Fanfics Brasil - 73 Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny

Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso


Capítulo: 73

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* * *


 


Dois dias depois, Poncho teve uma infecção e acabou no hospital. Era uma medida de precaução, foi o que eles disseram, mas era óbvio para todos que ele sentia muita dor. Alguns paraplégicos não têm sensibilidade física, mas, apesar de não sentir calor ou frio, da cintura para baixo ele podia sentir dor e o toque. Fui visitá-lo duas vezes, levando músicas e coisas gostosas para comer, me ofereci para fazer companhia mas, particularmente, senti como se eu estivesse atrapalhando, e logo percebi que ele não queria mais atenção. Disse para eu ir para casa e aproveitar o tempo que teria para mim mesma.


Um ano antes, eu teria aproveitado mesmo, percorreria  as  lojas,  talvez até fosse almoçar com Manuel. Eu provavelmente teria visto um pouco de TV à tarde e faria uma vaga tentativa  de arrumar minhas roupas. Teria dormido à   beça.


Agora, no entanto, eu estava estranhamente agitada e perturbada. Sentia falta de um motivo para me levantar cedo, de um propósito para o dia.


Levei a metade de uma manhã para concluir que esse tempo poderia  ser  útil. Fui à biblioteca e comecei a  pesquisar. Olhei todos  os  sites  sobre  paraplégicos que pude encontrar e descobri coisas que poderíamos fazer quando Poncho estivesse melhor. Fiz listas e acrescentei o equipamento ou as coisas que seriam necessárias para  cada programa.


Encontrei salas de bate-papo para  portadores  de  lesão  na  coluna  e descobri que havia centenas de pessoas iguais a ele lá fora — vivendo vidas escondidas em Londres, Sydney, Vancouver ou até ali naquela rua —, ajudadas por amigos ou familiares e, às vezes, sozinhos, o que era de cortar o  coração.


Eu não era a única cuidadora interessada naqueles sites. Havia namoradas perguntando como ajudar seus parceiros a terem confiança para sair de casa de novo, maridos querendo saber opiniões sobre os equipamentos médicos mais novos. Tinha anúncios de cadeiras de roda que podiam enfrentar areia ou terra; içadores inteligentes e acessórios infláveis para banho.


As pessoas usavam muitas siglas nos bate-papos. Descobri que LME era  lesão na medula espinhal; ITU, infecção do trato urinário; FS, forte e saudável. Vi também  que  uma  lesão em  C4 e C5 era bem  mais  grave do que  em  C11 e C12, pois muitos dos lesionados nessa última localização usavam os braços ou o torso. Havia história de amor e perda, de homens lutando para lidar com esposas deficientes físicas e também com filhos pequenos. Havia esposas que se sentiam culpadas por terem rezado para que o marido parasse de espancá-la; agora ele nunca mais faria isso. Havia maridos que queriam se separar da esposa deficiente, mas tinham medo de como a comunidade reagiria. Havia exaustão e desespero e muito humor negro — piadas sobre bolsas de coleta que explodiam; atitudes bem-intencionadas, mas burras; desventuras de bêbados. Cair da cadeira parecia um tema corriqueiro. E havia ameaças de suicídio: os que queriam se matar; outros que os encorajavam a esperar, a aprender a olhar a vida de outra maneira. Li cada uma delas e me senti como se estivesse olhando para um panorama secreto de como o cérebro de Poncho funcionava.


No almoço, saí da biblioteca e fui andar pela  cidade  para  desanuviar  a cabeça. Dei-me o luxo de um sanduíche de camarão e sentei-me no muro, observando os cisnes no lago abaixo do castelo. Estava  quente  o  suficiente  para que eu tirasse o casaco, e voltei meu rosto na direção do sol. Havia um curioso sossego em olhar o restante do mundo cuidar de suas vidas. Depois de passar a manhã inteira enfiada no mundo dos paralíticos, só o fato de poder andar e comer meu sanduíche ao sol já me dava uma sensação de  liberdade.


Quando terminei, voltei para a biblioteca e solicitei o computador que estava usando. Tomei fôlego e digitei uma mensagem.


 


Olá, sou amiga e cuidadora de um paraplégico de trinta e cinco anos. Ele era muito bem-sucedido e dinâmico em sua vida anterior e está tendo dificuldades para se adaptar à nova realidade. Na verdade, sei que ele não quer mais viver e estou tentando pensar em maneiras de fazê-lo mudar de ideia. Alguém pode, por favor, me dizer como posso fazer isso? Alguma ideia de coisas de que ele possa gostar, ou meios de eu conseguir fazer com que ele pense de maneira diferente? Todas as opiniões  são bem-vindas.


 


Assinei Abelha Atarefada. Então, recostei-me na cadeira, mordisquei um pouco meu dedão e finalmente apertei “Enviar”.


 


* * *


 


Na manhã seguinte, quando me sentei no terminal, havia quatorze respostas. Entrei no bate-papo e fiquei surpresa com a lista de nomes. Pessoas do mundo inteiro haviam respondido dia e noite. O primeiro dizia:


 


Cara Abelha Atarefada


Seja bem-vinda. Tenho certeza que seu amigo terá muito consolo por ter alguém cuidando dele.


 


Eu não estou muito certa disso, pensei.


 


Quase todos nós enfrentamos um obstáculo definitivo na vida. Talvez o seu amigo tenha chegado ao obstáculo dele. Não deixe que ele afaste você. Mantenha-se positiva. E lembre-o de que não compete a ele decidir quando chegamos e saímos desse mundo, mas ao Senhor. Com Sua Sabedoria, Ele resolveu mudar a vida do seu amigo, o que pode ser uma mostra de que Ele...


 


Passei para a mensagem  seguinte.


 


Cara  Abelha,


Não tem jeito, ser Paraplégico pode ser um saco. Se o seu amigo ainda por cima gostava de esportes, vai achar mais duro ainda. Eis as coisas que me ajudaram: muita companhia, mesmo quando eu não estava querendo. Boa comida. Bons médicos. Bons remédios, antidepressivos, quando necessário. Você não disse onde vocês estão, mas se conseguir que ele converse com outras pessoas na comunidade de LME, isso pode ajudar. No começo, eu era muito relutante (acho que uma parte minha não queria admitir que eu era um paraplégico), mas ajuda saber que não se está só.


Ah, e NÃO DEIXE que ele assista a nenhum filme como O escafandro e a borboleta. Mó deprê!


Dê notícias. Sinceramente, Ritchie


 


Pesquisei por O escafandro e a borboleta. “A história de um homem que fica paralisado devido a um derrame e suas tentativas de se comunicar com o mundo externo”, dizia o resumo do filme. Anotei o título no meu bloco, sem saber se eu estava fazendo aquilo para garantir que Poncho não o assistiria ou para me lembrar de ver depois.


As outras duas mensagens eram de um Adventista do Sétimo Dia e de um homem que sugeria coisas para levantar o ânimo de Poncho que certamente não estavam no meu contrato de trabalho. Enrubesci e passei rápido para outra mensagem, com medo de que alguém desse uma olhada na tela por trás de mim. E então eu fiquei indecisa quanto à próxima mensagem.


 


Olá Abelha Atarefada,


Por que acha que o seu amigo/paciente/o que for precisa mudar de ideia? Se eu conseguisse um jeito de morrer com dignidade e se eu soubesse que isso não devastaria minha família, eu me mataria. Estou confinado a esta cadeira há oito anos e minha vida consiste numa série de humilhações e frustrações. Você consegue mesmo se colocar no lugar dele?  Você parece uma pessoa ótima, e tenho certeza que tem boas intenções. Mas talvez você não cuide dele na semana que vem. Talvez no futuro seja alguém que o deixe deprimido, ou até que não goste muito dele. Isso, como todas as outras coisas, está fora do controle dele. Nós, portadores de LME, sabemos que muito pouco está sob nosso controle.


Por isso, acho que você está fazendo a pergunta errada. Quem são os fortes e sadios para decidir como deve ser a nossa vida? Se essa não é a vida certa para o seu amigo, a questão deveria ser: como posso ajudá-lo a acabar com isso?


Sinceramente,


Gforce, Missouri, Estados Unidos


 


Fiquei olhando para a mensagem, meus dedos parados sobre o teclado. Depois, passei para as mensagens restantes. Eram de outros paraplégicos criticando as palavras desanimadoras de Gforce, afirmando que eles conseguiram um jeito de seguir em frente, que a vida deles valia a pena. Houve uma pequena discussão que parecia não ter nada a ver com  Poncho.


A seguir, voltaram a comentar o meu pedido. Havia sugestões de antidepressivos, massagens, recuperações miraculosas, histórias de como a vida dos próprios membros da comunidade passou a ter um novo valor. Havia algumas sugestões práticas: degustação de vinho, música, exposições de arte, teclados de computador  especialmente  adaptados.


“Sugiro uma companheira”, escreveu Grace31, de Birmigham. “Se ele amar, sentirá que pode seguir em frente. Sem amor, eu já teria afundado várias vezes.”


Essa frase ecoou na minha cabeça até bem depois de eu sair da biblioteca.



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Autor(a): day

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* * *   Poncho saiu do hospital na quinta-feira. Fui buscá-lo com o carro adaptado e  trouxe-o para casa. Estava pálido e exausto; ficou olhando distraidamente pela janela durante todo o trajeto. — Não dá para dormir nesses lugares — explicou, quando perguntei se estava bem. — Tem sempre alguém gemendo na  ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 121



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  • milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40

    Não entendi o final :(

  • franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42

    Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36

    ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54

    ;( quando vc vai postar mais??????

  • franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36

    VC NAO MUDOU O FINAL????????

  • Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55

    CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17

    Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31

    Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva

  • Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58

    AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????

  • franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49

    Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(


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