medo de que a cadeira de Poncho atolasse na grama. E ficava preocupada que multidões o fizessem se sentir exposto. Tinha de excluir todos os eventos relacionados com cavalos, o que, na nossa região, significava uma quantidade surpreendente de atividades ao ar livre. Sabia que Poncho não gostaria de ir ver Manuel numa corrida e que detestava críquete e rúgbi. Às vezes, eu ficava pasma com minha incapacidade de pensar novas coisas.

Talvez Poncho e Christian tivessem razão. Talvez eu fosse chata. Talvez eu fosse a pessoa menos capacitada do mundo para inventar coisas que pudessem instigar a vontade de viver em Poncho.

Um livro, ou a televisão.

Posto assim, era difícil concluir outra coisa a meu  respeito.