Fanfic: A casa caiu | Tema: Vondy, Trendy, Barken, RBD

Antes de dormir um repasso aconteceu na cabeça de Dulce, todas as imagens e fatos passando por sua mente na mesma sequência que aconteceram. Não queria pensar, tudo o que gostaria de fazer era deitar a cabeça em seu travesseiro e ser capaz de dormir. Mas não era. Tudo parecia se fazer presente naquele quarto, o cheiro dele, o som da risada dele, a textura de sua pele... Era tortura demais. E o pior era saber que ela havia desperdiçado tudo aquilo.

E, então, os tão famosos “se”s entravam em ação. Se ela tivesse encarado a situação com mais maturidade. Se tivesse tido coragem o suficiente para aceitar que estava apaixonada por ele e tentar fazer dar certo. Se tivesse facilitado a superação de tudo o que havia acontecido com sua família...

Já se arrependia até de não passar tanto tempo com os pais. Os pais não haviam perdido apenas uma filha, haviam perdido duas. Eles se preocupavam, mas Dulce era evasiva demais, fechada demais. Tinha medo de causar dor neles por trazer tantas lembranças de Claudia, mas não havia calculado a dor que seu distanciamento havia causado a eles de qualquer forma.

Quando conseguiu, por fim, pegar no sono, já era quase de manhã. Conseguiu dormir até as dez da manhã, quando se deu conta de que havia perdido mais um dia de aula. Não se importou. O menor dos seus problemas era o seu histórico acadêmico. Fechou os olhos e tentou obrigar seu corpo a voltar ao sono, mas sabia o quanto inútil aquilo era.

A casa estava totalmente silenciosa, Natasha e Maite já deviam estar na aula há muito tempo, mas deixaram para trás um rastro de café da manhã. Dulce preguiçosamente fez sua higiene matinal, demorando-se um pouco de frente para o espelho enquanto seus pensamentos barulhentos acalmavam-se, e depois, tomou café, sentada no silêncio absoluto da cozinha do apartamento.

Era final de Novembro, final de período acadêmico, e os trabalhos da faculdade estavam lá, independentemente dela ter problemas ou não. Já havia procrastinado demais, agora teria de encará-los. Talvez fosse até como uma terapia. Logo a mesa estava repleta de livros, folhas, cadernos e seu computador. Não soube precisar quanto tempo exatamente ficou perdida entre sua bagunça, quando a campainha tocou.

Dulce levantou os olhos cansados do livro que estava a sua frente e ouviu a campainha tocar mais uma vez. O relógio marcava uma e meia da tarde. Natasha e Maite deveriam estar almoçando no restaurante universitário, e era meio improvável que as duas tivessem perdido suas chaves simultaneamente. Levantou-se torcendo para que não fosse a vizinha testemunha de Jeová, e foi até lá abrir a porta.

Alfonso deu um sorriso amarelo, encostado ao batente da porta. Observou Dulce que estava vestida com uma camisola de algodão, que por sorte não era tão indecente ao ponto de reter sua atenção de forma desconfortável. Ela o encarou com um olhar indagador e um pouco surpreso e ele teve de se esforçar pra formular alguma coisa a dizer.

― Faltando aula de novo, mocinha? – Disse, por fim, com um ar tranquilo, porém, também de preocupação.

― Perdi a hora. – Dulce respondeu, sem vontade. – O que você está fazendo aqui?

― Vim te levar pra almoçar.  – Afirmou, adentrando no apartamento e fechando a porta atrás de si. – Eu espero você se trocar.

― Olha... – A morena introduziu, desviando o olhar do dele. Sabia que estava péssima. – É muito legal da sua parte o que está fazendo por mim, Alfonso... Mas se não se importa, eu queria, queria muito, ficar sozinha. – Disse, suavemente.

Ele girou, observando a sala.

― O que você está fazendo? – Indagou, ignorando completamente o que ela havia dito.

― Por favor, Alfonso.

― Eu sei que você não quer ficar sozinha. – Ele a encarou com seriedade. – Provavelmente já ficou sozinha a noite toda. Na melhor perspectiva, acredito que apenas pensando.

― Sim, apenas pensando. – Confirmou. - E agora estou tentando estudar.

― Posso ajudar você. – Ele ofereceu.

Dulce balbuciou algo ininteligível.

― E então? – Alfonso insistiu.

― Não tem que ir para o estágio? – Dulce quis saber.

― Sim, só preciso levar uns papéis lá, mas às 17h. Até lá, sou todinho seu. – Sorriu e Dulce revirou os olhos, mas não conteve uma risada.

― Tá legal. – Consentiu, vencida. – Você vai fazer o meu trabalho de Direito Constitucional.  – Disse enquanto se direcionava a cozinha, e Alfonso a seguiu.

― Não, não! – Ele protestou. - Você faz, eu só te ajudo. – Acrescentou e Dulce virou-se para olhá-lo, inquisitivamente com as mãos na cintura.

― Quer ficar ou não quer?

― Tudo bem. – Alfonso suspirou, submisso. – Vamos lá.

Com a grande ajuda de Alfonso, seu veterano, Dulce conseguiu terminar os trabalhos bem antes do que havia previsto. Eram 16h quando tudo já estava pronto e seu estômago esbravejava de fome. Alfonso lhe ajudou a juntar todo o material que usaram, e a guardá-los em seu quarto, e em seguida, caíram sobre o sofá da sala.

― Estou faminto. – Alfonso murmurou.

― Daqui a pouco você tem que ir. – Observou Dulce. – Está quase na hora.

― Não acredito que depois de tudo o que fiz por você, não vai me oferecer nada para comer. – Ele disse com falsa revolta.

― Vou ver o que posso fazer por você. – Dulce levantou-se. – Não garanto nada muito elaborado.

Dez minutos depois Dulce retornou à sala com um prato fumegante de miojo, e o entregou a Alfonso com um olhar zombeteiro.

― Isso é o maná dos deuses para os universitários que moram numa república, querido.

― Pelo menos não é o macarrão com carne moída da semana passada. – Alfonso deu de ombros e recebeu a refeição de bom grado.

Dulce sentou ao lado dele enquanto o observava comer. Alfonso estava ali novamente. Estava ali por ela. Chegava a ser desconcertante. Ele era exatamente como um cachorro fiel ao seu dono. Não importava o quanto estivesse de mau humor, o quanto o tratasse mal. Sabia que quando precisasse ele estaria ali. Esses pensamentos fizeram-na sentir um mal estar. Claro que Alfonso sabia ser inconvenientemente chato quando queria... Mas ele era um amigo e tanto.

― Obrigada. – Dulce murmurou tão baixo que ele não conseguiu ouvir.

― O que disse?

― Eu disse... Obrigada.

― Ah, não tem pelo quê. – Alfonso assegurou. – Eu gosto de você, Dulce. Gosto muito.

― Ok, sem muito doce por que eu estou me sentindo meio diabética hoje, ok? – Respondeu e ele apenas riu em resposta. Ela era assim. Seria sempre assim e ele gostava.

Assim que havia terminado de comer, Alfonso se despediu e foi embora, fazendo Dulce prometer que ficaria bem. Logo que ele se foi, Maite e Natasha chegaram e ficaram felizes por vê-la bem melhor. Enquanto estava rodeada por amigos, Dulce sabia que ficaria tudo bem... Mas também sabia que assim que fechasse a porta do seu quarto atrás de si, todos aqueles pensamentos voltariam a persegui-la.