Fanfics Brasil - 78 Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny

Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso


Capítulo: 78

509 visualizações Denunciar


* * *


 


Deirdre Bellows precisou me chamar duas vezes até eu olhar. Eu estava anotando em um bloquinho os possíveis lugares e as dúvidas, os prós e os contras, e até esqueci que estava dentro do ônibus. Tentava encontrar um jeito de levar Poncho ao teatro. Só que o mais próximo ficava a duas horas de carro e apresentava o musical Oklahoma! Não conseguia imaginar Poncho apreciando um personagem cantar Oh what a beautiful morning, mas todas as peças sérias em cartaz estavam em Londres. E chegar a Londres ainda era uma    impossibilidade.


Eu agora conseguia tirar Poncho de casa, mas já tínhamos feito tudo o que era possível num raio de uma hora de distância e eu não tinha ideia de como convencê-lo a ir mais longe que isso.


- Perdida no seu mundinho, hein, Anahi?


- Ah, olá, Deirdre. — Cheguei um pouco para o lado para ela poder sentar.


Deirdre e mamãe eram amigas desde garotas. Ela era dona de uma loja de cortinas e almofadas e já havia se divorciado três vezes. Tinha tanto cabelo que parecia usar peruca e o rosto era triste e ansioso como se ainda sonhasse com o cavaleiro que  viria  buscá-la num  cavalo branco.


- Não costumo pegar ônibus, mas meu carro está  na  oficina.  Como você está? Sua mãe me contou sobre o seu trabalho. Parece muito interessante.


 


É isso que dá morar em cidade pequena. Todo mundo sabe da sua vida. Não há segredo: nem o fato de eu, aos quatorze anos, ter sido vista fumando no estacionamento de um supermercado fora da cidade; nem o fato de meu pai ter colocado telhado novo no banheiro de baixo. Os detalhes do cotidiano das pessoas eram tema de conversa de mulheres como Deirdre.


- O trabalho é bom, sim.


- E paga bem.


- É.


- Fiquei muito contente por você, depois de toda aquela  história  do  café. Uma pena terem fechado. A cidade está perdendo os melhores estabelecimentos comerciais. Lembro  que  tínhamos  uma  mercearia, uma  padaria  e  um  açougue na avenida principal. Só faltava um fabricante de velas!


- Hum. — Vi que ela olhava a minha lista e fechei o bloco. — Bom,  pelo menos ainda temos onde comprar cortinas. Como vai a sua loja?


- Ah, ótima... é. Mas o que tem nesse bloquinho? Alguma coisa de trabalho?


- Só estou pensando em coisas que Poncho possa gostar de fazer.


- Poncho é o seu deficiente?


- É. Meu patrão.


- Seu patrão. É um jeito simpático de dizer. — Ela me cutucou. — E como a sua inteligente irmã está na faculdade?


- Está bem. Thomas também.


- Ela vai acabar mandando no país, aquela menina. Mas preciso dizer uma coisa, Anahi, eu pensava que você sairia de casa antes dela. Sempre achamos você tão espertinha. Continuamos achando, claro.


Dei um sorriso educado. Não sabia o que mais podia fazer.


- Mas alguém tem de ficar, não é? E é ótimo para sua mãe que você goste de ficar por perto.


Tive vontade de discordar dela, mas depois lembrei que nada do que fiz nos últimos sete anos sugeria alguma ambição ou vontade minha de ir além do final da rua. Continuei sentada ali, enquanto o velho e cansado motor do ônibus rosnava e engasgava; de repente tive a sensação de ver o tempo passar e de perder grande parte dele nas pequenas idas e vindas pelo mesmo caminho. Contornando o castelo. Olhando Manuel dar uma volta na pista. As besteiras de sempre. A mesma rotina.


- Ah, vou descer nesse ponto. — Deirdre se levantou, pesada, pendurando no ombro a bolsa de verniz. — Mande um beijo para sua mãe. Diga que amanhã apareço por lá.


Olhei para ela, piscando.


- Fiz uma tatuagem. Uma abelha — falei, de repente. Ela hesitou, segurando-se na beira do banco.


- No quadril. Uma tatuagem permanente — acrescentei.


 


Deirdre olhou para a porta do ônibus. Pareceu meio intrigada, depois me deu o que interpretei como um sorriso complacente.


- Ah, que ótimo, Anahi. Como eu disse, avise a sua mãe que apareço amanhã.


 


* * *


 


Todos os dias, enquanto Poncho assistia a TV ou estava ocupado com alguma outra coisa, eu usava o computador dele para  procurar  o  programa  mágico  que Deixaria Poncho Feliz. Mas o tempo foi passando e vi que a lista de coisas que não podíamos fazer e de lugares a que não podíamos ir estava maior do que a lista do que podíamos efetivamente fazer. Com isso, voltei às salas de bate-papo virtual e pedi sugestões.


Olá!, escreveu Ritchie. Bem-vinda ao nosso mundo,  Abelha.


Nos bate-papos seguintes, aprendi que ficar bêbado numa cadeira de rodas tem seus próprios riscos, pode-se inclusive enfrentar problemas, cair na calçada e ser levado para a casa errada por outros bêbados. Aprendi também que não há um lugar onde os não cadeirantes sejam mais ou menos prestativos, mas que Paris era a cidade menos amigável do mundo para paraplégicos. Isso me deixou um pouco decepcionada, pois um pedacinho otimista de mim ainda esperava que fossemos lá.


Comecei a preparar uma nova lista: coisas que não se pode fazer com um paraplégico.


- Andar de metrô (a maioria das estações não tem elevador), o que   excluía metade dos programas em Londres, a menos que fôssemos de táxi.


- Nadar sem ajuda e quando a temperatura estiver provocando arrepios minutos após sair da água. Os espaços para deficientes   físicos trocarem de roupa não adiantam muito se a piscina não tiver um elevador. Mas claro que Poncho não aceitaria entrar numa piscina com elevador.


- Ir ao cinema, a menos que reserve antes um lugar na frente, ou que os espasmos de Poncho não estejam frequentes no dia. Passei no mínimo vinte minutos de cócoras no chão durante Janela indiscreta, catando as pipocas que Poncho involuntariamente jogou para o alto após uma contração do joelho.


- Ir à praia, a menos que a cadeira seja adaptada com “rodas gordas”. A de Poncho não era.


- Viajar de avião quando a “cota” para deficientes físicos estiver completa.


- Fazer compras, a menos que todas as lojas estejam equipadas com as rampas obrigatórias. Muitas lojas ao redor do castelo argumentavam que não podiam instalar rampas por estarem em um prédio histórico. Em alguns casos, era verdade.


- Ir a qualquer lugar que seja frio ou quente demais (devido aos problemas de temperatura de Poncho).


- Ir a qualquer lugar sem se preparar antes (é preciso arrumar as bolsas e conferir o itinerário para saber se há acesso para deficientes).


- Fazer longas viagens de trem (é exaustivo e muito difícil entrar no vagão com uma cadeira motorizada sem ajuda.)


- Cortar o cabelo depois de tomar chuva (o cabelo gruda nas rodas da cadeira de Poncho. Foi estranho quando isso ocorreu, e nós dois achamos nojento).


- Ir à casa de amigos, a menos que tenha rampa de acesso para cadeira de rodas. A maioria das casas tem escada e nada de rampas. A nossa era uma rara exceção. Mas Poncho dizia que, de qualquer jeito, não havia ninguém que ele quisesse visitar.


- Descer a colina do castelo com chuva forte (os freios às vezes falhavam e a cadeira era muito pesada para eu segurar).


- Ir a qualquer lugar onde possa haver bêbados. Poncho atraía-os. Eles se agachavam ao lado da cadeira, jogavam fumaça de cigarro em cima dele e lançavam longos olhares condoídos. Às vezes, chegavam até a empurrar a cadeira dele para fora.


- Ir a qualquer lugar onde haja uma multidão. Isso significa que, com a proximidade do verão, passear ao redor do castelo ficou mais difícil e quase todos os lugares aos quais eu planejava ir (feiras   temáticas, peças ao ar livre, shows) acabaram sendo descartados.


 


Em busca de novas ideias, perguntei aos paraplégicos dos chats o que eles mais gostariam de fazer e a resposta foi quase unânime: sexo. Deram até  alguns detalhes não solicitados.


Mas, no fundo, não foi uma grande ajuda. Faltavam oito semanas e eu estava sem ideias.


 



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): day

Este autor(a) escreve mais 12 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

   * * * Dois dias depois da nossa conversa embaixo do varal de roupas, cheguei em casa e encontrei papai em pé no corredor. O que já era estranho por si só, pois, nas últimas semanas, ele passava os dias recluso no sofá, com a desculpa de fazer companhia para o vovô. Mas ele vestia uma camisa passada, fizera a barba e o c ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 121



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40

    Não entendi o final :(

  • franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42

    Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36

    ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54

    ;( quando vc vai postar mais??????

  • franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36

    VC NAO MUDOU O FINAL????????

  • Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55

    CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17

    Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31

    Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva

  • Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58

    AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????

  • franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49

    Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais