Fanfic: [EXCLUIDA]

Chris saiu atordoado da casa de Poncho. Ainda não tinha conseguido digerir aquela história com Deborah. Sentiu pena de Anahí. Mal podia adivinhar o que a esperava. Lembrou-se então de Dulce. Sentiu-se diminuir por dentro. A dor novamente o assolou, intensa. Pensou em voltar para o seu apartamento. Mas só de saber que ela estava impregnada em cada canto daquela casa... Não. Não queria ficar em um lugar em que tudo a lembrasse. Precisava tirá-la da cabeça o quanto antes. Dirigiu sem rumo pela cidade. Não havia nenhum lugar em que desejasse ir, nenhuma pessoa que desejasse ver. Queria apenas paz... Paz de espírito. Queria fugir dos próprios pensamentos e lembranças que insistiam em torturá-lo. Quando deu por si, estacionava na frente do pequeno sítio da sua mãe, que ficava nos arredores da cidade. Aspirou o ar puro. Até chegar ali, não se dera conta da saudade que estava daquele lugar. Havia crescido ali. Desceu do carro e olhou para as árvores que circundavam a casa. Quantas vezes não as escalara atrás de uma fruta ou de um pequeno pássaro? Continuou andando pelo gramado inclinado, passando pela piscina. Fechou os olhos por um breve instante, tentando absorver a beleza que o rodeava. A casa erguia-se aconchegante à distância. Em algum lugar os passarinhos levantavam suas vozes em gorjeios. Ele suspirou. Era tão sossegado ali, tão longe do barulho e do burburinho do mundo turbulento. Foi encontrar a mãe no jardim, podando algumas flores. Ela ergueu os olhos contente quando o viu. Ela abraçou-o cheia de felicidade, sujando-o de terra. Nenhum dos dois se importou. A saudade era muito maior. A mãe ria e o beijava.
Mãe: (sorrindo) O que está fazendo aqui?
Chris: Eu vim para casa mamãe... Vim para casa... finalmente.

Chris estava sendo tratado como um rei em casa desde que chegara. Sentia-se bem ali. Fazia muito tempo que não vinha pra casa. E nem tinha justificativa pra isso, uma vez que o sítio ficava a apenas uma meia hora da cidade. Fazia-lhe bem a companhia da família. Naquela hora, apenas sua mãe estava em casa. E agora ela estava na cozinha e o aroma da comida dela já se espalhava pela casa, delicioso. Chris atirou-se em um sofá e ligou a TV. Queria manter-se ocupado o máximo de tempo possível para não pensar em Dulce. Começou a trocar de canal, na procura de algum programa interessante. Não encontrou nada. E já estava prestes a desligar o aparelho quando deu de cara com uma notícia que o deixou em choque. Maite internada? Como podia isso? Meningite? Levou um susto. Estava tão enterrado nos próprios problemas que havia se esquecido dos amigos. Pegou o telefone e discou depressa para o celular de Poncho. Ele atendeu sonolento. Chris explicou rapidamente o que estava acontecendo com Maite. Poncho também ficou chocado e tratou de avisar Anahí. Chris desligou o telefone e ficou olhando atentamente para a TV, a procura de mais notícias. Enquanto assistia, passava a mão distraído diversas vezes pela pulseirinha que compartilhava com Dulce. Aquilo o acalmava. Fazia com que se sentisse perto dela de novo. E então se deu conta do que estava fazendo. Sentiu raiva. Afastou rapidamente os dedos da pulseira e pensou em tirá-la. Agora não havia sentido em usá-la. Mas não teve coragem de tocar nela. Levantou-se furioso. Era mesmo um fraco. Pegou as chaves da caminhonete da sua mãe que estavam por ali e berrou que voltava para o jantar. Quando sua mãe chegou à sala de TV para perguntar o que havia acontecido, ele já arrancava a caminhonete a toda em direção a cidade.

Dulce estava com os olhos inchados de tanto que chorara. Por vezes, pegara o telefone e discara para Chris disposta a contar toda a verdade. Mas sempre acabava desligando-o antes de completar a chamada. Deitou-se de bruços na cama e ficou olhando para uma foto deles, abraçados e sorridentes. Estavam tão felizes naquele dia. Olhou para a porta do quarto esperando que ele entrasse rindo por ali, como ele sempre fazia. Mas ele não entrou. Ela o afastara da vida dela pra sempre. Recordou-se da cara que ele fizera quando terminara tudo. Nunca iria esquecer dele com os olhos fixos na parede, as lágrimas escorrendo e uma expressão de profunda dor no rosto. Como tivera vontade de largar tudo e correr ao encontro dele e dizer que era tudo mentira. Mas então se lembrou de Memo.
As lágrimas tornaram a escorrer quentes por seu rosto até cair na fotografia. Não sabia até onde conseguiria agüentar. O sacrifício estava sendo demais para ela. Pegou novamente o telefone, e só então reparou em um papel azul debaixo dele. Abriu-o e leu.

Nele dizia:
"Dulce
Não estejas longe de mim um só dia, porque como,
porque, não sei dizê-lo, é longo o dia,
e te estarei esperando como nas estações
quando em alguma parte se dormiram os trens.
Não te vás por uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas do desvelo
e talvez toda a fumaça que anda procurando casa
vinga a matar ainda meu coração perdido.
Ai que não se quebrante tua silhueta na areia,
ai que não voem tuas pálpebras na ausência:
não te vás por um minuto, bem-amada,
porque nesse minuto te terás ido tão longe
que eu cruzarei toda a terra perguntando
se voltarás ou se me deixarás morrendo.
Com muito carinho...
Te querendo sempre...
Christopher"

Ler aquilo fez com que seu coração ficasse minúsculo dentro do peito. Amava-o tanto. Ele lhe pedira para que não se fosse, mas ela não dera atenção. Precisava dar um jeito naquilo. Novamente pegou o telefone que estava caído em seu colo e discou o número de Chris. Estava determinada dessa vez. A cada toque do telefone torcia para que ele atendesse, antes que ela se arrependesse do que estava fazendo. Ninguém atendeu, porém. Dulce fez mais algumas tentativas e nada. Desligou o aparelho e ficou olhando para o papel azul, que já começava a manchar com suas lágrimas. Respirou fundo. Talvez fosse melhor assim. Levou o papel a boca e o beijou. Tentou se conformar, mas não pôde. Precisava urgentemente de Chris... Precisava dele para seguir adiante. Mas o dispensara e agora não tinha idéia de até onde conseguiria chegar sem o amor dele. Se é que conseguiria chegar a algum lugar. Tocou na pulseira que ele lhe dera no começo da história deles. Pela primeira vez, não se sentiu mais forte quando a tocou. Pelo contrário. Sentiu ainda mais raiva de si mesma. Era uma estúpida!!! Como podia fazer sofrer assim o homem que amava? Sentiu-se penetrando em um túnel imenso... e desta vez, nem havia luz no fim dele. O telefone tocou. Ela voou nele. E se fosse o Chris?
Dulce: Alô?
Poncho: Oi Dulce aqui é o Poncho. Liguei pra perguntar se vc já sabe da Maite.

Christian acordou em um sobressalto. Demorou pra se situar do lugar onde estava. A família de Maite já havia ido embora. Ficara ali apenas a mãe dela, que dormia em um dos bancos. A noite já chegava lá fora. Andou por um daqueles corredores intermináveis, tentando descobrir atrás de qual daquelas portas Maite estava. Não fazia idéia. Encontrou-se com o médico dela e pediu para vê-la. Foi atendido prontamente, mas só pode entrar no quarto depois de ter colocado máscara e luvas.
Maite ressonava tranqüila. A palidez mortal que estava no rosto dela quando Christian a encontrara já estava desaparecendo. Aproximou-se do leito e passou a mão suavemente pelo cabelo sedoso dela. Ela abriu os olhos devagar e sorriu para ele.
Maite: (fraca) Christie? Vc por aqui?
Christian: Que susto me deu hein garotinha? Desacordada daquele jeito e sozinha no apartamento. Por acaso se esqueceu de que eu tinha pedido pra me ligar se não se sentisse bem?
Maite: É que foi tudo tão rápido. Mas quer saber? Quem bom que está aqui comigo. Cada vez gosto mais de ti.
Christian: É muito bom saber disso, minha menininha travessa. Valeu a pena esperar para te ver. Vejo que já está muito melhor.
Maite: Vc é que não me parece bem... Está com cara de cansado. (desvia os olhos dele pra alguém que acabou de entrar e sorri radiante) Chris!!! Não acredito que veio. Não sabe o quanto é importante saber que vc está aqui.
Christian reparou no brilho que apareceu nos olhos de Maite quando ela viu Chris. Seus olhos dançavam de alegria. Ela esqueceu-se completamente dele naquele instante. Só via Christopher. Christian ficou ali, morrendo por dentro. Seu coração contraiu-se de ciúmes quando reparou nas flores que ele trazia. Cumprimentou Chris e retirou-se do quarto o mais depressa possível. Vê-los juntos lhe fazia muito mal. Será que Maite nunca o esqueceria? Chacoalhou a cabeça desanimado. Talvez ele devesse partir pra outra.

Christian ainda aguardava no corredor quando Chris finalmente saiu do quarto. Olhou para ele e reparou no quanto o amigo estava abatido. Perguntou-se se teria acontecido alguma coisa. Ainda naquela manhã ele estava tão radiante no estúdio. E agora... Bem, parecia que havia chorado muito. Tão logo se livrou das luvas e da mascara, Chris colocou uns óculos escuros gigantescos. Não queria que ninguém percebesse as marcas de seu sofrimento. Já se preparava para deixar o hospital quando Christian o puxou pelo braço.
Christian: E aí cara! Beleza?
Chris: Tudo na medida do possível né?
Christian: Aconteceu alguma coisa contigo? Algo entre vc e a Dulce...
Chris: olha bem cara... Se quiser continuar a ser meu amigão, nunca mais fale dessa garota pra mim. Quero esquecer que ela existe.
Christian: Então vcs terminaram? Desculpe... Sei que não quer falar dela. Mas agora já sei porque está aqui.
Chris: Como cara? O que tem a ver uma coisa com a outra?
Christian: Agora veio aqui buscar seu prêmio de consolação. Quando as coisas dão erradas com a Dulce, serve a Maite, não é?
Chris: olha cara... Vc tá pirado... Nada a ver essa sua história. Eu estou aqui porque sou amigo da Maite. Nada mais.
Christian: Amigo é?
Chris: É amigo... E estaria aqui também se fosse o Poncho, vc ou a Anny.
Christian: Mas não vê que com a Maite é diferente? O fato de vc estar aqui alimenta as esperanças dela. Não viu a cara de felicidade com que ela te olhou?
Chris: Cara... Vc tá delirando. O que quer que eu faça? Que me afaste e nunca mais olhe na cara dela? Dá um tempo. Eu quero a Maite muito bem. E tenho certeza de que ela entende que é só amizade.

Chris balançou a cabeça e deu um tapa de leve nas costas de Christian. Entendia muito bem o que o amigo sentia. Mas não havia nada que pudesse fazer ou dizer. Virou-se e andou a passos apressados até a saída do hospital. No estacionamento ainda teve tempo de esbarrar em Dulce que vinha chegando. Olhou para ela e sentiu-se morrer por dentro. A seguir entrou na caminhonete e seguiu seu caminho, como se nunca a tivesse visto antes.

Dulce sentiu-se incomodada com o encontro com Chris. Ele olhara para ela e nem a cumprimentara. Aquilo acabou com ela. Ficou parada no estacionamento até que ele sumiu de vista. Teve que se esforçar muito para não começar a chorar ali mesmo. Sentiu um toque suave no ombro e virou-se. Era Poncho, acompanhado de Anahí. Eles haviam visto tudo o que acontecera de longe e se olharam preocupados. O que teria acontecido entre os amigos? Eles não estavam nada bem. Dulce olhou para eles e eles se assustaram com o desespero que viram no olhar dela.
Anahí: O que aconteceu Dulce? Fala pra mim Candy.
Dulce: Ai Anny. Deixa pra lá. Vamos entrar e visitar a Maite, se não o horário de visitas acaba. Depois a gente conversa a respeito.
Anahí: Mas Dulce... (parou ao ver a cara de “dá um tempo pra ela” que Poncho fazia) Acho que vc tem razão. Vamos ver a Maite.