Fanfics Brasil - 98 Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny

Fanfic: Como eu era antes de você adaptada AyA/ Ponny | Tema: anahi e alfonso


Capítulo: 98

320 visualizações Denunciar


 


* * *


 


Naquela noite, não voltei para a casa de Manuel. Eu queria, mas algo me afastou da área industrial e, em vez de ir até lá, atravessei a rua e tomei o ônibus que ia para a minha casa. Percorri os cento e oitenta passos até a porta e entrei. Era uma noite quente, todas as janelas estavam abertas numa tentativa de captar uma brisa. Mamãe cozinhava, cantando pela cozinha. Papai estava no sofá com uma caneca de chá, vovô cochilava na poltrona dele, a cabeça pendendo para um dos lados. Thomas desenhava atentamente nas biqueiras pretas dos seus sapatos. Cumprimentei-os e passei por eles, pensando como eu poderia tão de depressa parecer não pertencer mais àquele lugar.


Treena trabalhava no meu quarto. Bati na porta e entrei, e a encontrei na escrivaninha, debruçada sobre uma pilha de livros, com óculos que eu não conhecia pendurados no nariz. Era estranho vê-la rodeada das coisas que eu tinha escolhido para mim, com as fotos de Thomas já escondendo as paredes que eu tinha pintado com tanto cuidado, seu desenho à caneta ainda rabiscado no canto da minha cortina. Tive de dar um jeito de racionalizar aquilo, de modo a não ficar inconscientemente ressentida.


Ela me olhou por cima do ombro.


- Mamãe está me chamando? — perguntou. Olhou o relógio. — Pensei que ela fosse fazer o lanche de Thomas.


- E fez. Ele está comendo tirinhas de peixe empanado. Ela me olhou, depois tirou os óculos.


- Você está bem? Está com uma cara de bunda.


- Você também.


- Eu sei. Fiz aquela maldita dieta de desintoxicação. O que me deu urticária.


- Colocou a mão no queixo.


- Você não precisava de dieta.


- É. Bom... tem esse cara de quem eu gosto, que estuda Contabilidade Dois. Pensei que eu poderia fazer um esforço. Manchas enormes de urticária na cara são sempre um bom visual, não?


 


Sentei-me na cama. Era o meu edredom.  Eu sabia  que  Manuel  o detestaria, com aqueles desenhos geométricos malucos. Fiquei surpresa  por Katrina   gostar.


Ela  fechou o livro e recostou-se na  cadeira.


- E aí, quais são as novas?


Mordi o lábio até ela perguntar de novo.


- Tree, você acha que eu podia voltar a estudar?


- Estudar? O quê?


- Não sei. Alguma coisa ligada a moda. Design. Ou de repente só modelagem.


- Bom... há cursos específicos.  Tenho  certeza  que  na  minha  universidade tem um. Posso pesquisar, se você quiser.


- Mas eles aceitam gente como eu? Sem qualificações? Ela jogou a caneta para cima e pegou no ar.


- Ah, eles adoram alunos mais velhos. Principalmente com uma ética profissional comprovada. Você precisaria de um curso de requalificação, mas não vejo motivo para não ser aceita. Por quê? O que está havendo?


- Não sei. É uma coisa que Poncho disse há algum tempo. Sobre... sobre o que eu deveria fazer na vida.


- E?


- E eu fiquei pensando... talvez esteja na hora de fazer o mesmo que você. Agora que papai pode se sustentar de novo, talvez você não seja a única na família capaz de fazer alguma coisa.


- Você teria de pagar o curso.


- Eu sei. Tenho economizado.


- Acho que é um pouco mais caro do que você economizou.


- Posso tentar uma bolsa. Ou, talvez, um financiamento. E eu tenho o suficiente para me sustentar por um tempo. Conheci uma senhora que foi do Parlamento e que disse que tem os contatos de algumas agências que podem me ajudar. Ela me deu seu cartão de visitas.


- Espere aí — disse Katrina, girando na cadeira. — Não entendi direito. Pensei que quisesse continuar com Poncho. Pensei que o motivo de tudo era mantê- lo vivo e continuar trabalhando com ele.


- Sim, mas... — olhei para o teto.


- Mas o quê?


- É complicado.


- Flexibilização quantitativa em Economia também é. Mas eu continuo achando que significa imprimir dinheiro.


Ela se levantou e foi fechar a porta do quarto. Então baixou a voz, de modo que ninguém  conseguisse ouvir  lá fora.


- Você acha que vai perder a batalha? Acha que ele vai...?


- Não — respondi, rapidamente. — Bom, espero que não. Fiz planos.Grandes planos. Vou lhe mostrar daqui a pouco.


- Mas...


Estiquei os braços para cima e girei as  mãos.


- Mas gosto de Poncho. Gosto muito.


Ela me observou. Estava com sua cara pensativa. Nada é mais assustador do que a cara pensativa da minha irmã quando ela está voltada diretamente para você.


- Ah, merda.


- Não...


- Então isso é interessante — disse ela.


- Eu sei. — Abaixei os braços.


- Você quer um emprego. De maneira que...


- É o que os outros paraplégicos me dizem. Aqueles com os quais  eu converso na internet. Não se pode fazer as duas coisas. Não se pode ser cuidadora e... — Levantei as mãos para cobrir o rosto.


Eu podia sentir os olhos dela em mim.


- Ele sabe?


- Não. Não sei nem se eu sei. É que... — Deixei-me cair na cama dela, primeiro o rosto. Tinha cheiro de Thomas. Com um leve toque de geleia. — Não sei o que pensar. Só sei que, em geral, prefiro estar com ele do que com qualquer outra pessoa.


- Inclusive Manuel.


Pronto, era isso. A verdade que eu mal podia admitir para mim mesma. Senti o rosto corar.


- É — admiti, com a cara enfiada no edredom. — Às vezes, sim.


- Merda — xingou ela, depois de um minuto. — Pensava que eu é que gostava de fazer da minha vida algo complicado.


Ela se deitou ao meu lado na cama e ficamos olhando o teto. Lá embaixo, podíamos ouvir vovô assobiando desafinado acompanhado pelo som de Thomas dirigindo algum carrinho de controle remoto para a frente e para trás, batendo num pedaço do rodapé. Por alguma razão inexplicável, meus olhos se encheram de lágrimas. Um minuto depois, senti o braço de  minha  irmã  se  enroscar  em mim.


- Sua maluca do cacete — disse ela, e rimos.


- Não se preocupe — recomendei, enxugando as lágrimas. — Não vou fazer nenhuma burrice.


- Que bom. Porque quanto mais penso no assunto, mais sinto a dramaticidade da situação. Não é real, é drama.


- O quê?


- Bom, trata-se mesmo de vida  ou morte, afinal de contas, e você está    presa à vida desse homem todos os dias, presa a seu estranho segredo. Isso cria uma espécie de falsa intimidade. Ou então você está desenvolvendo algum bizarro complexo de  Florence Nightingale.


- Acredite em mim, definitivamente não é isso. Ficamos lá, olhando para o teto.


- Mas é um pouco louco, pensar em amar alguém que não pode... você sabe, amar você. Talvez não passe de uma reação de pânico pelo fato de você e Manuel terem finalmente ido morar juntos.


- Eu sei. Você tem razão.


- E vocês estão juntos há tanto tempo. Vocês podem se sentir atraídos por outras pessoas.


- Principalmente quando Manuel está obcecado em ser o Homem Maratona.


- E você pode voltar a não gostar de Poncho. Quero dizer, lembro de uma época em que você achava ele um idiota.


- Ainda acho, às vezes.


Treena pegou um lenço e secou meus olhos. Depois, deu uma batidinha em algo na minha bochecha.


- Dito isso, a ideia de fazer faculdade é boa. Porque, sejamos sinceras, se tudo der errado com Poncho, ou não, você ainda vai continuar precisando de um emprego de verdade. Não vai querer ser cuidadora para o resto da vida.


- As coisas não vão “dar errado” com Poncho, como você diz. Ele... ele vai ficar bem.


- Claro que vai.


Mamãe estava chamando Thomas. Podíamos ouvir a voz dela cantando na cozinha.


- Thomas.Tomtomtomtom Thomas... Treena suspirou e esfregou os olhos.


- Vai voltar para a casa de Manuel esta noite?


- Vou.


- Quer beber alguma coisa rápida no Spotted Dog e me mostrar os tais planos, então? Vejo com a mamãe se ela pode colocar Thomas para dormir para mim. Vamos, pode me convidar, já que está cheia da grana para fazer faculdade.


 



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): day

Este autor(a) escreve mais 12 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

* * * Cheguei na  casa de Manuel às quinze  para as  dez. Meus  planos  de  viagem, espantosamente, tiveram  total aprovação de Katrina. Ela não acrescentou sua usual frase “sim, mas seria ainda melhor se você...”. A certa altura, imaginei se ela estava apenas tentando ser simpática, p ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 121



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • milaaya16 Postado em 08/12/2017 - 20:36:40

    Não entendi o final :(

  • franmarmentini♥ Postado em 24/07/2016 - 01:43:42

    Continua por favor....toda vez q leio esse final.morro de tanto soluçar.... Queria tanto eles juntos ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:49:36

    ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 06/06/2016 - 15:29:54

    ;( quando vc vai postar mais??????

  • franmarmentini♥ Postado em 09/05/2016 - 09:57:36

    VC NAO MUDOU O FINAL????????

  • Beca Postado em 19/04/2016 - 09:36:55

    CHEGUEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:03:17

    Onde está a porta da licença poética? Pq vc não mudou esse final?

  • hadassa04 Postado em 18/04/2016 - 23:02:31

    Day nunca terminei de ler uma fic sua com tanta raiva

  • Mila Puente Herrera ® Postado em 15/02/2016 - 19:54:58

    AI MDS MORTAAAAAAA AQUI :O DESIDRATADA DE TANTAS LÁGRIMAS OQ FO ESSE FIM????

  • franmarmentini♥ Postado em 24/01/2016 - 23:47:49

    Day pelo amor de deus...vc não deixa ele morrer....Plis... Cadê a noite de amor deles????? ;(


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais