Fanfic: A casa caiu | Tema: Vondy, Trendy, Barken, RBD

Christopher passara aquele fim de semana ignorando qualquer sentimento que fosse desconfortável. Concentrou-se o máximo que pôde no trabalho, já que aquela era a semana de inauguração de seu novo escritório, e no domingo, depois de tudo devidamente organizado, aproveitou o tempo livre para reencontrar alguns colegas e sair para assistir a partida de futebol num bar.

Na segunda-feira, acordou cedo e dirigiu-se ao trabalho. Com tantas coisas a se fazer, o dia passou muito rápido. Estava exausto, chegou ao prédio onde morava e tudo o que desejava era tomar um banho e dormir por longas horas. Todo seu corpo estava extenuado. Nem mal colocou os pés em seu apartamento e soube que talvez seus planos fossem frustrados. O som da campainha se repetiu e ele, de muita má vontade, foi abrir a porta.

Nem mesmo ficou surpreso em ver Anahí parada de frente pra ele. Aquelas visitas estavam se tornando mais frequentes do que ele de fato gostaria que fosse. Não imaginava o que a loira queria dessa vez, mas já não esperava apanhar. Ela mantinha uma postura calma, sem nenhum sinal de irritação ou raiva. 

― Boa noite, Chris. – Ela disse suavemente, e, obviamente, ele estranhou. – Desculpe vir sem avisar, mas tentei te ligar diversas vezes hoje e não consegui.

― Meu celular estava descarregado. – Christopher deu de ombros, e afastou-se da porta. – Quer entrar?

― Se não se importa. – Anahí retrucou, educadamente. – Na verdade, se tiver algum tempo, queria trocar algumas palavras com você.

― À vontade. – Ele respondeu, direcionando-se para o interior do apartamento. Sentou-se no sofá da sala e indicou para que ela fizesse o mesmo, e Anahí obedeceu. – Pode falar.

Anahí abaixou a cabeça, embaraçada. Christopher estava realmente confuso. Primeiro, ela o atacava, e agora, estava totalmente controlada e educada. Quem poderia entender as mulheres?

― Bom... Eu quero te pedir desculpas pelo acesso que tive da última vez que vim aqui, eu realmente fiquei muito irritada, pensei em toda a repercussão que aquilo poderia ter, e...

― Tudo bem, Anahí. – Ele disse. – Não precisa se desculpar. Só queria esclarecer que eu nunca postei nada daquilo no meu facebook. Foi uma brincadeira estúpida de um amigo, enfim, não vai mais acontecer, pode ficar tranquila quanto a isso.

― Não... É que... – Ela introduziu, sem saber bem o que dizer. – Eu levei as coisas pelo lado do prejuízo, mas não medi que de alguma forma isso poderia ter uma repercussão positiva. – Explicou. – Hoje pela manhã a editora entrou em contato comigo, já estava a par de toda a comoção que o episódio causou aos meus fãs, e... Bom, não sei se tenho direito de te pedir isso, mesmo sabendo que tudo não passou de uma brincadeira do seu amigo...

― Diga. – Encorajou ele.

― Bom, eles conversaram comigo que toda essa “polêmica” pode ajudar de forma positiva nas vendas dos meus livros. Querem que eu continue com isso, que dê entrevistas, que faça um par romântico com você... – Anahí ficara vermelha enquanto falava

― O quê? – Christopher disse com uma careta perplexa.

― Calma, não é isso que ta pensando, é só... Dar algumas entrevistas, tirar umas fotos, não é nada verdadeiro. – Justificou ela, brincando com os próprios dedos enquanto tentava evitar os olhos dele.

Christopher ficou alguns instantes em silêncio, matutando sobre aquela proposta.

― Então, está querendo que eu finja que tudo aquilo foi verdade, e você vai fingir que me perdoou, e nós dois juntos vamos fingir que somos um casal apaixonado? – Ele disse, conciliando as ideias e refletindo sobre elas simultaneamente.

― Exatamente. Eu disse que isso não era uma boa ideia, mas...

― Eu topo. – Christopher afirmou prontamente.

― Tá falando sério? – Anahí levantou os radiantes olhos azuis na direção dele.

Só foi preciso que ele assentisse levemente, para que Anahí o abraçasse efusivamente, agradecendo-o com veemência e emitindo gritinhos de animação. Logo ela foi acalmando-se e se recompondo e tornou a sentar-se comportadamente ao lado dele, com um sorriso de orelha a orelha.

― Com uma condição. – Ele disse.

― Começou. – Anahí cruzou os braços, fechando a cara. – Diga.

― Que esse favor me redima totalmente do que eu fiz. – Murmurou ele, olhando-a com seriedade.

― Não, Christopher, a menos que tudo seja uma farsa, eu não vou embarcar nessa novamente. – A loira emitiu, descontente.

― Não, Annie, não estou falando de voltarmos ao que era antes, mas que continuemos amigos... Eu gosto de você, senti sua falta na minha vida. – Ele disse, segurando as mãos dela, que estava hesitante.

― Amigos, amigos? – Ela indagou na defensiva.

― Sim, somente amigos. – Christopher confirmou, e ela sorriu, voltando para o abraço dele.

― Também senti sua falta, e agora que tudo passou, acho que já sou capaz de te olhar como um amigo... Não era pra ser, realmente. – Concluiu, apoiando a cabeça no ombro dele enquanto ele acariciava os cabelos dela de forma fraternal.

― O que é que ta pegando? – Christopher indagou, desconfiado. – Já colocou outro no meu lugar? Que rápida! – Ele exclamou em tom ofendido e explicitamente fingido.

― Não, seu besta! – A loira protestou, dando-lhe um tapinha. – Não ainda.

Continuaram naquela conversa, contando as novidades sobre seus trabalhos, sobre suas vidas pessoais – omitindo fatos que ambos ainda não estavam preparados para lidar, como a vida romântica de cada um – e acertando os detalhes do que precisavam fazer quando estivessem “em cena”. Anahí explicou que já havia uma entrevista quase acertada com uma revista teen, e resolveram que iriam alterar algumas coisas nas páginas de relacionamento de cada um para dar mais veracidade aos fatos.

Dulce passou todo o fim de semana melancólica. Queria pensar positivo e tomar decisões sensatas, mas as lembranças a aprisionavam ao medo e a revolta. Estar longe só dificultava as coisas, pois com Christopher por perto era mais difícil querer renunciar a tudo em prol de uma segurança que agora ela já questionava, mas que ainda a atraía.

Na noite de domingo para segunda, mal conseguiu dormir com o pensamento de que no dia seguinte precisava voltar e encarar a realidade. O tempo estava melhor, apesar de ter chovido boa parte do sábado e do domingo. Ela levantou-se antes das seis, e, sem sono, decidiu que iria ver o sol nascer na praia. Talvez assim seu ânimo e estado de espírito melhorassem.

Estava sentada, vidrada nos nuances do amanhecer, quando sentiu uma presença e resolveu olhar para trás. Alfonso caminhava sobre a areia, segurando nas mãos o par de tênis. Por um momento, sentiu-se irritada, mas depois decidiu que não valeria a pena sair do sério por Alfonso. Provavelmente ele estava preocupado com ela e queria ajudar.

Ele sentou-se silenciosamente ao lado dela e mirou a bela paisagem a sua frente.

― O que você está fazendo aqui? – Dulce perguntou. Não havia amargura em sua voz, só estava de fato curiosa.

― Vim buscar você, pra não precisar voltar de ônibus. – Alfonso explicou.

― Conta outra. – Ela revirou os olhos.

― Dulce... Eu sei que você odeia isso, mas não consigo ficar longe e saber que você está mal.

― Eu to bem! – Protestou ela.

― Não minta pra você mesma. Eu sei que a data está chegando, e sei como fica quando acontece. E sei também que está fugindo do Christopher, porque está apaixonada por ele. Esse ano não se trata somente dos fatos costumeiros. Não consegui ficar tranquilo com a ideia de que você estava aqui se martirizando.

― Não estava me martirizando, Poncho. Não vim pra cá porque queria sofrer, isso é involuntário. Só não acho que ninguém é obrigado a conviver com isso, como eu. Não quero que as pessoas se preocupem, que sintam pena. E eu precisava, de fato, ficar alguns dias longe. – Argumentou.

― E quanto ao Christopher? – Alfonso quis saber, tentando evitar denunciar a mágoa em sua voz.

― Eu não sei. – Ela disse com sinceridade.

― Ele gosta de você de verdade. E... Eu sei que não sou a melhor pessoa no mundo pra dizer isso, mas estive refletindo também, e cheguei à conclusão de que quero ver você fez independente de qualquer coisa. Se for com o Christopher, que seja. Acho que deve dar uma chance pra ele.

― Você sabe que não é tão simples assim.

― Dulce, você é uma garota pra lá de inteligente. E por Deus, não seja leviana. Não julgue todos por um. O que aconteceu foi uma fatalidade. – Alfonso contrapôs.

Dulce ouviu em silêncio. Não era a primeira vez que ele lhe falava aquilo, em outras ocasiões para convencê-la a dar uma chance a ele mesmo, para justificar que o que sentia era verdadeiro e despido de quaisquer intenções ruins. Normalmente ela ignorava esses diálogos, não gostava de tocar no assunto e acabava por desviar sempre que possível, porém, ali, ela não tinha para onde correr. Estava em cheque.

― Você não viu o que eu vi, não sentiu as coisas que eu senti. – Ela murmurou num misto de mágoa e amargura. – Eu vi, Alfonso, eu vi como um ser humano pode ser mau, como pode mentir e enganar...

― Sim, sem dúvidas. – Concordou ele. – Mas isso não quer dizer que todos nós sejamos assim. – Poncho respondeu sensatamente.

― Será? – Dulce o encarou. – Porque eu acho que a maldade está em todos nós. Eu sou má, você é mau. O que me garante que Christopher também não esteja mentindo? Que ele também saiba enganar? Que não vai esperar que eu baixe a guarda pra me detonar?

― É um modo muito negativo de enxergar as coisas. – Alfonso ponderou. – Entretanto, e como eu disse, você é inteligente, não é nem um pouco ingênua. Não tem porque se fechar dessa maneira. Como é que você pode saber se ele não tem boas intenções se não der a cara à tapa?

Ela suspirou, poderia dizer mais milhões de coisas, mas ele estava certo. 

― E o que te faz ser tão altruísta? – Ela o encarou. – Por que você está me dizendo todas essas coisas?

― Porque eu me dei conta, Dulce, que eu prefiro te ter como amiga, do que não te ter de jeito nenhum. Eu me apaixonei pela sua vulnerabilidade, mesmo que você goste de mostrar para o mundo inteiro que é uma fortaleza, eu conheço você, conheço suas dores, eu sempre estive do seu lado, e não é pelo que aconteceu entre nós que eu vou me afastar. Eu amo você, se não há jeito de ser como eu gostaria que fosse, então que você me veja, ao menos, como alguém que te quer bem, como algo semelhante a um irmão.

Na metade da fala dele os olhos de Dulce já marejavam e ela não conseguiu conter o choro. Sentia-se tão injusta, desprezando e maltratando Alfonso, quando ele sempre estivera ao seu lado para lhe proteger, entender e consolar. Ainda que ele, em muitas vezes, pedisse por esse tratamento. Ela de fato não achava que algum dia fosse capaz de ter algo a mais com Alfonso, mas o que ele lhe propunha agora era algo extremamente agradável.

Abraçou-o fortemente, enterrando seu rosto no ombro dele e deixando que as lágrimas rolassem à vontade. Alfonso acariciava suas costas, consolando-a, dizendo silenciosamente que estava ali e que tudo ficaria bem. Ficaram assim por longos minutos, até que a posição tornara-se desconfortável, e então, levantaram-se dali rumo à casa da família de Dulce, onde começaram a ajeitar as coisas para seguirem viagem de volta ao Rio.