Fanfic: É Madrugada em Nice *AyA*Ponny* | Tema: Ponny,AyA

Fazendo ares de condescendência, o gerente sorriu.

- É impossível alguém entrar numa destas suítes, mademoiselle. Nem o alpinista mais habilidoso conseguiria galgar as paredes do hotel... Talvez tudo não tenha passado de um pesadelo.

- Juro que o vi. Oh, meu Deus, eu não estava sonhando!

- Você comeu lagosta demais no jantar. - interveio a Sra. Prenderghast, áspera. - Nunca imaginei que fosse tão bobinha, Anahí. Acordar o hotel inteiro desse jeito!

Respirando fundo, Anahí fechou os olhos, mantendo-se em silêncio.

O fato de o misterioso invasor haver desaparecido dentro da noite não significava que ela sofrerá uma alucinação. Por que não lhe davam um voto de confiança?

Ansioso para encerrar o assunto, o gerente foi até a janela e fechou-a, declarando:

- Instruirei os detetives para redobrarem a vigilância. E alguém ficará de guarda do lado de fora da porta, para o caso...

- Que bobagem! - exclamou a escritora. - Não quero ser incomodada por um bando de ex-policiais brincando de babá. Agora, eu gostaria de voltar a dormir.

Diante da indireta, os demais hóspedes começaram a se retirar para os seus quartos, alguns resmungavam, indignados por terem sido incomodados à toa, mas muitos riam e faziam comentários zombeteiros sobre o incidente.

Num gesto de cansaço, Anahí pressionou as mãos contra os olhos.

Graças ao estranho que a beijara há cinco minutos, estava sendo considerada a maior tola da França!

E, o que era pior, tinha certeza de que ele, envolto na escuridão, ria da peça que lhe pregara... Bem, pelo menos, ela impedira que o Chama do Coração fosse roubado.

- Você nos transformou em motivo de chacota perante todos. - afirmou a Sra. Prenderghast, em tom acusativo.

- Mais non, madame. - interrompeu o gerente, com brandura. - Mademoiselle estava assustada e teve um sonho muito real. Coisas assim são comuns quando se chega a um lugar pela primeira vez... Apesar disso, eu a aconselharia a deixar suas jóias no cofre do hotel.

- Não é necessário. Minha acompanhante teve um mau sonho e acabou.

Percebendo-lhe a irritação, o gerente tratou de se retirar com rapidez, fechando a porta.

- Onde já se viu, invadirem os apartamentos dos outros desse jeito! Se de Gaulle ainda fosse vivo... - Voltando-se para Anahí, fuzilou-a com o olhar. - E você? Que tem a dizer?

- Eu o vi. - repetiu Anahí, baixinho.

Era irritante ser desacreditada.

E, por mais frágeis que fossem as evidências, ninguém tinha o direito de humilhá-la, acusando-a de sonhar com românticos arrombadores mascarados.

- Não foi um sonho. - insistiu. - Eu o vi e falei com ele...

- E o beijou. - concluiu a Sra. Prenderghast, impaciente. - Pensar que eu a considerava tão sensata! Acho melhor você não comer mais lagosta enquanto permanecermos aqui... Todos no hotel vão olhar pára nós e cochichar pelas costas. Droga!

Resmungando, a velha pegou suas jóias e levou-as para o quarto, onde se fechou.

Sozinha na sala, Anahí sentou-se no sofá e procurou acalmar-se um pouco, antes de voltar a deitar-se.

Lançando um olhar para o relógio de parede, constatou que eram três e quinze da madrugada. Mas, apesar do avançado da hora, tinha quase certeza de que não conseguiria conciliar o sono.

Por que aqueles idiotas não acreditavam nela?

Seria tão alarmante assim reconhecer que um homem poderia escalar o prédio até o vigésimo segundo andar e invadir uma das suítes com a mesma naturalidade com que se entra num iate?