Fanfics Brasil - Rota N.E.O.S Gama Project

Fanfic: N.E.O.S Gama Project | Tema: Apocalipse, Mutantes, Aventura, Ficção, Horror Survival, Violência


Capítulo: Rota

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–––– CIARA ––––


 


Eu podia ver ao fundo... De algo que era semelhante á um vórtice que sugava tudo que passava. Era minha mente louca talvez... Eu nem mesmo sabia às vezes o que se passava, mas eu me encontrava em alguma cena naquele buraco, onde via minha família transformada em criaturas mutadas e tentavam me devorar. Eu balançava a cabeça freneticamente, tentando acordar, mas quando me dei conta, estava de volta ao galpão velho, gritando feito uma harpia louca. Eu estava se fôlego, devido ao pesadelo e procurei me acalmar, respirar fundo e limpar o suor frio da minha testa.


Olhei em volta e não via ninguém, o que me deixou um tanto preocupada. Será que ele tinha ido embora e me deixado largada ali a própria sorte? Tentei me levantar mais foi em vão; mesmo eu podendo sentir minhas pernas, e a dor delas é claro, era impossível andar ainda. Podia mexê-las até, mas ainda estavam inúteis para mim. Eu tirei o pano sujo que me cobria e me esgueirei na tabua que servia de apoio á minha cama improvisada tentando conseguir uma visão mais ampla do lugar, quando fui surpreendida com um toque inesperado no ombro. Era ele, com a cara mais lisa do mundo e eu me xingando por minhas pernas estarem quebradas naquele momento.


– O que foi pirralhinha? Já pensou que eu tinha te deixado sozinha aqui e ia chorar?! – disse enquanto ria de um jeito irritante.


Eu cerrei o punho e tentei me acalmar. Se bem que... Não adiantou muito naquela hora.


– Seu filho de uma... – minha garganta enguiçou na ultima palavra.


Ele riu como se esperasse aquela reação. Logo ele deixou várias sacolas cheias de comida perto da tabua. Alguns estavam cheios de fuligem e amassados, mas davam para o consumo. Eu peguei alguns da sacola sem pensar; estava com muita fome para pensar. Só queria devorar algo. Karma observava eu avançar na comida meio atônito.


– Olha... Até que para uma pirralha, você come muito hein?! – comentou enquanto se sentava.


– Quer parar? Meu nome é Ciara!


Karma pegou um pedaço de pão de dentro do saco e se recostou de modo indolente.


– Tá! Que seja! – respondeu. – Continua uma pirralha.


– Eu não dei atenção á ele e continue comendo feito uma louca o saco de pão, uma penca de bananas e algumas maçãs que havia na sacola. Como bônus, vinham até uns biscoitos meio amassados.


– Então... Ciara. – começou ele. – Desde quando você come assim?


Eu logo vi que se tratava de outra piada.


– Isso é até meio estranho também... – respondi sucinta.


– Como assim? – O semblante de Karma mudou subitamente.


Eu devorei duas bananas antes de responder.


– Só vim sentir essa fome de urso de ontem pra cá. – Ele me olhava com a expressão séria. – Por quê?


–Nada. Nada. – interpelou.


– Você pegou essa comida aonde mesmo?


Ele demorou um pouco á responder.


– Tem um mercadinho na rua vizinha. Antes de o teto desabar, eu peguei o que pude das prateleiras e coloquei na sacola. Pode se dizer que fui fazer compras madame.


– Você quer dizer roubar não é? – alfinetei enquanto o fuzilava com meus olhos.


Ele riu como se eu tivesse dito algo engraçado. Com certeza, aquilo me irritava mais que tudo.


– Em tempos como esses, não existe esse negócio de roubar pirralha! A única coisa que existe é a necessidade de se manter vivo, nada mais! – rebateu ele tascando outra mordida do pão.


– Mesmo assim... Eu acho que simplesmente pegar as coisas assim é errado!


– Vamos... Poupe-me dessa ladainha! Nós precisávamos comer e eu acho que o dono da loja estava meio... Morto demais para me atender. – disse Karma com certa ironia na voz.


Log eu senti uma pontada no peito. A dor era aguda, como se algo estivesse penetrando o meu coração, e eu cuspi a comida na mesma hora, tossindo convulsivamente. Karma se levantou meio indignado e veio até mim.


– O que você tem? Não coma muito depressa se não pode morrer engasgada.


Eu estava atordoada por causa do impacto da dor. Naquele momento eu só podia escutar a voz de Karma. Meus olhos estavam semicerrados e tentei de alguma forma, expressar a dor que eu estava sentindo. Eu ergui minha mão trêmula e apontei para o meu peito de modo que Karma entendesse que eu estava sentindo algo ali.


– O que você tem no peito? – perguntou.


– To... – Eu me esforçava para manter a voz firme. – dor no coração...


Karma ficou em silêncio por alguns minutos. Seu olhar estava mais sério do que de costume.


Eu levantei a cabeça e insisti em perguntar. Não que talvez ele fosse algum doutor no assunto.


– O que foi? É algo... Muito sério? – perguntei enquanto tossia.


– Só um palpite... – Ele se levantou e foi até uma montanha de entulhos que havia ali perto. De lá vasculhou até achar um par de muletas. – Tome! Vai precisar!


– Por quê? – Outra coisa que eu havia aprendido sobre Karma é que ele era altamente bipolar.


– Vamos nos mudar... Aqui não é um abrigo adequado. – Ele colocou um sobretudo preto com capuz, que continha uma bainha localizada nas costas para a espada, e pegou suas pistolas e as carregou com munição, bem como seu cinto. 


– Abrigo?! – logo pensei em outra bomba.


– Sim... Se levante e vamos andando! – Por algum motivo do qual eu ainda não sabia, ele estava mais sério agora.


Eu me levantei com alguma dificuldade e logo senti outra pontada forte no peito que me fez perder a força quase que instantaneamente. Logo Karma estendeu a mão.


– Vem... Tenta subir nas minhas costas. – Ele se agachou e eu segurei em seus ombros esguios e pude sentir o trapézio definido e brando do rapaz. Depois, ele segurou minhas pernas enfaixadas, tomando cuidado para não me machucar muito. Eu subi em suas costas e com uma força quase sobrenatural, ele pulou os destroços que havia lá dentro até chegar á saída. Logo depois saímos novamente e o tempo jazia praticamente nublado. As nuvens de poeira e fumaça ainda cobriam o céu e nem mesmo a luz do sol conseguia entrar nesse novo e desolado mundo. O vento estava frio e os prédios continuavam a desmoronar. A rua estava deserta, e podia ver vários cadáveres em meio ao chão enquanto outros sobreviventes em estado critico montavam barracas improvisadas próximas ao que havia restado das casas e lojas destruídas. Karma parecia o único que jazia ileso em meio á tantos mortos e feridos. Eu parecia uma múmia, enquanto ele me carregava em suas costas.


– Nossa... Como foi acontecer essa tragédia?! – A dor que me infligia começava a cessar aos poucos. Mas meu corpo estava debilitado demais a ponto de qualquer coisa me deixar debilitada.


– A 3° Guerra Mundial... – respondeu Karma. – O acordo que foi acertado na Conferência das Nações e na ONU, a instabilidade econômica e diplomática entre as potencias criou uma forte tensão que sacudiu o mundo inteiro. Várias populações em vários cantos do mundo protestaram contra a guerra, mas foi inevitável.


– Por que tantas pessoas tem que pagar pelos erros de tão poucas?


– Vejo que você é muito ingênua ainda pirralha...


– Ciara!


– Tá! Que seja! – Karma chegou á uma rua bastante bloqueada que ficava á umas cinco quadras do galpão. Existiam duas torres altas no centro da cidade que imitavam os grandes arranha-céus de Nova Iorque, e uma desabou em meio á praça, matando vários civis que ainda remanesciam abrigados em locais próximos e a outra em cima das ruas adjacentes, interditando ambos os caminhos para a praça central. Ao longe se podiam ver vários helicópteros e várias pessoas em meio ás ruas correndo ou deitadas, enquanto agonizavam com chagas mortais. Karma parou subitamente me meio á rua flamejante. Havia várias construções desabando e explodindo naquela área ainda, enquanto as pessoas que sobraram morriam com queimaduras de 3° grau. Ele recuou um pouco, se centrando em meio á rua para nos afastar das chamas.


– Por que parou? Vamos derreter nesse calor!


Ele mirou em linha reta. A visão não era muito clara, mas o que se podia ver eram feixes de luz roxos cintilando ao longe em meio ao inferno vermelho do fogo.


– Mutantes... – informou ele. – Temos que pegar outro caminho. Vai ser difícil lutar se tiver que proteger você ao mesmo tempo.


Ponderei sobre a situação. Na ultima vez eu tive sorte? Mas não me confiava que Karma poderia me proteger contra os mutantes. Por algum motivo, ele estava mais cauteloso agora do que antes. Queria evitar qualquer confronto desnecessário, pelo menos até chegar á praça central. Karma pegou um beco onde estava meio oculto por causa de vários carros em chamas que bloqueavam a passagem. Nós atravessamos com muita dificuldade e os prédios que formavam a estreita passagem ameaçavam de desabar em cima de nós. Depois de algum tempo, Karma e eu chegamos á outra rua, que havia uma cratera colossal em meio á pista e que havia engolido várias casas e prédios comerciais, o que nos separava da praça. Não havia como atravessamos sem que tivéssemos que descer até os esgotos. Mais atrás, havia várias pessoas tentando fugir de outra leva de mutantes. As criaturas dantescas as capturavam e as matavam com muita facilidade. Karma suspirou enquanto que me deixava em lugar seguro, próximo á cratera.


– E agora?


– Droga... – Ele puxou sua espada das costas fazendo uma careta. – Eu não queria ter que brigar, mas...


– E esse buraco?! – Não havíamos como atravessá-lo e eu senti que Karma tinha pressa.


– Vou terminar isso rápido! Depois atravessamos isso. – respondeu correndo em direção aos monstros.


 Era seis no total. Karma correu e cortou o primeiro pela metade, aproveitando o meio tempo para sacar sua pistola e disparar no crânio do segundo. Veio mais três que pularam de cima das casas em direção á ele. Com uma cambalhota, ele se esquivou, cortando as pernas de um dos mutantes, enquanto que com um giro dilacerou o flanco esquerdo do outro. Ele saltitou no monstro debilitado e cravou a espada no peito do terceiro, que caiu inerte depois de algum tempo. O outro estava mais longe e ele arremessou sua lâmina carregada. A espada ficou na cabeça do monstro e o mesmo tombou. O que jazia rastejando no chão, tocou Karma, tentando devorar sua perna, mas o mesmo tirou sua pistola e disparou á queima roupa, fazendo a cabeça do mesmo explodir. Logo depois um chafariz de uma espécie de sangue roxo, lavou o chão trincado e sujo da rua. Das pessoas que fugiam, apenas quatro haviam sobrevivido ao massacre, o que incluía um senhor de idade, uma mãe e seus dois filhos. Eu assistia toda a luta boquiaberta; Karma possuía uma enorme habilidade, sem duvida – ainda com seu corpo esguio, tronco definido e feições duras acompanhavam sua postura de guerreiro sem vacilar. Ele foi até um dos monstros e arrancou sua espada, limpando o sangue do fio e a embainhando novamente.


– Curtiu pirralha? – perguntou com uma ponta de orgulho.


– Como você consegue?!


– Já tenho a manha... – respondeu se agachando perto de mim.


– Obrigado por nos salvar jovem! – agradeceu o ancião ainda com o pulso trêmulo.


Karma soltou um risinho.


– Não precisam agradecer... Agora vão e achem um canto seguro para vocês até que o resgate chegue! – eles obedeceram despedindo-se de nós.


Fique algum tempo olhando para ele. Karma poderia ser arrogante, preguiçoso e falastrão, mas no fundo – beeeeeem no fundo mesmo, ele era uma boa pessoa. Sua presença era confortante e eu sentia certa segurança quando estava com ele.


– Karma...


– O que foi? – ele se virou para mim novamente.


– Obrigado... Por me ajudar... Por me proteger...


– Não fale mais nada... Odeio sentimentalismo! – ele cortou se virando para que eu subisse em suas costas novamente. – Agora vamos, Ciara.


Logo depois, não pude conter um sorriso e segurei em seus ombros; mas minha alegria não duraria muito. O chão começou a tremer, como pequenos abalos sísmicos e isso era perigoso, principalmente perto da cratera; mas não era terremoto. Eram como passos bem pesados, e que se moviam naquela direção. Karma ficou em guarda, como se esperasse algo... Algo bem grande.


– O que esta acontecendo?! Isso é um terremoto?! – perguntei meio assustada.


Karma olhava ao longe, de onde havia saído os mutantes que nos atacaram mais cedo.


– Não... – respondeu enquanto sacava sua espada novamente. – É algo bem pior...


 


 


         


      


 


 



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Autor(a): Beansprouth_Terra

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–––– CIARA ––––            – O que foi Karma?! – perguntei enquanto minha adrenalina subia. Meu sangue começava a fervilhar e eu estava agitada. O olhar dele era fixo ao longe, como um predador pronto para atacar sua presa. Aquilo me incomodava.   &nbs ...


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