Fanfic: [EXCLUIDA]

A terça feira amanheceu cinzenta. Dulce chegou acompanhada por Memo ao cartório. Ele não a havia deixado sozinha um momento sequer depois que retirara as denúncias. Dulce estava a mercê dele. Vestia um vestidinho simples e preto. Memo não gostara nada de vê-la daquela cor mas achou melhor não dizer nada. Seus pés pareciam chumbo na entrada daquele lugar. Anahí estava por ali, com Poncho, Maite e Christian. Todos a olhavam com cara de reprovação. Sabiam muito bem que tudo aquilo era uma asneira... Dulce começou a sentir-se desesperada... Toda a firmeza de antes desaparecendo... Mas precisava fazer o que planejara... Não podia ter medo. Alisou o ventre em busca de forças... Respirou fundo. Havia fotógrafos por ali. Chamados por Memo sem dúvida... Ele nunca perdia a mania de aparecer. Enquanto esperava sentada em um banquinho de madeira, mexia distraída na pulseirinha e observava os outros casais... Pareciam tão apaixonados... Tão diferentes dela e de Memo. Lembrou-se da outra vez que estivera prestes a casar e que Chris a sequestrara no altar... Olhou para a porta desejando vê-lo entrar por ali. Mas isso não aconteceu. Anahí segurou-lhe as mãos e sentiu-lhe os dedos gelados. Tentou decidir se devia ou não contar a amiga o que acontecera... Mas ela parecia tão mal... Tinha medo de provocar nela alguma síncope... O escrivão apareceu na porta e chamou por Memo e Dulce. Memo levantou-se de um pulo. Dulce continuou estática no mesmo lugar. Não conseguia se mexer. Memo andou com passadas largas até ela e a ergueu do banco. Levou-a até a porta e sussurrou-lhe no ouvido.
Memo: Nem pense em desistir agora... Eu mato vc e esse bastardo que vc carrega...
Dulce não respondeu nada. Apenas fechou os olhos tentando conter o enjôo e recuperar a coragem. Caminharam até o juíz. Dulce olhou para todos os cantos e em seguida mirou seus olhos longamente em Memo. Sentiu-se arrepiar de pavor. Mas tinha que ser forte... Chegara a hora da verdade. Era tudo ou nada!!!

O juíz era um homenzinho de meia idade e expressão benevolente. Sorriu quando viu o casal de famosos na sua frente. Memo sorriu largamente em resposta. Dulce ficou ainda mais séria. Devia ser nervosismo concluiu um escrivão que estava por ali. Anahí e Maite olharam-se preocupadas. Dulce aparentava não estar nada bem. Ela por sua vez, sentia algo revirando sua entranhas. Cravou as unhas nas palmas das mãos enquanto focalizava os olhos no juíz, sem conseguir vê-lo, no entanto. Tinha vontade de sair correndo para longe dali. Sabia que tinha chegado a hora e teria que ir até o final, mas sentia muito medo.
O juíz começou a discursar. Eram palavras intermináveis para Memo. Ele queria que toda aquela cerimônia acabasse logo e fossem direto para o sim. Só então poderia ficar tranquilo. Dulce ouvia as palavras ao longe, mas não conseguia compreendê-las. Pareciam tão distantes. Sentiu-se tonta, com a boca seca e a garganta ardendo. Segurou firme na ponta da mesa para não cair. A mão de Memo pesava em sua cintura e os braços dele pareciam garras em torno da sua cintura. Desviou o olhar do juíz e cravou-o em Memo. Depois mirou toda a pequena sala.
Cada detalhe... A voz ainda estava lá falando... Coisas que ela não conseguia entender... palavras que lhe eram incompreeensiveis. Sentiu-se distante... Como se nada daquilo estivesse acontecendo de verdade. A voz do juíz continuava aborrecida e monótona ao fundo... Dulce no entanto, não estava mais ali. Havia ido para um recanto escondido das suas lembranças... Onde só havia ela e o Chris... Ainda podia sentir os lábios dele roçando o seu ouvido enquanto diziam o quanto a amavam... Lembrou-se das risadas de madrugada depois que faziam amor... Dos sorrisos compartilhados... Os olhares... o amor deles, enfim... Sentiu um aperto na barriga...

Era Memo chamando sua atenção e trazendo-a de volta para a realidade. Dulce sentiu que ia desmaiar e apertou ainda mais a beirada da mesa com as mãos. Os nós dos seus dedos chegaram a ficar brancos de tanta força que ela fazia. Olhou assustada e confusa para Memo, sem conseguir se situar de onde estava.
Memo: Dulce... Meu amor... (sorri) É a sua vez... Eu já disse sim... Agora é vc...
Dulce olhou perdida para o juíz... Havia chegado a hora...
Juíz: Vou repetir então... Dulce Maria Spinoza... Aceita Francisco Guilhermo Uchoa como seu único e legítimo esposo, prometendo amá-lo e respeitá-lo por todos os dias da sua vida, até que a morte os separe?
Dulce desviou novamente o olhar para Memo... Sentia-se muda... Com medo... Mas precisava ir em frente... Não podia desistir agora... Era esse o momento que sabia que chegaria mais cedo ou mais tarde... Estava com os olhos fixos no de Memo quando sorriu-lhe candidamente. Quando falou, sua voz saiu falhada e inaudível...
Juíz: Desculpe... Mas não consegui entender nada do que disse...
Dulce: (com a voz novamente firme) Eu disse que não!!! Não aceito me casar com esse senhor...
Memo: O que?????????
Dulce: É isso mesmo... Eu vim até aqui hoje só pra dizer isso... E me sinto bem melhor agora que já disse.
O juíz suava em bicas. Passou o dedo pelo colarinho tentando afrouxar o nó da gravata... Tudo o que não precisava naquele momento era daquilo. Memo estava furioso. As camêras e filmadoras da imprensa trabalhavam incansáveis, registrando cada detalhe daquele acontecimento. Dulce sentia-se surpreendentemente calma. Agora que já tinha feito o que planejara sentia-se intocável. Havia sido mais esperta afinal... Derrotara Memo... Conseguira enganá-lo. Assustou-se quando sentiu a mão dele estalando em seu rosto.
Memo: Sua vadia!!! O que pensa que está fazendo?
Dulce: Estou fazendo o que é certo!!! E nunca mais se atreva a encostar em mim...
Poncho: Covarde!!! Vem cá bater em mim!!! Quero ver se tem coragem... Venha!!!
Juíz: Ordem!!! Isso é um cartório pelo amor de Deus... Se não se comportarem chamarei o guarda pra prender todos vcs. Ordem!!!
Dulce: Calma pessoal!!! Nada de violência!!!
Juíz: Por que não quer se casar mocinha?
Dulce: Por que eu nunca seria feliz com esse... esse senhor...
Juíz: Mas então porque veio até aqui?
Dulce: porque ele estava me chantageando... Me manteve trancafiada até agora...
Juíz: Não é minha área, mas pelo que sei de direito, isso é gravíssimo. Cárcere privado e chantagem constituem crimes sérios na nossa legislação...
Memo: É mentira!!! Não acreditem nela...
Dulce: O mentiroso aqui é vc Memo... E de qualquer maneira não preciso que acreditem na minha história.... O que eu queria eu já consegui... Essa sua cara de derrota não tem preço...
Memo: Vc não podia ter feito isso... Vc me prometeu... Eu fiz o que me pediu...

Dulce: O que prova que é um idiota... Jamais deveria ter acreditado em mim... Te enganei o tempo todo. Achou mesmo que eu algum momento pensei em me casar contigo? Assim que retirou as queixas eu já ia te escorraçar, mas vc não me deu chance... Mas pensando bem... Não tinha ocasião melhor para fazer isso do que aqui... Nesse exato momento... Com essa sua cara de paspalho sendo mostrada em rede nacional...
Memo: Vc vai me pagar...
Dulce: Vou é? Não consegue aceitar que perdeu? Sinto muito... mas fui mais esperta do que vc... Eu e o Chris não estamos a venda... Devia ter pensado nisso... Otário... Não sou mais a menina ingênua que vc enganou... E agora estás provando do próprio veneno... Tomara que se engasgue com ele e morra logo... Quero que fique bem claro, que no momento em que eu tiver me virado de costas para sair daqui, eu vou esquecer de sua existência inútil... Agora Adeus... Nunca mais quero ter o desprazer de ver vc...
Memo: (entre dentes) Vc vai me pagar sua ordinária!!! Isso não vai ficar assim...
Dulce não deu atenção ao que ele dizia. Tinha urgência em sair dali. Havia algo muito mais importante para fazer. Acariciou a barriga de leve e levou a pulseirinha prateada aos lábios... Havia um mal entendido acontecendo e ela precisava desfazê-lo. Era hora de ir atrás da sua felicidade. Respirou fundo e saiu do cartório. Lá fora no céu cinzento as nuvens começavam a se afastar, deixando que réstias de sol a tocassem. Sentiu-se otimista... Aquilo era um lembrete de que não há tempestade e escuridão que para sempre dure. Havia chovido muito na vida deles, mas agora o sol aparecia de novo... E o amor deles vencera tudo... e desabrochava lindo e forte. Dulce sentiu uma vontade enorme de gritar... Era uma sensação tão boa que estava dentro dela que sentia necessidade de dividí-la com o restante do mundo.
Dulce: (gritando) ESTOU VIVA!!! VIVA!!!

Os transeuntes riram ao ver aquela cena. Ela não se importou. Aquelas pessoas não podiam entender o que ela estava sentindo... E jamais conseguiria explicar a elas... Nunca poderia colocar em meras palavras todo o amor e liberdade que sentia... Jamais!!! Sorriu feliz. Sentiu então um leve toque no braço. Virou-se.